sexta-feira, 31 de outubro de 2025

CARGALEIRO em Castelo Branco

Vamos ao longo das portadas quinhentistas da rua de Santa Maria. Passamos pela Praça de Camões, deixamos o Centro de Interpretação do Bordado e trepamos para o Museu Cargaleiro. 

Procuramos a entrada, num edifíco que parecia barroco, e descobrimos outra, num edifício vanguardista bem enquadarado na zona antiga de Castelo Branco. Entramos neste último.

Estamos prontos a espantarmo-nos. A cor, as formas e a diversidade aparecem de imediato. Mas, não só. Percebem-se algumas interacções entre perspectivas, modalidades e mesmo durações.

Embora a pintura pareça surgir como central na expsição, foi a cerâmica que o iniciou na arte. O desenho, a escultura, a  gravura, sobretudo, também lá estão. Todavia, é realmente a pintura que o destaca.

Principalmente a partir do início dos anos 50, tal como na cerâmica, onde a representação do concreto deu origem a uma maior imaterialização, a pintura também foi apresentando cada vez mais abstração.

Em meados dos anos 50, quando se fixa em Paris, é notório que se encontram mais  “motivos abstratos de contornos definidos, signos e geometrias, cores fortes e pinceladas gestuais”.

Ainda longe dos conceitos digitais que a informática divulgaria anos mais tarde, as obras de Cargaleiro passam a mostrar “estruturas geométricas mais elaboradas, aliadas a ritmos de linhas gestualistas numa dinâmica raionista”.

O que melhor se conhece de Cargaleiro é da sua adesão ao raionismo - expressão de imagens abstratas através de raios de luz - que o pintor representou através de “pinceladas espessas, manchas expressivas e o jogo de raios de luz e linhas de cores vibrantes”.

A geometria está representada permanentemente nas usas obras. Por vezes, compõe-na com elementos figurativos e abstractos. Outras vezes, integra pinceladas instintivas na rede geométrica primordial.

Os motivos florais, que surgem quer em cerâmica, quer em tela, são significativos na escolha da natureza como motivo principal e fonte de inspiração de Cargaleiro. Na exposição, além das obras em tela, há suportes em madeira, papel e cerâmica.

“Estrela do Norte” e “Pássaros da Noite”, óleo sobre platex, ou “Estrela do Mar”, guache sobre papel - o guache está muito representado, mesmo sobre cartão - ou “Poema de José Tolentino de Mendonça”, óleo sobre tela, são algumas das obras emblemáticas.

Vale a pena lá ir. É tempo de observação, deleite e relaxe, talvez ainda de comparação. Por vezes, surge a ideia de que o contacto com Vieira da Silva, também lhe estimulou a criatividade, o traço e a geometria. 


sábado, 25 de outubro de 2025

Casais Velhos. Villa Romana

De passagem, o cartaz mal se vê. O acesso não é dramático, mas não parece digno daquele conjunto arqueológico. A vedação para veículos foi executada com 3 ou 4 calhaus. Fica perto da localidade de Areia, a norte de Cascais.

São estruturas dos séculos III e IV, onde se salienta pela dimensão um edifício termal. Porém, também há hipoteses de ali ter existido uma pequena industria de tinturaria. Estamos na Villa Romana de Casais Velhos.

Da villa, pouco se encontrou até agora. É possível identificar um lagar e dois silos. E, ainda, várias sepulturas em três necrópoles, onde se encontraram alguns objectos, nomeadamente várias moedas, uma agulha e uma lamparina, entre outras.

Uma das necrópoles parece ser mais tardia, provavelmente dos séculos V ou VI. Há ainda restos de muralhas e estruturas que indiciam ser de tanques de salga de peixe, escavados na rocha. 

A dimensão do complexo observável é pequena. Contudo, algumas informações indiciam que se trata de um maior espaço de ocupação e construção, mencionando inclusivamente a existência de um aqueduto que alimentava a villa.

É um sítio interessante, mas parece abandonado. Embora se note que as ervas não estão a cobrir as estruturas, mas estas estão a céu aberto sem qualquer protecção. Apesar de o espaço de estacionamento não ser grande, dá para parar uma moto e um carro.

Diz-se que há planos de recuperação, arranjo e preservação das ruínas. Vale a pena concretizá-los. Por ali, a maresia inala-se e o mar presente-se. O Guincho está a dois passos. 

















domingo, 12 de outubro de 2025

Barragem do RIO DA MULA

Está lá desde o início dos anos 30, de modo a minorar as faltas de água em Cascais. A fase mais recente, a final, é de há mais de meio século. Estamos na barragem do Rio da Mula. Estamos na barragem do Rio da Mula.

Continua a fazer parte do complexo de abastecimento de água a Cascais. Parecendo pequena, a lagoa tem a capacidade de armazenar  mais de 230 mil m3 de água. O muro da barragem tem quase 20 metros de altura e quaase 200 de largura.

O rio que abastece a barragem é o Mula,, que nasce  na serra de Sintra e termina na praia da Ribeira, em Cascais. Mas, tal como a sua congénere Azul, é em seu redor, que muita gente disfruta da natureza envolvente.

Hoje, os trilhos em redor da barragem têm muitos praticantes de caminhadas e de BTT. A barragem é um dos pontos de partida ideais para este tipo de actividades. Seja de dia, ou de noite, esta ideal para um qualquer “nordik walk”, o ambiente é tentador.

Há quem faça trilhos e quem os misture com caminhadas em azimute (a direito, em plena floresta). Um destes passeios, inesquecível, num Dezembro de 79, levou-nos à Peninha, por caminhos que, ainda hoje, nem sei por onde vão.

Mas basta andar à volta da barragem para, mesmo no Inverno, desfrutar da flora e da fauna autoctones. Há sempre pássaros, pequenos répteis e insectos por perto, flores e fungos por todo o lado.

Neste dia, havia o que parecia ser uma “mãe de água”, muitos ramos partidos no solo - alguns de grande dimensão - e, até uma “cabana de índio“ feita com troncos mais pequenos.

E, claro, gente a caminhar, a pedalar, a fotografar, a fazer jogging ou simplesmente a olhar para a floresta, para os cumes da serra, para o espelho de água da albufeira. O ar fresco e o odor floral completam o quadro bucólico do sítio.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Encuentro de Grandes Viajeros

As vagas esgotaram para o 19º EGV, Encuentro de Grandes Viajeros, que teve lugar em Jerez de los Caballeros há poucos meses. O tema é viajar de moto, cujos relatos são feitos por quem as realizou.

Complementarmente, o local do evento também atrai habitualmente pelo seu património. Jerez de los Caballeros, uma localidade semelhante às congeneres alentejanas, tem muito que oferecer naquele capítulo. 

Com efeito, o enorme castelo templário domina o burgo, conquitado por Alfonso IX com a ajuda dos Cavaleiros do Templo. Esteve em mãos templárias cerca de 60 anos até à dissolução da Ordem. 

Uma das figuras mais notáveis da localidade é Vasco Núñez de Balboa, um explorador e fidalgo espanhol, de origem galega, celebrizado por ter sido o primeiro Europeu não português a avistar o Oceano Pacífico.

A casa-museu, que visitamos organiza-se em redor da vida do navegador e da história local, e entrega  oferece uma visão sobre a época e a importância da figura do navegador que chegou a ser governador de Antígua.

Até conseguimos encontrar um livro com a estampa da figura de Vasco da Gama e um texto alusivo. O próprio Vasco Balboa tem uma estória curiosa, plena de romantismo e dramatismo, de vitórias e derrotas.

Outro edifício notável, por entre as diversas igrejas paroquiais, a de San Bartolomé destaca-se pela sua decoração e cor. Sendo de traça barroca, salienta-se a decoração em gesso, tijolo e cerâmica colorida, semelhante à decoração mudejar.

Interessante, a Posada de las Cigueñas, uma espécie de turismo de habitação situado no centro da localidade. Além de um quarto e d euma casa de banho de banho enormes, possuia uma varanda panorâmica excelente, 

Mas eram mesmo  as estórias e as imagens de viagens d emoto que nos motivaram a ida. Depois de, há 2 anos, termos estado em Bragança, desta vez foi na Extremadura espanhola que assistimos aos relatos na primeira pessoa de 3 conferencistas.

Reunimo-nos no antigo Convento de San Agustin, onde os anfitriões, Jaime Núñez e Conchi Cosme, deram início às apresentações de viagens. O tema deste ano andava sobretudo pelas Américas.

O primeiro orador foi Juan Pablo Silva, um chileno antigo piloto de competições automobilísticas um viajante com mais de 2 milhões de quilómetros de moto, em zonas remotas do Chile, Argentina e Bolívia. 


É ele que orienta, desde 2023, com a Mototravel e a EGV, os Encontros no Chile e que organiza viagens de grupo na América do Sul. O seu audiovisual intitulava-se, também por isso, “Patagonia Fin del Mundo. Un sueño hecho realidad”.


A seguir, foi Pedro Palomo e Iryna que, apesar de já terem percorrido os Alpes, Caucaso ou Cabo Norte, optaram por destinos mais longíquos e aventurosos, como a ligação Málaga - Magadan, passando pela Rússia e pela Mongólia.

Porém, a aposta, desta vez, foi mais norte-sul. Daí que nos tenham levado do Alaska a Ushuaia e volta, em duas ocasiões e com itinerários diferentes. Quase parece que tornam uma viagem de aventura numa rotineira.

Fizemos um intervalo durante a manhã nos claustros, hoje pertencente à entidade de turismo de Jerez de los Caballeros. E lá estava o presunto e o vino de verano suave, acompanhados de outros enchidos da região.

Par a tarde, ficamos com Joan Collell y Teia Sabaté, dois veterinários reformados que utilizam duas motos, que deixam em determinados destinos para depois os percorrerem por etapas. Nesta ocasião, tinham uma moto na Zâmbia e outra na Malásia. 

E a sua apresentação foi sobre diversos périplos, que em 14 etapas já percorreram mais de meia centena de países, por África e pela Ásia, utilizando ora uma outra moto, uma Honda Africa Twin e uma Yamaha XT.

Houve ainda uma apresentação sobre pneus para moto, protagonizada pela Continental, um audiovisual bem organizado e conciso, muito útil para quem precisa escolhar pneus.

Um sorteio, um concurso de fotografias de viagem, distribuição de troféus - o mais idoso, o mais novo, o que veio de mais longe, etc - e o anúncio do local e da data do próximo EGV, que será em 2026, próximo de Salamanca, encerraram o evento.