Saímos de Augustobriga e, daí a pouco - pouco mais de meia hora -, entrávamos em Plasencia. Rodamos ao longo das muralhas, prosseguindo até ao aqueduto, onde virámos para o centro histório. Não demorou a perceber que, o outrora acesso permitido ao “casco antiguo”, estava agora vedado. O acesso à Plaza Mayor é pratica e exclusivamente pedestre.
Não é grave, antes pelo contrário, permite percorrer a pé as estreitas ruas medievais, que levam à catedral. Passamos pelo belo edifício do Ayuntamiento, palácio municipal renascentista do século XVI, que tem um inusitado campanário. Descemos mais um pouco até à Plaza Mayor, um dos lugares mais cosmopolitas da cidade.
Ali, a dois passos, fica a catedral nova, gótica, de finais do século XV. Um pouco mais à frente, fica catedral velha, ainda românica, de século XII. Voltava a estar calor e, como é habitual, ao andar com os blusões e os capacetes na mão, o périplo deve ser curto e á sombra. Por tal, regressamos à moto, sabendo que tínhamos compromisso para o almoço...
...em HERVÁS
Apesar de ser uma localidade relativamente pequena, Hervás tem muito que ver: um castelo templário (ruínas, pareceu-me), um museu artístico (numa casa apalaçada, a Casa de los Davila), uma judiaria, um amplo parque arborizado e um centro histórico com ruas estreitas e difícil estacionamento, até para motos…
E foi no restaurante El Almirez que nos juntamos ao casal amigo, uma boa escolha para passar um par de horas, em agradável conversa e a degustar a excelente oferta gastronómica, dos grelhados ao sushi, do vinho às sobremesas. Demoramos, mas por uma boa causa. Mesmo assim, não fomos os últimos a chegar ao próximo local de visita.
Afinal, fomos os segundos a chegar. Os restantes viajantes apareceram em grupo. Conhecíamos a esmagadora maioria desde a viagem à Turquia. A última vez que tínhamos estados juntos, havia sido no périplo pelos Pueblos de Burgos.
https://cordeirus.blogspot.com/2023/09/pueblos-de-burgos-e-segovia-de-moto.html
Desta feita, a reunião decorreu no jardim que antecede a entrada do museu.
O Museo de la Moto y Coche Clasica, na saída nordeste de Hervás, é isso e mais do que isso. Das motos aos carros, aos carrinhos de bébé, passa pelas liteiras, pelas miniaturas, pelos animais da quinta, por um miradouro, por uma casa tão bizarra quanto romântica, por um anfitrião / proprietário com uma história de vida singular.
São vários pavilhões dedicados às motos e aos carros clássicos, mas sobretudo às motos. Por entre algumas “esculturas” que têm a moto como tema, chegamos ao primeiro pavilhão, onde estão exposta marcas espanholas - Ossa, Montesa, Derbi, Bultaco, Sanglas, Rieju, etç, etç -, especialmente as de pequena e média cilindrada, incluindo muitos side-cars.
Continuamos com as clássicas de várias nacionalidades, com várias francesas (Motobecabe, Peugeot, p.ex.), inglesas (BSA, AJS, Velocette), italianas (MVAgusta, Vespa, Moto Guzzi, Gilera), belgas (FN), alemãs (BMW), japonesas (Honda, Kawazaki, Yamaha, etç), americanas (Harley Davidson) e, até uma portuguesa (Alma), ao longo de pavilhões espaçosos, mas que parecem já ter todos os lugares ocupados.
Descobrem-se, ainda, modelos icónicos, tais como uma Hercules com motor Wankel, uma Velocette com escapes “rabo de peixe”, uma Soriano inglesa também com escapes do mesmo tipo, uma Guzzi Falcone com cilindro para a frente, uma NSU tipo Scrambler, uma Guzzi de dois selins com guiador para o pendura se segurar,
Pelo menos três pavilhões, guardam uma grande variedade de modelos de motos clássicas. Certas marcas, passam por novidade, como seja o caso da Berrol ou seja lá o que for. Outras, como o caso das Puch, Scott, etc, são os modelos alvo de curiosidade. Outras, ainda, são de difícil identificação.
Mais à frente, para quebrar a monotonia “moto”, descobrimos uma variedade de carrinhos de bebé, que contemplam as seis primeiras décadas do século XX e, aos quais, o proprietário chama “primeiro meio de transporte, logo após o nascimento”. Depois, surge um conjunto de triciclos de carga e trabalho, bem como outros de passeio.
Em outro pavilhão, surgem as pequenos carruagens de época, uma boa colecção que contempla também algumas liteiras. Depois, os carros, sobretudo americanos e europeus, que cobrem 6 décadas desde 1920. Inclui-se neste lote, ambulâncias, carros da polícia, veículos militares. Desde o pequeno Fiat 600, ao gigantesco Cadilac El Dorado.
No cimo de um dos pavilhões, criou um miradouro. Dali, veem-se muitos quilómetros em redor mas, sobretudo, a localidade de Hervás. A casa que construiu, em forma de de coração, tem uma estória arrebatadora de paixão. Tudo isto, criado por Juan Gil Moreno, um apaixonado por motos, empresário, cidadão do mundo.
EL BARCO DE ÁVILA
Deixámos Hervás ao fim da tarde. Quando chegámos a El Barco de Ávila já estava a noitecer. Foi de luz acessa que entrámos, pouco depois, no Hotel Izán Puerta de Gredos, um quatro estrelas rural, aproveitado de dependências de uma quinta. Deixámos as motos num estacionamento enorme, onde já estavam meia dúzia de Triumphs de colecção.
Ficámos alojados em quartos, bem aproveitados do que seria o espaço dedicado às cavalariças. Em outra dependência, com um pé-direito enorme, ficava a sala de estar e o bar. Mais abaixo, estava o restaurante. Em outra dependência, a piscina interior. Em redor, após os prados da quinta, um conjunto de montes recortava o céu.
Como já estamos no planalto não damos pela altitude do lugar. O local mais alto da serra fica a mais de 2500 metros de altitude, no pico Almançor. Foi guarita dos Vetões, do militar espanhol que liderou a guerrilha na Guerra Peninsular contra Napoleão e onde as tropas revolucionárias resistiram aos franquistas.
Sem comentários:
Enviar um comentário