Inicialmente, seria parar em MEDELLIN, para conhecer esse conjunto histórico, a pouco mais de 300 quilómetros de casa. Depois, pernoitaríamos em GUADALUPE, para visitar o Mosteiro. A seguir, iráimos para HERVÁS, ao encontro do grupo, para visitarmos um museu especial.
MEDELLIN, DE ROMA AO IMPÉRIO ASTECA
De vez em quando, o calor de Verão perdura pelo Outono. Foi o caso: a temperatura, depois de almoço, em Medellin, andava muito acima dos 30 graus. Fora da zona urbanizada, trepar ao extenso castelo medieval do século XII, depois de almoço, sob sol abrasador e sem uma árvore a emprestar sombra, pareceu incómodo, se não impossível.
Por tal, seguimos junto aos vestígios do segundo troço de muralhas, a caminho do teatro romano. Este, aproveita o desnível da encosta do castelo, moldando-se à topografia como era hábito nos teatros gregos da antiguidade. Curiosamente, deve datar de cerca do primeiro século antes de Cristo, mas só foi descoberto no início do século XXI.
Neste dia, porém, aquela hora, estava fechado. Havia obras, talvez de restauro, e um longa rede vedava o acesso ao palco e às bancadas. De esguelha, tornou-se difícil sequer observar a dimensão do teatro. Passámos pela igreja de Santiago, onde se entrevia um espaço museológico, fechado aquela hora, para onde foi levado um grande número de peças do palco.
Mais abaixo, já em zona urbana, uma escola, um parque e um monumento comemorativo que representa o mais ilustre filho de Medellin, o “aventureiro, conquistador, descobridor, fundador, capitão general e escritor espanhol, Hernán (ou Hernando, ou Hernan) Cortés, também conhecido como Pizarro, que aniquilou o império azeteca na primeira metade do século XVI.
Atravessamos de novo a bela Puente de Medellín, de 20 arcos, sobre o Guadiana, a caminho de Guadalupe e passamos por uma localidade chamada… Hermán Corte. Deixamos ao longe Castillnovo, originário do séc. VII, mas posteriormente aumentado nos séculos XII e XII. Envolto em vegetação, hoje é uma unidade hoteleira dedicada a a múltiplos eventos.
GUADALUPE: MOSTEIRO E POVOADO
Daí a pouco mais de meia hora, estamos a trepar para Guadalupe, quando se começam a vislumbrar os montes do final da Cordilheira de Toledo, intitulados serra de Guadalupe. Avançamos entre moradias, depois pequenos prédios de 2 andares, para entrarmos numa rua mais larga de onde se vê, ainda ao longe, um grande edifício religioso de pedra, no topo de uma praça.
Chegamos à Praça de Santa Maria e estamos perante o Mosteiro Real de Santa Maria de Guadalupe. É imponente, parecendo deslocado naquele espaço e numa povoação que não chega aos 2 mil habitantes. Fundado no século XIII, mas posteriormente aumentado até ao século XVII, o mosteiro contempla diversos estilos arquitetónicos: gótico, renascentista, barroco e neoclássico.
Havíamos reservado acomodação no próprio mosteiro, na Hospederia del Real Monasterio. Apesar da localidade possuir um Parador, o preço no mosteiro é inferior. Deixámos a moto à porta da Hospedaria, trepamos ao quarto e, como era suposto, ficaríamos alojados numa antiga cela monástica.
Habitualmente, as celas monásticas, têm espaços exíguos… mas, neste caso, o pé-direito do quarto, com quase 5 metros de altura, surpreendia. Percebe-se pela altura da porta. Com um comprimento ainda maior, o quarto dispunha também de uma enorme casa de banho e, ainda, de uma pequena dependência onde existia mais uma cama.
Voltámos ao vestuário “civil” e corremos, mesmo, até à recepção a tempo da última entrada no mosteiro. Infelizmente, não é permitido obter imagens na parte visitável do interior do mosteiro. Ficámos com algumas, sobretudo dos claustros e pouco mais, o que não espelha minimamente a sua riqueza estética, histórica e artística.
Estamos num dos Patrimónios da Humanidade. Este, tem o condão de historicamente ter sido palco da audiência dos reis católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, a Cristóvão Colombo - ainda hoje, com polémica em redor da sua nacionalidade -, quando estes disponibilizaram uma pequena frota de navios ao intitulado descobridor da América.
E as referências a Portugal não ficam por ali. Consta que houve monges Jerónimos ligados à fundação do mosteiro. Mais tarde, Pedro I, de Portugal, terá sido devoto da Virgem de Guadalupe. Os seus dois filhos, e de Inês de Castro,estão sepultados no mosteiro. Nuno Álvares Pereira visitou-o para agradecer a protecção da virgem após a vitória obtida na batalha de Aljubarrota.
Num dos quadros expostos num dos claustros, é possível surpreender, quer o nome do monarca, quer a representação de Afonso VI, o Africano, que segundo o texto aí inscrito, a sua saúde também estaria sob a protecção da virgem. E, foi lá, que o Desejado, Sebastião, acordou com Filipe II a expedição a Marrocos.
Embora seja habitualmente designado como mosteiro mudéjar, tem uma estética rica e diversificada, com muitos elementos dos estilos gótico, renascentista, barroco e neoclássico. O claustro mudéjar é um espaço deslumbrante onde se destacam os respectivos arcos bem como as habituais sepulturas. Em redor, as paredes estão decoradas com quadros de grandes dimensões.
No interior, há diversas salas, algumas de grandes dimensões, que encerram vários acervos museológicos, desde livros com valiosas iluminuras, bordados e paramentos litúrgicos (muitos com pedras preciosas) de fabrico próprio e, ainda, um conjunto de pinturas de El Greco e de Francisco de Goya.
Francisco Zurbarán, pintor seiscentista, também está representado com um conjunto de obras expostas na rica sacristia do mosteiro, profusamente decorada, onde já cabem mais elementos. Possui ainda um relicário que contempla uma vasta colecção de relíquias e uma peça das mais admiradas a coroa pontifícia da virgem.
Ainda era dia, por volta das 7 da tarde, hora a que fechava, quando saímos do mosteiro. A temperatura baixara sendo agora tão amena como o dia estava luminoso. O casario, de origem medieval (estivemos para reservar estada num alojamento junto da muralha), organiza-se em redor da Praça de Santa Maria, fronteira à fachada do mosteiro.
Viramo-nos para sul e entramos na judiaria, passamos o Arco de Sevilha (há mais quatro arcos), e continuamos até à Plazuela Tres Chorros, com uma fonte antiga do mesmo nome. Andamos entre moradias de rés do chão e 1º andar, sobre chão empedrado com seixo do rio e há muitos alpendres sustentados com colunas de madeira.
O tempo está tão bom que a escolha de restaurante para jantar recai obrigatoriamente sobre uma das esplanadas da praça. O ambiente é simpático, há muita gente a passar e a parar para o habitual petisco antes de jantar.
Em redor, há pequenas lojas de artesanato e mais restaurantes. Apesar de estarmos no centro, a tranquilidade domina o local. Nesta altura, foi possível jantar ao ar livre, a observar a praça e o admirável cenário do mosteiro.
DOS “MÁRMORES” A PLACENSIA
De manhã, o pequeno almoço decorreu em outro claustro do mosteiro que, no dia anterior, tínhamos visto desde a galeia no segundo andar que levava aos quartos. Um espaço tão calmo, como amplo e esteticamente agradável. Seria a última ligação ao ambiente histórico-monástico. Depois, saímos cedo, a tempo de passar por dois templos: o de Mármore e o de Placensia.
Subimos mais, continuamos na serra de Guadalupe, entramos no Geoparque Villuercas Ibores Jara, um espaço natural com um património geológico e histórico significativo, pleno de pinturas rupestres, dólmens, castros, castelos e, segundo consta, rico em gastronomia. Mas, também, com uma bela “pista” montanhosa para rolar de moto.
Estávamos de passagem. Mas tínhamos de parar num local que havia identificado como sendo um “tesourinho” arqueológico: o Templo de Augustobriga, mais conhecido como “Los Marmoles” (é assim que está escrito no Google Maps). Trata-se de uma ruína de um templo do século II d.C., construído em estilo coríntio.
Conta a lenda, como tantas outras semelhantes existentes em Portugal sobre princesas mouras, que em vez de templo, o edifício era um palácio de rei mouro, onde este encerrou a sua filha por estar apaixonada por um cavaleiro cristão. Realmente, aquele arco de pedra na fachada, onde habitualmente estaria um triângulo, não é muito comum na arquitectura romana…
Embora a albufeira tenha modificado significativamente a paisagem, o local de implantação é singular - será que o conjunto sempre esteve ali? -,, não só o templo, mas outros elementos arquitectónicos (colunas, sobretudo). É daqueles lugares isolados que se descobrem com edificações grandiosas, particularmente inesperadas.
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