quarta-feira, 13 de junho de 2018

Blankenberge 2018, Aikido no Mar do Norte



 
Não foi uma estreia em terras belgas.
Porém, nunca havia estado em Bruxelas nem em Blankenberge.
Desta feita, na primeira, não fui além do aeroporto.
Na segunda, todavia, passei três dias.
Móbil: participar num estágio internacional de Aikido, o primeiro fora de Portugal.

E descobrir o sítio onde a realeza europeia já foi feliz.


Indo de carro, Blankenberge fica a cerca de 2 mil quilómetros e 18 horas de minha casa. É longe.
De avião são pouco mais de 2 horas de caminho. Parece perto. Quando não há atrasos. 
Porque, nesta oportunidade, somaram uma boa meia hora na ida. 
E mais de uma hora no regresso.
Atrasos, porém, sobretudo por sermos portugueses, dir-se-ia estarem na nossa natureza. 
Já não estranhamos. 
É um detalhe que manipulamos com facilidade. 
A demora mói mas não morde. 
O fito é a viagem. E o estágio. 
Ambos valeram tal pena.
Acordar às 4, sair meia hora depois, para estar no aeroporto às 5. 
Descolaríamos às 7 e meia da manhã. 
Por volta das 11 locais, estávamos em Bruxelas. 
No entanto, a entrega da carrinha alugada demorou mais de uma hora. 
Um problema numa roda/pneu, disseram.

Almoçámos lá, num restaurante de comida rápida. 
Saímos finalmente para a auto-estrada, que liga a capital belga a Blankenberg, 
com alguns troços em obras. 
Quando chegámos ao local de estágio, os participantes belgas já rumavam ao pavilhão.

AIKIDO KEIKO

Entrámos no dojo já com a saudação tradicional inicial cumprida. 
Porém, rapidamente adquirimos o ritmo no tapete.
 Depois, entrosamo-nos no ambiente de prática. 
Logo após, estávamos prontos para iniciar o keiko (treino) específico.
Como habitualmente, neste tipo de estágios
 ministrados pelo nosso mentor técnico internacional,
 são os princípios do Aikido, os preceitos básicos, que são relevados. 
Por tal, o protagonismo foi para os movimentos e os posicionamentos elementares, 
suficientes e capazes de anular e/ou aproveitar a
 energia do ataque dos adversários. 
Neste capítulo, privilegiaram-se os ‘irimi’ e os ‘tenkan’.
 Depois, evoluímos para técnicas de ‘ikio’, ‘nikio’ e
 ‘kokiu’, terminando em ‘nage’, projecção. 
A julgar por este e pelos treinos seguintes, 
deve ter sido um dos estágios com maior frequência de projecções.
Após o (primeiro) treino, tomámos melhor contacto com as instalações. 
O Sport Vlaanderen é um centro de estágio plurimodal,
 capaz de alojar mais de uma centena de atletas simultaneamente, 
com fornecimento de refeições e roupa de cama. 
O pavilhão desportivo dispõe de mais de 100m2 de ‘tatamis’ 
e balneários suficientes simultaneamente para uma centena de praticantes.

O estágio contemplou 3 dias de treino, num total de 8 horas, 
ministradas por Antoine Vermeullen Shihan, 7º Dan, Aikikai de Tóquio 
- director técnico internacional da Associação Cultural Portuguesa de Aikido, ACPA
 - que, nesta ocasião, comemorou o seu Cinquentenário enquanto praticante de Aikido.

O evento, denominado “50 Years on the Tatami”,

teve lugar no fim-de-semana de Pentecostes, 

no Sport Vlaandereem, de Balnkenberge, e juntou uma

 delegação portuguesa da ACPA, 

que envolveu 11 praticantes.





Neste aniversário especial do Sensei Antoine Vermeullen, 
estiveram presentes oitenta e cinco aikidocas de várias
 Federações e países. 
Foi a experiência de 50 anos de aprendizagem no tatami, 
que o Sensei passou a todos os seus alunos que pretendem enriquecer o seu Aikido.


MARGINAL DO MAR DO NORTE


O primeiro contacto com a zona histórica de Blankenberge aconteceu logo após o jantar. 
Mas, rapidamente, escolhemos a marginal como espaço de passeio 

ao longo da extensa praia banhada pelo Mar do Norte. 
A brisa marítima sente-se perto da praia, mas não há olfacto que registe alguma maresia.

Embora não houvesse muita gente na rua,
 percebemos no dia seguinte que os restaurantes estavam cheios.
Os belgas parecem estar sempre em festa, a avaliar pelos cartazes 
– Festa no Cais de 10 a 13, feriado de Pentecostes  na segunda-feira seguinte -, 
pelas trupes de palhaços -– pelo menos, vimos duas 
e, mais longe, a música de outra -,  e, ainda, pelo fogo-de-artifício.

Juntam-nos no Belgium Pier, um conjunto de bar, restaurante,
miradouro, sala de reuniões e auditório.
 Trata-se de um edifício redondo, erigido no final de um pontão
com cerca de 100 metros de comprimento, 
implantado sobre estacas em pleno Mar do Norte.
Dali, a vista alcança praticamente toda a marginal,
 sendo fácil perceber que está repleta de prédios altos,
 restaurantes e lojas, como é habitual nesta zonas de veraneio. 
Fazia lembrar, remotamente, uma espécie de Praia da Rocha, 
mais baixa, mais fria e mais escura.
Do Pier, vê-se igualmente toda a extensão de areia,
 nem muito clara nem muita parda, os bares de praia,
 as barracas de madeira e algumas esplanadas. 
É possível, também, verificar que, aqui, 
a orientação das cadeiras de praia 
não é em função da vista de mar, 
mas sim em função do sol.
E foi da areia que, já noite, brotou um tímido foguete
 que, afinal, abriria uma sessão de fogo-de-artifício
 que durou cerca de 15minutos. 
O céu belga ficou rapidamente pleno de explosões, brilho e cor. 
Recostados nas cadeiras do Pier e com um copo de cerveja belga na mão, 
percebe-se ainda melhor a riqueza do cenário.

CENTRO HISTÓRICO

Aproveitamos a manhã seguinte para conhecer melhor a zona central e histórica da urbe. 
Saímos a pé do complexo desportivo, passámos pelo bairro de moradias, 
muitas de cor escura com paredes revestidas a tijolo. 
Numa delas, surpreendemos um cenário decorativo que envovia 
uma linha de comboio, algumas colinas e uma ponte.
Entramos na igreja de Sint-Rochus, de finais do século XIX, 
neo-romana, com fachada em tijolo vermelho. 
Entre outros detalhes, dispunha da lista de pastores residentes,
desde a última década do século XIX, 
e de um conjunto de objectos porventura relacionados com uma patrona da igreja.

Durante o percurso no centro histórico, 
percebe-se que a arquitectura dos prédios 
é semelhante à dos edifícios da zona histórica de Amesterdão. 
São estreitos, com 2 ou 3 andares, e muitos detalhes decorativos,
 a lembrar a Arte Deco dos Anos 20 (do século passado).
Talvez por isso, apelidem a zona como Belle Epoque.
 Aliás, um dos museus mais divulgados tem exactamente esse nome 
e mostra mobiliário, arquitectura, elementos decorativos 
e objectos, que vão desde finais do século XIX até aos Anos 20.
Fora do centro histórico, ainda há muitas casas antigas,
 ou que foram reconstruídas com a traça original. 
Uma delas, tinha ainda um telhado em colmo,
 reconstruído de acordo com preceitos antigos. 
Mais à frente, era um número de telefone 
ainda com 5 dígitos que testemunhava tal anciania.
Percebe-se que o sítio foi – e deve continuar a ser – privilegiado por pessoas economicamente relevantes.
 Antes da Primeira Guerra, era local escolhido para férias da nobreza e mesmo de monarcas. 
Hoje, há muitos cartazes a anunciar alugueres, 
quer de espaços comerciais – lojas ou bares -, quer apartamentos de férias.
Sendo domingo 
– dia em que, pelo menos por cá, muitos saem à rua – 
as ruas principais do centro estavam repletas de pessoas. 
Para tal enchente, devem contribuir muitas das ruas de tráfego exclusivo a peões 
terem as respectivas lojas de portas abertas. 
A zona da marginal também se mostrava farta de passeantes ou pessoas a fazer jogging.

Passámos pela Majutte Huisje, Casa de Majutte, 
uma das poucas casas históricas de pescadores que permaneceu na cidade. 
A casa tem cerca de 200 anos e nos anos 70 do século passado foi comprada
para se tornar numa loja de antiguidades, café e restaurante. 
Os proprietários mais recentes transformaram-na num museu.

Lá perto, e ainda numa rua sem trânsito automóvel, 
descobrimos o Hotel Restaurant José, com acento e tudo, 
de duas estrelas, o que diz da diáspora lusitana por terras do TinTin. 
Antes, havíamos surpreendido um jogo de boules ou petanca. 
Mais à frente, uma Harley-Davidson em frente de uma joalharia. 
Por todo o lado, matrículas luxemburguesas.
 Cosmopolita, esta Blankenberge.

No meio de tudo isto, uma sensação estranha. 
Na marginal, o mar está ou parece estar praticamente aos nossos pés. 
Da marginal para sul, desce-se, por escada ou por rampa. 
No fim da descida, a sensação é de que estamos abaixo do nível do mar.
Não estamos, mas quase! 
O Sport Vlaanderen está apenas um metro acima do nível do mar. 
Passear é fácil, tal como andar de bicicleta. 
Os pisos, quer do passeio, quer da rua, estão em bom estado. 
As únicas subidas têm desníveis de 5 metros para e da marginal. 
Tudo o resto é plano.

E VOLTA


Deixamos Blankenberge após o almoço de segunda-feira. 
O trânsito previa-se e verificou-se intenso, quer por ser feriado, 
quer devido às obras em diversos, locais do percurso. 
Chegamos ao aeroporto com uma margem de tempo suficiente 
para comprar alguns produtos típicos no free shop respectivo 
e, ainda, estender a conversa para assuntos da nossa prática de Aikido, 
acompanhados ao piano por jovens músicos que tinham um à disposição 
no salão de espera junto aos bares.

O avião que devia sair cerca das 20:25, partiu já perto das 10 da noite. 
Justificaram o atraso com as condições atmosféricas.
 Quando há trovoada sobre o aeroporto as operações aéreas cessam, referiu o comandante. 
Depois de um voo algo sui generis, com muito humor, mas também algum mau odor, 
estávamos de regresso a casa por volta da uma da manhã.

Estava cumprido o primeiro estágio de Aikido no estrangeiro. 
Este fim-de-semana de prática ficará na memória, 
com um conjunto de ensinamentos preciosos, com bons “ukes” belgas e algum “relax” atento, 
o suficiente para nos mantermos no Caminho do Budo,
 através da contínua prática de Aikido.

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