Não foi uma
estreia em terras belgas.
Porém, nunca havia estado em Bruxelas nem em
Blankenberge.
Desta feita, na primeira, não fui além do aeroporto.
Na segunda,
todavia, passei três dias.
Móbil: participar num estágio internacional de
Aikido, o primeiro fora de Portugal.
E descobrir o sítio onde a realeza europeia já foi feliz.
E descobrir o sítio onde a realeza europeia já foi feliz.
Indo de
carro, Blankenberge fica a cerca de 2 mil quilómetros e 18 horas de minha casa. É longe.
De avião são pouco mais de 2 horas de caminho. Parece perto. Quando não há atrasos.
Porque,
nesta oportunidade, somaram uma boa meia hora na ida.
E mais de uma hora no
regresso.
Atrasos,
porém, sobretudo por sermos portugueses, dir-se-ia estarem na nossa natureza.
Já não estranhamos.
É um detalhe que manipulamos com facilidade.
A demora mói
mas não morde.
O fito é a viagem. E o estágio.
Ambos valeram tal pena.
Acordar às 4,
sair meia hora depois, para estar no aeroporto às 5.
Descolaríamos às 7 e meia
da manhã.
Por volta das 11 locais, estávamos em Bruxelas.
No entanto, a entrega
da carrinha alugada demorou mais de uma hora.
Um problema numa roda/pneu,
disseram.
Almoçámos lá,
num restaurante de comida rápida.
Saímos finalmente para a auto-estrada, que
liga a capital belga a Blankenberg,
com alguns troços em obras.
Quando chegámos
ao local de estágio, os participantes belgas já rumavam ao pavilhão.
AIKIDO KEIKO
Entrámos no
dojo já com a saudação tradicional inicial cumprida.
Porém, rapidamente
adquirimos o ritmo no tapete.
Depois, entrosamo-nos no ambiente de prática.
Logo
após, estávamos prontos para iniciar o keiko (treino) específico.
Como
habitualmente, neste tipo de estágios
ministrados pelo nosso mentor técnico
internacional,
são os princípios do Aikido, os preceitos básicos, que são
relevados.
Por tal, o protagonismo foi para os movimentos e os posicionamentos
elementares,
suficientes e capazes de anular e/ou aproveitar a
energia do
ataque dos adversários.
Depois, evoluímos para técnicas de ‘ikio’, ‘nikio’ e
‘kokiu’, terminando em ‘nage’, projecção.
A julgar por este e pelos treinos seguintes,
deve ter sido um dos estágios com maior frequência de projecções.
Após o (primeiro) treino, tomámos melhor contacto com as instalações.
O Sport Vlaanderen é um centro de estágio plurimodal,
capaz de alojar mais de uma centena de atletas simultaneamente,
com fornecimento de refeições e roupa de cama.
O pavilhão desportivo dispõe de mais de 100m2 de ‘tatamis’
e balneários suficientes simultaneamente para uma centena de praticantes.
O estágio
contemplou 3 dias de treino, num total de 8 horas,
ministradas por Antoine Vermeullen
Shihan, 7º Dan, Aikikai de Tóquio
- director técnico internacional
da Associação
Cultural Portuguesa de Aikido, ACPA
- que, nesta ocasião, comemorou o
seu Cinquentenário enquanto praticante de Aikido.
O evento, denominado “50 Years on the Tatami”,
teve lugar no fim-de-semana de Pentecostes,
no Sport Vlaandereem, de Balnkenberge, e juntou uma
delegação portuguesa da ACPA,
que envolveu 11 praticantes.
teve lugar no fim-de-semana de Pentecostes,
no Sport Vlaandereem, de Balnkenberge, e juntou uma
delegação portuguesa da ACPA,
que envolveu 11 praticantes.
Neste aniversário especial do Sensei Antoine Vermeullen,
estiveram presentes oitenta e cinco aikidocas de várias
Federações e países.
Foi a experiência de 50 anos de aprendizagem no tatami,
que o Sensei passou a todos os seus alunos que pretendem enriquecer o seu Aikido.
MARGINAL DO
MAR DO NORTE
O primeiro
contacto com a zona histórica de Blankenberge aconteceu logo após o jantar.
Mas, rapidamente, escolhemos a marginal como espaço de passeio
ao longo da extensa praia banhada pelo Mar do Norte.
ao longo da extensa praia banhada pelo Mar do Norte.
A brisa marítima sente-se perto da praia, mas
não há olfacto que registe alguma maresia.
Embora não
houvesse muita gente na rua,
percebemos no dia seguinte que os restaurantes
estavam cheios.
Os belgas parecem estar sempre em festa, a avaliar pelos cartazes
– Festa no Cais de 10 a 13, feriado de Pentecostes na segunda-feira seguinte -,
pelas trupes de
palhaços -– pelo menos, vimos duas
e, mais longe, a música de outra -, e, ainda, pelo fogo-de-artifício.
Juntam-nos no
Belgium Pier, um conjunto de bar, restaurante,
miradouro, sala de reuniões e
auditório.
Trata-se de um edifício redondo, erigido no final de um pontão
com
cerca de 100 metros de comprimento,
implantado sobre estacas em pleno Mar do
Norte.
Dali, a vista
alcança praticamente toda a marginal,
sendo fácil perceber que está repleta de
prédios altos,
restaurantes e lojas, como é habitual nesta zonas de veraneio.
Fazia lembrar, remotamente, uma espécie de Praia da Rocha,
mais baixa, mais
fria e mais escura.
Do Pier, vê-se
igualmente toda a extensão de areia,
nem muito clara nem muita parda, os bares
de praia,
as barracas de madeira e algumas esplanadas.
É possível, também,
verificar que, aqui,
a orientação das cadeiras de praia
não é em função da
vista de mar,
mas sim em função do sol.
E foi da
areia que, já noite, brotou um tímido foguete
que, afinal, abriria uma sessão
de fogo-de-artifício
que durou cerca de 15minutos.
O céu belga ficou
rapidamente pleno de explosões, brilho e cor.
Recostados nas cadeiras do Pier e
com um copo de cerveja belga na mão,
percebe-se ainda melhor a riqueza do
cenário.
CENTRO
HISTÓRICO
Aproveitamos
a manhã seguinte para conhecer melhor a zona central e histórica da urbe.
Saímos a pé do complexo desportivo, passámos pelo bairro de moradias,
muitas de
cor escura com paredes revestidas a tijolo.
Numa delas, surpreendemos um
cenário decorativo que envovia
uma linha de comboio, algumas colinas e uma ponte.
Entramos na
igreja de Sint-Rochus, de finais do século XIX,
neo-romana, com fachada em tijolo vermelho.
neo-romana, com fachada em tijolo vermelho.
Entre outros detalhes, dispunha da lista de pastores residentes,
desde a última década do século XIX,
e de um conjunto de objectos
porventura relacionados com uma patrona da igreja.
Durante o
percurso no centro histórico,
percebe-se que a arquitectura dos prédios
é
semelhante à dos edifícios da zona histórica de Amesterdão.
São estreitos,
com 2 ou 3 andares, e muitos detalhes decorativos,
a lembrar a Arte Deco dos Anos
20 (do século passado).
Talvez por
isso, apelidem a zona como Belle Epoque.
Aliás, um dos museus mais divulgados
tem exactamente esse nome
e mostra mobiliário, arquitectura, elementos decorativos
e objectos, que vão desde finais do século XIX até aos Anos 20.
Fora do centro
histórico, ainda há muitas casas antigas,
ou que foram reconstruídas com a
traça original.
Uma delas, tinha ainda um telhado em colmo,
reconstruído de
acordo com preceitos antigos.
Mais à frente, era um número de telefone
ainda
com 5 dígitos que testemunhava tal anciania.
Percebe-se
que o sítio foi – e deve continuar a ser – privilegiado por pessoas economicamente
relevantes.
Antes da Primeira Guerra, era local escolhido para férias da
nobreza e mesmo de monarcas.
Hoje, há muitos cartazes a anunciar alugueres,
quer de espaços comerciais – lojas ou bares -, quer apartamentos de férias.
Sendo domingo
– dia em que, pelo menos por cá, muitos saem à rua –
as ruas principais do
centro estavam repletas de pessoas.
Para tal enchente, devem contribuir muitas
das ruas de tráfego exclusivo a peões
terem as respectivas lojas de portas
abertas.
A zona da marginal também se mostrava farta de passeantes ou pessoas a
fazer jogging.
Passámos pela
Majutte Huisje, Casa de Majutte,
uma das poucas casas históricas de pescadores
que permaneceu na cidade.
A casa tem cerca de 200 anos e nos anos 70 do século
passado foi comprada
para se tornar numa loja de antiguidades, café e
restaurante.
Os proprietários mais recentes transformaram-na num museu.
Lá perto, e
ainda numa rua sem trânsito automóvel,
descobrimos o Hotel Restaurant José, com
acento e tudo,
de duas estrelas, o que diz da diáspora lusitana por terras do
TinTin.
Antes, havíamos surpreendido um jogo de boules ou petanca.
Mais à
frente, uma Harley-Davidson em frente de uma joalharia.
Por todo o lado,
matrículas luxemburguesas.
Cosmopolita, esta Blankenberge.
No meio de
tudo isto, uma sensação estranha.
Na marginal, o mar está ou parece estar praticamente
aos nossos pés.
Da marginal para sul, desce-se, por escada ou por rampa.
No fim
da descida, a sensação é de que estamos abaixo do nível do mar.
Não estamos,
mas quase!
O Sport Vlaanderen está apenas um metro acima do nível do mar.
Passear
é fácil, tal como andar de bicicleta.
Os pisos, quer do passeio, quer da rua,
estão em bom estado.
As únicas subidas têm desníveis de 5 metros para e da
marginal.
Tudo o resto é plano.
E VOLTA
Deixamos
Blankenberge após o almoço de segunda-feira.
O trânsito previa-se e
verificou-se intenso, quer por ser feriado,
quer devido às obras em diversos, locais
do percurso.
Chegamos ao aeroporto com uma margem de tempo suficiente
para comprar alguns produtos típicos no free shop respectivo
e,
ainda, estender a conversa para assuntos da nossa prática de Aikido,
acompanhados ao piano por jovens músicos que tinham um à disposição
no salão de
espera junto aos bares.
O avião que
devia sair cerca das 20:25, partiu já perto das 10 da noite.
Justificaram o
atraso com as condições atmosféricas.
Quando há trovoada sobre o aeroporto as operações
aéreas cessam, referiu o comandante.
Depois de um voo algo sui generis, com
muito humor, mas também algum mau odor,
estávamos de regresso a casa por volta
da uma da manhã.
Estava
cumprido o primeiro estágio de Aikido no estrangeiro.
Este fim-de-semana de
prática ficará na memória,
com um conjunto de ensinamentos preciosos, com bons “ukes”
belgas e algum “relax” atento,
o suficiente para nos mantermos no Caminho do
Budo,
através da contínua prática de Aikido.
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