Belmonte
pode não ser um “belo monte” ou um “monte de guerra”.
Mas está certamente
situada num monte
de onde se desfruta uma paisagem ampla e aprazível.
Não é
preciso sequer subir a encosta do castelo para ver tudo em redor.
Ao trepar
para a vila, a planície que a rodeia percebe-se cada vez mais longe.
A
vista vai da encosta oriental da serra da Estrela,
à vastidão do planalto
oriental que leva à serra da Malcata.
Bela vista, sem dúvida! Melhor ainda,
desde o castelo,.
Daí, é possível percorrer praticamente todo o adarve
e conferir
daí que a paisagem é vasta e diversificada.
Já
desde a pré-história que Belmonte foi escolhida como habitat humano.
As antas e
castros da região confirmam essa presença ancestral.
Os romanos também lhe
atribuíram interesse ao elegê-la,
como local estratégico – torre de Centum
Cellas -
e de passagem – via romana da Guarda a Mérida.
As
duas referências mais significativas de Belmonte
são, contudo, os Cabrais e os
judeus.
Pedro Álvares Cabral, pela descoberta do Brasil, sobretudo, mas não só
ele.
Já na Idade Média,
a governança do castelo tinha sido atribuída a um
alcaide da família Cabral.
Pouco depois, seria alcaide-mor o próprio pai do
descobridor do Brasil.
O
navegador tem uma estátua num pequeno jardim da rus principal.
Foi Inaugurada pelo
presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, em 1963.
A estátua do navegador
português, esculpida em pedra,
está hoje
ligeiramente esverdeada.
Os
judeus são outra referência da vila,
pela presença da comunidade que favoreceu
o comércio da região,
uma presença muito forte marcada pelas tradições e
cultura judaica
desde o século XVI.
A primeira sinagoga datará de finais do
século XIII.
O
foral da vila data do último ano do século XII
– estando uma réplica no castelo
-
altura em que judeus e cristãos partilham a urbe.
Nesta época, já dispunha de
um sistema defensivo muralhado.
É em meados do século seguinte que são
construídos
o castelo e a respectiva torre.
Só quase duzentos anos depois o
castelo é entregue à família Cabral.
A
famosa janela manuelina construída no pano poente da muralha do castelo
surge
nesta altura, sensivelmente a meio do século XV.
Fará parte da residência de
Fernão Cabral
numa época em que o castelo havia perdido interesse defensivo.
Contudo,
o seu abandono pelos Cabrais foi definitivo
após um incêndio que destruiu a ala
poente.
Apesar de ainda ter sido recuperado para fins militares,
nos finais do século XVIII, o castelo voltou a deixar de ter interesse estratégico.
Só mais
de um século depois foi reconhecido a importância histórica e patrimonial.
A
caminho do centro histórico e da zona do castelo, surge a Igreja Matriz
onde
está guardada uma imagem de Nossa Senhora da Esperança
que data de quatrocentos
e, de acordo com a tradição,
terá viajado com Pedro Álvares Cabral, na altura da
descoberta do Brasil.
Antes
de chegar ao castelo, a zona histórica de Belmonte
leva-nos através de ruas
estreitas ladeadas por habitações em pedra ou alvenaria,
num misto de passado e
presente que, quase sempre,
é um dos motivos que nos levam algures.
Entre
os meandros das ruas descobre-se um ou outro largo.
O do Pelourinho, um dos
mais interessantes e cosmopolitas,
abriga o antigo Paço do Concelho, um
edifício com cinco séculos.
Do outro lado, um complexo judaico dá acesso ao Museu
Judaico,
situado um pouco mais acima.
Em
outro canto do largo, fica o Fio de Azeite,
um pequen(íssimo) restaurante, que
dispõe de um terraço exterior.
Vale a pena (também) pelos petiscos.
Dessa esplanada, domina-se todo o largo
onde a maior parte das casas são
ainda em granito.
Hoje, o vento bufa forte sobretudo de poente.
O terreiro em frente do castelo parece soprado por um Éolo furioso.
Toda a gente cobre os olhos e deixa rapidamente o estacionamento.
A vista enevoa-se de pó que parece forte nevoeiro matinal.
Mais
acima fica o castelo.
Dir-se-ia que está rodeado pelo sagrado.
Próximo, ficam as
capelas de Santo António e do Calvário e,
um pouco mais longe, a Sinagoga de
Belmonte.
Próximo das capelas fica a Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais.
As
capelas são pequenas.
Estão situadas numa pequena elevação,
mesmo em frente da
entrada principal do castelo.
A de Santo António, brasonada, data do século XV.
A do Calvário, apesar de ser do século XIX,
parece antiga devido ao estilo
revivalista gótico.
Estima-se
que a Igreja de Santiago seja de meados do século XIII.
A arquitectura foi
reunindo um conjunto de estilos
que vão desde o românico ao maneirista,
passando pelo gótico e pelo manuelino.
Contígua,
a capela dos Cabrais
data de meados da primeira metade do século XV.
Encerra,
para além das cinzas de Pedro Alvares Cabral
e de outros membros da sua
família, dois objectos artísticos importantes,
uma escultura gótica de Nossa
Senhora da Piedade
e ainda um fresco que representa
São Tiago, Nossa Senhora da
Esperança e São Pedro.
O
castelo fica a alguns passos sobre um morro pétreo,
sendo o lugar mais alto da
vila.
Em redor, a vista volta a surpreender pela distância e abrangência.
Do
adarve, percebe-se bem uma nuvem de fumo,
que se elevava a alguns quilómetros de
distância, oriunda de um incêndio.
No
pátio, que surge logo após a entrada,
não se percebe ainda a dimensão do castelo.
Essa grandeza só se descobre quando passamos um arco de pedra
que dá acesso ao pátio de armas, um terreiro imenso nas muralhas interiores.
Percebe-se também o traçado ovalado das muralhas.
No
terreiro, praticamente nu, foi construído um anfiteatro numa das extremidades,
mas também foi deixado sensivelmente a meio um poço de grandes dimensões.
A torre
de menagem, adossada a sudoeste, foi transformada em museu.
A recepção ocupa o piso térreo da área a apalaçada.
O
acesso à torre está facilitado através da montagem de um passadiço em ferro.
Nesta
altura, o piso térreo mostrava uma maqueta de Ceuta quinhentista e,
nos pisos
superiores, mostravam-se alguns testemunhos de época
– moedas de ouro, a tal
réplica do foral manuelino, uma armadura -,
entre outros objectos históricos.
Nas
paredes da torre ainda se descobrem os sinais dos construtores,
símbolos das
congregações de pedreiros medievais.
Trabalhos de prospecção arqueológica, de há duas décadas,
efectuados no interior do castelo, já comprovaram a
presença romana.
No segundo piso da torre descobrimos moedas de ouro medievais
e a tal réplica do foral atribuído por rei primeiro rei Manuel.
Mais acima, é a paisagem sobre a vila que se desvenda entre as ameias.
Em redor, a paisagem beirã.