quarta-feira, 4 de abril de 2018

Belmonte



Belmonte pode não ser um “belo monte” ou um “monte de guerra”. 
Mas está certamente situada num monte
de onde se desfruta uma paisagem ampla e aprazível. 
Não é preciso sequer subir a encosta do castelo para ver tudo em redor.
Ao trepar para a vila, a planície que a rodeia percebe-se cada vez mais longe.


A vista vai da encosta oriental da serra da Estrela,
à vastidão do planalto oriental que leva à serra da Malcata.
Bela vista, sem dúvida! Melhor ainda, desde o castelo,.
Daí, é possível percorrer praticamente todo o adarve
e conferir daí que a paisagem é vasta e diversificada.

Já desde a pré-história que Belmonte foi escolhida como habitat humano.
As antas e castros da região confirmam essa presença ancestral. 
Os romanos também lhe atribuíram interesse ao elegê-la,
como local estratégico – torre de Centum Cellas -
e de passagem – via romana da Guarda a Mérida.


As duas referências mais significativas de Belmonte
 são, contudo, os Cabrais e os judeus. 
Pedro Álvares Cabral, pela descoberta do Brasil, sobretudo, mas não só ele.
Já na Idade Média,
a governança do castelo tinha sido atribuída a um alcaide da família Cabral. 
Pouco depois, seria alcaide-mor o próprio pai do descobridor do Brasil.


O navegador tem uma estátua num pequeno jardim da rus principal. 
Foi Inaugurada pelo presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, em 1963.
A estátua do navegador português, esculpida em pedra,
está hoje ligeiramente esverdeada.

Os judeus são outra referência da vila,
pela presença da comunidade que favoreceu o comércio da região,
uma presença muito forte marcada pelas tradições e cultura judaica
 desde o século XVI. 
A primeira sinagoga datará de finais do século XIII.


O foral da vila data do último ano do século XII
– estando uma réplica no castelo - 
altura em que judeus e cristãos partilham a urbe. 
Nesta época, já dispunha de um sistema defensivo muralhado. 
É em meados do século seguinte que são construídos
o castelo e a respectiva torre. 
Só quase duzentos anos depois o castelo é entregue à família Cabral.

A famosa janela manuelina construída no pano poente da muralha do castelo
 surge nesta altura, sensivelmente a meio do século XV. 
Fará parte da residência de Fernão Cabral
 numa época em que o castelo havia perdido interesse defensivo.


Contudo, o seu abandono pelos Cabrais foi definitivo
após um incêndio que destruiu a ala poente. 
Apesar de ainda ter sido recuperado para fins militares, 
nos finais do século XVIII, o castelo voltou a deixar de ter interesse estratégico. 
Só mais de um século depois foi reconhecido a importância histórica e patrimonial.

A caminho do centro histórico e da zona do castelo, surge a Igreja Matriz
 onde está guardada uma imagem de Nossa Senhora da Esperança
 que data de quatrocentos e, de acordo com a tradição, 
terá viajado com Pedro Álvares Cabral, na altura da descoberta do Brasil.



Antes de chegar ao castelo, a zona histórica de Belmonte
leva-nos através de ruas estreitas ladeadas por habitações em pedra ou alvenaria,
 num misto de passado e presente que, quase sempre, 
é um dos motivos que nos levam algures.

Entre os meandros das ruas descobre-se um ou outro largo. 
O do Pelourinho, um dos mais interessantes e cosmopolitas, 
abriga o antigo Paço do Concelho, um edifício com cinco séculos. 
Do outro lado, um complexo judaico dá acesso ao Museu Judaico, 
situado um pouco mais acima.


Em outro canto do largo, fica o Fio de Azeite,
um pequen(íssimo) restaurante, que dispõe de um terraço exterior. 
Vale a pena (também) pelos petiscos.
Dessa esplanada, domina-se todo o largo
onde a maior parte das casas são ainda em granito.


Hoje, o vento bufa forte sobretudo de poente. 
O terreiro em frente do castelo parece soprado por um Éolo furioso. 
Toda a gente cobre os olhos e deixa rapidamente o estacionamento. 
A vista enevoa-se de pó que parece forte nevoeiro matinal.

Mais acima fica o castelo. 
Dir-se-ia que está rodeado pelo sagrado. 
Próximo, ficam as capelas de Santo António e do Calvário e, 
um pouco mais longe, a Sinagoga de Belmonte. 
Próximo das capelas fica a Igreja de Santiago e o Panteão dos Cabrais.


As capelas são pequenas. 
Estão situadas numa pequena elevação, 
mesmo em frente da entrada principal do castelo. 
A de Santo António, brasonada, data do século XV. 
A do Calvário, apesar de ser do século XIX, 
parece antiga devido ao estilo revivalista gótico.

Estima-se que a Igreja de Santiago seja de meados do século XIII. 
A arquitectura foi reunindo um conjunto de estilos 
que vão desde o românico ao maneirista, 
passando pelo gótico e pelo manuelino.


Contígua, a capela dos Cabrais
data de meados da primeira metade do século XV. 
Encerra, para além das cinzas de Pedro Alvares Cabral
 e de outros membros da sua família, dois objectos artísticos importantes, 
uma escultura gótica de Nossa Senhora da Piedade 
e ainda um fresco que representa 
São Tiago, Nossa Senhora da Esperança e São Pedro.


O castelo fica a alguns passos sobre um morro pétreo, 
sendo o lugar mais alto da vila. 
Em redor, a vista volta a surpreender pela distância e abrangência. 
Do adarve, percebe-se bem uma nuvem de fumo,
 que se elevava a alguns quilómetros de distância, oriunda de um incêndio.


No pátio, que surge logo após a entrada, 
não se percebe ainda a dimensão do castelo. 
Essa grandeza só se descobre quando passamos um arco de pedra
que dá acesso ao pátio de armas, um terreiro imenso nas muralhas interiores.
Percebe-se também o traçado ovalado das muralhas.


No terreiro, praticamente nu, foi construído um anfiteatro numa das extremidades,
 mas também foi deixado sensivelmente a meio um poço de grandes dimensões. 
A torre de menagem, adossada a sudoeste, foi transformada em museu.
A recepção ocupa o piso térreo da área a apalaçada.


O acesso à torre está facilitado através da montagem de um passadiço em ferro.
 Nesta altura, o piso térreo mostrava uma maqueta de Ceuta quinhentista e, 
nos pisos superiores, mostravam-se alguns testemunhos de época
– moedas de ouro, a tal réplica do foral manuelino, uma armadura -, 
entre outros objectos históricos.


Nas paredes da torre ainda se descobrem os sinais dos construtores, 
símbolos das congregações de pedreiros medievais. 
Trabalhos de prospecção arqueológica, de há duas décadas,
efectuados no interior do castelo, já comprovaram a presença romana.



No segundo piso da torre descobrimos moedas de ouro medievais 
e a tal réplica do foral atribuído por rei primeiro rei Manuel. 
Mais acima, é a paisagem sobre a vila que se desvenda entre as ameias. 
Em redor, a paisagem beirã.