O avião não nos leva de uma vez.
Para chegar ao Japão é preciso fazer, pelo menos, uma escala.
Uma escala que divide a viagem.
A primeira parte levou-nos à Alemanha.
Aqui, coleccionamos momentos.
Aqui, coleccionamos momentos.
Daí, Instantes de Frankfurt.
Em Lisboa, fomos os últimos a
embarcar.
Nunca tanta gente entregou
tantas malas nos superlotados balcões de partida.
Nunca tanta gente foi
revistada por tão poucos seguranças.
Nunca tanta gente esteve á
nossa frente para embarcar.
Talvez não tenhamos sido os
únicos a ouvir: “o embarque já está fechado!”.
Todavia, este primeiro
instante de instabilidade
seria compensado por um voo sereno.
Acabamos por ser levados ao avião num autocarro praticamente “privativo”.
Passadas três horas,
estávamos em Frankfurt.
Para lá, voaríamos por cima
dos Pirenéus e das planícies do nordeste francês.
Saímos com atraso, mas
chegámos a tempo.
Teríamos cerca de oito horas
para conhecer a cidade.
Um dos instantes mais evidentes
em Frankfurt aconteceu num átrio centenáio.
Ao observar uma imagem que
mostra a catedral da cidade, em Março de 1944.
Uma fotografia emoldurada num lugar de destaque no maior templo local.
Pareceu-me mesmo que era a
única.
Naquela data, foram destruídos mais um milhar de edifícios da cidade antiga.
Os bombardeamentos aliados anunciavam
o fim da guerra.
A catedral aparece na fotografia
praticamente isolada.
Em redor, apenas escombros dos
edifícios vizinhos.
Reparem na data da fotografia, Março de 1944.
Reparem na data da fotografia, Março de 1944.
A origem da edificação é merovíngia e data do século VII.
De quando os francos
dominavam a Europa
Quando abrangiam pouco menos espaço
do que a Alemanha nazi ocupou treze séculos depois.
A catedral gótica é do século XIV/XV.
A torre, com quase cem metros de altura,
foi para nós também um ponto de orientação.
Antes, havíamos desembocado
na estação ferroviário central.
Ali, estávamos praticamente na zona privilegiada da Zeil.
Trata-se de uma área central de
lazer e de compras,
com acessos exclusivamente para pedestres e bicicletas.
É praticamente uma longa
avenida arborizada
e com muitos espaços para descontrair,
marginada por prédios, alguns arquitectonicamente arrojados.
e com muitos espaços para descontrair,
marginada por prédios, alguns arquitectonicamente arrojados.
Em vez de engarrafamentos de quatro rodas, há muitas,
mesmo muitas bicicletas a circular.
Dali, vê-se ao longe a área de arranha-céus da cidade,
onde está situada a zona financeira e empresarial da
cidade.
A estética associada a esta
zona é de uma Manhattan alemã,
radicalmente diferente do ambiente arquitectónico do centro histórico.
radicalmente diferente do ambiente arquitectónico do centro histórico.
Aqui, entre prédios clássicos
consegue-se facilmente descobrir
uma fachada mais antiga pintada como se de um
quadro se tratasse.
O rio Meno (Main) era outra das referências que ajudam a situar-nos.
Tal como a Alte Brucke, a
Ponte Alta, que o atravessa
e assiste à passagem de barcos de passageiros.
Nas margens, o verde domina
nas árvores e na relva,
e os cais estendem-se para acolher barcos turísticos.
A poucos minutos da catedral
e do rio, fica a praça Römerberg.
Estamos no centro histórico
de Frankfurt,
rodeados pelo charme de pequenos edifícios com traça histórica.
Os edifícios da Câmara
destacam-se pela arquitectura,
pela dimensão e sobretudo pela cor salmonada.
Do outro lado da Câmara,
encontra-se um conjunto de construções em madeira,
originalmente dos séculos XV
e XVI, conhecidos como Ostseile.
Foram reconstruídos após a
Segunda Grande Guerra.
Completam a traça do espaço
dando-lhe uma estética da Alta Idade Média alemã.
Durante a guerra, os
edifícios da praça
– aliás como a maior parte da cidade -
foram destruídos
pelos bombardeamentos aliados.
No centro da praça, que no
Inverno recebe um famoso Mercado de Natal,
está uma estátua que simboliza a Justiça,
datada de meados do século XVI.
Não muito longe, ergue-se a
torre Eschenheimer Turm,
uma ponte medieval do século XV.
É testemunha de um conjunto
de cerca de sessenta torres
que rodeavam a cidade.
Trata-se do edifício
histórico inalterado mais antigo do centro da cidade.
Tal como a maior parte da
Europa central, o terreno é plano.
O piso é excelente e os
passeios largos convidam a andar.
Nas ruas estreitas o trânsito
é diminuto ou inexistente.
Há poucos lugares de
estacionamento disponíveis.
Com o comboio a chegar ao
centro é desnecessário o uso de automóveis.
Regressámos ao aeroporto, não
sem experimentar um equívoco
na linha que nos devia levar ao aeroporto.
Notámos o engano três ou quatro estações,
depois daquela em que devíamos ter saído para mudar de
comboio.
Foi em Frankfurt-Nied que mudámos para o outro cais.
Ali, porém, apesar de se
notar a modernidade na sinalética,
em redor o tempo parecia não ter mudado
desde meados do século passado.
As casas, as sebes, os postes
em madeira, até o próprio cais,
pareciam do tempo em que o tempo não devia ter existido…