quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Oceanário de Lisboa




(QUASE) NO FIM DO TEJO

Já vimos milhares de manhãs, em centenas de sítios.
Situações e lugares surpreendem-nos amiude.
Espanta-nos a sombra, a escuridão, a névoa.
Além de uma miríade de formas e conteúdos. 
De tal maneira que, querendo, é possível efabular ambientes.


O amanhecer no Tejo, junto do Parque das Nações, 
também tem o seu quê de exclusivo e diverso. 
Até de enigmático. 
Os nevoeiros matinais conturbam a paisagem
 e reforçam-lhe o ar misterioso
 que a distância amplia. 
A luz, a claridade, a cor e as texturas especializam-se.
Percebe-se o horizonte pelas sombras e pelas silhuetas.


Peculiares são também as formas deixadas no lodo pelo arriar do rio.
Rasgam-no ao sabor da baixa-mar, 
deixando traços privativos de uma natureza que parece idêntica e inerte. 
É também essa originalidade que o rio, parente do oceano, 
nos deixa impresso no chão.

O OCEANO NUM AQUÁRIO



E o oceano ali tão perto, numa enseada do Parque e no fim do rio. 
Não lhe podendo ver mais do que a superfície da água, 
o Oceanário possibilita ver e conhecer muito do Oceano, 
através de ambientes construídos à sua imagem, 
com a população marinha que lá habita.


Ser peixe deve ser nadar por ali fora.
Sem rótulos, nem horários.
Ir andando ao ritmo da água, submergir, vir à tona. 
Um aquário é um sítio propício para tal. 
Os peixes têm lá vidros, que os separam de nós. 
E vice-versa. 
Fiquemos por essa barreira. 
No Oceanário de Lisboa.


Estar lá é sobretudo para olhar. 
Observar os peixes, o andar na água, nadar, 
acompanhar os seus movimentos fluidos e descontraídos, 
olhar em redor, para os outros peixes, descobrir um cardume, 
um predador, um solitário ou, até mesmo, um homem-rã.


É ainda garantido que um ou outro animal nos desperte a atenção. 
Ou, uma criança, surpreendida por aquele ambiente. 
E ainda é natural que descubramos uma ou outra novidade. 
Mas também é possível descansar os olhos e a mente naquela calma, 
naquele ritual de naturalidade que os aquários permitem.

A CONDIÇÃO DO PRIMITIVO E DO IMEDIATO



Começamos pelas Florestas Submersas, 
uma obra de design de aquários plantados, 
do japonês Takashi Amano, 
baseada na recriação das florestas tropicais. 
É aqui que começa a experiência de relaxe e contemplação. 
Takashi pega nos ecossistemas e dá-lhes o seu toque “wabi-sabi”,
a sua visão estética conceptual de breve e primitivo.



É ao longo de cerca de 40 metros de aquários, 
com dois metros e meio de altura e quase dois de altura, 
e sobre quatro toneladas de areia e vinte cinco de rocha vulcânica açoriana 
e setenta e oito troncos de árvores da Escócia e da Malásia, 
que vivem cerca de dez mil peixes tropicais de quarenta espécies.



Os bancos estão lá de propósito. 
Para que as pessoas se sentem. 
Podem olhar ou conversar. 
O ambiente é motivador, para qualquer situação. 
Para pensar, cavaquear ou observar. 
Tanto ao nível da água, como em planos mais elevados. 
É sereno e inspirador.

A PROXIMIDADE DA NATUREZA


Depois, atravessamos a “ponte” e passamos ao tanque central, 
O “rés-do-chão” recebe-nos ainda ofuscados pela luz exterior
e perturbados pelo azul-marinho
que ainda nos esconde muito do que ali se passa.
Após habituar os olhos à mudança,
o mundo aquático vai-se revelando sereno e harmonioso.


Vem de lá um, dois tubarões, um mero, uma manta, duas ou três raias. 
Num fluir lento, cadenciado, quase dançante. 
Logo após, passa um cardume apressado,
descobre-se o mergulho de dois ou três pinguins
que quase se esborracham no fundo do aquário…


Vamos andando em redor do tanque principal, 
passando pelas zonas tropical, temperada, e quase polar, 
assistimos aos passeios e mergulhos sincopados dos pinguins-de-magalhães, 
às indefiníveis posturas das lontras, ao pairar de cavalos-marinhos.


Entretanto, o cenário do aquário central vai mudando.
E surgem peixes com formas e expressões curiosas, quase caricatas. 
De cada vez que o peixe-lua passa, há muitos que o identificam! 
E os tubarões já ganharam um estatuto que chama a atenção de todos.


Crustáceos, moluscos e esponjosos
sucedem-se ao longo do corredor em aquários mais pequenos. 
Cativam muita gente, inclusivamente um grupos de crianças. 
Talvez pelo bailado ritmado de uma anémona, 
ou pela lenteza precisa dos passos de uma santola.


As cores, as formas, os movimentos, as mudanças de direcção, o exotismo,
ou seja, muita da diversidade da natureza aquática
vai passando à frente dos nossos olhos. 
A uma distância que quase nos permite tocar-lhes,
um desafio que parece tão próprio da nossa humanidade.

E o vídeo 


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