quarta-feira, 29 de novembro de 2017

MAAT, Primeiro Aniversário





É difícil ficar indiferente ao edifício.
Já ao conteúdo é mais fácil. Na abertura, não gostei das propostas.
Aridez, indiferença, elementar, obscuridade, estranheza.
Foi isso que senti no interior, em plano aberto.
Nada exposto me entusiasmou, motivou, surpreendeu, admirou.
Talvez por isso, nem o tenha mencionado até agora neste espaço.



Na altura da inauguração, cativaram-me dois aspectos.
A multidão foi um deles.
Não foi a alegria, nem a festa, nem a burburinho.
Foi mesmo a quantidade de pessoas que iam.
E também das que estavam, voltavam, esperavam,
 passeavam, conversavam, olhavam.



A quantidade de pessoas que atravessava a ponte pedonal em Belém.
A quantidade de pessoas que esperava para atravessar a ponte.
A quantidade de pessoas que esperava para entrar na exposição.
A quantidade de pessoas que estava no telhado do edifício do museu.
A quantidade de pessoas que estava à beira do Tejo
Estava lá muita gente.


Outro aspecto que me fascinou foi a arquitectura
A arquitectura, sim, sugestiona, provoca, anima, induz.
Um barco, ah um transatlântico!
Um peixe, ah um tubarão!
Um promontório, ah Sagres!
Tem casco, escamas, vertentes.
E até um jardim suspenso.
É felino, curvilíneo, ritmado, suave.
Ali, paredes-meias com o casario típico, com a ponte sobre o Tejo, com o rio.


Estou convencido que o primeiro aspecto
está estreitamente relacionado com o segundo.
Foi a arquitectura que levou aquela quantidade de pessoas ao MAAT.
As pessoas foram ao edifício, sobretudo pelo edifício.
Estiveram, passaram, subiram e desceram,
sentaram-se e deitaram-se na Galeria Oval.


Na altura da inauguração,
apenas o espaço central do edifício estava visitável.
Ainda pouco recheado, relativamente vazio.
Esse espaço, apenas recebeu.
Aquela quantidade de pessoas.


Mais acima, no exterior, a cúpula estava repleta de pessoas.
Pessoas que maioritariamente olhavam o Tejo.
Dali, o rio é palco, aliás, como foi e, no futuro, o Tejo o será.
Séculos depois da largada das naus,
Décadas depois das partidas e das chegadas de África.
Anos, cujo último ainda decorre, de entrada e saída
de transatlânticos plenos de turistas.
As pessoas, a cúpula, o rio, o edifício do MAAT.
Uma cumplicidade simpática.



No último 5 de Outubro, 
comemorou-se também o 1º aniversário do MAAT.
Uma data de celebração, a juntar à da Implantação da República.
O espaço do MAAT parece agora envolver também a Central Tejo.
Chamam-lhe Campus Fundação EDP.
Compreende quase 40 hectares.


Para comemorar a data, o MAAT organizou diversas exposições.
Vinte e três, individuais e colectivas.
Visitámos apenas as do edifício do MAAT.
Na Galeria Oval (entrada), dominava uma instalação de arte em vídeo.
Aliás, fora da galeria, era o vídeo que dominava. 
Tensão e Conflito”, dava mote e identificava os conteúdos.


Na Galeria Oval, era a Ponte sobre o Tejo dominava.
Gosto sobretudo da perspectiva das perspectivas.
São muitas, de baixo, de cima, estreitas, alargadas.
São horizontes que não dominamos, a que não estamos habituados.
Perspectivas que nunca experimentámos, sequer, em vídeo.
Nas salas contiguas, a tensão e o conflito, voltam aos vídeos.
A ditadura, o isolamento, a manifestação, entre outros, são temas em exposição.
Volta, porém, a obscuridade do ambiente, o salpico dos ecrãs, o caos da mostra.
Pareceu-me muito Oceanário, muita proliferação de aquários em vídeo.


Voltamos ao exterior.
À cúpula, à fachada, ao passeio fronteiro.
O sol volta a transmutar o rio.
A água transforma-se em prata, à medida que o sol se esconde no fim do oceano.
De um lado. Do outro, os transatlânticos partem naquela direcção.
Mas não só, a ponte parece ser engolida ou cuspida pela bocarra do tubarrão
Tubarão sentinela que vigia o Tejo e o céu.
Não vá um avião ultrapassar-lhe o protagonismo.

Cá fora, a festa faz-se com a conivência constante do Tejo.
E, da ponte, quase incessantemente ubíqua.
Tanto como a luz de Lisboa.
A entrar pela vista, a reflectir-se no rio.
E a diversidade das pessoas.
Dos turistas, dos lisboetas, das tunas.
Vale a pena ir.
Por tudo.