É difícil ficar indiferente
ao edifício.
Já ao conteúdo é mais fácil. Na abertura, não gostei das
propostas.
Aridez, indiferença, elementar, obscuridade, estranheza.
Foi isso que senti no
interior, em plano aberto.
Nada exposto me entusiasmou,
motivou, surpreendeu, admirou.
Talvez por isso, nem o tenha
mencionado até agora neste espaço.
A
multidão foi um deles.
Não
foi a alegria, nem a festa, nem a burburinho.
Foi
mesmo a quantidade de pessoas que iam.
E também das que estavam, voltavam, esperavam,
passeavam, conversavam, olhavam.
passeavam, conversavam, olhavam.
A
quantidade de pessoas que atravessava a ponte pedonal em Belém.
A
quantidade de pessoas que esperava para atravessar a ponte.
A
quantidade de pessoas que esperava para entrar na exposição.
A
quantidade de pessoas que estava no telhado do edifício do museu.
A
quantidade de pessoas que estava à beira do Tejo
Outro aspecto que me fascinou foi a arquitectura
A arquitectura, sim, sugestiona, provoca, anima,
induz.
Um barco, ah um transatlântico!
Um peixe, ah um tubarão!
Um promontório, ah Sagres!
Tem casco, escamas, vertentes.
E até um jardim suspenso.
É felino, curvilíneo, ritmado, suave.
Ali, paredes-meias com o casario típico, com a
ponte sobre o Tejo, com o rio.
Foi
a arquitectura que levou aquela quantidade de pessoas ao MAAT.
As
pessoas foram ao edifício, sobretudo pelo edifício.
Na
altura da inauguração,
apenas o espaço central do edifício estava visitável.
apenas o espaço central do edifício estava visitável.
Ainda pouco recheado, relativamente vazio.
Esse espaço, apenas recebeu.
Mais acima, no exterior, a cúpula estava repleta
de pessoas.
Pessoas que maioritariamente olhavam o Tejo.
Dali, o rio é palco, aliás, como foi e, no
futuro, o Tejo o será.
Séculos depois da largada das naus,
Décadas depois das partidas e das chegadas de
África.
Anos, cujo último ainda decorre, de entrada e
saída
de transatlânticos plenos de turistas.
de transatlânticos plenos de turistas.
As pessoas, a cúpula, o rio, o edifício do MAAT.
No
último 5 de Outubro,
comemorou-se também o 1º aniversário do MAAT.
comemorou-se também o 1º aniversário do MAAT.
Uma
data de celebração, a juntar à da Implantação da República.
O
espaço do MAAT parece agora envolver também a Central Tejo.
Chamam-lhe
Campus Fundação EDP.
Para comemorar a data, o MAAT organizou diversas
exposições.
Vinte e três, individuais e colectivas.
Visitámos
apenas as do edifício do MAAT.
Na
Galeria Oval (entrada), dominava uma instalação de arte em vídeo.
Aliás,
fora da galeria, era o vídeo que dominava.
Na Galeria Oval, era a Ponte sobre o Tejo dominava.
Gosto sobretudo da
perspectiva das perspectivas.
São muitas, de baixo, de
cima, estreitas, alargadas.
São horizontes que não
dominamos, a que não estamos habituados.
Perspectivas que nunca
experimentámos, sequer, em vídeo.
Nas
salas contiguas, a tensão e o conflito, voltam aos vídeos.
A
ditadura, o isolamento, a manifestação, entre outros, são temas em exposição.
Volta, porém, a obscuridade do ambiente, o salpico dos ecrãs, o caos da mostra.
Pareceu-me muito Oceanário, muita proliferação de aquários em vídeo.
Voltamos
ao exterior.
À
cúpula, à fachada, ao passeio fronteiro.
O
sol volta a transmutar o rio.
A
água transforma-se em prata, à medida que o sol se esconde no fim do oceano.
De
um lado. Do outro, os transatlânticos partem naquela direcção.
Mas
não só, a ponte parece ser engolida ou cuspida pela bocarra do tubarrão
Tubarão
sentinela que vigia o Tejo e o céu.
Não
vá um avião ultrapassar-lhe o protagonismo.
Cá fora, a festa faz-se com a
conivência constante do Tejo.
E, da ponte, quase incessantemente
ubíqua.
Tanto como a luz de Lisboa.
A entrar pela vista, a
reflectir-se no rio.
E a diversidade das pessoas.
Dos turistas, dos lisboetas,
das tunas.
Vale a pena ir.
Por tudo.