sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Casal de São Simão


 

Último sábado, primeiro de Setembro. Tempo quente, mas ventoso. Almoço CPEP / GAPE para lançamento da época pós-férias, com intenção de juntar o dois grupos e ainda de prestar homenagem às vítimas dos últimos incêndios que assolaram a zona Centro.

Houve quem tenha feito o trajecto pelo centro geodésico de Portugal, em Vila de Rei, e depois depositado um ramo de flores num dos locais da tragédia, Mas também quem tenha feito a jornada directamente para o Casal de São Simão.
Quer por um lado, quer pelo outro, ainda estavam visíveis quilómetros de floresta queimada. Aliás, os bosques continuam a arder. A cerca de trinta quilómetros do restaurante onde almoçámos, o fogo da Setã via-se da auto-estrada.

Em redor do restaurante escolhido, Varanda do Casal, zona densamente florestada, a paisagem foi poupada ao fogo. Aliás, os verdes sobressaiam a envolverem as casas de xisto “construídas ao longo da crista de uma pequena elevação”, como diz o folheto alusivo.

Ali perto, são as Fragas de São Simão e duas ribeiras pitorescas que atraem muitos caminheiros. Os dois autocarros que os espravam mais acima, mostra que há muita gente a escolher os trilhos circundantes para fazer caminhadas.

O Casal já foi aldeia camponesa, abandonada porém quando os habitantes procuraram e outras paragens uma vida melhor. A recuperação das casas abandonadas foi há pouco tempo feita pelos novos moradores e com o apoio da autarquia.


Chegámos a tempo de dar dois dedos de conversa e saber das últimas, sobretudo com o grupo que já aguardava na esplanada do restaurante. Daí a pouco, esta já era pequena para os que iam sucessivamente chegando, bem como o espaço para estacionamento, mais abaixo, pleno de motos.
Até que, logo após a chegada do grupo de Vila de Rei, fomos tomando lugar nas mesas. Exceptuando as duas mais próximo da entrada, ocupadas por também por motociclistas de outro grupo, as restantes estavam por conta do CPEP e do GAPE.
E lá fomos trocando novidades, esclarecendo dúvidas, destacando minúcias, acompanhados por uma tiborna de bacalhau e por uma chanfana de cabra, depois de uma entradas catitas que deram um bom pontapé de saída para as habituais duas e picos horas de almoço.


Como novidades – não o são estritamente – mas a presença do Pinto dos Santos e do Amândio Duarte, são de destacar. Se o primeiro tem sido mais assíduo – aparece quase todos os anos, pelo menos uma vez – o Amândio deve estar quase a chegar à década de ausência.


Houve ainda oportunidade para surpreender o aparecimento do João Pontes Pereira que , desta vez, contrariou os mais acérrimos prognósticos que vaticinavam uma categórica ausência. Outra surpresa terá do nosso decano ortopedista que nunca deve ter visto um joelha de motociclista tão misterioso.


Por volta das cinco da tarde, a maioria já tinha arrancado. O sol também nos fez companhia durante todo o dia. Se, para cima, o vento já tinha dado um ar da sua graça, para baixo insistiu e, estranhamente, só no final da CREL amainou. 


O vídeo do evento, já na linha de baixo





Peregrinação na Quinta da Regaleira



Os jardins da Regaleira têm sido desde há anos palco de diversos espectáculos que contemplam um périplo pelos vários ambientes, e aproveitam, quer os cenários naturais, quer aqueles que foram criados sobretudo pelo proprietário mais controverso, Carvalho Monteiro, um homem da cultura que multiplicou a fortuna familiar que havia herdado.
Desta feita, o espectáculo envolve oito protagonistas, além do público, e do ambiente dos jardins da Quinta da Regaleira. Porém, foram mais de vinte os que levaram à noite da casa de Monteiro Milhões a peça, “Peregrinação”, uma adaptação do texto homónimo de Fernão Mendes Pinto.
Trata-se de um espectáculo itinerante, ao estilo promenade, onde os cenários vão mudando de acordo com o local e o público se vai adaptando ao espaço disponível. Aqui, o intervalo entre cenas é o que leva o público de um sítio para outro.
Além do texto, baseado na obra do cronista, é a estética do ambiente natural que cria o impacto visual pretendido. A noite acrescenta o ambiente misterioso e inquietante. As luzes e os efeitos especiais ampliam o ambiente nevoento. A música dilata o ambiente vibrante.
O itinerário estende o desafio e as provocações da acção. O percurso, especialmente no poço iniciático e no castelo, além de mostrarem a atmosfera nocturna desses lugares, vai mantendo a expectativa e mesmo o suspense de sítio para sítio.
Todos os cenários são aproveitados, ao transformarem o castelo num barco, ao aproveitarem a luxuriante vegetação para criar ambientes orientais e ao recorrem à arquitectura renascentista para ilustrar a viagem e as aventuras de Fernão Mendes Pinto.
Além dos diversos e enigmáticos espaços da Quinta, a arquitectura também assiste o espectáculo de uma maneira adequada. O guarda-roupa, utilitário e meticuloso, ilustra bem as personagens. Pontualmente, e quanto baste, a interacção com o público acontece.

Protagonistas, público e cenário, articulam-se em sintonia. O Teatro Tapafuros, que não é virgem nestas andanças, já está em velocidade de cruzeiro neste tipo de produções. O público também já sabe ao que vai e continua a gostar deste tipo de propostas. O cenário, esse, ficará por ali durante muitos anos, disponível para o que quer que lá aconteça.


O vídeo ehttps://vimeo.com/234728313 



Festival Aura, Do MUSA à Regaleira


Está dedicado aos sentidos.
Sobretudo aos olhos que se regalam com a luz.
Mas também há som que vem das profundezas.
E brumas que assombram a paisagem.
É o panorama de mais uma noite de Aura.


Domingo, meados de Agosto.
Uma noite suave, com uma ligeira brisa.
Sintra, como é habitual.
Mas a fazer a este Verão calorento.


O percurso sofreu poucas alterações.
Os quadros, esses, eram diferentes.
O que se destaca é sobretudo a luz.
Além do vídeo mapping, de performances,
e até de um concerto de música do mundo.
E a arte. Sintra é especial nesse capítulo. 


É possível começar do princípio.
Pelo Ego, evidentemente.
Depois, raios e coriscos. E enigmas.
A Ciência Viva a manifestar-se.
Misteriosamente a desafiar a curiosidade.
Científica ou não.
Deixámos para o fim.

 

Começámos numa esquina, perto da Correnteza.
Onde uma espécie de Dervixe gigante, com uma enorme saia iluminada, lia.
Lia, lia, lia e deitava folhas ao vento.
Diziam ser memórias.
E era sobretudo às crianças que as lançava.
 

Vamos pela rua estreita que leva à Casa Mantero.
Lá, paredes-meias com a biblioteca, confirmamos que estavamos ali.
“You Are Here”, tinha cor e música, ao ritmo do movimento.
A alegria da interacção e da construção colectiva.
Ficava-se por ali, divertido.

 

Não fosse aquele estranho tubo fluorescente estendido na Correnteza.
O ambiente ganhava uma aura de mistério,
Com verdes fortes e cativantes a circularem por cima das nossas cabeças.
Que, aliás, dava cabo das melhores intenções de fotografar.
Por isso, descemos até à zona de pintura.
Estavam no início da criação do Multiverso.
Prometia.


Mais à frente, o palácio, o castelo, o palacete dos Penedos e a vila cintilam.
A caminho da Curva do Duche dominava a luz incomum
De repente, é uma espécie de grupo de mineiros que surge da bruma.
Trazem lanternas, fatos-macaco e vão empurrar uma espécie de olharapo.
É um ritual de luz, de movimentos, de sons.
Vão até à Curva do duche.
Deixamo-los lá.

 

Avançamos para a fonte Mourisca.
Depois, para a fachada do palácio da Vila.
Já a vi com aspecto mais atraente.
Hoje, a proposta é demasiado geométrica.
Geometrias que se vão transformando noutras.
Mas não deixa de ser interessante.

 

A meio-caminho, uma ou outra instalação não prende.
Não avançamos para a Regaleira.
Iríamos lá em breve.
Fomos pela música que surgia desde o parque da Liberdade.
Ouvia-se na Curva do Duche.
Enquanto os olharapos ainda trepavam os caminhos do parque.
E culminavam com luz enigmática e nevoenta.

 

Passamos de novo pela pinturas luminosas.
Está mais gente e não é fácil ver o desempenho dos dois pintores.
Notam-se agora mais detalhes.
Descobrem-se uma coruja e uma aranha.
A obra está quase acabada.


Voltamos ao espaço interactivo da Ciência Viva.
Aqui, o destaque vai para o digital e para a energia.
Mas também para esculturas ópticas e cinéticas.


É a Com-Ciência da arte em experimentação.
Há interacção ou explicações com apoio.
Parece mais impessoal do que no ano passado.


Regressamos à rua.
Atravessamos a Estefânia sob um túnel de caixotes luminosos.
Estão empilhados e, felizmente, ninguém lhes deu um piparote.
São as Metamorfoses.
No fim, a mudança.


No fim, no fim, podia ter sido o princípio.
Foi mesmo o Ego que estivemos a observar.
O dos outros, que se sujeitavam à cópia do que fazem.  
Os que gostam de imitações de si.
Um Ego que dança, anda, se esconde, levanta e baixa os braços.



O vídeo, já na linha de baixo