sexta-feira, 16 de junho de 2017

Castelo Rodrigo



Podia ser Marvão. Ou Monsaraz, Juromenha ou Mértola. 
Talvez Castelo Mendo, Monsanto quanto muito.  
Mas Castelo Rodrigo é diferente.  
Aliás, como todos as outras localidades. 
Partilha o piso em laje medieval, as paredes pétreas das casas,  
as muralhas medievais, a alcáçova nobre e central. 
O palácio, por exemplo, marca a diferença.


Ao longe, a colina reforça-lhe a imponência.
Depois de a vencermos, entra-se pela Porta do Sol
e a paisagem estende-se sob os nossos olhos como um ecrã gigantesco
com grandes pedaços de verdes vigorosos e dourados secos. 
Das muralhas, avistam-se muitos cabeços e outeiros da Beira.


Mas é intramuros que Castelo Rodrigo mostra a sua monumentalidade, 
uma majestade medieval ainda protegida pelas provectas muralhas, 
reforçada pela presença, ainda que ruinosa, do palácio de Cristóvão de Moura. 
Mas não só. A igreja matriz, o pelourinho e a cisterna
são outros testemunhos da era medieval.


Como tantas outras terras da raia, foi só no século XIII,
que Castelo Rodrigo passou para a coroa portuguesa.
A partir de então, a sua importância foi crescendo
através da outorgação de cartas de foral,
mas decaiu a partir do final da primeira dinastia,
quando tomou partido por Espanha.


Por tal, a vila perdeu a sua autonomia e ficou dependente de Pinhel.
O castigo estendeu-se ao brasão da urbe
que ficou com as armas reais invertidas.
Castelo Rodrigo voltou ao seu esplendor do início da nacionalidade
atestado pela dimensão do seu pelourinho manuelino,
altura em que a vila foi repovoada e o castelo refeito.


Mas não foi apenas nesta época que a atracção por Castela
fez de Castelo Rodrigo uma espécie de vila maldita. 
A instituição de um ducado e de uma marca (marquesado), 
já sob o domínio dos Filipes, outorgados a Cristóvão de Moura Távora
 levou-o à edificação de um palácio que ocupou a antiga alcáçova.


Todavia, a partir da Restauração, o povo destruiu-lhe o palácio. 
Castelo Rodrigo só recuperou o prestígio nacional quando o duque de Ossuna a cercou.
Nessa ocasião, a vila resistiu com centena e meia de homens 
que reagiram ao ataque até chegarem reforços
que combateram os espanhóis na batalha de Salgadela.


Hoje, há apenas de vestígios arruinados do palácio 
e alguns dos panos de muralhas, 
uma cintura com treze torres que envolvia a vila. 
Mantém o traçado medieval das ruas, 
conserva algumas casas árabes e manuelinas, 
além da cisterna e do pelourinho manuelino de grandes dimensões.


Da casa da cisterna diz-se ter sido uma antiga sinagoga. 
Perto do pelourinho e da igreja matriz fica a Casa da Câmara. 
A igreja matriz, de traça românico-gótica, 
é dedicada a Nossa Senhora de Rocamador 
relacionada com a congregação religiosa 
que assistia os peregrinos que se dirigiam a Compostela.


A fundação do castelo precisa-se no alvor do século XIII, 
embora se julgue que já existiria dois séculos antes 
na era condal portucalense. 
As muralhas que veem desde longe
são do final da primeira década de 1200, 
reforçadas posteriormente por D. Dinis e por D. Manuel.


A antiguidade da linha de muralhas, 
cuja iniciativa é atribuída ao leonês Afonso IX, 
é confirmada pelas torres semicirculares que, 
embora de menor dimensão, 
alguns autores comparam às congéneres de Ávila. 
Hoje, quer da torre albarrã – a que se salienta de um troço da muralha 
– quer da torre de menagem – morada habitual do senhor do castelo 
– só existem vestígios diminutos.


Outra estrutura que ainda é possível reconhecer 
é o palácio de Cristóvão Moura,
mandado construir sobre a antiga alcáçova, 
e que foi residência deste filho de alcaide 
durante os séculos XVI e XVII, 
quando apoiou Filipe II e Filipe III de Espanha 
e recebeu destes várias benesses.


Hoje, o palácio não passa de uma “ruína consolidada”
onde é possível observar ainda algumas paredes muito maltratadas,
restos de fachadas e janelas esventradas.
O cenário é claramente simbólico, bem como algo tétrico,
com um “quê” de misterioso e altivo. 
O espaço está actualmente também dedicado a eventos.


Destaca-se a porta do palácio, cujas pedras angulares,
até hoje, não foram totalmente repostas. 
Mas é também a arquitetura popular
e o traçado medieval das ruas estreitas, 
íngremes e sinuosas, que cativam o deambular. 



A paisagem é outro elemento singular. 
Castelo Rodrigo é magnético. 
Junta um conjunto de encantos que atraem 
especialmente quem gosta de estar em ambientes medievais.
Estar ali, é viajar por séculos de história.

O vídeo em https://vimeo.com/220360956