Começamos pelos
jardins. Por mais que os percorramos, continuam tão simpáticos com formosos. E
frescos. O verde domina os raros cimentos que se misturam e se perdem entre a folhagem.
Os patos dão-lhe a vida que uma pintura não tem e a estatuária empresta-lhe a solidez da pedra. Fica para breve uma abordagem deste espaço.
A Gulbenkian tem
60 anos. Embora não seja tão antiga como a nacionalidade, é uma instituição
cultural que faz parte de Portugal. Mais que não seja, porque foi uma doação de
um admirador do nosso país. Mais que não seja porque se tornou um espaço
cultural nacional. Mais que não seja, porque já faz parte da
identidade portuguesa.
Não há quem fique
indiferente ao ambiente Gulbenkian. Ao ambiente paisagístico, artístico,
intelectual, científico e, tão importante, ao carácter público, à abertura de
tudo a todos os interessados em produtos ou eventos culturais que produzem ou
patrocinam. Um elitismo franco.
Um dos exemplos
mais significativos é o dos livros científicos e artísticos de autores de
nomeada vendidos a preços simbólicos. Desde há muitos anos, pelo menos há mais
de vinte. Eu comprei alguns livros de estudo de autores ingleses e franceses
editados pela Gulbenkian, tendo sido os mais baratos do curso. Fica na memória.
Outro aspecto
relaciona-se com o espaço. A arquitectura é exemplar. Do edifício aos jardins,
do exterior ao interior, dos espaços abertos aos auditórios. Tudo parece
contemporâneo, no sentido mais afectivo, uma actualidade que nos faz sentir
bem. É inspirador.
LINHAS DO TEMPO. A EXPOSIÇÃO
A exposição ocupa
o enorme salão contíguo ao museu, habitualmente dedicado às exibições
temporárias e que disponibiliza um espaço amplo e sóbrio que como a maioria dos
espaços do complexo comunica com o lago e possui uma luz natural excelente. Um espaço empático.
Trata-se de uma
exposição retrospectiva, histórica e evocativa, que junta a colecção adquirida
pelo fundador até 1955, e a colecção comprada posteriormente que contempla
apenas peças do século XX até hoje. Um olhar sobre o(s) tempo(s).
Estão expostas cento
e cinquenta obras, algumas inéditas ao grande público e outras provenientes do
museu. Uma das peças exposta é um conjunto de moedas da Grécia Antiga, a
primeira obra adquirida em 1896 pelo coleccionador. História e estética.
Além de histórica,
a mostra é diversificada em temas, em tipo de obras, artistas e proveniências.
É possível ver um quadro da ucraniana Sonia Delaunay, uma tapeçaria de Vieira
da Silva, uma escultura de ferro, vidro e espelho de José Pedro Croft. A diversidade temática, estética e autoral.
E não estão muito
longe, estão outras propostas, como sejam, as joias de René Lalique, (há um
espaço dedicado a este criador no museu), um baixo-relevo da Princesa Méritités com
dois mil e quinhentos anos, um quadro com a ponte de Rialto do pintor Francesco
Guardi. O clássico organiza-se.
Esculturas de
Lagoa Henriques, Fernando Fernandes e António Duarte, um quadro com
auto-retrato de Almada Negreiros. Há peças de mobiliário que abrangem três
séculos, algumas peças provenientes da exposição permanente do museu. Outras peças, outras ideias.
Há muito por onde
lançar olhares de curiosidade, de desejo ou de análise. Prevalece a diversidade
das obras e o conforto do espaço. Fica-se facilmente com a ideia do conteúdo da
colecção permanente do museu, que vale a pena visitar com calma. A exposição pode ser resumo mas também modelo.
Acabamos a visita com Almada
Negreiros, no hall de entrada da Fundação, em frente da ‘Ode à Geometria’. A
Julieta ficou neste dia com a mesma idade da Gulbenkian. Forçamos a
coincidência e aproveitamos estas Linhas do Tempo.
O vídeo em https://vimeo.com/185494687
Música: Arti & Mestieri, Giro di Valzer per Domani