sexta-feira, 12 de junho de 2015

Museu Arqueológico Nacional - Madrid



Foi renovado há poucos anos. Se antes já “dava 5 a 0” ao Nacional de Arqueologia, em Lisboa, agora dá o dobro. Não é difícil “enfiar" tantos golos no da capital portuguesa. Por cá, a exposição das “Religiões Lusitanas” já deve ter cerca de três décadas, enquanto que o congénere de Madrid aumentou para o triplo as peças em exposição. Mas não só.
Com algumas obras de adaptação no mesmo edifício, agora muito mais luminoso e espaçoso, novos revestimentos, soluções de luz e expositores, sente-se essa renovação em todo o espaço narrativo. Alguns espaços estão mais escuros, mas outros mais claros, de acordo com as intenções ou necessidades.


O espaço de pátio foi também ocupado, tal como os corredores. Não me lembro se todos os andares já estavam disponíveis, mas agora há praticamente quatro pisos de exposição. Há também mais materiais, mais quadros explicativos, as soluções de mostra são mais modernas.


É o espaço, simpático e amplo, a organização cronológica e temática, a riqueza e a relevância das peças, a qualidade dos materiais de suporte, a luz, a disposição, etc. O ambiente é clássico, não tem grandes sofisticações tecnológicas mas está actualizado quanto baste.


Numa visita rápida, digamos uma hora, é possível recolher muito da história de Espanha, e não só, também do Egipto, da Grécia e do Império Romano. De manhã, num sábado, por volta das 10 horas, a fila para entrar não tinha mais de meia dúzia de pessoas. Quando saímos, cerca das 11, a fila já tinha quase cem metros.


Uma visita pormenorizada, pode demorar um dia, ou seja, cerca de duas horas em cada andar. Mas uma hora chega para passar em revista os vestígios mais significativos da história espanhola. Uma das áreas mais interessantes é a que contempla a América. Mas se o objectivo é ver sobretudo sobre a América, o museu de Etnologia está mais completo.  

A dimensão do museu aconselha prudência na visita. Talvez seja melhor ver andar por andar, nem com pressa nem com vagar, e deixar para uma nova oportunidade a visita ao que ficou por ver. Nós estivemos lá cerca de duas horas e conseguimos visitar com pouco detalhe o espaço que vai até à alta Idade Média. 


É a pré-história que domina o piso térreo e, no contexto, o espaço alarga-se a toda a península. Esqueletos de antepassados pré-históricos, modos de vida, os primeiros adornos, os primevos vestígios de arte, de ferramentas, de armas. Estamos no primeiro milénio antes de Cristo.


Desde cedo que a representação das pessoas e das coisas das pessoas passou pela pedra. A Península tem inúmeros vestígios de símbolos gravados na pedra, esculturas em pedra representativas de animais, deuses, pessoas.



Aqui encontram-se dois exemplares semelhantes ao que já foi considerado em Portugal uma porca, um urso, mas se crê ser um berrão, uma figura zoomórfica relacionada com um culto da fertilidade de povos pré-romanos, a nossa famosa “Porca de Murça”.



Depois, surgem os vestígios gregos. O acervo é grandioso e rico sobretudo na área da cerâmica. O estado de conservação das peças parece indiciar tratar-se de objectos actuais. Os motivos repetem a vida quotidiana e os feitos dos deuses.




Mais à frente, passa-se da Ibéria à romanização. A representação estética ganha dimensão, detalhe e novos materiais. Os adornos e o vestuário sofisticam-se, bem como as armas e as artes decorativas. Os azulejos tapetam as salas e a pedra reproduz os ricos, os vencedores e os deuses.





Os tesouros visigodos e a arte românica dão lugar ao esplendor do Al-Andaluz. Estão lá as estéticas Almóadas, a arte nazari de Granada e a mudejar de Teruel, bem como exemplos das culturas cristãs e judias da Península. Na mesma sala podemos ver arcos cristãos, tectos dourados muçulmanos e capitéis bilingues.



Com a vitória cristã o ambiente nobre e religioso torna-se mais pesado e menos estilizado, não fosse a contribuição moçárabe. A pedra volta a dominar, quer nas habitações quer na escultura. Igrejas, conventos e castelos passam a preencher o espaço urbano e rural dos reinos cristãos da Península.




O museu encerra um conjunto de ex-libris arqueológicos, como seja, a “Dama de Elche” de cinco séculos antes de Cristo, o busto de Lívia esposa do imperador Augusto e mãe do futuro imperador Tiberio, ou o tesouro visigodo de Guarrazar de onde se destaca a coroa do rei Recesvindo.


No contexto egípcio está exposta a estátua de um sacerdote e escriba do Antigo Egipto, cujos hieróglifos permitem saber que desempenhou um alto cargo próximo do faraó. Sarcófagos, máscaras funerárias, outras estátuas de pedra e inúmeras pequenas peças de adornos ou baixos-relevos completam a área expositiva.




Mas não apenas aqueles. Fora do contexto da história da Península, está exposto um Tevau das ilhas Salomão denominado “dinheiro-pluma” com valor monetário e conotações mágicas - um raro exemplo de economia cerimonial de reciprocidade (kula, Ilhas Trobriand). 


 

O museu não se esgota nesta dúzia de frases e imagens. Só ir e estar faz imediatamente um diferença significativa. É um local ideal para re(ver) muito do que nos é familiar - afinal Espanha está mesmo aqui ao lado - mas também descobrir muito do que eles souberam preservar.  


O vídeo do Museu Arqueológico Nacional, aqui
https://vimeo.com/130549399