sexta-feira, 12 de junho de 2015

Espanha Mudejar IV - De Teruel a Valência



DE TERUEL A VALÊNCIA COM SAGUNTO DE PERMEIO


De Teruel a Sagunto são pouco mais de cem quilómetros. Faz-se numa hora, calmamente pela via rápida, mesmo considerando as ligações em estrada nacional. O acesso a Sagunto, aliás ao centro histórico, é fácil. Nem eu me perdi. Paramos as motos na Plaza Mayor – um déjà vu, não é? – e fui ver se o acesso ao teatro romano/castelo, ou melhor, ao parque de estacionamento, era fácil para parar as motos. Era. 


Não é difícil perceber nesta fase que o modelo de Passeio privilegiou não só os locais de paragem de um dia completo, como os locais de passagem. O sítio de almoço foi sempre escolhido em função do ambiente gastronómico mas sobretudo do ambiente cultural. Se em Mérida o envolvimento era romano – embora não tenhamos escolhido visitá-lo – Chinchón tinha na sua Plaza Mayor a pedra de toque cultural. Tal como Albarracin teria no percurso entre Cuenca e Teruel.


Agora era Sagunto que ficava entre Teruel e Valência. Aqui, o ambiente cultural que procurávamos era o do teatro romano e o do castelo. O primeiro data do século I, a mesma idade de alguns elementos romanos que ainda se podem observar dentro do castelo.



O teatro romano não é dos mais significativos de Espanha – os de Mérida ou Cartagena são maiores e mais emblemáticos – mas é sem dúvida um local interessante para visitar. Mesmo não sendo grandioso, tinha capacidade para cerca de oito mil pessoas e ainda conserva uma acústica perfeita.


Se bem que tenha sofrido muitas obras de melhoramento – muitas das pedras que lhe faltam foram utilizadas na construção do castelo -, a verdade é que muito do espaço está reconstruído com materiais actuais, como seja o caso das bancadas. Embora não esteja situado na cota superior da colina tem uma vista soberba sobre a cidade e até sobre parte do Mediterrâneo.



O castelo, que também tem muitos elementos romanos – inclusivamente do fórum -, mostra vestígios visigodos, árabes e cristãos. Estende-se por mais de um quilómetro, domina toda a paisagem em redor, desde as colinas a norte até ao Mar mediterrâneo a sul. Não parece ter sido alvo de melhoramentos, vendo-se mesmo alguns elementos decorativos e arquitectónicos caídos ao abandono.


Se bem que a qualidade dos almoços estavam a entrar numa velocidade de cruzeiro muito simpática, neste a refeição teve surpresa. O sítio não surpreendia antes pelo contrário. O espanto veio mesmo quando se ouviu falar em cozinha francesa, e se confirmou logo na salada.


O restaurante chama-se Le Fou, pertence a emigrantes espanhóis que estiveram em França. Quem olhe para o restaurante não diz que servem tao bem. Além de nos terem indicado os melhores sítios para estacionar, guardaram-nos os capacetes e os blusões desde que havíamos chegado por volta das onze e meia da manhã.


 
Estivemos na conversa a ganhar apetite e á espera que todos chegassem num pequeno jardim fronteiro ao restaurante, onde um esquilo trepava uma das árvores que nos guardava do sol. Aquecia e a temperatura já tinha ultrapassado os 27 graus.




As surpresas começaram logo com a salada. Depois, não pararam até à sobremesa. Soube bem. Foi uma das refeições mais baratas da jornada. Daí a pouco, descemos a zona histórica até à praça Mayor e rapidamente entramos na via rápida que termina já dentro de Valência.


O vídeo de TERUEL A VALÊNCIA, com destaque para SAGUNTO, aqui
https://vimeo.com/128974153


MEIO DIA E NOITE EM VALÊNCIA



Chegámos cedo. Por volta das seis da tarde já estávamos a caminho da zona histórica. Havíamos deixado o Silken Puerta de Valencia – situado numa avenida da zona moderna , mais ou menos equidistante do centro histórico e da área recreativa/cultural, caminhando cerca de cinco minutos até ao Jardin del Turia.




Este parque, com uma extensão de nove quilómetros, com mais de um milhão de metros quadrados - o maior jardim urbano de Espanha - abrange todo o leito seco do rio Turia. O espaço foi arborizado e dispõe de lagos e zonas ajardinadas, sendo ideal para passeios pedestres, corrida ou bicicleta. Para aceder à zona histórica é preciso passar uma das várias pontes que o atravessa.




Nós passamos inicialmente pela ponte de Aragon – clássica, com estátuas de pedra, uma das poucas que não é perpendicular ao jardim – depois, pela das Flores – preenchida em toda a extensão por vasos de flores – e ainda passamos na ponte de la Exposición – larga e recente.



Para quem havia saído do castelo de Sagunto com a noção de que aquela colina tinha uma posição defensiva excelente devido ao acesso difícil e, por isso, as muralhas não eram muito altas, pensará como seria possível garantir segurança num terreno plano como o de Valência. A resposta está nas impressionantes torres de defesa das entradas da cidade antiga.



Antes circundado por muralhas, o centro histórico contempla hoje a catedral, outras edificações religiosas e ainda as ruínas da cidade antiga. Além de algumas poucas muralhas que sobreviveram ao tempo, são realmente os dois conjuntos de torres – as Torres de Serranos (a leste) e as Torres de Quart (a norte) – que mostram a grandiosidade da urbe na época medieval.



Em redor da catedral, onde desembocam várias alamedas há muitos edfícios e museus religiosos, mas as ruas mais próximas são estreitas e escuras. No topo norte, abre-se uma praça enorme preenchida com muitas esplanadas – a de la Vierge – e, no topo sul, surge a Plaça de la Reina, mais pequena e atravancada.


Foi nesta última que nos reunimos numa esplanada para tomar um aperitivo antes de jantar. Depois, separamo-nos e fomos escolhendo restaurantes ao gosto de cada grupo. Nós ainda demos um passeio pedestre que nos levou até à Câmara da cidade, à estação de comboios e à praça Redonda.



Jantamos com o Pedro e a Nadir num restaurante basco cujo forte era a carne, semelhante às postas transmontanas. Sentamo-nos no primeiro andar e tínhamos vista para a fachada de uma igreja antiga e soturna. Talvez daí a estranha iluminação de que o Pedro foi alvo ou, quem sabe, o efeito daquela sidra tão esquisita...


Voltámos a pé para o hotel, não sem antes termos passado pela loja do Valência – já havíamos passado pelo estádio -, clube cujo treinador é português. Neste dia, fizemos mais de sete quilómetros a pé. Talvez por isso, o dia seguinte tenha sido dedicado ao autocarro turístico.



Desde Sagunto que a temperatura havia subido bastante. Se há três dias havíamos apanhado chuva em Cuenca, a partir de Teruel previa-se que o céu ficasse limpo. Assim foi. E a temperatura aproximou-se dos trinta graus. À uma da manhã, a noite parecia de Verão.

UM DIA INTEIRO EM VALÊNCIA



De manhã, mudamos de sentido. Em vez de irmos para norte, fomos para sul, à procura das Cidade das Artes e das Ciências. Voltamos a passar as pontes do Turia e o extenso jardim que leva às obras de Calatrava. 



Continuamos, passando o Palau de Música nota-se  aproximidade através das inúmeras esculturas alusivas ao tema - e desembocamos no Palau de les Arts. É o edifício mais alto do conjunto, cuja arquitectura lembra um dinossauro. Estava em obras.



Aqui, onde o jardim termina, a água toma o lugar da vegetação e abraça os diversos edifícios que fazem parte da Ciutat de Les Arts de Les Ciencies. L’Hemisféric é outro dos edifícios emblemáticos deste conjunto arquitectónico onde está presente o traço do arquitecto Calatrava, o mesmo da Estação do Oriente em Lisboa. As nervuras, os arcos e as elipses multiplicam-se nos diversos edifícios do conjunto.



Tal como a água que os envolve., como seja o caso do Museu das Ciências, o maior edifício do conjunto, cujo conteúdo leva mais de uma hora a visitar. Também aqui, o ambiente azulado da água confere frescura a uma zona onde a deixou de haver árvores.



A vegetação só está presente numa espécie de alameda lateral edificada para esse propósito, também aproveitada à noite para espaço lounge. Aqui surgem de novo as nervuras de Calatrava que contrastam com as longilíneas vértebras do edifício do Museu das Ciências. Este é uma espécie de Pavilhão do Conhecimento mas bastante multiplicado.
Logo a seguir, surge o Ágora, depois uma estrutura metálica, em gaiola, que alberga muitas espécies de aves e a culminar o conjunto aparece o Oceanogrfic, uma estrutura de aquários, alguns de grandes dimensões, que termina com uma piscina de golfinhos.
Para saber mais sobre esta zona (em 2008)
Uma vez que havíamos visitado todo o complexo em 2008, optamos por dar uma volta num autocarro descapotável pela cidade e conhecer as partes mais a norte e junto do Mediterrâneo. Naquele ano, não havíamos conseguido ir à marina, que estava fechada devido ao Grande Prémio de Fórmula 1.



Mesmo assim, a zona atrai pela estética, pela dimensão, pelos detalhes, pelos recantos. Também por isso, fomos andando de sítio em sítio, apreciando quer a arquitectura , ora constando o contraste das cores, a singularidade de algumas propostas de entretenimento.



Já havíamos percorrido parte da zona histórica. Esperávamos desta vez ir à zona moderna, e à marina – zona marítima -, após circundar a zona antiga – Valência histórica. Foram mais de vinte quilómetros, percurso que contempla praticamente tudo o que é considerado de interesse.



Exceptuando a parte mais a norte, uma zona com extensas avenidas, prédios altos modernos, pouco chamativa, o restante vai realmente em redor da zona histórica, depois ao longo do extenso jardim de la Turia, passa pelo complexo de artes e ciências e vai à marina, atravessando algumas ruas do casco antíguo.



Daí termos ficado com uma excelente ideia de Valência. Desde o Biopark, um parque biológico local praticamente dentro da cidade, até à Praça de Touros, passando pelo Ayuntamiento, pelas torres Sisneros e Quart, pela estação, pelas pontes, por ruas com edifícios das primeiras décadas do século XX.



A hora de almoço foi à espanhola, mas em bom. Já passava das duas da tarde e a cozinha do restaurante estava a fechar.  E, entre a paella e as ostras, as vieirinhas e os mexilhões, lá foi mais de uma hora, muito perto, do outro lado da rua, do restaurante basco da noite anterior.




Descemos à vista da marina e deambulamos pelos edifícios de apoio tendo parado numa roda gigante, de onde era possível abarcar com a vista grande parte de Valência, mas sobretudo a área da marina e da praia contígua. Com pouca gente e raro trânsito aquela hora, era possível reconhecer parte do traçado do circuito da Fórmula 1.




O areal vai até Sagunto, não é areia fina e amarela como a nossa, mas a temperatura do mar é sempre mais quente. Não havia muita gente na praia, mas no mar deambulava uma moto de água sem condutor. Aliás, era a moto de água que conduzia um equilibrista cujos movimentos em cima de uma prancha pareciam guiados por um tubo. Assim era, o tubo ligava a moto à prancha e o homem voava durante alguns segundos. Só vendo…




Este lado da marina, ou melhor, do porto de Valência, tem uma utilidade mais comercial / industrial do que o lado oeste do Clube Náutico. Por isso, não é muito atractivo. Voltamos ainda a tempo de saber quantos é que ainda queriam jantar fora. Não foram muitos. É capaz de ter sido por causa da expectativa criada para o almoço do dia seguinte.



O vídeo de Valência, aqui
https://vimeo.com/130531106