quarta-feira, 25 de junho de 2014

Jardim do Campo Grande, Lisboa


 




Foi palco do cerco a Lisboa pelo rei de Castela na sequência da crise de 1384 e ainda campo da cerimónia de revista às tropas pelo rei Sebastião, antes da partida para Alcácer Quibir. Só três décadas depois do terramoto de 1755, o espaço voltou a ter funções públicas, quando Pina Manique mandou elaborar um projecto de Passeio Público para aquela área e que passou a ser uma das entradas nobres da cidade.
A partir de finais do século XVII, aquele espaço começou a ser ocupado por alguns solares, restaurantes e actividades lúdicas dedicadas aos boémios. Dos retiros já não há testemunhos, mas em redor do espaço ainda lá estão alguns palacetes, como seja o palácio Pimenta, onde está alojado o Museu da Cidade, ou o palácio do Conde de Vimioso.
O Campo Grande ainda foi denominado desde Maio de 35 até quase ao final da década de 40, "Campo 28 de Maio" e as ruas que o ladeavam "Oriental" e "Ocidental". Hoje, o parque ainda mostra muito do traço de Keil do Amaral, de meados da década de 40 do século passado. O parque Eduardo VII, o parque do Alvito, o parque infantil da Serafina e o restaurante do Alto da Serafina, também são obras do mesmo arquitecto.
“Mais verde, com mais luz e mais sustentável”. Foi este o perfil idealizado para o renovado (parque do) Campo Grande. A modernização custou 1,8 milhões de euros, destinados a piso, iluminação, sistema de rega, impermeabilização do lago, campos de padel, recreio infantil e… para cães.
 
E o “velho” Caleidoscópio? Parece que ideia era transformá-lo num centro académico, já que o espaço pertence / foi adjudicado à Universidade de Lisboa. Aliás, como outros espaços do parque, por exemplo, os campos de padel. Era uma ideia de 2012. Mas está na mesma. O Caleidoscópio está em ruínas, envolvido por chapas brancas em estilo estaleiro de obras, aguardando a chegada do tal projecto de revitalização.

E o restaurante do lago, onde era possível alugar um barco a remos e dar um passeio no lago? O lago foi recuperado, mas o restaurante ainda não arrancou. Os barcos já (ainda?) lá estão, mas parecem os originais… do século passado.
Na parte norte, a relva já cobre a maioria do espaço plantado. A sul, ainda é só a erva rasa que domina. Há mais caminhos, não apenas com aquela rectilinearidade anterior, a possibilitar uma maior integração com todo o espaço. Há muitos campos de padel “envidraçados” (devem ser quentinhos no Verão… ), há mais bancos de jardim estilizados (embora ainda lá estejam também os “tradicionais” verdinhos em madeira tortos e quase a desfazerem-se), há menos árvores (algumas foram cortadas), mas o espaço ajardinado / relvado, na metade norte sobretudo, é moderno e atraente.
Há alguns elementos antigos que sobressaem e, lá ficando, podiam contrastar com os mais recentes. É o caso de algumas edificações, esculturas e de outros elementos artísticos que podem facilmente coabitar e marcar a diferença de estilos e de épocas. É o caso dos burritos que encimam os pilares da ponte que leva ao antigo restaurante, ou das estátuas dos reis Afonso Henriques e João I, dos anos 50, colocadas no topo norte do parque.
Uma das esculturas mais notórias é a de uma figura redondinha intitulada “infância”, da autoria do cartoonista Sam. Apesar de ser uma peça misteriosa, pesada e monocromática, a dimensão e a forma salientam-na na borda do lago, e estimulam o arriscar de pistas para o enigma dos seu significado.
O lago não está muito diferente do que era. O formato parece o mesmo. Porém, sempre marcou um limite entre um lado e outro do parque. Apetece sugerir uma outra ponte, pequena, como aquela que leva à ilha… outra que leve de lá ao outro lado. 
Há ainda alguns espaços degradados. Chão sem relva, um edifício com janelas fechadas a cimento, o estaleiro do Caleidoscópio. Porém, a parte ajardinada está excelente, o piso é confortável, há pistas para bicicletas, bancos de jardim novos, plantas e flores bem distribuídas.
É é fresquinho. As árvores já têm a copa tão alta e são tão folhudas que sombra não falta. No entanto, os arbustos que deviam separar o parque das faixas de rodagem na avenida, ainda estão muito baixos, pelo que se nota ainda a ofensiva da poluição atmosférica e sonora.

Música: Yes, Tales From Topographic Ocean
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