Foi palco do cerco a Lisboa pelo rei de
Castela na sequência da crise de 1384 e ainda campo da cerimónia de revista às
tropas pelo rei Sebastião, antes da partida para Alcácer Quibir. Só três décadas
depois do terramoto de 1755, o espaço voltou a ter funções públicas, quando
Pina Manique mandou elaborar um projecto de Passeio Público para aquela área e
que passou a ser uma das entradas nobres da cidade.
A partir de finais do século XVII, aquele
espaço começou a ser ocupado por alguns solares, restaurantes e actividades
lúdicas dedicadas aos boémios. Dos retiros já não há testemunhos, mas em redor
do espaço ainda lá estão alguns palacetes, como seja o palácio Pimenta, onde
está alojado o Museu da Cidade, ou o palácio do Conde de Vimioso.
O Campo Grande ainda foi denominado desde Maio de 35 até quase ao final da década de 40, "Campo 28 de Maio" e as ruas que o ladeavam "Oriental" e "Ocidental". Hoje, o parque ainda mostra muito do
traço de Keil do Amaral, de meados da década de 40 do século passado. O parque
Eduardo VII, o parque do Alvito, o parque infantil da Serafina e o restaurante
do Alto da Serafina, também são obras do mesmo arquitecto.
“Mais verde, com mais luz e mais
sustentável”. Foi este o perfil idealizado para o renovado (parque do) Campo
Grande. A modernização custou 1,8 milhões de euros, destinados a piso,
iluminação, sistema de rega, impermeabilização do lago, campos de padel, recreio
infantil e… para cães.
E o “velho” Caleidoscópio? Parece que
ideia era transformá-lo num centro académico, já que o espaço pertence / foi
adjudicado à Universidade de Lisboa. Aliás, como outros espaços do parque, por
exemplo, os campos de padel. Era uma ideia de 2012. Mas está na mesma. O
Caleidoscópio está em ruínas, envolvido por chapas brancas em estilo estaleiro
de obras, aguardando a chegada do tal projecto de revitalização.
E o restaurante do lago, onde era
possível alugar um barco a remos e dar um passeio no lago? O lago foi
recuperado, mas o restaurante ainda não arrancou. Os barcos já (ainda?) lá
estão, mas parecem os originais… do século passado.
Na parte norte, a relva já cobre
a maioria do espaço plantado. A sul, ainda é só a erva rasa que domina. Há mais
caminhos, não apenas com aquela rectilinearidade anterior, a possibilitar uma
maior integração com todo o espaço. Há muitos campos de padel “envidraçados”
(devem ser quentinhos no Verão… ), há mais bancos de jardim estilizados (embora
ainda lá estejam também os “tradicionais” verdinhos em madeira tortos e quase a
desfazerem-se), há menos árvores (algumas foram cortadas), mas o espaço
ajardinado / relvado, na metade norte sobretudo, é moderno e atraente.
Há alguns elementos antigos que
sobressaem e, lá ficando, podiam contrastar com os mais recentes. É o caso de
algumas edificações, esculturas e de outros elementos artísticos que podem
facilmente coabitar e marcar a diferença de estilos e de épocas. É o caso dos
burritos que encimam os pilares da ponte que leva ao antigo restaurante, ou das
estátuas dos reis Afonso Henriques e João I, dos anos 50, colocadas no topo
norte do parque.
Uma das esculturas mais notórias é a de
uma figura redondinha intitulada “infância”, da autoria do cartoonista Sam.
Apesar de ser uma peça misteriosa, pesada e monocromática, a dimensão e a forma
salientam-na na borda do lago, e estimulam o arriscar de pistas para o enigma
dos seu significado.
O lago não está muito diferente do que
era. O formato parece o mesmo. Porém, sempre marcou um limite entre um lado e
outro do parque. Apetece sugerir uma outra ponte, pequena, como aquela que leva
à ilha… outra que leve de lá ao outro lado.
Há ainda alguns espaços degradados. Chão
sem relva, um edifício com janelas fechadas a cimento, o estaleiro do Caleidoscópio.
Porém, a parte ajardinada está excelente, o piso é confortável, há pistas para
bicicletas, bancos de jardim novos, plantas e flores bem distribuídas.
É é fresquinho. As árvores já têm a copa
tão alta e são tão folhudas que sombra não falta. No entanto, os arbustos que
deviam separar o parque das faixas de rodagem na avenida, ainda estão muito
baixos, pelo que se nota ainda a ofensiva da poluição atmosférica e sonora.
Música: Yes,
Tales From Topographic Ocean
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