A programação inicial contemplava uma etapa de Tanger a Marraquexe,
dali a Agadir, depois Zagora, Marraquexe de novo, para terminar em Meknès e
sairmos por Ceuta.
Porém, uma feira de agricultura e um
festival religioso em Meknès, a coincidir com as datas previstas,
deixou-nos sem vaga nos hotéis.
Todo o trajecto teve de ser refeito e reprogramado exactamente ao
contrário.
Os contactos logísticos esticaram-se inclusivamente aos dias de
viagem.
Desta vez, a novidade era, Meknès, Zagora e Agadir.
E também repetimos, Tanger, Chefchaouen e Marraquexe.
Andamos por sítios catitas, e outros nem tanto, entre medinas desconhecidas, ruínas esquecidas, mercados de levante, obras infindáveis, paisagens lunares, oásis imensos.
E ainda por vastas planícies, montanhas inóspitas e chegámos quase a pôr o pé no deserto.
Está lá tudo. Fomos aproveitar!
ATÉ TANGER, SOB O SIGNO DOS HORÁRIOS
Saímos às 7 da manhã. Como habitualmente.
Onze dias depois, regressávamos ao final da tarde. Como
habitualmente.
Desta vez, éramos dez, em seis Pans. O que já não foi banal.
Há dois anos, somamos 24 pessoas em 16 motos.
Desta feita, o Carlos Mariano havia adoecido em cima da hora e o
Luís Pereira partido os óculos no dia
anterior .
Mesmo o Justino estava renitente em avançar.
Era importante chegarmos antes das quatro e meia da tarde a Tarifa.
Reservámos os bilhetes da travessia na FRS, mas
precisávamos levantá-los no escritório da companhia, a tempo de apanhar o barco
das 17 horas. Conseguimos. Mesmo considerando que a única vez que "perdemos" duas
das motos foi na entrada de Tarifa.
De manhã, a reunião magna fez-se na área de serviço de Loulé, já um pássaro se deixara apanhar na frente de uma das Pans.
Pouco depois do meio-dia, parámos para
almoçar na área de serviço La Florida, no início da autopista Sevilha-Cádis.
Ainda descansamos 5 minutos algures antes de Algeciras e chegamos
a Tarifa a tempo de entrarmos para o barco das 5 da tarde.
A ideia era chegar a Tanger à mesma hora, uma vez que em Marrocos
é menos uma do que em Espanha.
Contando com uma hora para expediente de fronteira, estaríamos no
hotel por volta das seis, a tempo de dar um passeio pela medina.
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Na fronteira, em Tanger |
Despachamos a papelada fronteiriça em meia hora.
Mas um dos
documentos andou perdido.
Desperdiçamos a vantagem.
Entretanto trocamos dinheiro logo a seguir à fronteira e o périplo pela medina foi substituído pelo jantar e por um passeio à beira-mar onde mais parecia estarmos num calçadão andaluz.
Ficámos no Hotel Rif e SPA, na avenida
marginal de Tanger, perto da praia e da medina.
Dedicamos a manhã à medina, apesar da má fama de que goza.
Começamos pela bateria militar, no terrasse Borj al-Hajoui, que
também é miradouro.
Passamos o hotel Continental, situado numa posição privilegiada entre o
porto e a medina, e percorremos algumas das vielas, para depois desembocar numa praça
que dá acesso ao Petit Socco, o mercado do sítio.
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À porta do hotel RIF e SPA, Tangerr |
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Peça de artilharia de costa no miradouro Borj El-Hajoui, Tanger |
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Arquitectura colonial, Tanger |
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Construção sobre as muralhas portuguesas, Tanger |
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Banhos árabes na casbá, Tanger |
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Zona habitacional na Casbá, Tanger |
Ainda entramos numa loja, daquelas que lembram a caverna de Ali Baba, recebemos saudações dos empregados dos cafés da medina e ainda nos surpreendemos com a construção de casas sobre as ruínas dos antigos torreões da fortaleza que foi portuguesa.
Saímos de Tanger por volta das 11 da manhã.
A partir daqui os horários estiraram-se bastante
Destino: Chefchaouen.
UM ALMOÇO DEMORADO SOBRE OS TELHADOS DA CIDADE DA MEDINA AZUL
De Tanger a Tetouan vai uma via rápida de faixa dupla.
Mas o piso é manhoso, polido, a aconselhar prudência na inclinação.
Faz-se rapidamente.
De Teouan a Chefchaouen, é pior.
A estrada estreita bastante e as bermas são de terra.
Os camiões sobretudo cortam as curvas e ficamos à mercê da terra e
das pedras que saltam para o asfalto em plena curva.
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Medina de Chefchaouen |
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Restaurante "Aladdin", Chefchaouen |
Por volta da uma da tarde estávamos de novo na cidade da medina
anilada.
Não sem antes a tal estrada manhosa já ter atravessado dois ou
três, nós incluídos.
Falhei um desvio e cruzamos um mercado de rua local.
Estacionámos no já conhecido largo do hotel Parador que borda a
medina.
Estava calor. Chegamos a acordo sobre o local de almoço e fomos a
caminho do “Aladdin”.
Subimos os três andares trepando por uma escada estreita e almoçamos quase
no terraço.
Foram praticamente duas horas, na conversa, a tirar fotografias, a olhar
a paisagem.
Estávamos tranquilos e provavelmente saudosos.
Afinal, foi naquele sítio que muitos haviam almoçado pela primeira em Marrocos.
Terminamos já depois das três da tarde.
E ainda fomos dar uma
volta na medina, cujas vielas são das mais simpáticas de Marrocos…
Voltamos à estrada já sem horário. O piso manteve-se bera e a velocidade
ajustada.
Quando a escarpa de Moulay Idriss, a cidade do profeta, apareceu
no horizonte, o pôr-do-sol já se havia instalado por trás das casas alvas.
Era tarde para visitar o mausoléu do descendente directo do Profeta
Maomé, Moulay Idriss, o santo mais venerado de Marrocos.
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Miradouro sobre Chefchaouen |
Apesar de serem apenas 300 e poucos quilómetros desde Tanger, foi
já ao anoitecer que chegámos a Meknès, em plena hora de ponta.
Quando entramos na garagem do hotel Menzeh Dalia era praticamente
hora de jantar.
E valeu a pena. Além de ter sido o melhor hotel da jornada, foi
também o que serviu a melhor refeição.
Ficou o despertar matinal pela medina de Tanger, a rapidez da
via-rápida até Tetouan, a malvada estrada de Tetouan a Meknès, o agradável
almoço em Chefchaouen.
E ainda um desvio desnecessário, mas curto, que nos levou pelo Marrocos profundo, numa estrada rural, a caminho de Zagota…
MEKNÈS: A MEDINA, A PRAÇA, A PRISÃO E O LAGO
Meknès seria um dos pontos de novidade da viagem.
Da cidade, conhecíamos o restaurante do hotel Ibis - onde os nosso blusões haviam deixado uma valente poça de água há uns anos - a praça Hedin e 20
metros dentro da medina - onde havíamos almoçado ao som de música local na mesma ocasião.
Das cinco cidades imperiais, Meknès é que tem menor oferta hoteleira.
Ficamos alojados a cinco quilómetros do centro da cidade que já
foi capital de Marrocos.
De manhã, o tempo molhou-se mas não passou de borrifos.
Abrimos o dia a caminhar para a praça de táxis. Teoricamente,
porque tudo é negociado e o hotel não os chamava… A dividir por todos – o (grande) táxi leva seis passageiros, e nós
somos apenas cinco por viatura – é barato.
Pouco mais do que se cada um desse gorjeta aos “gardiens” das
motos.
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Em frente do museu Dar Jamai, Meknès |
Deixaram-nos na praça Hedin. É uma espécie de Jemaa Al Fna, de
Marraquexe, embora de menor dimensão.
Mas tem os atractivos essenciais: algum caos, cobras, ginastas,
comércio de levante, gente sempre a passar.
E, do outro lado da avenida, tem a Bab Mansour, talvez a porta
mais bonita de Marrocos.
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Duas perspectivas da Bab Mansour |
A praça Hedin dá acesso à medina e ao museu Dar Jamai.
Foi este último que visitámos ainda de manhã, um palácio do século
XIX, agora dedicado à arte marroquina.
Dez dirhams depois, entravamos nas salas que expunham joalharia, trajes tradicionais, objectos de uso doméstico, trabalhos em madeira e tapetes.
Vistosa é também a arquitectura do edifício, antes pertencente à família Jamai, hoje propriedade do Estado.
O museu é semelhante ao museu municipal de Marraquexe, que havíamos visitado há dois anos.
Enquanto o espaço do de Marraquexe é maior, sobretudo a área do salão central, o de Meknés é mais discreto sendo, porém, museologicamente mais rico.
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Interiores do palácio-museu Dar Jamai |
Surpreendentemente, tivemos a discreta companhia de um guia.
De vez em quando, chamava a atenção para um ou outro detalhe.
Exceptuando a visita a Chellah, há quatro anos, em Rabat, não me lembro de dispormos de guia em qualquer outro monumento ou museu marroquino.
Os guias, aqui, dedicam-se mais ao exterior, sobretudo às medinas.
Felizmente. Se não, em certos casos, andaríamos horas à procura da respectiva saída.
Depois, arriscamos pela medina que sabíamos, como tantas, ser
labiríntica.
Íamos à procura da Grande Mesquita que, com dificuldade, parecia
identificarmos de vez em quando.
Embora não seja tão grande como a de Marraquexe, a medina de
Meknès também não parece tão rica, melhor, tão faustosa em matéria de lojas e
produtos.
Voltamos à Hedin e almoçamos junto às muralhas, num terraço que
dominava a praça e os arredores.
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Diversos aspectos da medina, Meknès |
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Há trabalhos em madeira surpreendentes mesmo no exterior |
À tarde, atravessámos a avenida e fomos a caminho de Dar Kebira, a
zona histórica da cidade também envolvida por muralhas.
Entrámos pela lateral da Bab Mansour, para a praça ampla Lalla
Ouda onde observámos um carro possivelmente da Google a filmar em redor daquele
espaço.
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Praça Lalla Ouda |
Qualquer dia, há mapas detalhados das medinas e já não nos
conseguimos perder…
Enganamo-nos e tivemos de voltar para trás após uma tentativa de
entrar na zona antiga.
Já não falhamos a Bab Filala e acabamos por desembocar em Habs
Qara.
É uma prisão subterrânea cujo projecto foi encomendado pelo sultão
Moulay Ismail, o mesmo que consagrou Meknès como capital.
Terá sido um português a realizar a obra, que havia de albergar
milhares de prisioneiros.
A dimensão embora vasta, onde se multiplicam colunas, abóbadas e
respiradores, não deixa de surpreender imaginando que estiveram ali milhares de
pessoas, com luz escassa e ar rarefeito…
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Notam-se os respiradores ao fundo, no telhado da prisão subterrânea Habs Qara |
O espaço esta vazio e dispõe de algumas luzes e reentrâncias sem função.
Notam-se os respiradores no tecto, sente-se alguma humidade e pareceu-me haver um leve odor a bafio.
Não houve, como de costume, qualquer acompanhamento, literatura ou informação histórica sobre o sítio.
Próximo, fica o mausoléu daquele sultão fundador da dinastia alauita que
transformou a cidade num estilo hispano-árabe que ainda hoje evidencia.
Logo a seguir, ficam os muros esguios do palácio real, que levam às
ruínas dos imensos estábulos construídos no reinado de Moulay Ismail.
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Porta de acesso ao Mausoléu de Moulay Ismail |
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Ao longo dos muros / muralhas do palácio real em Meknès |
Não entramos neste complexo que também incluía um enorme celeiro,
mas andamos em redor do lago Agdal, um imenso reservatório de água destinado a
irrigar os jardins vizinhos.
Naquele dia, alguém alimentava os peixes com pão, enquanto os
patos iam aproveitando a fartura de peixes…
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Homenagem à água, junto ao lago Agdal |
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Lago Agdal |
Saímos por uma zona residencial, calma, moderna, uma espécie de bairro mais parecido com os nossos.
Pouco depois, voltamos a andar junto das muralhas.
Quando chegamos à avenida principal as muralhas continuavam.
Até à praça El Hedin.
Saímos pela Bab En Nouar e acabamos o dia a beber chá numa das
esplanadas da praça Hedin, observando a preparação da dinâmica da noite que a
tarde já fazia adivinhar.
As cobras e os acrobatas já tinham chegado.
Já se jogava para ganhar um refrigerante.
Dois “grand táxi” depois e chegamos ao hotel onde já não eramos o
único grupo de motociclistas presente no jantar.
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À saída do hotel Menzeh Dalia, Meknès |
Da cidade, fica a memória das extensas muralhas, da lindíssima
Bab Mansour, da cosmopolita praça Hedin, da tenebrosa prisão Qara, dos altos muros
do palácio do rei e do lago/reservatório onde os patos não passam fome.
LIGAÇÃO A MARRAQUEXE: AUTO-ESTRADA E PRAIA
Até Marraquexe são cerca de 470 quilómetros. Tudo em auto-estrada.
O trajecto é plano e monótono. Há muito trânsito na proximidade de
Rabat, quando surge uma “nacional” de ligação, e perto de Casablanca, onde os 3
milhões de habitantes enxameiam os arredores.
Por isso, fizemos uma paragem em Mohamedia, na Zimmer Beach, um
complexo turístico junto à praia., onde ainda trocamos algumas palavras com um
casal português e um filho residentes em Marrocos.
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Almoço na Zimmerbeach, Mohamedia |
Almoçamos peixe junto de uma piscina em recuperação, com uma
temperatura excelente, um sol radioso e uma paisagem de praia e mar soberba.
Ainda encontramos um grupo de motociclistas portugueses na
auto-estrada Estes dispunham de motos de estrada. Saiam da portagem
praticamente quando nós estávamos a chegar.
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O sumo de laranja na praça Fna... |
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...os vidros e |
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...aquela confusão que vai até aos fios. |
Entramos em Marraquexe ao final da tarde pelo “palmeiral”, uma
espécie de cintura ecológica formada por palmeiras que também abriga uma das
zonas mais caras da cidade.
Ficamos alojados no já nosso conhecido El Andalous, um hotel de 4
estrelas que dista cerca de 15 minutos a pé da praça Fna.
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À procura dos dirhams à porta do hotel |
A noite não acabaria sem que alguns dessem um passeio pedestre até
à famosa praça que bordeja a medina de Marraquexe. Estava animada. Prometemos lá voltar daí a quatro dias.
Apanhamos uma caleche e regressamos ao hotel ainda cedo.
Afinal, sempre estavamos com quase 500 quilómetros em cima e ainda não tínhamos feito a parte "in" da zona.
No dia seguinte, havia que trepar o Atlas.
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Á saída do Al Andalous, Marraquexe |
ATRAVÉS DO ATLAS ATÉ OUARZAZATE
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Estacionamento junto ao casbá Taourirt, Ouarzazate |
Há dois anos, o piso pareceu-me melhor.
A estrada que sobe o Atlas está bera e continua a ter um tráfego
de camiões que obriga a fazer alguns troços a velocidades que envergonham um
ciclista.
Embalar é mesmo coisa árdua, a não ser que a subida seja feita com
um ritmo mais vivo, mas que também pode afastar-nos uns dos outros.
Estamos a passear no estrangeiro, numa estrada com mau piso, mal
conhecida. É para andar “piano”.
E para chegar inteiro ao famoso Tizi N'Tichka, um dos passos do
Atlas, já cerca dos 2200 metros de altitude.
Lá estavam os habituais vendedores de artesanato, lá estacionamos
próximo da indicação da altitude, lá bebemos o chá da praxe.
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Almoço em Ouarzazate |
Para baixo, os santos já estavam mais atentos, e quer o piso quer
o trânsito melhoraram.
Entramos em Ouarzazate por uma nova rotunda alusiva aos estúdios
Atlas que ali próximo já foram cenário de muitos filmes.
Atravessámos a avenida principal até à zona do casbá Taourirt
próximo do qual almoçamos.
Desta vez, aproveitamos a vista panorâmica de um dos restaurantes
de cujo terraço se domina a parte central de Ouarzazate e permite perceber a
mancha rosada que constituiu a parte edificada desta cidade recente.
Em estrada, a novidade ia começar a partir daqui.
Até Agdz, localidade que faz a ligação com a zona do Erg Chebbi,
com Zagora e com Agadir, é a montanha que domina.
O terreno já há muito que se enrolou. As montanhas torcem-se como papéis amachucados, pintando a
paisagem de uma variedade incomum de castanhos.
Não fosse o aparecimento de um ou outro oásis, à beira de
um ribeiro minúsculo ou a envolver uma pequena localidade, pareceria estarmos fora do planeta.
O cenário aqui não é muito diferente da paisagem marciana.
É comparar e descobrir qual é onde.
Não é difícil distinguir: se aparecer alguém a vender caixas de tâmaras, é porque se trata de Marrocos.
A paisagem é relativamente homogénea de Ouarzazate a Agdz.
Até aqui é a rocha que domina.
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Entre Ouarzazate e Agdz. Além do asfalto, daqui não se via outra coisa que não fosse pedra. |
Depois, porém, surge uma imensa e comprida mancha verde que
percorre todo o vale do Draa e leva até Zagora.
É um palmeiral infindável que acompanha os cerca de 70 quilómetros
de ligam Agdz a Zagora.
Nota-se ser uma zona mais pobre, com muitas habitações em ruínas,
incluindo pequenos ksour (castelos) e kasbás (cidadela defendida por muralhas).
Porém, ao contrário de outras regiões, como seja a que fica entre
Agdz e Agadir, há muitas aldeias ao longo do vale, algumas envolvidas pelo
palmeiral.
Pena é que as edificações antigas mais atraentes e mesmo as ruínas
mais majestosas obrigassem a entrar na terra e a fazer trajectos susceptíveis
de furarmos.
Por isso, ficamos pela paisagem, aproveitando um ou outro sítio
mais representativo para pararmos, descansarmos e observarmos as diferentes
paisagens ecológicas da região.
E para cevar a dinâmica dos miúdos, também.
ZAGORA
ENTRE O PALMEIRAL E O DESERTO
Estreamos Zagora com um pé no "Palais" e outro no "Kasbah".
São ambos
hotéis Asmaa, mas onde havia vaga era mesmo no mais fraquito.
Era um três estrelas de deserto, arquitectonicamente atraente,
enfiado em pleno palmeiral, com condições suficientes para lá passarmos duas
noites.
Se a temperatura estivesse mais alta, a piscina era capaz de ter
feito jeito.
E uma garagem também.
A poeirada andava sem rédea no ar, sobretudo ao
fim da tarde do dia seguinte.
Deixou tudo o que era fechadura com um manto
acastanhado pouco recomendável.
A tampa do depósito de gasolina da minha moto – que já não abria
muito bem desde Portugal – passou a necessitar de uma ponta de canivete sempre
que precisava de a abrir para abastecer. O pó entrou mesmo na parte lateral do
bocal do depósito de gasolina…
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Saída matutina do Kasbah Asmaa |
Saímos de Zagora para Tamegroute, a acerca de 30 quilómetros.
Íamos à procura do deserto, de uma medina coberta e de uma biblioteca do século XVII
com manuscritos do século XIV.
A caminho, passamos por um ksar, rodeado por areia e com uma duna perto.
Mas o acesso era em terra batida e até lá a areia devia aparecer.
Continuamos e na primeira rotunda em Tamegroute encontramos de imediato um guia que se propus orientar-nos pela
biblioteca, pela medina e pelas lojas da povoação.
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Entrada do Palais Asmaa |
Marcamos encontro por ali, mas seguimos na direcção de M'Hamid.
Havia souk (mercado) naquela manhã.
Era o chamamento do deserto.
M'Hamid é por assim dizer uma das portas do Saara, uma espécie de
Merzouga mas na região do Souss-Massa-Draâ.
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Noites serenas no Kasbah Asmaa |
Pouco depois, logo a seguir ao único desvio existente no caminho, ainda vislumbramos um torvelinho que andava perdido
a cerca de 500 metros da nossa rota. Ficou por lá.
Poucos quilómetros depois, a estrada de asfalto estava em obras, logo após a ponte sobre o rio Draa.
O lugar coincidia com o fim do palmeiral.
As obras continuavam a perder de vista.
Havia muita pedra solta e as faixas de rodagem estreitaram até
ficar apenas uma.
A maioria continuou, mas eu dei meia-volta com o João.
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Escolhemos mal. Aqui ainda havia vegetação... |
Estavamos a cerca de 60 quilómetros de M'Hamid.
Parámos pouco depois,
mandei uma mensagem a dizer que a coisa podia sair “furada” e estivemos um
bocado no meio do nada entre areia e alguns arbustos.
Daí a pouco, a decisão foi unânime e os restantes voltaram também
para trás. As obras vedavam o acesso das Pans ao deserto.
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Não se nota, mas lá ao fundo a areia anda pelo ar como nuvem de gafanhotos |
Regressamos a Tamegroute para reencontrar o guia e os gardiens das
motos.
Deixá-mo-las à sombra, acompanhamos o guia e entramos no marabut de
Tamagroute, uma espécie de espaço de recuperação espírito-sanitária onde se
juntavam doentes na esperança de receberem as graças do santo.
A biblioteca era do século XX com estantes em alumínio, mas os
manuscritos certamente mais antigos. Percebi que um Corão seria do século XI.
A única cadeira de rodas que vi em Marrocos pertencia a um dos
guias da biblioteca, o mais velho.
Aquecia. Continuamos para a medina. As primeiras vielas já estavam
cobertas, principalmente com canas e palmas, tornando o caminho escuro, mas
mais fresco.
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No interior da medina, Tamegroute |
Deambulamos pelo labirinto, passámos pela forja e por bandos de
crianças.
Até que o guia, Abdul, nos levou até à sua casa.
Entrava-se por uma escada estreita que se abria num primeiro piso
para uma pequena sala, para a cozinha e para um quarto.
Estava uma tajine ao lume, mas aparentemente a casa estava vazia
de gente.
Um piso acima, no terraço, ficava o redil, onde uma cabra enfezada
esperava o destino.
Saímos e continuamos para a zona de olarias, onde os oleiros
estavam “enterrados” até à cintura e o girar do barro se fez com os pés frescos…
A seguir, estavam os fornos. É difícil imaginar o calor que, no Verão, não estará ali, mesmo tratando-se de um espaço aberto.
Acabámos numa loja que vendia os produtos ali manufacturados.
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O oleiro trabalha meio enterrado |
A seguir, ficamos por uma tenda enorme onde almoçamos.
Talvez fosse mesmo o único albergue da aldeia.
Foi aí que nos disseram estar em obras a estrada de montanha logo
a seguir a Agdz, que teríamos de ter atenção à estrada uma vez que também tinha uns
“fundões” de vez em quando.
Se para estes já vínhamos a ser avisados desde Tetouan. Para tanta obra é que não
estávamos preparados.
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Uma cozinha numa casa da medina |
A tarde foi passada em Zagora, uma cidade com uma avenida
principal extensa mas sem grandes pontos de interesse.
Antes de anoitecer o céu turvou-se. Uma nuvem de poeira passou a rasar a copa
das palmeiras e a dar um ambiente amarelado a uma espécie de pôr-do-sol que não
tinha existido.
No dia seguinte, vimos o efeito da tempestade de areia.
Era mais terra e estava enfiada em tudo o que era fechadura ou
estava oleado.
Terminamos a tarde a recordar em imagens o passeio de Marrocos de
há dois anos, salvo erro.
Ficou o passeio pela medina de Tamegroute, pela
biblioteca, pela casa do guia, a compra de um colar a um artífice local, e claro, a
poeirada que nos acompanhou de manhã e a revoada do fim da tarde.
DE ZAGORA A AGADIR
ENTRE OBRAS E AO LONGO DO SOPÉ DO ATLAS
Já sabíamos. Esta devia ser a etapa mais longa em estrada nacional e a mais
penosa.
Mas em Tamegroute avisaram-nos: há obras na montanha.
Com efeito, na zona mais alta do trajecto, o asfalto desaparecera.
Passamos a andar sobre terra batida e pedras.
Em vez de terem escolhido uma das faixas para recuperar e a outra
para permitir a passagem, arrasaram as duas.
Foi assim durante cerca de 20 quilómetros. Daqui a uns anos,
aquele troço deve ser interessante.
Com piso novo, no meio de uma zona
acidentada com montes de formas caprichosas, é capaz de ser um belo terreno
para andar de moto.
Agora, porém, não passava de uma chacina de pneus, sob os quais
resvalavam calhaus que saltavam como pipocas.
Até o regresso da estrada nacional bera se revelou tranquilo. Mas o piso não perdoava. Por isso, fizemos uma paragem "técnica" em Tazenakht.
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À sombra em Tazenakht |
Almoçamos numa tenda gigante à entrada de Taliouine.
Tínhamos feito 250 quilómetros durante a manhã.
Nada mau, para um piso daqueleS.
Talvez se perceba no vídeo que aquele chão é para cabras, não para motos de estrada...
A refeição foi à vista do ksar que tem o mesmo nome da localidade.
Estavamos num restaurante que também tinha quartos e dispunha de alguns metros quadrados para guardar animais, uma piscina em recuperação e umas quantas árvores de fruta.
A temperatura estava catita para andar de moto.
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Almoçar à vista do ksar Taliouine |
Cento e poucos quilómetros depois, paramos em Taroudant, uma cidade muralhada
que dista pouco mais de 70 quilómetros de Agadir.
Entramos num hotel que ficava dentro das muralhas e ocupamos o
jardim junto da piscina para beber uma Coca Cola, repondo açucares e recuperando os músculos mais doridos dos últimos quilómetros em estrada nacional.
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Um copo algures em Taroudant |
Preparávamos a entrada em Agadir. Até lá, vai uma via rápida que liga alguns "domaines" de produção frutícola e em cujas bermas pastam rebanhos de cabras ou pedalam em bando centenas de crianças.
Chegamos ao hotel Garden Beach ao fim da tarde e assistimos a um
pôr-do-sol admirável.
À noite, à laia de reconhecimento, fizemos a digestão ao longo do passeio marítimo que ficava logo
abaixo do complexo.
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O monte da antiga casbá ao por do sol., Agadir |
De manhã, reunímo-nos numa casa de câmbios, trocamos dinheiro e entramos na loja ao lado para procedemos à
transferência do valor da reserva para o nosso guia habitual em Marrocos.
Ficamos a saber que o espírito motociclístico está ali a despontar.
O empregado da Wafacash tinha uma YZF, mas já tinha andado fora de estrada na montanha com essa moto de estrada e preparava-se para fazer meio milhar de quilómetros para
participar numa concentração em homenagem a um motociclista falecido por
acidente. Saiu do guichet só para trocar dois dedos de conversa sobre motos…
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Vista de Agadir desde a ruína do casbá |
A manhã foi dedicada a visitar a antiga casbá, no cimo do monte
que domina a cidade a norte.
O terramoto de 60 destruiu-a, tal como metade da cidade que perdeu
cerca de 20 mil pessoas.
A ruína, como a palavra indica, está muito
degradada. Parece que apenas os palácios são conservados com uma bitola
próxima da europeia.
Almoçamos no passeio marítimo, um espaço muito Europa do sul, onde o peixe reinou.
À tarde, deambulamos pela medina Coco Polizzi, uma edificação que
reproduz de forma estilizada uma medina marroquina.
Junta a concepção do arquitecto italiano com a organização do espaço das medinas marroquinas.
Cores, materiais, espaços, dimensões, articulam-se de uma maneira harmónica.
Os 10dh de entrada valem a pena.
Foi desenhada no início da década de 90 pelo arquitecto italiano Polizzi, nascido em Rabat, e dispõe de muitas lojas
onde os artesãos, desde sapateiros a ourives, fabricam as suas peças à vista
dos visitantes.
É um espaço nobre, muito atraente, pensado ao detalhe, com cantos
e recantos simpáticos.
Porém, está longe da zona mais movimentada.
Foi construída em terrenos
relativamente áridos, com mau acesso viário e pedestre.
Seria improvável apanhar um taxi por ali.
Felizmente, os nosso esperaram que visitassemos o complexo.
Passamos o fim da tarde na marina de Agadir, que passa pelo padrão europeu, com esplanadas, lojas de moda e restaurantes.
A arquitectura é semelhante à de outras tantas marinas do Mediterrâneo.
E a de Vilamoura ou a de Lagos não são muito diferentes.
Está encostada ao enorme
porto de pesca da cidade que é o maior exportador mundial de sardinha.
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Vista parcial da marina, Agadir |
MARRAQUEXE, DE NOVO, PELO NOVO
São apenas 250 quilómetros que separam Agadir de Marraquexe.
parámos para beber um café numa área de serviço e, antes de almoço estávamos de novo à porta do hotel Al Andalous.
Almoçamos ao ar livre junto da piscina e saímos a pé.
Passamos pelo La Mamounia, um dos hotéis mais famosos e
mais caros da cidade, que está a meio caminho entre o Al Andalous e a praça Fna.
Percorremos uma zona comercial e residencial onde algumas surpreendiam pela criatividade.
Depois, desviamos para o palácio Badi.
Trata-se de uma ruína que dá ideia da grande dimensão do
original.
No interior, numa sala fresquinha e bem iluminada, a exposição de
um fotógrafo de guerra ilustrava diversos conflitos mundiais.
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Duas perspectivas das ruínas do palácio Badi |
Saímos a caminho dos Túmulos Saadis mas, tal como o palácio Badi, aquele também fechava às 5 menos um quarto…
Ficamos por ali, observando uma ou outra loja que para nós já são montra do passado, como seja o funileiro ou a drogaria, ou outras mais exóticas, como a dos fósseis ou do artesanato africano.
Depois, fomos direitos à Fna.
Estava muita gente, mesmo para aquele hora, a caminho do fim da tarde.
Não tardamos a enfiar pelas vielas principais da medina.
Conforme íamos andando as ruas mostravam produtos e objectos organizados por tema.
Ora eram as especiarias, ora cerâmica. ora antiguidades, ora cestaria.
Apesar de já as conhecermos, parece que aquela canseira de objectos não fadiga.
Talvez por o assédio da compra ser escasso nesta zona os possamos olhar com mais tranquilidade.
Saímos de lá uma hora depois.
Infelizmente não nos perdemos.
Combinamos jantar na varanda de um dos restaurantes que ladeiam a
praça.
Não foi fácil encontrar lugar vago.
Estava muita gente na praça, nos restaurantes, a espreitar desde as varandas.
Apesar de estarmos na semana a seguir à Páscoa, Marraquexe estava
pejada de turistas.
É verdade que na Europa, nem todos passam férias antes da Páscoa...
E a animação correspondia a essa dinâmica.
Além dos vendedores de levante, lá estavam os diversos grupos que
dançam, cantam, jogam, fazem teatro.
As pequenas lanternas continuavam a enxamear o chão e a contribuir para criar uma
atmosfera de magia dificilmente conseguida em qualquer centro histórico de uma
cidade europeia.
O tempo colaborava. Quase não havia vento.
MARRAQUEXE / CEUTA
A ULTIMA ETAPA EM SOLO DE MARROQUINO
Esta foi a etapa mais longa em Marrocos por auto-estrada, 640 kms.
Também a mais monótona, não fosse a parte final com o atravessar dos
montes próximos de Ceuta e aquela sensação de borboleta que o vento forte da
zona impõe.
Almoçamos na área de serviço de Bouznika, logo após termos parado
a seguir a uma portagem onde estava um grupo de portugueses com motos TT à
volta de uma delas que, segundo nos disseram, tinha um problema grave.
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Animada esta gente, na avenida principal de Ceuta. |
Ceuta surgiu por volta das seis da tarde.
Atestámos em Fnideq para gastar os últimos dirhams e percorremos a marginal que liga a localidade a Ceuta.
A passagem na fronteira, apinhada de gente e de angariadores, foi
rápida.
De carro, a coisa tinha dado para o triplo do tempo.
Preenchemos os papéis individuais de saída, entregamos os passaportes e os papéis da moto.
Esperamos pelo carimbo no passaporte e pela aferição do documento da moto.
Um quarto de hora depois, estavamos no último controlo fronteiriço marroquino.
E, além do passaporte, o polícia devolveu-me
uma esfuziante informação: “o Benfica ganhou 2 a 1 em Itália!”.
Já tínhamos notado que os marroquinos estão muito adictos ao
futebol. Em Tanger, havia muitos cartazes a anunciarem que alguns espaços
transmitiam o desafio entre o Real Madrid e o Barcelona em ecrã gigante.
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Plaza de los Reyes, Ceuta |
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O escudo de armas de Ceuta, um testemunho da nossa história |
Estacionamos as motos no parking do Parador, a tempo de tomar uma
banho, descer, beber um Gin tónico musculado e sair para o assador que fica na
zona pedestre.
Exceptuando as Muralhas Reais, no centro da cidade, ainda não foi
desta que visitamos as diversas fortalezas de que Ceuta dispõe.
Jantamos bem, em jeito de tirar a barriga de misérias.
Uma alegria a coincidir com o fim de festa.
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Nascer do dia em Ceuta |
Apanhamos o barco das 9 da manhã.
Não estava muita gente, como é habitual.
Uma hora depois, estavamos a sair em Algeciras.
Paramos na primeira área de serviço da autovia para Jerez de La
Frontera e despedimo-nos.
Fomos ficando pelo Algarve por Lisboa, Coimbra e Aveiro.
Nós, três áreas de serviço depois e depois de nos separarmos do João, chegávamos a casa no final da tarde.
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Última foto da viagem na área de serviço de Palmela |
Desta vez, a logística foi facilitada pelo diminuto número de participantes.
Tomávamos refeições rapidamente, continuamos a ter desconto no
ferry por ser um grupo “organizado”, despachamos a fronteira num instante,
trocamos dinheiro rapidamente, reabastecíamos em dez minutos, a entrada nas
cidades era mais simples, as motos estacionavam mais próximo uma das outras, dividíamos o grupo por dois táxis.
Nos hotéis não foi preciso fazer registo, pelo que bastou entregar
uma folha com os dados dos participantes aposto o numero de entrada em Marrocos.
Ninguém se perdeu ou ficou sozinho durante muito tempo. Um susto
ou outro. Algumas surpresas boas e outras nem tanto, mas tudo dentro do
previsível em Marrocos.
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Os bilhetes da travessia Ceuta-Algeciras |
Os preços estão mais altos. O crescimento económico faz destas coisas.
Também há mais tráfego, mesmo na estrada. Há mais camiões e até meia dúzia de motos com matrícula marroquina.
E também mais carros, de todas as marcas, incluindo Mercedes, embora não se vejam tantos
BMW’s como em Portugal.
A frota de “petit taxis" foi praticamente toda renovada, agora
com muito material Renault.
E também há muitas casas, muitas delas ainda devolutas. Faz
lembrar um país que com um perfil semelhante anda entroikado até às orelhas.
Parece no entanto que é o estado (por mão do rei) que está a
assumir os empréstimos, pelo que a banca pode não vir a arrogar o protagonismo
que por cá vingou.
A gasolina subiu 3 cêntimos em dois anos, ou seja, cerca de 30%. O preço
dos hotéis também subiu cerca de 20%. O sumo de laranja na Fna já vai em 4
cêntimos, mais 30% face há dois anos.
A discussão dos preços e o valor aparentemente insano do primeiro
preço pedido mantém saudável o contacto entre os forasteiros e vendedores.
Os miúdos andam em bandos ao sair da escola.
E vão todos de bicicleta.
Mas só elas têm bata.
A polícia continua a estar à entrada das povoações.
Em alguns locais dispõe de dispositivos anti-fuga.
Os condutores marroquinos encostam e quase param nesses controlos.
Felizmente, a políca também “fecha” os olhos às secantes aos
traços contínuos, essas linhas infinitas que se dão tão mal com os
estrangeiros…
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O famigerado documento de importação temporária de veículos |
Vêem-se mais “seguranças” nas grandes cidades, mas nem por isso se
nota mais insegurança.
A manutenção continua a ser algo com que os marroquinos lidam de
uma maneira particular.
As estradas podiam ter um piso melhor se a maioria das obras não
contemplasse apenas poucos quilómetros.
A circulação viária na estrada continua a ser lenta e nas cidades mantém-se o salve-se quem puder habitual.
A higiene também parece que não sofreu alterações.
As toalhas costumam ditar o padrão de limpeza e raramente mereceram nota positiva.
Desta vez, visitamos mais. Mas nem por isso sentimos que o que é
mostrado tem sido valorizado ou interessa ser divulgado, muito menos
“vendido”.
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Almoço de grupo |
Os preços das comunicações móveis são assustadores. Embora
Marrocos esteja mais próximo de Portugal do que de França, o custo das chamadas
por telemóvel atingem facilmente os dois dígitos.
A moda de reconhecimento dos portugueses chega a ser irritante, já
que os vendedores, especialmente os de Zagora, repetem até à exaustão a eloquente expressão: "...se
queres, queres! Se não queres, não queres"...
Apesar de o nível de vida estar mais caro, de haver muitas obras, mais carros, mais prédios, que estão a transformar o ambiente marroquino, a temperatura do ar, a simpatia das pessoas, as paisagens diferenciadas, o aumento da rede viária, a saborosa gastronomia, são aspectos que continuam a deixar uma estrada aberta para quem queira descobrir ou voltar ao Magrebe.