segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CABO DA MOTA

  

O sítio leva lá muita gente. Não é o mais próximo da América, nem o mais longe da Europa. Mas é local de romagem, de excursão. Quer de autocarro, quer de moto. 



Já lá fomos todos, de moto. A memória está próxima, pertíssimo da actualidade. Mesmo assim, já lá vão uns anos desde o início da iniciativa. Se recuarmos vinte, somos capazes de já perceber o peso dos anos. Porém, julgo que também sentiremos a leveza do argumento. 


No início, os extremos não se tocavam. As motos eram dos ricos e as motorizadas dos pobres. Lentamente, o universo motociclístico português foi perdendo essa dicotomia de classe. 



Apesar dos limites de importação e do preço desses “artigos de luxo”, o poder aquisitivo foi aumentando. Os modelos do início dos anos 70 foram sendo substituídos e, em meados dos 80, o mundo das motos estava recreado. O começo dos anos 90 assistia aos primórdios do “boom” motociclístico que se estenderia quase até ao final do século.


No final dos anos 70, na região de Lisboa, o espaço motociclístico começava a ser exíguo. Muitos haviam formado pequenos grupos e esses grupos haviam encontrado meia dúzia de sítios para "parar".



Depois de Cascais, que levava gente da linha de Sintra e de Lisboa, da ascensão e queda da “Mexicana”, que passara a juntar Lisboa e arredores, das corridas de moto no autódromo do Estoril e em alguns circuitos urbanos, e da súbita “Vela Latina”, o Cabo da Roca tornou-se no caso mais sério e perene de reunião de milhares de motociclistas sobretudo da Grande Lisboa mas também da Margem Sul.


A iniciativa do MC de Sintra começou a levar à “Roca” uma romaria cada vez maior de motociclistas. 


Todos os domingos de manhã as motos enxameavam as estradas de Sintra e do Guincho a caminho do local “mais ocidental” da Europa. A pretexto de uma “volta”, bebia-se qualquer coisa, trocavam-se impressões sobre os últimos modelos, combinavam-se viagens.

Nesta altura, viam-se muitas CBRs, GXRs, Ténérés e Africa Twins, embora também aparecessem algumas GPXs, as primeiras FJs e VFs. Por vezes, até uma Harley Davidson com matrícula americana por lá andava.

O “Cabo” tornou-se rapidamente numa Meca dos motociclistas, num lugar de culto misto de feira de vaidades, local de encontro ou de passagem. As estradas mais próximas chegaram a servir de pistas de talentos duvidosos, onde a polícia fazia incursões frequentes.

Porém, a maioria ia pelo baloiçar das curvas, pela paisagem, pelo encontro com outros. Nessa altura, ainda era possível identificar alguns dos que tinham frequentado as noites de oitenta da “Mexicana”, bem como outros que já andavam de moto desde o despontar dos anos 70. No filme, reconhece-se o Armando Borges, o Amadeu Pereira, o João Rei e a Marina Ramalhete.


O “Cabo” não se esgota nesta meia dúzia de parágrafos nem nesta meia dúzia de aspectos. 


O sítio já tem uma história motociclística. Foi dali que muitos partiram e onde muitos chegaram em viagens inesquecíveis. O “Cabo” é princípio e fim, motivador e charneira, passado e futuro, hoje uma referência importante dos motociclistas portugueses e do motociclismo nacional.

As imagens foram retiradas de dois vídeos mal tratados... 

Música: Memória de Peixe, 74
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