A exposição de azulejaria na Gulkenkian realizar-se-ia apenas na semana seguinte. Por isso, por que não aproveitar a manhã de domingo para visitar o museu? Há anos que não o fazíamos. Fomos. E voltamos a andar no tempo e nos lugares das escolhas artísticas do coleccionador arménio.
Percorrer o museu é passear pela História e pela história da arte, ao longo de espaços cronológicos e culturais. E de uma maneira fácil, como se fosse um passeio onde pudessemos assistir ao evoluir da natureza, da semente à árvore, ao mudar da cultura, das ideias aos gestos, ao fulgir da arte, dos materiais aos temas, das peças ao engenho artístico. É simples, cómodo e pedagógico.
O edifício segue os traços arquitectónicos do corpo principal da sede da Fundação. O espaço interior organiza-se geometricamente, com janelas quer largas quer estreitas. Lembra o congénere arqueológico de Madrid.
Tem apenas 12 centímetros, mas é enorme. Bastaria invocar a data para lhe atribuir valor: quatro mil anos de vida. Seria suficiente mencionar o material de que é feito para o reconhecer como objecto artístico: obsidiana (vidro vulcânico). Bastaria identificar os símbolos de poder para lhe reconhecer a autoridade faraónica, com o poder dos deuses.
A mitologia impõe-se na arte assíria com os génios alados esculpidos na pedra. A escrita (cuneiforme) e os deuses também. Mas são os homens que decoram as paredes dos palácios com baixos-relevos de dimensões gigantescas. Os artistas assírios parecem libertar-se dos limites da estética egípcia.
Quando entramos na arte islâmica a Grécia ficou a um milénio de distância. A antiguidade clássica dá lugar ao medieval. Os tapetes, as iluminuras, as cerâmicas ganham protagonismo na arte. A cosmogonia grega esbate-se. Agora é a religião que domina. O mesmo se passa em terrenos cristãos.
Chegados à Europa voltamos a encontrar a arte que foi à descoberta do mundo, a que acompanhou os evangelizadores. A religião reaparece com uma necessidade de divulgação. A arte passa a ser veículo didáctico e a preencher o espaço público de culto.
A Europa centra-se no livro, na escultura, na pintura e nas artes decorativas. Ainda há vestígios do medieval, por exemplo no díptico em marfim com cenas da paixão de Cristo, do século XIV, ou na escultura de São Martinho a cavalo, em calcário, do século XVI. A religião na primeira peça, e a mitologia na segunda (cabeças de Medusa, etc.), continuam a presentes.
Todavia, a arte decorativa, vai ganhando actualidade, notoriedade, utilidade, familiaridade. Reconhecemos facilmente as peças, sobretudo as de ourivesaria e mobiliário. Ainda hoje se vêem peças semelhantes a estas em palácios, mas também em hotéis ou em edifícios públicos requintados.
As manufacturas conseguem criar mais peças. A arte multiplica-se pelos palácios e pelas casas abastadas. Se no final da Idade Média a arte já preenchia muitas das paredes das casa mais ricas, as artes decorativas vão passar a ocupar as escadas, os átrios e os salões. A arte do mobiliário passa a ser omnipresente.
As madeiras exóticas e os animais estranhos à maioria dos europeus passam a fazer parte do quotidiano da Europa. às madeiras, juntam-se agora o bronze, o estanho e o latão, e o mobiliário assume uma posição dominante na arte. Os motivos decorativos continuam a convocar o naturalismo e cenas mitológicas. As peças vão-se apoderando de uma proporcionalidade, harmonia e severidade ímpares.
A religião, o mito e a natureza mantêm-se presentes, sobretudo na pintura. Na exposição, estão representadas as várias escolas de pintura - flamenga, francesa, inglesa - e muitos obras dos pintores dos séculos XV a XIX, de Rubens a Rembrant, de Fragonard a Quentin La Tour, Guardi a Turner, passando por Manet, Degas e Renoir.
Porém, o museu não é apenas a qualidade, a disposição, a diversidade do seu conteúdo. É o espaço, a configuração, o enquadramento paisagístico. O museu é suficientemente amplo para não nos sentirmos fechados numa gruta estética. Há espaço para observar e para estar. Há inclusivamente lugares privilegiados em frente das peças.
É simples orientar-mo-nos numa configuração geométrica que também permite o acesso do olhar a várias salas. Os limites praticamente não se desvendam. E, depois, há aquele envolvimento de verde que se desfruta desde as janelas rasgadas, janelas que também protegem a arte interior da paisagem exterior.
O percurso é atractivo e atraente, espaçoso, iluminado ou discreto. Tem bancos, onde é possível descansar as pernas ou prender o olhar. Isto, ao longo de um itinerário que nos leva pela reprodução artística do sagrado, do mítico e do natural, uma espécie de catálogo de natureza e cultura que a arte encerra.
O livro, profuso de iluminuras, pesado e colorido, reflecte o crescimento da importância da palavra, também da palavra dos livros religiosos. Mais leve mas igualmente estilizado, o vidro atenua a excessiva opacidade do universo artístico medieval. A decoração das lâmpadas de mesquita é neste âmbito lapidar, juntando motivos da natureza (as aves) e da cultura (a Fénix).
A identidade das comunidades continua a ser influenciada pela acção da Igreja e da religião. Esse domínio também envolve a arte. Na Arménia, de onde o colecionador era oriundo, também se descobre essa faceta, por exemplo nos pergaminhos e nas iluminuras do final da Idade Média.
Porcelanas pintadas, pedras trabalhadas, madeiras lacadas dominam o espaço dedicado à arte asiática. Aqui, as pedras esculpidas ocupam um lugar de destaque, paredes-meias com a arte dos biombos e da famosa cerâmica chinesa.
A leveza dos materiais e a estilização das formas tornam as peças complicadas em arte. Agora é a natureza que se endeusa e que assume uma totalidade que a cultura esculpe.
Chegados à Europa voltamos a encontrar a arte que foi à descoberta do mundo, a que acompanhou os evangelizadores. A religião reaparece com uma necessidade de divulgação. A arte passa a ser veículo didáctico e a preencher o espaço público de culto.
A Europa centra-se no livro, na escultura, na pintura e nas artes decorativas. Ainda há vestígios do medieval, por exemplo no díptico em marfim com cenas da paixão de Cristo, do século XIV, ou na escultura de São Martinho a cavalo, em calcário, do século XVI. A religião na primeira peça, e a mitologia na segunda (cabeças de Medusa, etc.), continuam a presentes.
Todavia, a arte decorativa, vai ganhando actualidade, notoriedade, utilidade, familiaridade. Reconhecemos facilmente as peças, sobretudo as de ourivesaria e mobiliário. Ainda hoje se vêem peças semelhantes a estas em palácios, mas também em hotéis ou em edifícios públicos requintados.
As manufacturas conseguem criar mais peças. A arte multiplica-se pelos palácios e pelas casas abastadas. Se no final da Idade Média a arte já preenchia muitas das paredes das casa mais ricas, as artes decorativas vão passar a ocupar as escadas, os átrios e os salões. A arte do mobiliário passa a ser omnipresente.
A religião, o mito e a natureza mantêm-se presentes, sobretudo na pintura. Na exposição, estão representadas as várias escolas de pintura - flamenga, francesa, inglesa - e muitos obras dos pintores dos séculos XV a XIX, de Rubens a Rembrant, de Fragonard a Quentin La Tour, Guardi a Turner, passando por Manet, Degas e Renoir.
É simples orientar-mo-nos numa configuração geométrica que também permite o acesso do olhar a várias salas. Os limites praticamente não se desvendam. E, depois, há aquele envolvimento de verde que se desfruta desde as janelas rasgadas, janelas que também protegem a arte interior da paisagem exterior.
O percurso é atractivo e atraente, espaçoso, iluminado ou discreto. Tem bancos, onde é possível descansar as pernas ou prender o olhar. Isto, ao longo de um itinerário que nos leva pela reprodução artística do sagrado, do mítico e do natural, uma espécie de catálogo de natureza e cultura que a arte encerra.