Não chega a seiscentos quilómetros. Um pouco antes entra-se em Ronda, depois de cumprir a via rápida e a “nacional” que vai de Sevilha e passa nas curvas de Grazalema e Setenil. Jornada com pouco trânsito - até mesmo na ponte do V Centenário na capital andaluza - bom piso, boa sinalização, curvas abertas, uma temperatura excelente.
Saímos por volta das três da tarde e chegámos perto das nove da noite. Durante essas seis horas, fizemos uma paragem na área de serviço de Loulé e outra antes de Sevilha. Depois andámos mais devagar na “nacional”, precisamente porque vamos de vale em vale, primeiro entre colinas, depois já à vista de alguns picos valentes. Vamos, por isso, sendo testemunhas de uma paisagem que sobe e desce serenamente, vai circundando tranquilamente os montes, rompe através de um misto de solo dourado e de encostas verdejantes. O suficiente para estes "viajeros romanticos".
RONDA BY NIGHT
Às dez, já estávamos a jantar o tradicional rabo de boi rondano no hotel Dom Xavier. Às onze, já andávamos na zona histórica. Começámos pelo Parador e pela famosa ponte Nova sob o rio Guadalevin, que liga a cidade velha, a sul, à cidade nova, a norte. Daí a pouco, caminhávamos entusiasmados com a tipicidade das portas dos edifícios mais antigos e com a profusão de brasões nas fachadas das casas senhoriais.
Depois da Ponte Nova, o ex-libris da cidade - que também já aderiu ao fenómeno dos cadeados - prosseguimos para o museu Lara - o do operador de câmara na varanda - metemos pelas vielas da zona antiga e desembocamos na praça da Câmara, o único lugar onde ainda havia pessoas na esplanada.
Ruas calmas, iluminadas, embora numa espécie de calçada irregular, pareciam desertas, um ambiente óptimo para a descoberta das fachadas amareladas pela luz, de alguns pátios interiores escondidos, sem um papel no chão.
Foi por aí que descobrirmos as primeiras torres de estilo mudejar. Andava pouca gente na rua. A noite estava fresca, mesmo para uma terra andaluza. Os mais de setecentos metros de altitude do lugar também sugerem que se vista uma camisola à noite.
Música: Mary e Juan, Mistery
Ver neste formato
CASTELO DE RONDA
No dia seguinte, tínhamos a ideia de descer o desfiladeiro em passeio pedestre e passar por baixo da ponte. É coisa para demorar três quartos de hora, a descer. Deixámos para a próxima. Em substituição – já não sei se o medieval nos persegue, se o contrário - voltámos à zona antiga e seguimos até ao castelo, depois de voltarmos a atravessar à zona histórica.
Uma das maneiras de observar de fora as muralhas é fazer um pedestre pela encosta, entre o odor do mato seco e o sibilar das lagartixas, pedra abaixo cova acima. O caminho leva ao longo da muralha situada a sul, mas também desemboca nas termas romanas.
No fim da picada, surge a ponte romana, um lugar de onde é possível vislumbrar a zona antiga, a ponte árabe e a ponte Nova, além do respectivo desfiladeiro. Quer por um lado quer pelo outro, é possível trepar ao longo do desfiladeiro. São caminhos exigentes mas têm um charme marcante. É uma das partes românticas do trajecto.
Música: Vincent Burnay, Spanish Samba
Ver neste formato
DESFILADEIRO E PONTES
Trepámos pelo lado novo. Por ali acima é possível contemplar o Palácio de Mondragón e o Palácio do Marquês de Salvatierra. Mais visível, também por estar em obras há já muito tempo, está a casa do Rei Mouro e o seu excelente jardim em socalcos.
Lá em baixo, muito abaixo, está o rio. Até lá é a falésia, as pontes e os vestígios coevos que dominam. Mas a vista, sempre atraída para a vertigem do declive consegue, ainda assim, fixar-se no ex-libris da Ponte Nova.
Música: Mary e Juan, Fantasy
Ver neste formato
Ver neste formato