No capítulo político, o edifício está intimamente relacionado com a Proclamação da República em 5 de Outubro de 1910. No domínio da arte, destacam-se os nomes de Ressano Garcia e Anatole Calmels, especialmente no frontão, José Luís Monteiro, sobretudo na escadaria central e, inclusivamente, Pereira Cão, Columbano e Malhoa, ao nível da decoração pictórica.
Com a nova configuração de trânsito da Baixa, é impossível ficar indiferente à dificuldade de passar por aquela zona. Talvez por isso, tenhamos cruzado mais vezes a pé a Praça do Município e notado o edifício. Mas é possível que a proximidade do centenário da República o tenha exposto com mais destaque.
Um dia, aproveitámos uma visita guiada. Apesar de a Praça do Município dispor de um parque de estacionamento subterrâneo, a complicação dos sentidos levou-nos para a rua Nova do Almada onde a falta de estacionamento na rua é tirana. Chegámos atrasados, mas só perdemos as boas-vindas e a introdução.
A recepção aconteceu numa sala ampla, talvez a mais desafogada do edifício. Dá-lhe acesso um corredor que vem do átrio. Apesar da dimensão, a madeira empresta-lhe um ar acolhedor. A toda a volta, e de alto a baixo, há estantes plenas de livros a forrar as paredes. Um pequeno varandim dá acesso às que ocupam a meia parede superior.
Expõem-nos alguns dos momentos mais significativos da história do edifício, mas rapidamente se passa para a enumeração dos imensos vestígios de esoterismo maçónico, quer na construção, quer na decoração. É o número de janelas, a estatuária, as cores das lajes, as formas arquitectónicas exteriores.
Apesar da decoração austera, alguns espaços destacam-se devido a diversas peças, como sejam candeeiros, quadros, esculturas, frescos nos tectos. Os candeeiros da escadaria, os quadros da sala de audiências, a cúpula vista do interior, a escultura do símbolo da cidade, o tecto do salão nobre, são de isso corolário.
Foi dada continuidade à importância das escadas. Além das principais, originais, foi aproveitada a reconstrução devido ao incêndio de há 4 anos, para levantar duas novas que levam ao último piso. Para tal, foram convidados alguns arquitectos portugueses de renome.
A cúpula do edifício também foi reconstruída. O telhado tem acesso a partir de uma sala de estar minimalistamente decorada. De lá, é possível vislumbrar a colina do castelo, o Tejo, e os telhados dos ministérios e dos edifícios em redor.
É evidente que a preservação de uma obra arquitectónica e politicamente relevante é indispensável. É notório que o edifício da Câmara tem sido de isso corolário. Mas não deixa de ser curioso como mesmo os republicanos mantêm uma certa “tolerância” sobre o ambiente palaciano que a monarquia erigiu. Afinal trata-se dos "Paços" do Concelho que ainda possui uma sala "nobre".
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