quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Forte do Abano

Forte do GuinchoForte das Velas ou Forte do Abano, localiza-se sobre a praia do Abano, em Alcabideche (Cascais), mas toda a gente conhece o sítio como Guincho. Vou chamar-lhe Forte do Abano.

Vê-se bem desde a praia do Guincho, sobre uma falésia. Até lá, desde a estrada de asfalto, são 1200 metros em terra batida, nem sempre tão lisa que permita rodar sem atenção a alguns regos mais profundos provocados pela água.

Mas faz-se bem, sem dramatismos com uma moto para trail. Há pó, não muito tráfego, mas é preciso parar à frente do estacionamento da praia do Abano. Aqui, a circulação de Ubers indica que o acesso à praia não é fácil para automóveis particulares.

Deixei passar um carro. Devia ter esperado. Levanta-se pó que me envolve e à moto. O condutor do carro percebeu. Encostou para me deixar passar. Parei ao seu lado e agradeci. Continua a haver pessoas que olham em redor.

Depois, é continuar até uma curva fechada, de onde se vê um edifício em pedra à direita, com alguns carros estacionados na proximidade. Mais abaixo, está o Forte do Abano, isolado, quase pendurado à beira da falésia.

O forte foi construído em 1642, durante a reorganização do sistema defensivo da Barra do Tejo, no reinado de D. João IV, para impedir desembarques inimigos e vigiar a costa entre os fortes da Roca e de S. Brás de Sanxete.

Nos séculos XVIII e XIX, o forte foi reformado várias vezes, recebendo merlões, canhoneiras e guaritas (hoje inexistentes). Entre 1793 e 1796, sofreu grandes alterações na zona do aquartelamento, com ampliação do pátio e da cisterna.

Apresenta paredes inclinadas, abóbadas de berço e portal em arco de volta perfeita com brasão real. No final do século XVIII, foi construído um parapeito e um paredão para consolidar a base rochosa.

Com planta quadrangular, organiza-se em dois espaços principais: o pátio dos alojamentos e a plataforma da bateria, que possuía sete peças de artilharia. As muralhas estão tão degradadas que é arriscado sequer tentar entrar pelas brechas.

Foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977. Em 2016, o Estado abriu um concurso de concessão a privados, com o objetivo de promover a reabilitação e conservação do edifício. Mas não teve sucesso.

A  ruína acentuou-se, para o que contribui também a dificuldade de acesso. Talvez tenha sucesso o estudo de requalificação para funcionar como centro de interpretação do Parque Natural de Sintra-Cascais.

Até lá, o forte continua a suscitar alguma curiosidade a quem tem acesso ao sítio. Por hoje, mantém-se como um símbolo histórico do sistema defensivo costeiro português e da arquitetura militar do século XVII.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Pelos Trilhos do Tejo aos Barros e Bordados de Nisa


Começamos por Alpalhão, onde no ar ainda andam trinta e tal graus. Ficamos no Dom Filipe, refrescamo-nos na piscina e bebemos um aperitivo antes de jantar. No Regata espera-nos como habitualmente boas carnes alentejanas e não só.

Depois, há dançarete no Y Bar ao som de um especial DJ do Clube. Vale tudo, rock, disco, até pimba, entre Gins para saborear ao som da música. Treinamos para o dia seguinte, que a dança também nos prepara para os trilhos matutinos.

De manhã, juntamo-nos para percorer o Trilho da Barca d’Amieira, sob um valente sol que teima no céu. Há algumas sombras, não muitas, ao longo do percurso. De vez em quando, surge uma escultura alusiva à fauna do sítio.

Andamos com cuidado, que o piso não é para velhos. O Tejo escolta-nos lá em baixo, tão sereno como a vegetação que não mexe. Uma estrutura de observação em madeira leva o olhar para uma estranha linha de vagonetes.

Mais à frente o passadiço leva a uma ponte suspensa. Muitos/as passam para o lado de lá. Depois, é subir uma pequena encosta com um  miradouro no cume. Continuamos à vista do Tejo, de leito tranquilo a notar-se já ter rapado as margens mais acima.

Regressamos a Nisa e vamos ao longo da Ruinha de Santa Marta, que nos prepara a visita seguinte. No chão e nas fachadas está muito Alentejo. Parece simples, mas também tão artístico como inspirador.

Entramos no Museu do Bordado e do Barro. Ali, é sobretudo a memória da tipicidade  que está representada nas peças expostas. Mas é também a arquitectura interior do edifício que nos leva de sala em sala.


De vão em vão, de nicho em nicho, vamos percebendo que, além da tipicidade da arquitectura, o bordado domina. Mas o barro está muito bem e profusamente representado.

Entramos no Centro de Artes e Ofícios e andamos ao longo da etnografia das profissões. Ainda vamos a tempo de rodear a "Valquíria Enxoval", de Joana vasconcelos, exposta no eNisa Tech - Parque Cultural, um tanto ou quanto espremida entre paredes estreitas e um tecto que parecia esticado praticamente à dimensão da obra.

Almoçamos no quintal do Taverna da Vila, um restaurante associado a uma casa típica, recheada de objectos de época. A temperatura já vai para além dos 33 graus que, mesmo sob um caramachão ainda se notam.

Felizmente, há um sistema de irrigação que nos borrifa, a nós e ao almoço, de forma eficaz. Fomos acompanhados pela história e pelas estórias da casa, divertidamente narradas pelo dono do restaurante.

Terminamos em Alpalhão, voltando ao Y Bar, entre o Gin e o disco, entre a dança e a tertúlia, num ambiente divertido. Passeio do Arlindo, um clássico do calendário do Clube, evento a que poucos faltam e que muitos repetem ano após ano. 




segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Ser ou Não Ser Shakespeare, pelos Instantâneos


"Ser ou não ser, eis a questão”, é uma frase icónica pertencente à peça Hamlet, de Shakespeare. Foi, também, a espoleta de uma tarde tão criativa como divertida, no anfiteatro do Teatroesfera, em Queluz. 

Teatroesfera é um sítio simpático, onde vamos de vez em quando assistir a uma peça de teatro. A primeira foi “O Sangue”, de Bernardo Santareno e, a última, foi "Ser ou Não Ser Shakespeare", um espectáculo de improviso protagonizado pelos “Instantâneos”.

O original, um monólogo em que o principe Hamlet (da Dinamarca) busca vingança pelo assassinato do pai e pondera se é mais nobre suportar as dificuldades da vida ou lutar contra elas até a morte.

Com base na peça original, até mesmo vestidos com figurinos de época, os actores entram em diálogo com o público, escolhem uma pessoa da assistência a quem pedem um mote e, a partir do tema, começam o improviso.  

Ao princípio, quando estão a criar o esquelo da narrativa, ainda parece que a sequência terá alguma colagem ao original mas, embora seguindo um fio condutor próximo, não tarda a que os papéis se confundam, os géneros se baralhem e a confusão impere.

Cada um assume um papel e atitudes que parecem embaraçar os outros, provocando reacções divertidas e obrigando todos a (re)criar imediatamente respostas espontâneas também divertidas.

Original de "Os Instantâneos"
Original de "Os Instantâneos"

A linguagem teatral e a improvisação fazem o resto. O resultado é de uma comicidade singular que se vai passando à plateia. Segundo os próprios, uma peça “cheia de trejeitos de época, amores impossíveis, collants e muito sangue falso á mistura”.

Neste dia, tal como em outras ocasiões um pouco por todo o concelho, o espectáculo foi dedicado a munícipes com mais de 55 anos. O grupo de actores, Os Instantâneos, dirigido por Marco Graça, que integra o grupo, conta também com Marco Martin, Nuno Fradique e Ricardo Soares.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

CARGALEIRO em Castelo Branco

Vamos ao longo das portadas quinhentistas da rua de Santa Maria. Passamos pela Praça de Camões, deixamos o Centro de Interpretação do Bordado e trepamos para o Museu Cargaleiro. 

Procuramos a entrada, num edifíco que parecia barroco, e descobrimos outra, num edifício vanguardista bem enquadarado na zona antiga de Castelo Branco. Entramos neste último.

Estamos prontos a espantarmo-nos. A cor, as formas e a diversidade aparecem de imediato. Mas, não só. Percebem-se algumas interacções entre perspectivas, modalidades e mesmo durações.

Embora a pintura pareça surgir como central na expsição, foi a cerâmica que o iniciou na arte. O desenho, a escultura, a  gravura, sobretudo, também lá estão. Todavia, é realmente a pintura que o destaca.

Principalmente a partir do início dos anos 50, tal como na cerâmica, onde a representação do concreto deu origem a uma maior imaterialização, a pintura também foi apresentando cada vez mais abstração.

Em meados dos anos 50, quando se fixa em Paris, é notório que se encontram mais  “motivos abstratos de contornos definidos, signos e geometrias, cores fortes e pinceladas gestuais”.

Ainda longe dos conceitos digitais que a informática divulgaria anos mais tarde, as obras de Cargaleiro passam a mostrar “estruturas geométricas mais elaboradas, aliadas a ritmos de linhas gestualistas numa dinâmica raionista”.

O que melhor se conhece de Cargaleiro é da sua adesão ao raionismo - expressão de imagens abstratas através de raios de luz - que o pintor representou através de “pinceladas espessas, manchas expressivas e o jogo de raios de luz e linhas de cores vibrantes”.

A geometria está representada permanentemente nas usas obras. Por vezes, compõe-na com elementos figurativos e abstractos. Outras vezes, integra pinceladas instintivas na rede geométrica primordial.

Os motivos florais, que surgem quer em cerâmica, quer em tela, são significativos na escolha da natureza como motivo principal e fonte de inspiração de Cargaleiro. Na exposição, além das obras em tela, há suportes em madeira, papel e cerâmica.

“Estrela do Norte” e “Pássaros da Noite”, óleo sobre platex, ou “Estrela do Mar”, guache sobre papel - o guache está muito representado, mesmo sobre cartão - ou “Poema de José Tolentino de Mendonça”, óleo sobre tela, são algumas das obras emblemáticas.

Vale a pena lá ir. É tempo de observação, deleite e relaxe, talvez ainda de comparação. Por vezes, surge a ideia de que o contacto com Vieira da Silva, também lhe estimulou a criatividade, o traço e a geometria.