quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Torres & Bunkers III - DE BAELO CLAUDIA a ESTEPONA


Após o almoço no Chiringuito “La Duna”, a expectativa regressou. Baelo Claudia tinha sido um sucesso, um êxito de testemunho de quase dois milénios civilizacionais. Agora, havia outros objectivos, os mesmos que ainda não havia alcançado. Finalmente, a tarde iria ser de Bunkers.


BUNKERS DE SANTA CATALINA


 

Para tanto, bastaram duas dúzias de quilómetros, de Baelo Claudia a Tarifa. Foi em pleno castelo de Santa Catalina que, além de vários tipos de bunkers, também encontrei ninhos de metralhadoras e vestígios de um fosso. Mas, quase tudo se encontava em ruínas.

Já foi lugar de ermida, enfermaria de infecciosos, armazém de pólvora, forte de artilharia, semáforo de sinais marítimos (que nem chegou a ser colocado, pasme-se, numa espécie de palácio renascentista). Foi, também, centro de controlo de passagem da Marinha e estação meteorológica.

Chegou a ser bombardeado durante a guerra civil pelos republicanos e ficou danificado. Ainda se notam alguns danos dessa altura. Mas é a degradação do conjunto que espanta. Já teve processo de recuperação, mas nunca foi concluído. Desde há quase duas décadas que está abandonado.

DE TARIFA A SOTOGRANDE

De Tarifa a Algeciras são pouco mais de duas dezenas de quilómetros, percorridas numa estrada de montanha com bom piso e melhores curvas. Sensivelmente a meio, fica o Miradouro do Estreito com uma vista panorâmica sobre a costa mediterrânica incluindo os territórios marroquinos.

Na encosta, há baterias de costa e mais uma torre de observação medieval, de origem posivelmente árabe, a Torre de Guadalmessi, cuja construção actual data da época de Filipe II e tinha a capacidade de ser também torre sinalizadora através de fogo.

 

BUNKER DE SOTOGRANDE

 

Após Algeciras, o próximo ponto de interesse ia para Sotogrande. Seria aqui o primeiro contacto com um bunker de praia. Porém, antes disso, apareceu uma portaria numa urbanização que lhe daria acesso. “Vou espreitar o bunker!”, esclareci. Deixaram-me seguir de imediato. 

Desde a entrada, são cerca de 4 kms até à praia, por entre centenas, senão milhares de moradias, grandes moradias, ao longo de avenidas polvilhadas de “quebra-molas”. 


Até que surge a praia e o parque de estacionamento. “Bom… é em areia! Estamos na mesma: como é que vou por ali a Pan…?, voltei a pensar. Porém, desta vez, tenho de lá chegar. É que já não faltam muitos exemplares deste tipo de bunkers para visitar… e não vou para casa de “maos a abanar”! Vou a passo de caracol areia adentro. Parei e, por uma nesga, vi um monte de betão torcido, debruçado sobre a praia, o bunker de Sotogrande. E está hoje em plena areia! 


Mas, nem tudo está visível. É surpreendente como chegou a albergar uma guarnição de mais de meio milhar de militares durante a II GG. Como muitos outros, havia sido construído em terreno firme. 

O colapso, sendo relativamente recente, é confirmação do avanço do mar na costa mediterrânica. Está implantado numa zona próxima do chamado “campo de Gibraltar”, guarida de muitos republicanos que fugiam do franquismo.

Dizem que o bunker ainda guarda memórias da guerra civil espanhola e é prova física desse período. Como muitos outros ao longo da costa mediterrânica espanhola, agora é a natureza que vai destruindo esse testemunho.

Outro, mais auspicioso, foi o sorriso e o aceno de uma criança quando deixei a praia. Mesmo no início de Outubro, a temperatura do ar e da água e o sol que ainda varre as longas praias da Costa Gaditana, convida ao mergulho ou ao banho de sol.

 

DE SOTOGRANDE AO CASTELO DA DUQUESA

Deixei a praia e voltei à “marginal”. Percebi, depois, que não passei pela marina do sítio, um lugar com uma arquitectura e configuração tão mediterrânica e hamoniosa, que apetece preguiçar por lá. Ainda assim, num instante, após pouco mais de uma dezena de quilómetros, estava a sair para a Praia da Duquesa.

O castelo vê-se assim que se deslumbra o mar. Trata-se de uma pequena fortaleza construída em meados do século XVIII. Tem uma vista explêndida sobre a costa, quase parecendo uma moradia de luxo sobre o Mediterrâneo.

Não falta, até, uma esplanada elevada de onde se vislumbram quilómetros de costa. No interior, além de um pátio relativamente pequeno, dispõe de uma galeria de arte e de um museu de esgrima.

 

DA DUQUESA AO SALTO DE LA MORA

Peço uma sugestão ao recepcionista e deixo de olhar para o GPS. Falhei uma rotunda, mas não demorei a encontrar a Torre de Sal ou do Salto da Moura. Neste dia, tinha bastante freguesia, parecendo trata-se de um ponto muito visitável. O parque de estacionamento estava lotado, pelo que deixei a moto em cima do passeio.

Parece ter origem árabe, do período Nazari, e é mais uma das inúmeras atalaias históricas da costa andaluza. Trata-se de uma torre de 2 andares, construída na falésia da praia, dotada de guarita e escadas.

Está situada num ponto estratégico da costa, fazendo parte do caminho Costeiro de Casares, um longo calçadão, sempre à beira-mar, com cerca de 2 kms, que liga a praia de Casares à praia das Piedras de la Paloma.

No roteiro de hoje restava, ali perto, a Torre Arroyo Vaquero. Voltei a consultar as anotações e reparei na fotografia da torre. Era semelhante à anterior e de muito menor dimensão. Deixei para outra vez e voltei à A7 que, apesar da designação não tem portagens.

 

À NOITE EM ESTEPONA

 


Confiei no GPS e atravessei meia Estepona, por ruas pejadas de trânsito, para chegar ao Hotel Mediterraneo. Para finalizar a jornada, o alcatrão da marginal onde ficava o hotel já lá não estava. Toda a rua estava em obras. No dia seguinte, o pó ocultava a cor da moto.


Mas a noite compensou a estucha do final da tarde. Estepona “bate-se bem com Marbelha. As ruas estreitas, com casas brancas enfeitadas com inúmeros vasos de flores, dão um ambiente excelente à área central da cidade.

 

Há muitas ruas destinadas exclusivamente a peões, com muitas lojas e restaurantes. Uma das praças mais bonitas é a das Flores, tranquila, florida e polvilhada das esplanadas dos hotéis e dos restaurantes que a circundam.

 

Ali perto, ainda está visível, embora com luz roxa, um dos panos de muralhas do castelo local. A Calle Real é uma das mais cosmopolitas, dedicada sobretudo às compras. Um pouco ao longo das inúmeras ruelas descobrem-se recantos muito agradáveis, típicamente mediterrânicos.

 


O Passeio Marítimo é longo e acompanha a extensa praia de areia escura que se estende por cerca de 2,5 kms e liga a outro ponto interessante e cosmopolita, o Porto Desportivo, também conhecido por Marina de Estepona.

 

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Uma Valquíria no MAAT



Plug-in, uma exposição individual de Joana Vasconcelos no MAAT. Apesar de a exposição envoler outras obras da artista, focámo-nos na Valkirie Octapus, obra criada quase oito anos antes e feita para o MGM, um resort chinês, em Macau. É a peça que ocupa lugar de destaque na nave central do edifício do MAAT.


Tal como outras obras da artista, esta surpreende pela dimensão, pelo articulação de volumes, enfim pela notoriedade. E, pela diversidade dos materiais e soluções de realização: croché manual, aplicações de feltro, malha, tecidos, alé de outros adereços. Mas, não é só a grandeza e a diversidade que espantam.


 

O mote das Valquírias - figuras femininas que encerram  forças e intenções que se materializam em divindades e que elegiam os heróicos guerreiros mortos em batalha para os levar ao salão dos mortos, no palácio de Valhalla - não deixa de ser uma escolha estranha.


 

E estranha porque, se relacionado com o destino (Macau/China) e com os materiais utilizados (sedas incluídas), parece mais ter interligado as tradições portuguesas e chinesas, e não com a mitologia nórdica.



 

Mas é sempre a estética que encanta, no sentido de quase enfeitiçar, ou não. O deslumbre vai para o fluxo das linhas, para os motivos dos tecidos, para os detalhes fusiformes, para a harmonia de alguns talhes, até para a sensação de leveza que as suspensões talvez queiram irradiar.


 

Todavia, o que vemos, não é o original exposto em Macau. Houve muitas adaptações ao espaço. É a própria artista que realça a relação entre a obra e o espaço. O que não deixa de ser, também, criativo. Não é todos os dias que se adequa uma Valquíria a um ambiente.


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Borboletário





Está longe da multidão de turistas e mesmo dos quase 9 milhões de habitantes de Banguecoque. O parque de Wachirabenchathat estava em construção. Já se percebia um lago extenso, áreas de lazer, de passeio, de pic-nic. Já havia algumas árvores, mas ainda muitas áreas áridas.

Porém, no exterior do borboletário, embora o calor se mantenha, há mais humidade e mais sombras. Há também uma zona de interpretação com ar condicionado. Os painéis informativos, aparentemente mais dirigidos à juventude, estão escritos em tailandês.

A visita é gratuita. É possível ver borboletas, besouros e lagartas. O espaço está construído para mostrar a importância da conservação deste tipo de insectos e para favorecer o conhecimento do ambiente e biologia destes seres. E, claro, para disponibilizar o contacto entre seres humanos e as borboletas.

 

Visto estarmos numa zona com clima tropical, as borboletas andam livremente todo o ano por todo aquele espaço, esvoaçando por estre a vegetação tropical. Muitas, estão praticamente escondidas da nossa vista, uma vez que a vegetação é densa.

 

Talvez não haja uma interacção vibrante entre as borboletas e nós. Mas há cor, vegetação, calor, humidade, sol, voos, pousares, batimentos de asas. Tudo sob uma tranquilidade tailandesa, que convida o olhar a seguir o ambiente misto de bucolismo, diversidade, animação e descoberta.