segunda-feira, 19 de agosto de 2024

TORRES & BUNKERS I - Sancti Petri

Quase Mediterrâneo. A luz costeira, a água do mar, o relêvo avultado, o alvo das casas, as marginais cosmopolitas, a noite vibrante, os ócios amenos. E, muito mais. A Andaluzia, junto ao mare Nostrum, sempre foi um lugar intenso. De festa e contenda. Francisco Franco, o caudillo espanhol, esteve ao lado de Hitler durante a II Guerra Mundial. 

 

Por tal, teve noção de que arriscava ser invadido pelos Aliados, sobretudo pelos Ingleses, estabelecidos há anos em Gibraltar. Mas não só através daquela península. Toda a costa mediterrânica estaria em risco, especialmente a costa andaluza, local de acesso desde o Atlântico. Aliás, a ameaça (e a concretização) de incursões, sempre foi uma realidade.

 

Desde os berberes norte africanos, passando pelos fenícios, cartagineses, romanos, até aos ingleses e holandeses. A costa mediterrânoca espanhola, sempre foi apetecível. Parece que os Fenícios foram os primeiros a colocar torres de vigia na costa. Provavelmente, por causa dos piratas berberes. Depois, vieram os romanos e estenderam a linha de torres de vigia.

Muito mais tarde, inquieto perante a possibilidade de invasão, Franco mandou reforçar algumas das fortalezas costeiras, e construir abrigos de betão para efeitos de defesa do litoral andaluz. Mas, não só. E, mesmo dentro de algumas fortificações, até apareceram bunkers.

 

Independentemente da sua função bélica - ou da sua completa inutilidade, como aconteceu com a esmagadora maioria destes bunkers - a verdade é que ficam situados em locais onde muitas gente gostaria de ter uma casa, montar uma tenda ou apena estar numa varanda, para poder desfrutar de paisagens ímpares.

 

SANCTI PETRI

 

Inicio aqui um périplo pelas torres e bunkers da costa andaluza. E, não só. No caminho, há castelos e ruínas romanas. Há monumentos tão estranhos como arrojados. Outros, situados em locais cujo acesso só se faz após uma valente caminhada ou sobre um trilho onde não posso meter a moto, ficarão para outra aventura.  


Sancti Petri é, digamos, a praia de Chiclana de la Frontera. Não difere muito das restantes localidades costeiras que que ligam Ayamonte a Tarifa. Possui uma marginal com passeio pedestre, quilómetros de praias - sem grande protecção, por tal algo assoladas pelo vento - muitos equipamentos de praia, urbanizações de vigeliatura.

O bunker da praia - bunker 2 de Camposoto (1936/39) no google maps - foi o primeiro revés da jornada. Fica na península arenosa que vem dos lados de San Fernando, Cadiz. Uma pequena enseada separa essa península de Sancti Petri.

Apesar de  estar plena de pequenos barcos, uns de pescadores, outros de recreio, as travessia entre margens estavam fechadas. O dia anterior tinha sido o último com ligação marítima. Ainda confirmei o facto num pequeno bar, mas restou-me ficar a olhar para o areal da outra margem.

 

Por tal, voltei para trás - aliás, a estrada não tinha outra saída - e fui na direcção que Hércules me indicou, de volta a Sancti Petri. Algures, o herói tinha um templo. O GPS voltou a fazer o seu serviço e mandou-me parar a meio de uma zona arborizada.

Procurei o estranho Templo de Hércules e dei com a entrada numa acesso da praia. Perdido no tempo fenício, era uma espécie de altar em honra do deus Melkart, quase em plena praia. Aníbal (o cartaginês) e Júlio César (o romano), diz a placa, estiveram aqui a contemplar o “entardecer dos equinócios”.

 

Fica no fim de um pequeno trilho na orla da praia. O culto manteve-se durante o período cartaginês, para durante o domínio romano o culto passar para Hércules. Quem ainda se mantém presente na praia é Melkart - o deus tutelar da cidade fenícia de Tiro -, através de esculturas de grande dimensão.

 

Gorada a hipótese do bunker, restava ainda uma suposta torre. E, dar com ela, não foi fácil. Pudera, ficava num terreno privado, provavelemente num espaço de hotelaria. Porém, tratava-se de uma reconstrução, uma espécie de ciclindro sem grande estética.

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