Homenagem à poesia e à escultura, um tributo à arte. Essa arte de “criar algo a partir da imaginação e dos sentimentos”, segundo Aristóteles. Emoções e ideias, representadas pela escrita e pela plástica. A arte poética e a arte escultórica como expressões da criatividade e das sensações. Juntas, acomodam-se de forma admirável, cúmplices de palavras e de estética. Estamos no Parque dos Poetas, em Oeiras.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
- Fernando Pessoa
Na génese desta mescla estão, o poeta David Mourão-Ferreira e o escultor Francisco Simões. Poetas e esculturas, estão lá sessenta. Trovadores (D. Dinis), renascentistas (Camões), barrocos (Padre António Viiera), arcadianos (Marquesa de Alorna), românticos (Florbela Espanca), século XX (Fernando Pessoa), juntam-se aos restantes da lusofonia, dos países de expressão ou cultura portuguesas (Drummond de Andrade).
Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar, e mentir nasceu comigo.
Ninguém: Eu sempre verdade digo sem nunca me desviar.
Belzebu: Ora escreve lá, compadre, não sejas tu preguiçoso.
Dinato: Quê?
Belzebu: Que todo o mundo é mentiroso, E ninguém diz a verdade.
- Gil Vicente
A diversidade das esculturas acompanha a variedade poética. E surge João Cutileiro no espaço da poesia de Almeida Garret, Pedro Cabrita Reis em António Feliciano Castilho, Graça Costa Cabral no rei D. Dinis, Francisco Simões em David Mourão Ferreira, Clara Menéres na Marquesa de Alorna. São mais de quarenta escultores, sessenta esculturas que ponteiam diversas “ilhas”, recantos onde privam a escrita poética e figuras escultóricas.
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
- Luis de Camões,
O espaço da poesia e da escultura habitam outro que os engloba, o do parque. Obra dos arquitectos paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino, o parque estende-se num eixo norte-sul, mas não só, ladeado pelas tais ilhas que lhe suavizam o declive. À diversidade poética e escultórica junta-se a variedade botânica.
Aproveitando aquele desnível, o morro do Puxa-Peixe, miradouro de onde o Tejo é ecrã principal, domina e centraliza o parque. A Pirâmide-Mirante, enquadrada num labirinto circular, permite ver o horizonte do estuário do rio a estender-se para o mar, constituindo-se como um dos sítios mais aprazíveis do parque.
Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança
- António Gedeão
Próximo, o Templo da Poesia encerra diversos espaços destinados a exposições, https://cordeirus.blogspot.com/2016/08/viajar-com-darwin_5.html, biblioteca, conferências, dispondo ainda de um anfiteatro, uma sala polivalente e de um “rooftop” com vista panorâmica que leva ainda mais a vista em redor do parque.
Pudesse eu não ter laços
nem limites
Ó vida de mil faces
transbordantes
Para poder responder
aos teus convites
Suspensos na surpresa
dos instantes!
- Sophia de Mello Breyner Andresen
A configuração do jardim é muito feliz, sobretudo quando a expressão ecológica se articula com a poética e com a escultura. E já vão três artes, três expressões artísticas. A vegetação temática associa-se à diversidade botânica, ao ambiente sublime da poesia e à envolvente escultórica. É estimulante, sádio, Sedutor. É de ir!
Queria que os portugueses
tivessem senso de humor
e não vissem como génio
todo aquele que é doutor
- Agostinho da Silva
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