Assim que saímos do barco, já em solo grego, enfiámo-nos num túnel. O que não parece ser fácil, já que até os GPSs ficam gregos para o encontrarem. Às sete da manhã estávamos a trepar serras em auto-estrada, sob temperaturas que pareciam abaixo de zero. Às tantas, foi preciso parar na berma e, logo após, parou um TIR ao nosso lado: pareceu-me que nos protegia do risco de estarmos parados numa descida valente...
O pequeno-almoço aconteceu já ao amanhecer. Daí a pouco, já subíamos rumo ao primeiro local de visita na Grécia: METSOVO. Como tantas outras povoações gregas, esteve sob domínio otomano até pouco antes da Primeira Grande Guerra. Uma pequena igreja ortodoxa estava em plena celebração. Não foi fácil descobrir o celebrante, entre tanto incenso que o envolvia.
Metsovo é uma cidade de montanha ligada à agricultura e ao turismo, famosa pelos queijos e vinhos, possui uma estância de esqui e é um popular destino de férias de inverno. O artesanato é atraente e o ambiente respira tranquilidade. Pena o tradicional centro ter piso de paralelepípedos, tão ondulado como as águas do Mar Tireno.
ENTRE MOSTEIROS
Olhos na montanha e rodas no asfalto para METEORA. A estrada enrola-se, entre montes florestados ou nus, e desfiladeiros suaves ou bastante fundos. Chegamos a KALAMPAKA à hora de almoçar numa esplanada e de fazermos a primeira abordagem aos mosteiros. Alguns já se vêem cá de baixo no topo de montes, tão curiosos como fantasmagóricos.
Traídos pelo horário, voltamos a trepar para assistir ao por do sol no cimo dos rochedos. É um espectáculo inesquecível. Não só pelo ocaso da bola amarela, mas pelo envolvimento e contraste de um extenso vale e daqueles montes esguios tanto arborizados, ora nus de todo. A paisagem é notável! Talvez por isso, haja noivos que posam naqueles píncaros, para fotos icónicas, aquela hora.
Antes, porém, há que entrar na ortodoxia de um mosteiro. Não há muito turismo nesta altura. Melhor ainda! Apesar de o primeiro contacto com o ambiente ortodoxo tenha sido em Metsovo, foi no MOSTEIRO DE VARLAAM, situado a pouco mais de 500m de altitude, no cimo de um rochedo tremendo de grandiosidade, que o espaço museológico ortodoxo melhor esteve representado.
De finais de século XIV, foi abandonado durante 200 anos e durante outros tantos teve sempre ocupação monástica. Hoje, apenas dispõe de cinco monges. Uma ponte de acesso novecentista, um jardim admírável com vista, a igreja, o museu e a plataforma de abastecimento em madeira são surpreendentes. Lá, melhor do que nas fotografias. Daí a pouco, chegava o casal da BMW já com o novo veio. Agora, voltávamos a estar todos.
E, em redor, curva após curva, o cenário dá-nos um rochedo com forma invulgar, um mosteiro pendurado no topo, um desfiladeiro impressionante, um panorama invulgar. Andar por aqui de moto, além de possibilitar estacionar em qualquer espaço por mais estreito que seja, é um prazer. O piso é excelente e a paisagem inesquecível. Parecido... talvez o Monte Athos.
DA BAÍA AO CASTELO EM KAVALA
Vamos por LARISSA para não repetirmos a auto-estrada no regresso. A envolvência da estrada não é famosa, sendo relativamente árida. Masi longe, a vegetação surge a ondular nos montes. Mais à frente, passamos pelo Monte Osa e, depois, pelo Olimpo que deixamos ao longe. Ainda dizem que os deuses são inacessíveis...!
Almoçamos numa área de serviço e partimos junto ao mar sempre em auto-estrada. Saímos depois e paramos numa geladaria: a Portugal ofereceram uns bolinhos, para a Grécia saiu uma bandeira de Portugal! Algures, antes ou depois, saudámos o reencontro de todos, quando de um desvio tardiamente notado nos separou.
Entramos na descida para KAVALA ainda a meio da tarde. Do último andar do hotel via-se de esguelha um aqueduto romano, um castelo medieval e as suas muralhas. Em frente, estendia-se a baía onde o porto de recreio e de pesca partilhavam cais.
Uma marginal simpática, tranquila, uma subida até ao castelo, uma chuvita de ocasião, um panorama giro. Jantar numa esplanada, um dos raros pratos de peixe da jornada. À noite, para desmoer, dedicámos meia hora aos 'plf' para entregar na fronteira turca. Uma alegria.
(QUASE) TUDO A NU NA FRONTEIRA
Próxima etapa: Turquia! Mantemo-nos na auto-estrada por quase mais 200 kms. Passamos lentamente a fronteira grega e as guaritas com soldados gregos (bem) armados. Atravessamos uma ponte - onde parece estar uma fronteira virtual -, passamos por mais guaritas com soldados turcos (bem) armados. Depois, passamos um portal e ficamos numa fila que parecia não ir demorar muito.
Na fronteira, ficamos mais atrás e depois juntamo-nos ao grupo. Estamos na Turquia, quase na Ásia! Documentos aqui, retrato ali para os registos fronteirços turcos, puxa à frente, espera um pouco, agora o outro, passa um a um,... os nosso papéís são postos de lado... ups, estamos a ficar para o fim! Há qualquer coisa a acontecer!
Todos seguem, menos nós.
Chega à frente e tira a bagagem. Feito!
Alguma coisa a declarar? Nada! Feito!
Depois, leva a moto ao scanner. Feito!
Volta do scanner e estaciona. Feito!
Torna-se irritante.
O sol carrega aquecendo mais o ambiente.
Acompanhando a calma do protocolo, assim corre mais de meia hora.
Há que responder agora a um inquérito: nome do pai e da mãe, emprego, dinheiro, destino, e mais meia dúzia de questões.
Acabou com um olhar - para a Julieta que já estava sentada a controlar a bagagem, ao sol -, uma pergunta, uma resposta e uma exclamação.
Perguntei ao guarda fronteiriço: what is this for?
Taxes... - respondeu com cara de desconfiado!
Of course! - devolvi.
PRIMEIROS CONTACTOS
Meia hora depois, entravamos em IPSALA, onde trocamos dinheiro, compramos o cartão de circulação na auto-estrada e tomámos a primeira refeição turca, abundante e talvez a mais barata do trajecto. Foi também o primeiro contacto com uns cãezitos escanzelados. Por aqui, o amigo do homem, não se safa. Pouco depois, sim, confirmamos que estávamos a encher o depósito com a gasolina mais barata da jornada: oitenta cêntimos! Comer e andar (quase) a preço de chuva. Ainda faltavam cerca de 250 kms para Istambul.
O fim do dia projectou uma aura alaranjada nos muitos arranha-céus que se erguiam à nossa frente, à entrada da antiga CONSTANTINOPLA. Vários estão acima dos 40 andares. Um deles chama-se Sapphire e tem 54; o Varyap Meridian possui 59. O trânsito engrossa à medida que avançamos para o centro histórico da cidade. Há filas imensas em, por vezes, 4 faixas de rodagem. Nem a polícia consegue passar na faixa de emergência!
Vira aqui, desvia acolá, atenção a esse, cuidado com o outro! Talvez seja melhor andar pela berma... olha, a polícia também não passa! Por aqui, não nos safamos! É melhor mudar de estratégia e ir junto ao mar, há menos trânsito! Resulta!
Anoiteceu e ainda temos de trepar uma espécie de Bairro Alto, com piso em paralelepípedos, com ângulos rectos para fazer de uma vez, senão... moto no chão!
Estamos no Hotel Arena. Safamo-nos na recepção mas percebemos que o inglês não a melhor língua para nos entendermos. Mais tarde, confirmaríamos que além do inglês, o gelo também era sofrível, havia dispositivos em sítios de partir cabeças, paisagens virtuais em frente da janela de alguns quartos. Até havia um quarto na cave, mas com vista para o estacionamento das motos.