Introdução
Uma viagem.
19 dias em meia dúzia de linhas.
Meia dúzia de linhas para descrever uma viagem.
Uma viagem preenchida.
Preenchida por novidade e diversão.
Pela novidade da natureza e da cultura.
Pela diversão dos momentos.
Pela viagem.
Algumas notas: a chatice da travessia de barco, uma frustante avaria, uma festa de gala muito económica, a tensão dos controlos sanitários e as complicações burocráticas. Constrangimentos? Sim, porém compensadas pela tranquilidade dos percursos e a beleza das paisagens, pela companhia, pelo luxo de conhecer outras pessoas e outros lugares.
Mas, não só. Concorreram para o saldo positivo, essencialmente, o estar em locais históricos, a singularidade dos sítios, o gozo de andar de moto em ambientes novos, sobretudo o prazer de estar bem acompanhado. Aparecem (quase) todos a seguir.
- Sim, é incontornável!
- Datas, temos de ver, mas já tenho uma ideia. Setembro, garantidamente.
- Siga, adaptamos.
- Mototour, já ouviste falar?
- Não. Não gosto de
muita gente, dispersamo-nos.
- Não, é simpático, vem. Deve ser coisa para 3
semanas... no mínimo!
- Sim, e mesmo assim é pouco.
- ... nunca se pode ver tudo.
- E quem vai?
- Há mais gente que quer ir.
- Não convém sermos muitos.
- Claro,
digamos quatro casais, no máximo, já tenho três.
- Não conheço a maior parte...
- ...sem problema, é
tudo gente catita!
- Tenho mais um casal...
- Fica esgotado!
Afinal, ainda deu para
mais um.
E, quase deu para mais outro.
Ficará para a próxima.
Percurso.
- Passamos por aqui, que é excelente, vê!
- Ui, ferry para lá,
descemos o Adriático... certo, aquilo é de sonho.
- São muitos quilómetros,
escolhemos o melhor e voltamos lá depois. Por ali seria excelente, olha a
paisagem lá de cima...!
- Ups, há restrições nas fronteiras por causa do Covid.
Plano B! Ok, ficamos com Itália, Grécia e Turquia.
- É melhor, já basta termos de
fintar o vírus. Mesmo assim, guardamos um Plano K...
Hotéis.
- Ficamos por aqui, hum, é simpático e barato...?
- Sim, parece-me bem.
- E o
que achas, deste...?
- Por que não!?
- E este, fica mesmo à borda do mar. E, este
outro, de onde se vê toda a baía...?
- Mas aquele tem bom aspecto... porém, fica
longe da marginal... olha o preço deste!
- Reserva, já!
- Olha a paisagem que se
avista daqui...! Siga!
Geografia e Logística.
- Eu já conheço o caminho até Meteora e temos guia na Turquia!
- Esplêndido!
- O MCP trata da logística de ferries e Mototour.
Magnífico!
- Itinerário terminado, alojamento, ferries e Mototour reservados.
- ....estas obras
não me deixam olhar melhor para o que quer que seja mas, afinal, tens tudo
organizado...
- Sim, é só aparecer!
E foi o que aconteceu: aparecemos e fomos!
DE PORTUGAL A BARI
MESETA FORA
Abastecemos a cada 250 kms como estava previsto. Almoçámos onde estava planeado. Sem estórias. Chegámos ainda a tempo de fazer uma visita a pé. Juntámo-nos no masculino em MEDINACELI, um lugar com traça medieval de herança romana e celtibera.
O excelente arco romano que nos saúda à
entrada, é o único preservado na Península Ibérica com 3 arcadas, . Data do
primeiro século da nossa era. Nesta altura, já deváimos ter percorrido cerca de 800 kms. Abrimos a porta do hotel, entrámos num pequeno corredor, digitamos o código, subimos um lanço de escadas, entrámos no quarto, deixámos a tralha e fomos conhecer o burgo. Quando chegámos, já éramos seis. O jantar juntou-nos a todos à mesa, envolvidos por um ambiente excelente.
No dia seguinte, estreámos os forros dos blusões. Afinal, estamos na meseta ibérica. A manhã gelada levou-nos
a DAROCA. Depois, trepámos ao castelo calatravo de ALCANIZ, por entre muitas
motos que decoravam as ruas da cidade. Estávamos em fim de semana de GP de Aragon. Do topo do castelo, agora estalagem, domina-se o burgo.
Logo
após, um delírio de curvas sobre piso catita. Foram cerca de 70 kms até
MEQUINENZA, entre serras áridas, rumo a Fraga, também em busca de um posto de abastecimento. No cimo de um morro, um castelo apalaçado do século XIV/XV, hoje privado da Endesa, domina a localidade
A noite aproxima-se a caminho do porto de BARCELONA. Parámos as motos em cima do passeio, compramos comida num minimercado e fizemos um jantar volante em
plena Plaça de les Drassanes, à beira de um engarrafamento, em dia de
manifestação independentista.
Experimentámos depois o que é fazer uma rotunda
em câmara lenta, tal era o trânsito! Tempo de espera habitual no cais de embarque, mas entrada a
horas para uma cabina que rangia e tremelicava de modo agressivo. A cabina ganhava a primeira hora.
Motos aferrolhadas no porão durante uma noite e um dia a caminho de CIVITAVECCHIA. Mudança de cabina às tantas e noite melhorada. A manhã nasceu solarenga e aproveitamos para abrir uma mão cheia de conversa sobre a viagem. Vamo-nos conhecendo melhor e partilhamos um pic-nic excelente quase à beira da piscina seca...
ROMA ADENTRO
Mais à frente, muitos assistem desde o convés à habitual dinâmica de saídas
e entradas na SARDENHA, sob um sol tão cúmplice como a vontade de sair também
por ali, para desfrutar daquele tempo de Verão na ilha italiana.
O fim do dia acompanha o desembarque em CIVITAVECCHIA, lugar de
primeiro contacto com o enfadonho (por enquanto) controlo dos documentos e do essencial
Passenger Locator Card/Form, vulgo ‘plf’. É a primeira suspeita de que, sem
telemóvel, se ficará como migrante agarrado ao portão de uma qualquer
fronteira.
Jantar de pizzas gigantescas às tantas, em noite de festa no burgo italiano. Foi o suficiente para passarmos, sem ponta de larica, mais de dois pares de horas na auto-estrada. Talvez mais, provavelmente, tempo de espera por um taxi que nunca apareceu, depois de o reboque ter levado uma GS manca e um veio de transmissão a precisar de colinho. Felizmente, a noite amena minimizou o estrago!
DOS APENINOS AOS MONTES DE EPIRO
Em Roma, tínhamos as nossas metades à espera. O voo do dia anterior possibilitara-lhes passear, sobretudo pela Roma romana, andar ao longo das ruas floridas, das praças magníficas, das fontes monumentais, das pontes majestosas, passar pelo Vaticano e jantar no Trastevere. E, não só. Pelo meio, ainda houve tempo para formular desejos à beira de uma fonte.
Auto-estrada estreita entre os Apeninos, com muitas obras, mas pouco trânsito. A crise dos combustíveis já se notava no valor da gasolina. Mas está bom tempo e o sol acompanha-nos até ao Adriático, túnel após túnel, navegando numa planície cénica, ora entre montes, ora à beira de um desfiladeiro.
Segundo contacto com a papelada da moda, o famoso plf. Tudo e mais alguma coisa – passaporte, certificados, livretes -, depois de posar até para uma máquina fotográfica na recepção do porto. Primeiro sucesso face ao infortúnio: os "bilhetes do veio partido" podem ser transferidos para o dia seguinte! Afinal, há dias felizes, depois de uma noite desgraçada.
A seguinte, não seria tão bera. Já a bordo, o jantar convenceu e o preço também. O serviço grego do Superfast supera largamente a letargia Grimaldi que liga Barcelona a Itália. A travessia para IGOUMENITSA é mais curta, mas o custo da passagem é mais elevado do que Barcelona/Civitavecchia. Foi só uma noite, curta, numa cabina tranquila.