PESSOAS,
PAISAGEM, PATRIMÓNIO
Desta
vez, estamos sob o signo do “pê”. Pessoas, porque somos os suspeitos do costume,
a razão principal por que vamos, gente catita. Paisagem, porque vamos ter em redor campos
dourados alentejanos, mediados por um Tejo de águas tingidas de um azul
fortíssimo, contrastante. Património, porque visitaremos legados históricos
portugueses.
Já
conhecemos o rótulo de anos anteriores, de outras ocasiões. Já todos sabemos ao
que vamos. Ao Almoço do Arlindo, evidentemente. Está tudo dito. Tudo, não. Há
sempre algo por glossar, muito para mostrar, mais para salientar, tanto para
recordar.
Já
era um caso sério. Sobretudo, de prazer. E, parafraseando o Arlindo, está a
tornar-se um momento de familiaridade excelente, onde a amizade e especialmente
o respeito mútuo, reflecte os anos de são convívio que marca a maioria dos
presentes. Alguns, valem-se mesmo dos galões da cumplicidade e estoiram com
qualquer momento mais sensato ou desatento.
Deve
ter sido o Encontro onde estiveram presentes mais elementos da geração mais
nova de amantes deste tipo de jornadas lúdicas. Desta vez, seriam mais do que
as BMWs, também elas, digamos, uma componente do pragmatismo e liberalidade do
Clube.
Desta
vez, repetiu-se o sítio de há três anos e reforçou-se o bem-estar. Inventam-se
outros lugares de visita e nutre-se o prazer de ir e descobrir. Reaparecem as
pessoas e reata-se a convivência, recorda-se a última, a penúltima e enésima
vez que estivemos juntos.
Deixamos
o solo mais dourado a sul e fomos através dos granitos boleados que incham do
solo. Fomos mais a norte, centrados no local de infância do Arlindo. Depois,
reaparecemos ao Tejo, trepando ao Hospitalário Castelo de Belver, estendendo
daí o olhar sobre o rio.
Vamos
descobrir mais cultura, a da higiene, séculos esquecida depois da romanização.
No Museu do Sabão ficamos a saber que a cinza branqueia e que os sabonetes
demoram menos a fazer do que um presidente. Passamos à gastronomia e se, na
noite anterior, já havíamos estado numa alhada de cação, ao almoço descobrimos um
sável e um lúcio de nos espantar.
Logo
após, ficaríamos com a arte das mantas e das tapeçarias de Belver no seu núcleo
museológico. Mais tarde, e depois de uma piscina retemperadora, uma aula de
Pilates voltou a repor a forma necessária para enfrentar um excelente bacalhau
à casa, seguido de um passeio pedestre nocturno pelas serenas ruas de Alpalhão.
Continuámos
sob o signo dos Hospitalários, seguimos no domingo para o Castelo de Amieira,
uma fortaleza de meados do século XIV, de onde o vale do Tejo não dista uma
légua. Acabámos na Beira Baixa, na Herdade da Urgueira, entre o lago e as
simpáticas casas alentejanas, com uma sopa de peixe surpreendente.
FLOR
DA ROSA, DEPOIS DE AVIS
Se este périplo tivesse sido
feito na época medieval, já há muito que nos teríamos cruzado com cavaleiros
Templários, Hospitalários ou da Ordem de Avis. Estamos no Alto Alentejo, a
trepar rumo ao Tejo. Andámos pelas planícies do Sorraia, acompanhámos o rio
Raia, atravessámo-lo em Pavia e parámos à vista das muralhas de Avis.
Foram os Freires de Évora que
o construíram, após a doação das terras pelo rei português, Afonso II. O
castelo data da primeira metade do século XIII, cujas obras estiveram a cargo
do Grã-Mestre da Ordem Militar de S. Bento de Aviz, mais tarde, Ordem de Avis.
Quem chega de sul, ainda
descobre um pano de muralhas e uma torre – salvo já erro, a de Santo António -,
além de uma das portas do antigo castelo. Originalmente, o castelo dispunha de
seis torres. Porém, hoje, só restam três, sendo que uma delas, salvo erro, a da
Rainha, está já integrada na malha urbana mais recente.
No Alentejo, diz-se que as
distâncias são enormes. Com efeito, as localidades distam bastante umas das
outras, sobretudo se comparadas com congéneres minhotas ou do litoral do país.
Porém, ao contrário destas regiões, a planura e a rectilinidade dos acessos,
fazem do Alentejo uma zona de rápida progressão.
A distância para Flor da Rosa
não ultrapassa muito cinquenta quilómetros, optando pela ligação via Alter do
Chão. Em cerca de meia hora, chegamos ao Mosteiro de Flor da Rosa, um conjunto
arquitectónico que contempla sobretudo uma igreja-fortaleza e um paço góticos,
datados de meados do século XIV.
A obra deve-se a D. Álvaro
Gonçalves Pereira, primeiro Prior do Crato, que está aqui sepultado. Albergando
actualmente uma Pousada, esta adoptou inclusivamente no seu logotipo o símbolo
da Ordem dos Hospitalários, mais tarde, Ordem de Malta.
Além do gótico das muralhas e
do paço, as dependências conventuais já mostram traços renascentistas e no
claustro notam-se também influências mudéjares. Ainda no claustro, um enorme
símbolo dos Hospitalários domina um pequeno tanque central.
Decorria um casamento, que
não enchia a sala de estar principal, mas já criava fila para as casas de
banho. Mesmo assim, chegámos a estar sozinhos nessa sala abobadada, o que
permitiu experimentar um piano sem constrangimentos de público mais exigente…
À entrada, mas ainda no
exterior, existe uma loja turística e, no interior, abre-se para um dos lados, um
pequeno centro interpretativo do monumento e, para o outro, um Núcleo de
Escultura Medieval do Museu Nacional de Arte Antiga. Na ala direita, protegido
por grades, e a ocupar lugar principal, está o túmulo do fundador do mosteiro.
DE
VOLTA A ALPALHÃO E AO MONTE FILIPE
A etapa seguinte
não teria estória se não tivéssemos atrás de nós uma BMW, ‘ein grosse’ BMW, que
encobria uma scooter. Não é difícil adivinhar quem vinha atrás de nós. Chegámos
juntos ao hotel Monte Filipe, à entrada de Alpalhão, que nos acolheria durante duas
noites.
Devemos ter chegado
“a horas”, já que outros tinham acabado de parar, numa altura em que só haviam
estacionado quatro motos, sendo apenas três do Clube. Desta vez, também havia
uma “overdose” de carros. É que não há, por enquanto, outra maneira de trazer
os netos para este tipo de eventos. Um side-car era capaz de ser útil…
E lá nos fomos
encontrando. Ou seja, enquanto se tiram as malas e se dá um dedo de conversa e
se descobre quem venha num clássico ou numa trail, vamos encontrando quem já está
e vai recebendo quem chega. Como é habitual, deixa-se meia hora para os
preliminares do ambiente, como estás?
vieste de moto?, pois, desta vez, que remédio…!?
Daí a pouco, tudo
se esclarece. À mesa, à conversa, a saborear a alhada de cação e as fevras no
alguidar, a recordar as jornadas anteriores – soube (mais) sobre a aventura do
Cabo Norte), a antever a do dia seguinte (que se esperava soalheiro), a
perspectivar as futuras (e lá vem África ao “barulho”).
Estivemos nisto até
às tantas, a fazer tempo para uma ida à padaria local, logo após passarmos pelo
largo central da vila, cada vez melhor arranjado, e que, agora, já dispõe
também de um pequeno campo destinado a futebol de salão, mas onde também
poderão ter lugar outras modalidades e actividades.
Estamos em idas
terras Templárias, onde a Ordem teria edificado um castelo, entre os séculos
XII e XIII, - coisa para ter cerca de oitocentos anos, mas apenas restam
vestígios – cuja reprodução está, curiosamente, num painel de azulejos do
restaurante Regata, onde jantaríamos no sábado.
BELVER
(E) O TEJO
A caravana estava
na estrada pelas nove e meia da manhã, Seguimos via Gavião, a caminho da ponte
de Belver. Tem cerca de cento e dez ans de idade e está em obras. Parámos no semáforo que
controla a passagem numa via, esperámos uns minutos e fomos avançando devagar
já à vista da vila e do castelo.
Da ponte, e mesmo
durante a subida para a vila, quer a imponência do castelo – está situado numa
colina acima da vila – bem como o fausto do Tejo, que se deixa ver durante alguns
quilómetros de um lado e do outro da ponte, dão uma ideia do que nos espera.
Parámos no Largo 5
de Outubro na proximidade da Igreja Matriz, cuja edificação original data do
século XVI. Aquela hora, ainda havia bastantes lugares de estacionamento. Pouco
depois, já ter sido arriscado, uma vez que teríamos concorrência de um grupo
muito superior em número de participantes.
AO
CASTELO
Daí a pouco,
estamos a trepar as escadas para o castelo. Paramos a meio, olhamos o Tejo,
esticamos o olhar para a ponte, para vila, para a barragem, mas também para a
natureza e para nós próprios. Uns já descansavam, outros estão mortinhos por
ver até onde vai o repuxo do bebedouro…
Da entrada do
castelo, a paisagem é soberba, principalmente sobre o Tejo, quer para o lado da
praia do Alamal, quer para o lado da ponte. Percebe-se que o olhar medieval
estivesse mais dedicado à moirama mas, sobretudo depois de subir ao adarve das
muralhas, a vista ganha espaço e o panorama revigora-se.
O início da
construção do castelo data da última década do século XIII, altura em que as
incursões árabes ainda obrigavam a reforçar a linha defensiva do Tejo. Entregue
ao prior da Ordem dos Hospitalários, Afonso Pais, na segunda década do século
seguinte já guardava no seu interior os dinheiros do tesouro real.
Dois cubelos
desiguais ladeiam a porta principal, mais tardia, que se abre então para o rio,
em arco de volta redonda, onde se reconhece de imediato a “pedra de toque”.
Olhando em redor, logo após a entrada surgem numerosas seteiras, curiosamente
na base das muralhas, apontadas” para baixo.
Tivemos como
anfitrião um amante da história, um médico veterinário que nos foi pondo ao
corrente da história e das estórias do castelo. Guiou-nos ao longo da muralha,
destacou as cisternas, salientou a de São Brás e subiu connosco à torre de
menagem.
Na pequena capela
de São Brás, substancialmente nua de mobiliário, o destaque foi para o
altar-mor, ladeado de muitos bustos-relicários, dedicada à guarda e ao culto de
relíquias, semelhantes aos que vimos no último passeio do Porto na igreja dos
Grilos.
Saímos a caminho da
torre de menagem onde assistimos a um vídeo sobre os primórdios do lugar, a
influência das Ordens religiosas e militares e dos sucessivos senhores do
castelo, da importância estratégica e do foral atribuído a Belver por D.
Manuel.
No espaço dedicado à interpretação, lá estavam mapas com a distribuição daquelas Ordens, uma cópia
do foral, uma miniatura do castelo, a cronologia, ilustrações, bem como
vestígios de povoamento com séculos e existência. Em destaque, um fragmento de
uma inscrição funerária em xisto datada do século I, bem como o foral atribuído à vila por D. Manuel!
O que continua a maravilhar
é a vista desde os adarves ou das torres. Agora, parece que o Tejo se azulou e
o contraste com o branco das casas e o tijolo das telhas é mais nítido. Todavia,
ao longe, ainda se distingue a central termoeléctrica do Pego a fumegar…
Nada que impeça os
valentes motociclistas de descer a colina para, logo após, subir outra, do
outro lado da vila, a caminho do Museu do Sabão. Apesar de estarmos na margem
direita do Tejo, ainda é Alentejo. Por tal, qualquer cabeço ou morro de maior
quebra, dispõe sempre de um banquito onde qualquer sexagenário pode dar laRgas à
sua serenidade.
Há um painel com sabão
azul e branco e sabão amarelo que nos dá as boas-vindas. Sabemos estar no reino
da higiene, do sabão e do sabonete, mas também do detergente. Mais à frente, Leblanc
aparece acompanhado de Colgate, Solvay e Lever, os magos da limpeza. Ficamos a saber também que os suspeitos do costume – todos aqueles povos que por cá andaram enquanto Portugal não existia – fenícios e gregos, por exemplo, já utilizavam argila e cinza ou argila e areia para a sua higiene pessoal.
Antes, porém, aprendemos a fazer sabão, provavelmente sabonete, já que a matéria acessória eram corantes e odores. Curiosamente, a base dos sabões e sabonetes é glicerina, a mesma utilizada para dar brilho a pneus. Um dia que indústria da borracha perceba que venderá mais se der um cheirinho ao que produz, talvez possamos escolher o perfume dos pneus das nossas motos…
Passámos pelos
antigos detergentes de roupa “Omo” – os que ofereciam talheres -, pelos
sabonetes “Lux” – os tais das “estrelas de cinema”, que sempre foram
portugueses – pelos velhos “Patti” da Ach. Brito, pelo “Chipre” da fábrica
Confiança, pelo “Rexina” e por mais algumas raridades. E ainda trouxemos uma simpática miniatura de sabonete.
Descemos de novo ao
largo central de Belver, a caminho do “Sabores
Guindintesta”, um restaurante que recebeu o nome das
antigas terras de Guidintesta, mais tarde Belver. Além de estar localizado na
encosta e possuir o tal ”belver” o rio, a mista de sável e lúcio com açorda é
um caso sério, bem como a tigelada.
Pouco depois, foi a
vez de descermos até ao Núcleo Museológico de Mantas de Tapeçarias de Belver,
sobrevindo de um forte empreendedorismo de Natividade Nunes Silva, uma mulher à
frente do seu tempo, em matéria de emancipação e iniciativa industrial e
comercial.
O acervo
museológico mostra um conjunto de teares de pedal, assim com algumas peças
ilustrativas dos diversos modos de tear, na altura exemplificados, quer pela
conservadora, quer inclusivamente por quem, estando já num estágio moderno de
produção têxtil, ainda sabe como puar…
Além dos teares tradicionais, o museu conta ainda com
alguns instrumentos de trabalho e matérias-primas, como seja o linho, empregues
na tecelagem. É isso que se pode encontrar na antiga Fábrica Natividade Nunes
da Silva, vários testemunhos do trabalho rural e da arte da produção de
tecelagem.
A meio da tarde, voltámos a atravessar a ponte, deixando
para uma próxima oportunidade a visita à Capela da senhora do Pilar e à Anta do
Penedo Gordo. Talvez até para um passeio pelo Caminho da Fonte Velha ou ao
longo no Tejo no Passadiço do Alamal.
SUNSET
EM ALPALHÃO
Está
na moda. Não há dia em que não exista. Já ninguém pode passar sem um
pôr-do-sol. Afinal, se tal acontece todos os dias há tanto tempo, não há maneira de o evitar. Por isso, juntamo-nos à natureza e à moda e, após um mergulho na piscina, o sol oferece-nos um momento Pilates.
Sob o comando da Rosa de Oliveira,
voltámos à relva, mais ou menos vestidos para o efeito, em formação de xadrez.
Respirámos de todas e mais algumas maneiras, flectimos, rodámos, agachámos,
estirámos, ora para um lado, ora para outro, para baixo e para cima.
Apesar de a harmonia ter sido a que
melhor se conseguiu, quando a música se fez ouvir, o corpo seguiu o ritmo e não
foi preciso mais nada para mexer também o espírito. Exercício para uns,
incentivo apetitoso para jantar para outros, a verdade é que o Clube esteve
representado quase a 100% na iniciativa!
Foi ainda à vista do “sunset”, que partimos
para o restaurante Regata, já nosso conhecido de anos anteriores. Voltámos a
ocupar duas longas mesas, para nos batermos com uma sopa de tomate, um bacalhau
e uma sericaia que reuniram unanimidade de especialidade.
Fomos ficando ao longo das conversas
de ocasião, de uma ou outra novidade e das trocas de opiniões sobre o curto e o
médio prazo das iniciativas do Clube. Ainda fizemos escala na esplanada para,
pouco depois, seguirmos o Arlindo em périplo pela vila.
Começámos pela Igreja matriz, de
provável edificação original ocorrida na segunda metade do século XV,
posteriormente alterada no século seguinte com outro estilo arquitectónico.
Hoje ninguém diria cuja origem é tão remota, dado o excelente estado de conservação.
Mais recente, é mesmo a cruz
estilizada em granito, bem como o dedo gigante, que ladeiam a igreja. Além
destas esculturas, a vila está replecta de monumentos em pedra. Passámos pela
“Anta”, pelo “Peixe” e pelas “Caras” do largo, tendo-nos faltado, a “Sereia” e
a “Arca”, bem como o “Banco”.
Continuámos
para a Fonte de Alpalhão, de finais do século XIX, granítica, brasonada com as
amas de Portugal e encimada por uma Cruz de Cristo, local de brincadeira do
Arlindo quando criança. Ainda hoje se enfeita a fonte com flores de papel por
ocasião da Festa de Santa Cruz.
Regressámos
ao hotel após um pedestre de cerca de 2 quilómetros. A noite estava óptima para
andar a pé, sem ser preciso agasalho. Aliás, até estava fresquinho, comparando
com a temperatura que, no ano anterior, no brindou em Arroches, mas sobretudo
na visita aos fortes de Elvas.
DA
AMIEIRA DO TEJO À HERDADE DA URGUEIRA
A
meio da manhã de domingo, já se notava que a temperatura aumentara, a prometer
um dia luminoso e talvez afogueado. O Alto Alentejo mantinha os horizontes dourados
e os odores campestres acompanhava-nos a longo da estrada que nos levaria a
Amieira do Tejo.
Do
Monte Filipe à Amieira do Tejo são pouco mais de vinte quilómetros em estrada
rectilínea e de bom piso, em parte IP2. Continuávamos na senda dos
Hospitalários cuja heráldica é facilmente reconhecível sobre o arco de pedra
que encima o portão de entrada no castelo.
Trata-se
de uma edificação de pequenas dimensões, quer em área, quer em altura das
muralhas. Por tal, dispunha de um fosso, hoje inexistente, bem como uma pequena
cintura de muralhas, mais baixas, que possui o portão atrás referido.
Passámos
elo pátio de armas onde tal como no castelo de Belver, ainda são visíveis duas
cisternas. Este terá sido edificado, em meados do século XIV, por D. Frei
Álvaro Pereira, pai do Condestável D. Nuno que mesmo tendo vivido aqui durante
alguns anos, foi sepultado no mosteiro da Flor da Rosa.
É
do adarve, estreito e alto, que a vista vai até à outra margem do Tejo, de onde
dista mais de dois quilómetros. Em redor, o horizonte enrola-se em colinas, com
a vila aos pés da muralha a nascente e campo a perder de vista a poente.
Na
torre de menagem existe um pequeno núcleo interpretativo e, nesta altura,
expunha um conjunto de fotos de época, com especial cariz sociocultural, que
retratava as gentes e as actividades da vila durante grande parte do século XX.
Passeámos
pelo adarve, espreitámos o Tejo e as colinas que envolvem a localidade,
espreitámos as cisternas e passámos à Capela de São João Baptista, já quinhentista, onde se distingue a abóbada profusamente decorada, com elementos decorativos muito etilizados.
Saímos
da Amieira do Tejo com a temperatura a tocar a trintena de graus. . Descemos
para o Tejo, ao longo da estrada que leva à ponte de onde as Portas de Ródão se
destacam no curso do rio. E de onde se reconhecia facilmente o cais de onde
partimos num passeio no Tejo num anterior Almoço do Arlindo.
Atravessámos
Vila Velha de Ródão e passámos pelo Museu Rural (que também visitámos naquela
ocasião). Poucos quilómetros depois da vila, voltámos ao campo dourado a perder
de vista, agora sobre uma estrada mais estreita e de piso bera.
UMA HERDADE ESPECIAL
Mas
não demorou a surgir a miragem da Herdade da Urguiera. Depois de um portão, aparece
um lago sobre a direita, fronteiro a um edifício de dois andares com dois
restaurantes e, junto, uma piscina, uma esplanada e espaços de lazer entre
oliveiras.
Próximo,
um conjunto de moradias, de materiais e traça de transição entre o Alentejo e a Beira, também
envolvidas por oliveiras, dispunham-se ao longo da rua principal do complexo.
Foi à sombra delas que deixámos as motos e nos dirigimos ao piso inferior para
almoçar.
Fomos
recebidos numa sala envidraçada, luminosa, virada para o lago, onde nos acomodámos
para mais uns instantes de convívio, na companhia de um bom arsenal de
aperitivos e onde esquecemos o calor que já se fazia sentir em cima das motos.
Foi
uma escolha excelente do casal Matos. O sítio é uma espécie de oásis que
aproveita a natureza, `aboa maneira alentejana, com pouco mas suficientemente interessante,
constitui um polo de lazer, e não só, com muita qualidade.
A
piscina, a dois passos do restaurante e das casas, foi imediatamente um dos
sítios de atracção, sobretudo dos mais novos. Do exterior do restaurante, e
logo após a zona das oliveiras, a vista anda pelo lago e perde-se na vinha a
poente, num pequeno núcleo de árvores a sul e num descampado a nascente.
A
jornada gastronómica teve um começo muito saboroso com uma sopa de peixe
espantosa, continuou para medalhões de bovino, tendo terminado com uma tijelada
excelente. Um almoço que deu para lá das três da tarde, onde vagueámos entre os
sabores e as últimas (boas) novidades do percurso da Selecção Nacional de Futebol.
Tivemos
ainda oportunidade de visitar duas das casas do complexo, um T2 e um T3, e
verificar que também teriam sido uma boa alternativa a Alpalhão. Talvez fiquem
à nossa espera até para o ano, ou para uma próxima oportunidade de alojamento
no Almoço do Arlindo.
Saímos
da Herdade da Urgueira com saudade do fim-de-semana. Ou não fossemos
portugueses! Eram quase quatro da tarde quando nos pusemos a caminho. O calor
aumentara, como estava previsto. Certificámo-nos disso à passagem por Santarém,
quando a temperatura nos termómetros das motos chegaram aos 39 graus!