sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Estremoz, À Volta do Rossio


A praça central de Estremoz dá pelo nome de Rossio Marquês de Pombal. Apesar de o étimo da palavra não estar ainda dado – segundo José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa – o vocábulo “rossio” pode ter várias designações, tais como ‘praça pública’ ou ‘terreiro espaçoso’, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa de 2003, ou ainda, ‘largo citadino’, de acordo com José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.
Hoje o Rossio Marquês de Pombal é com certeza uma praça pública, um terreiro espaçoso e um largo citadino. Já foi passeio público, palco de concertos musicais, mercados, muitas feiras, e de comemorações e concentrações. Por tanto, o espaço é lugar de festa, lazer e convívio, mas também de negócio e comércio.
Talvez nunca tenha sido jardim. Essa função foi adjudicada ao jardim municipal, perto do qual domina o lago do Gadanha, contíguo ao Rossio. Embora hoje esteja repleto de carros – que ocupa praticamente todo a praça – a maior praça de Estremoz continua a contemporizar os quotidianos provectos que sempre caracterizaram aquele espaço.
O Rossio forma um quadrilátero irregular em cujos lados se estendem muitos edifícios de traça refinada e materiais esplêndidos. Trata-se de edifícios baixos, na maioria de dois ou três pisos, mesmo considerando os institucionais, conventos e igrejas (se exceptuarmos o convento dos Congregados).
Com efeito, há bastantes edifícios religiosos em redor da praça, como sejam, o convento dos Congregados de S. Filipe Nery, sede actual da edilidade, a ermida do Santo Cristo e o convento de S. João das Penitências, única abadia feminina pertencente à Ordem de Malta. No topo norte, encontra-se a igreja e o convento de S. Francisco, uma obra do século XIII com interiores góticos.
Em redor do Rossio as fachadas são harmoniosas com linhas clássicas e diversidade de motivos decorativos que, todavia, não diferem muito em estilo. Os pisos térreos estão ocupados com lojas e os superiores com habitação ou escritórios. As montras das lojas são habitualmente amplas, mas foram as janelas que mais me cativaram, sobretudo as cantarias em mármore.
E não é uma ou outra. São muitas. Surpreendem não apenas pela harmonia, classicismo ou diversidade, mas também pela criatividade dos motivos decorativos, pela austeridade e/ou simplicidade arquitectónica. E até pela dimensão da cantaria e simbologia dos motivos.
Das mais surpreendentes, são com certeza as do Café Águias D’ Ouro, com uma fachada em estilo Arte Nova, onde todas as janelas são diferentes, duas inclusivamente assimétricas, com dimensões e cantarias com motivos decorativos diferenciados, conjugando o clássico, o barroco, o romântico, o moderno. Mas com um elemento comum, o mármore.
Aliás, foi também a omnipresença do mármore sobretudo na cantaria das janelas que me atraiu a atenção. Apesar de ser uma pedra que se encontra em abundância na região, especialmente nos arredores da cidade – o célebre mármore de Estremoz -, a grande profusão desta pedra nos edifícios do Rossio, e sobretudo do trabalho decorativo e escultórico tão presente, também diz da nobreza daquele espaço.
Atendendo apenas às janelas, há mais elementos em comum. Além do mármore nas cantarias, a madeira nas portadas e o ferro nos gradeamentos das varandas estão também muito presentes. Diversos, porém, são os elementos decorativos, as formas e as dimensões da maioria das janelas das fachadas dos edifícios do Rossio.
A profusão do mármore nas janelas contrasta com as raras fachadas ou motivos decorativos em azulejo. A preferência vai então para o mármore uma pedra que praticamente não tem cor ou apresenta uma palidez vincada. A escassa presença da cor e do brilho de outros materiais dá lugar aos frios e austeros lácteos ou rosados do mármore que dominam as fachadas da praça.
Em matéria de cantaria, notam-se linhas direitas mais clássicas e formas geométricas, com raros ou simples elementos decorativos. São as mais frequentes. Algumas já foram alvo de intervenções de melhoramento ou reformulação e, outras raras, foram pintadas com cores típicas. 
Notam-se variações ligeiras dos elementos decorativos, flores, conchas, cornucópias, sobretudo no topo e mais ou menos estilizados. Os elementos decorativos estão habitualmente associados às janelas que pertencem a casas aparentemente mais abastadas.
Ao sair do Rossio Marquês de Pombal, ou seja ao deixar a praça principal da cidade, nota-se que o mármore vai perdendo notoriedade e presença nas cantarias das janelas. À medida que nos afastamos da centralidade da praça descobrimos outra textura, dimensão e disposição nas cantarias das janelas.   
Uma rua das ruas mais estreitas perto do Rossio, inclusivamente com um nome singular, é quase exemplar. Ainda mostra algumas cantarias em mármore, simples, com linhas direitas, a envolver janelas de dimensão menor do que as do Rossio.
A pedra é agora mais rara e pobre, passa a não envolver completamente a janela e a ser apenas apoio. Em alguns casos as cantarias desapareceram. Muitos dos edifícios encontram-se em mau estado ou estão para venda.