A praça central de
Estremoz dá pelo nome de Rossio Marquês de Pombal. Apesar de o étimo da palavra
não estar ainda dado – segundo José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico
da Língua Portuguesa – o vocábulo “rossio” pode ter várias designações, tais
como ‘praça pública’ ou ‘terreiro espaçoso’, segundo o Dicionário da Língua
Portuguesa de 2003, ou ainda, ‘largo citadino’, de acordo com José Pedro
Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa.
Hoje o Rossio
Marquês de Pombal é com certeza uma praça pública, um terreiro espaçoso e um
largo citadino. Já foi passeio público, palco de concertos musicais, mercados,
muitas feiras, e de comemorações e concentrações. Por tanto, o espaço é lugar
de festa, lazer e convívio, mas também de negócio e comércio.
Talvez nunca tenha
sido jardim. Essa função foi adjudicada ao jardim municipal, perto do qual domina
o lago do Gadanha, contíguo ao Rossio. Embora hoje esteja repleto de carros –
que ocupa praticamente todo a praça – a maior praça de Estremoz continua a contemporizar
os quotidianos provectos que sempre caracterizaram aquele espaço.
O Rossio forma um
quadrilátero irregular em cujos lados se estendem muitos edifícios de traça
refinada e materiais esplêndidos. Trata-se de edifícios baixos, na maioria de
dois ou três pisos, mesmo considerando os institucionais, conventos e igrejas (se exceptuarmos o convento dos Congregados).
Com efeito, há
bastantes edifícios religiosos em redor da praça, como sejam, o convento dos
Congregados de S. Filipe Nery, sede actual da edilidade, a ermida do Santo
Cristo e o convento de S. João das Penitências, única abadia feminina
pertencente à Ordem de Malta. No topo norte, encontra-se a igreja e o convento
de S. Francisco, uma obra do século XIII com interiores góticos.
Em redor do Rossio
as fachadas são harmoniosas com linhas clássicas e diversidade de motivos
decorativos que, todavia, não diferem muito em estilo. Os pisos térreos estão
ocupados com lojas e os superiores com habitação ou escritórios. As montras das
lojas são habitualmente amplas, mas foram as janelas que mais me cativaram,
sobretudo as cantarias em mármore.
E não é uma ou
outra. São muitas. Surpreendem não apenas pela harmonia, classicismo ou
diversidade, mas também pela criatividade dos motivos decorativos, pela
austeridade e/ou simplicidade arquitectónica. E até pela dimensão da cantaria e
simbologia dos motivos.
Das mais
surpreendentes, são com certeza as do Café Águias D’ Ouro, com uma fachada em estilo
Arte Nova, onde todas as janelas são diferentes, duas inclusivamente
assimétricas, com dimensões e cantarias com motivos decorativos diferenciados,
conjugando o clássico, o barroco, o romântico, o moderno. Mas com um elemento
comum, o mármore.
Aliás, foi também
a omnipresença do mármore sobretudo na cantaria das janelas que me atraiu a
atenção. Apesar de ser uma pedra que se encontra em abundância na região,
especialmente nos arredores da cidade – o célebre mármore de Estremoz -, a
grande profusão desta pedra nos edifícios do Rossio, e sobretudo do trabalho
decorativo e escultórico tão presente, também diz da nobreza daquele espaço.
Atendendo apenas
às janelas, há mais elementos em comum. Além do mármore nas cantarias, a
madeira nas portadas e o ferro nos gradeamentos das varandas estão também muito
presentes. Diversos, porém, são os elementos decorativos, as formas e as
dimensões da maioria das janelas das fachadas dos edifícios do Rossio.
A profusão do
mármore nas janelas contrasta com as raras fachadas ou motivos decorativos em
azulejo. A preferência vai então para o mármore uma pedra que praticamente não
tem cor ou apresenta uma palidez vincada. A escassa presença da cor e do brilho
de outros materiais dá lugar aos frios e austeros lácteos ou rosados do mármore
que dominam as fachadas da praça.
Em matéria de
cantaria, notam-se linhas direitas mais clássicas e formas geométricas, com
raros ou simples elementos decorativos. São as mais frequentes. Algumas já
foram alvo de intervenções de melhoramento ou reformulação e, outras raras,
foram pintadas com cores típicas.
Notam-se variações
ligeiras dos elementos decorativos, flores, conchas, cornucópias, sobretudo no
topo e mais ou menos estilizados. Os elementos decorativos estão habitualmente
associados às janelas que pertencem a casas aparentemente mais abastadas.
Ao sair do Rossio
Marquês de Pombal, ou seja ao deixar a praça principal da cidade, nota-se que o
mármore vai perdendo notoriedade e presença nas cantarias das janelas. À medida
que nos afastamos da centralidade da praça descobrimos outra textura, dimensão
e disposição nas cantarias das janelas.
Uma rua das ruas
mais estreitas perto do Rossio, inclusivamente com um nome singular, é quase
exemplar. Ainda mostra algumas cantarias em mármore, simples, com linhas
direitas, a envolver janelas de dimensão menor do que as do Rossio.
A pedra é agora
mais rara e pobre, passa a não envolver completamente a janela e a ser apenas
apoio. Em
alguns casos as cantarias desapareceram. Muitos dos edifícios encontram-se em mau estado ou estão para venda.