De CUENCA a TERRUEL com ALBARRACIN de permeio
De Cuenca a Teruel são cerca de 150 quilómetros. Magníficos. A
estrada tem um piso excelente, as curvas são abertas e a paisagem é soberba com
floresta e montanha. Começámos pelo desfiladeiro que margina Cuenca, flectimos
para norte e fomos a caminho da “Ciudad Encantada”.
A ‘nacional’ é excelente e convida a deitar.
Mesmo depois do desvio, a cerca de seis quilómetros do local, a estrada é mais fresca, enrola-se mais mas o piso continua
bom. Quando se lá chega, pouco há, exceptuando um pequeno hotel e um parque de
estacionamento enorme sob árvores frondosas, pouco ou nada indica o parque
geológico.
CIUDAD ENCANTADA,
UM BURGO DE ROCHA
Mas
a recepção é suficientemente grande para albergar treze capacetes. E o
recepcionista também é suficientemente camarada para nos fazer um preço de
grupo apesar de não chegarmos ao número predefinido para tal. Ali perto, do outro lado da estrada, uma espécie de albergue, era o único café disponível. Alguns devem ter lá ido, uma vez que entramos poucos numa primeira leva.
Entramos
num sítio onde as rochas dominam o espaço. Uma espécie de caverna ao ar livre
onde cada rocha tem um nome que a identifica pela forma. Foi o efeito da erosão
da água que deixou os calhaus moldados de forma curiosa e divertida, sendo
porém necessário puxar bastante pela imaginação para descobrir a
compatibilidade entre o nome e a forma.
Crocodilos,
navios, templos, fóruns, rios, tudo é possível ver naquelas rochas. Apesar
desse convite à imaginação, o espaço é simpático e não decepciona, mesmo que
sejamos motivados a ver uma catedral num calhau monstruoso.
Leva
cerca de meia hora a fazer o circuito, mas houve quem o fizesse no dobro do
tempo. Quando saímos da Ciudad Encantada já estavamos atrasados face ao horário
ideal para chegar a tempo ao almoço. Ainda assim, não fosse um “ligeiro desvio”
teríamos chegado a horas razoáveis.
Quando esbocei o trajecto, encontrei um sítio
onde haviam construído um monumento, uma estátua estilizada, uma espécie de
Deus da Água, dedicada ao nascimento do rio Tejo. Apesar de o Tejo não nascer
naquele sítio – nós havíamos de passar perto da nascente, no Alto Tajo – o
lugar era óptimo para fazer uma paragem.
Nós
também fizemos uma paragem, mas alguns quilómetros mais acima. Falhei um desvio
que não vi no mapa e fomos parar a um entroncamento onde os GPS não se entendiam
uns com os outros. Uma das leituras dava cerca de uma centena de quilómetros até
Albarracin…
Mais
curva, menos curva, foi o que fizemos. Percorremos mais cerca de sessenta
quilómetros do que o previsto, em estradas onde a beleza da paisagem estava na
razão inversa do piso, quer em obras, quer numa austeridade de alcatrão que
fazia dó.
ALBARRACIN, DAS
FACHADAS RÓSEAS E RUAS DE PEDRA
Chegámos
a Albarracin pelo mesmo lado dos restantes. Pena foi não termos filmado essa
parte do trajecto, percorrido num vale com a montanha de um lado e um rio do
outro, ao longo de uma estrada marginada por árvores esguias mas frondosas. Parecia
que estávamos a sair de Cuenca novamente, serpenteando entre os penhascos das
Casas Colgadas e o rio Júcar.
Deixámos
as motos num pequeno parque, antes do túnel de uma centena de metros que fura a
colina sob a urbe. Se a proximidade das casas já nos haviam dado uma boa ideia
do ambiente, quando começamos a subir para o centro, percebe-se imediatamente
que estamos a entrar num espaço de origem árabe, numa atmosfera medieval com
ruas estreitas e casas esguias.
Algumas
fachadas escuras contrastam com a maioria, pintadas de um rosa velho, onde se
nota muita madeira, telhado claros e a pedra sempre presente sobretudo na base
das habitações. As muralhas do castelo sobressaem da malha urbana, erigidas no
ponto mais alto da colina. Uma ou outra torre – uma delas está telhada em
estilo mudéjar - ressaem do mar de telhados e fachadas rosadas.
Trepamos
pelas ruas apertadas e íngremes mas parecíamos os únicos a faze-lo. Exceptuando
meia dúzia de turistas, havia muito pouca gente na rua, a maioria das lojas
estava fechada devido ao horário e até o restaurante que havíamos reservado
tinha portas e janelas cerradíssimas.
Almoçamos
na Plaza Mayor como não podia deixar de ser… um espaço pequeno mas harmonioso
de arquitectura medieval, sossegado, freco e que convida a esquadrinhar todos
os cantos. De um varandim da praça a vista alcança meia urbe e não é difícil
ter uma perspectiva de quase todo o burgo percorrendo meia dúzia de ruas.
O
atraso que havíamos imprimido à agenda não permitiu que lá ficássemos muito
tempo – afinal, tínhamos apenas o fim da tarde e a noite para visitarmos Teruel
– pelo que, acabado o almoço voltamos às motos descendo as ladeiras até ao
arque de estacionamento que fica contíguo ao rio.
A
etapa até Teruel foi curta. Ainda na estrada municipal passamos pelo aeródromo
de Teruel e pouco depois estavamos à porta do hotel Botánicos. Arrumamos as
motos na garagem e saímos em grupos por volta das seis da tarde.
TERUEL, CAPITAL DO
MUDEJAR
Teruel é um dos lugares onde a arte mudéjar de Aragão tem alguns
ex-libris. A arte mudéjar contempla os séculos XII a XVII particularmente
identificada no património erigido que conjuga elementos ornamentais da
tradição islâmica com a arquitectura popular, envolvendo elementos mudejares
(árabes que ficaram sob domínio cristão), mouros e cristãos e que elegeram
sobre a pedra, o tijolo e os azulejos como materiais de eleição.
Nesta cidade, é a decoração e a arquictetura das torres que se
destaca. Quatro delas são exemplares excelentes de arte mudéjar mas também
belos elementos estéticos, a torre de San Martim, a torre da igreja do Salvador,
a torre da igreja de San Pedro e a torre da catedral.
Mas o primeiro exemplar, neste caso de arte neo-mudejar, do início
dos anos 20 do século passado, foi a escadaria – La Escalinata - que leva da
parte alta à estação ferroviária de Teruel, situada ao lado do hotel. São cento
e quarenta degraus que culminam num mural dos Amantes de Teruel.
E foi para este lugar que voltamos a atenção, uma vez que este
mausóleo, além de encerrar os túmulos dos tais amantes – uma estória parecida
com a dos amantes de Verona, Romeu e Julieta, de Shakespeare – aqui, é também a
decoração da igreja e a possibilidade de subir à torre que atrai. Porém, devido
à hora tardia – os espanhóis saem tarde mas também não gostam de exagerar – já
não visitamos estes últimos dois sítios.
Por isso, fomos pelo centro histórico, por fora das muralhas,
entramos por uma das portas, fomos à catedral, quase acompanhamos uma
manifestação e acabamos a tarde a beber um copo na Plaza do Torico. Aqui,
junta-se o vai-vem das compras, com a animação dos turistas, com o descanso nas
esplanadas, sempre sob o olhar do pequeno touro que encima uma fonte de água
potável no centro da praça.
Voltamos a apanhar a manifestação - por causa do campus universitário – nessa praça, quando já estavamos sentamos na esplanada – e, já com o entardecer, fomos andando para perto do Mausoléu dos Amantes, onde alguém descobriu um restaurante com aspecto curioso em cuja
refeição foi muito agradável.
Talvez tenha sido o primeiro restaurante cuja decoração no soalho
contemplava azulejos que imitavam as cores antigas desmaiadas. Depois, voltamos
a encontrar outros, com idênticas propostas, em Valência e Madrid.
Como habitualmente o vídeo, agora em https://vimeo.com/128181542