Rituais da Morte Durante a Romanidade
Dis Manibus significa “dedicado aos deuses Manes”. Os deuses Manes eram os “deuses caseiros” e representavam as almas dos parentes falecidos. A exposição Dis Manibus está então relacionada com o culto dos mortos, mais propriamente com o culto dos antepassados.
Se forem, vão agasalhados. O espaço é amplo, mas o orçamento para aquecimento é curto. Em tempo: já não está em Sintra. Vai para Odrinhas no início de Fevereiro. Duas salas e um corredor. Uma das salas recebe a exposição, na outra assiste-se a um documentário audiovisual sobre o Museu Arqueológico de Odrinhas.
É de lá que chega um conjunto de peças arqueológicas que mostram a evolução das concepções e das práticas funerárias, e ajudam a perceber aquela imediação entre a vida e a morte, a relação entre os vivos e os mortos.A exposição envolve um conjunto de apetrechos artesanais, de objectos funerários, de fotografias e de esqueletos, ilustrativos do tema dominante, a morte. Mas de uma morte que revela a vida, os preparativos e os rituais da morte.
A nossa atenção é levada por um conjunto de telhas, depois para o esqueleto de uma criança de meses encontrada inumada nessas telhas, depois para outro esqueleto praticamente completo, de um adulto.
Nas fotografias reconhecem-se algumas similitudes, como sejam a existência de objectos do quotidiano enterrados junto dos sepultados, artefactos que o acompanhariam as suas necessidades para além da morte (semelhantes às que teve em vida).
É através das fotografias e de um mapa que se pode ter uma ideia da quantidade e da diversidade de sepulturas, muitas do final da romanidade, encontradas na região que vai de Sintra à Ericeira.
A área é rica em vestígios arqueológicos de estruturas funerárias, quer correspondentes ao período mais longo de domínio romano, quer da sua fase final, quer inclusivamente do início do medieval.
A chamada história longa é, durante longos períodos de tempo, uma contemporaneidade, tão estável é a ritualização de certos costumes. Por vezes, porém, a similitude dos rituais/práticas atravessa praticamente a história do mundo. Como seja o caso dos rituais de enterramento de há 2 milénios e os actuais, ou entre aquelas mais remotas e a de há 3 milénios no Egipto, entre as concepções mais antigas da vida depois da morte e as mais recentes.
Uma das actividades que não sofreu praticamente alterações até aos nossos dias é o artesanato. São sobretudo as vasilhas, os pratos, os copos, os frascos, as lamparinas, os tachos, em barro ou em vidro, que mantêm a forma e a textura ancestral, não se notando por tanto grandes modificações em três séculos de história.
Pregos pertencentes a duas sandálias do período da ocupação romana |
Todavia, avaliando a crescente ausência de objectos que acompanham os corpos nas sepulturas, percebe-se que, com a proximidade do medieval, se atenua a crença egípcia e greco-latina da vida para além da morte.
Mostra-se um dos aspectos mais significativos e distintos que passa pela diversidade das estruturas funerárias, salientando-se a diferenciação entre os estatutos sociais dos defuntos – altos dignatários ou populares -, a sinalização – da simples lápide ao mausoléu - e a distribuição dos locais de enterramento – à beira da estrada ou num columbário resguardado.
O medieval, porém, continua a assinalar o local de enterramento, agora de uma maneira mais individual, continuando a existir toda uma epigrafia funerária sobretudo dedicada a altos clérigos e nobres.
Música: Yes - Tormato - Onward