domingo, 28 de outubro de 2012

A Era dos Palácios III - Palácio da Pena Nocturno


Foram as ruínas de um antigo mosteiro e o panorama que se desfrutava de um dos pontos mais altos da serra de Sintra que fascinaram Fernando II para a edificação do palácio da Pena. 

Fê-lo não à imagem do castelo de Neuschwanstein, na Baviera – construído 30 anos depois – mas pedindo o projecto ao mineralogista germânico Von Eschwege, arquitecto amador.


Talvez tivesse decorrido desse amadorismo a mistura de estilos promovida no palácio, mas que, mesmo assim, não deixou de ser um dos melhores exemplos do romantismo arquitectónico do século XIX. 

O palácio está cheio de elementos góticos, manuelinos, árabes, renascentistas, indianos, plenos de exotismo e fantasia, seguindo aliás conceitos muitos comuns ao romantismo de uma época votada ao lirismo e à subjectividade, à imaginação, criação individual e ao sonho.
O palácio enquadra-se num jardim imenso e excelente onde, para além do Chalé da Condessa de Edla – segunda mulher de Fernando II – dispõe de pontes, lagos, grutas, pérgulas, fontes e de um sítio carismático, a Cruz Alta. 

É possível entrar nos jardins junto das bilheteiras, visitar o palácio, percorrer meia centena de metros até ao palácio, visitá-lo, desfrutar da vista panorâmica desde os pátios, descer ao chalé, subir à Cruz Alta, voltar a descer para os lagos, passando por uma fonte mourisca e por um relvado enorme. Anos antes, chegámos a estudar nesse relvado, quando o acesso aos lagos ainda era gratuito…
Muita gente já subiu a serra para observar o palácio mesmo de longe, muita gente já o visitou, e muita gente o deve ter querido visitar na noite de 28 de Setembro. Pelo menos a julgar pelas longas filas de pessoas que aguentaram estoicamente a sua vez na fila, que ia desde o portal de entrada até á porta do edifício.
Nessa noite, deixámos o carro logo após o final da famosa rampa da Pena. Depois, fizemos a pé cerca de dois quilómetros até à entrada do palácio, após termos passado pelos lagos e pela entrada de acesso ao castelo dos Mouros. Era necessário ir à bilheteira pedir um bilhete a que vinha associada uma brochura sobre o palácio e sobre os jardins.
Estava noite de lua cheia, a que se juntou o habitual nevoeiro que aparece no cimo da serra de Sintra, envolvendo sobretudo o palácio numa aura de sonho e mistério. Apesar de bem iluminado, o palácio foi sucumbindo ao véu diáfano da névoa, escondendo cada vez mais as cores vivas e diversas da fachada. Foi também mascarando as gentes, transformando as pessoas em silhuetas, em vultos que deambulavam um pouco por todo o lado.
O frio, esse, que pouco se notou na ascensão, passou a notar-se lá em cima, nas zonas mais altas, mas sobretudo nos pátios mais expostos e com extrema intensidade no passeio de ronda que circunda todo o palácio. 

Via-se a olho nu a veloz ascensão do nevoeiro, mostrada sobretudo pelos holofotes que iluminavam o topo do palácio.

Se ao longe a imagem do palácio já era atraente, foi próximo da entrada que a figura majestosa do edifício, o contraste de cores, o traço diferenciado dos seus contornos começa a surpreender. 

Nessa altura, eram os holofotes que iam salientando detalhes e os contrates que o negro do céu ressaltava. Depois, quando o nevoeiro tomou conta do ambiente, o cenário tornou-se menos colorido, mesmo sombrio e algo inóspito. Por outro lado, ganhou em ambiente dramático, em cenário enigmático e fantástico.
Preferi o ambiente feérico exterior à visita ao interior do palácio que, com tanta gente, era capaz de ser um bocado confuso. Por isso, o que achei mais estimulante foi o curto passeio pelo caminho de ronda, quer pela paisagem, quer pela novidade, quer pelo desafio de percorrer aquele caminho tão estreito mas que permite perspectivas tão extraordinárias e uma atmosfera tão distinta.
Deve ter sido essa envolvência que também levou tanta gente ao palácio, sobretudo malta nova mas também tantas famílias, que enfrentaram temperaturas baixas, um estacionamento árduo mas surpreendentemente não caótico, extensas filas para visitar o interior do palácio, que se afadigaram alguns quilómetros a pé, mas que também usufruíram de noite ímpar, num cenário soberbo.


Já lá havia passado em diversos passeios pedestres que envolveram trepar a serra e passar por Santa Eufémia, mas o palácio, habitualmente envolvido pela névoa nocturna, estava invariavelmente fechado.

Sobre Sintra, ver também,

Desta vez, além deste, também o palácio de Monserrate estaria aberto na noite seguinte, permitindo uma visita gratuita. Porém, como havíamos lá estado poucas semanas antes e, prevendo que a afluência fosse ainda maior para um palácio de menor dimensão, vamos esperar por próxima iniciativa. 


Sobre o Palácio de Monserrate, ver 

Música: Oliver Shati -  L'amour Magica