quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ARTE BRUTA


Não sei se cheguei a entrar.
Do que se podia observar da rua, a sensação era, no mínimo, estranha.
Mas isso também não era esquisito.
Estar perante manifestações artísticas tem, por vezes, esse condão.
Parecem irreais, indefinidas, grotescas ou simplesmente incompreensíveis.
Foi mais ou menos essas sensações que experimentei, entre as de estupefacção
quando, há mais de uma vintena de anos passei por duas exposições.
Uma temporária em Sarlat, França.
E outra permanente no Château de Beaulieu, em Lausanne, Suíça.
Desta vez, foi em Portugal, no museu Arpad Szenes / Vieira da Silva.
Chamaram-lhe, tal como em Sarlat, e talvez em Lausanne - Arte Bruta.
Traumas, manias, fobias, ou simples impulsos criativos.
São alguns dos motivos que estão na base das diversas obras expostas.
 A exposição dá pelo nome de Terra Incógnita.
Nunca tinha lido nada sobre as estórias destas obras.
Aqui, cada uma tinha a sua.
As pequenas estórias ilustram e/ou esclarecem os conteúdos da maioria das obras expostas.
Vão desde os traumas de infância, a outros desequilíbrios de ordem mental.
Passam pelas separações violentas, isolamentos, orfandades.
E também pela criação compulsiva, massiva, repetitiva.
Pareceu-me que no conjunto da exposição está também um convite à aceitação da diferença.
Para lá da estética e dos conteúdos divertidos, estranhos ou burlescos. 
 Por outro lado, também não notei que a envolvesse referências à deficiência, como patologia.
Como em muitos casos é imediatamente visível.
Ali, estava o que foi criado, com a respectiva estória.
Mais nada.
Em muitas das obras expostas, esquecem-se as fronteiras da estética,
 do sentido, do estilo, e outros cânones habituais da arte,
tão difícil é para o observador comum.
Talvez não seja mesmo preciso rotular a arte.
A criatividade podia substituir todas aquelas preocupações classificatórias...
Nestas obras,  tal como em outras, a criatividade mistura-se com a engenharia.
Combina-se estética, novidade, identidade.
E mais elementos, de certeza.
Há sempre mais qualquer coisa.
Um nome que se reconhece, um risco que surpreende. 
De qualquer forma, os suficientes para serem admiradas.
Talvez não sob os habituais prismas artísticos.
Talvez sem nenhum modelo.
Apenas seguir o olhar.
São muitas obras, de artistas de várias idades, de diferentes épocas, de diversos países.
Artistas que ultrapassam os padrões de arte estabelecidos, que criam diferença.
Mas que também não se reconhecem como tal.
Ou simplesmente não se dão a conhecer.
Vale a pena olhar para os conjuntos, para os detalhes,
para os elementos decorativos, para os traços, para as cores,
procurar sentido,comparar, indagar, apreciar.  
No fundo o que se faz sempre que estamos perante algo diferente.
As obras estão expostas até 23 de Setembro.
Só até ao próximo fim de semana.
O museu é simpático.
Tem algumas obras de Arpad e de Vieira da Silva.
De diferentes estilos, de diferentes épocas.

Epic music - Carved From Fire
Ler 'Szenes' e não 'Zsenes' na legenda do vídeo