sábado, 25 de agosto de 2012

Picos de Europa 2012

Julho 2012

São montanhas históricas, paisagens atraentes, estradas cénicas. Vales frondosos, desfiladeiros épicos, montes pontiagudos, picos enevoados. Caminhos inacessíveis, difíceis, agrestes. Um espaço onde o tempo muda sem horário.
Vilar Formoso, antiga fronteira, último ponto de encontro antes de Leon
A proposta dizia de um túnel que penetra na montanha, de um elevador que trepa penhascos, de uma aldeia medieval, de uma ermida cavada na rocha, de dois lagos no cimo dos picos. Era suficiente para nos levar aos Picos de Europa. Com os suspeitos do costume.
Almoço em Salamanca sob uma temperatura excelente
Para lá, foram pontos de encontro a área de serviço de Castelo Branco na A23, na antiga fronteira em Vilar Formoso e, ainda, no Faustino, em Chaves. Todos se reuniriam em Leon ao final do dia. O almoço do nosso grupo aconteceu em SALAMANCA, muito próximo da PLAZA MAYOR.
Plaza Mayor em Salamanca
Estava bom tempo, calor e pouco vento. Depois da entrada em Espanha, o relevo beirão dá lugar ao planalto onde os campos cerealíferos se estendem até Leon. Percebe-se a facilidade com que a cavalaria árabe foi progredindo nos anos setecentos: não há barreiras naturais. Foi nesta cidade que nos juntámos (quase) todos, no HOTEL RIOSOL, os que vinham do sul, do centro e do norte. 
A excitação foi tanta no átrio do hotel - apesar de virmos de sul, centro e norte, chegamos quase ao mesmo tempo -, que nos mandaram calar. O que até era bom sinal, já que dizia do entusiasmo que partilhávamos, embora revelasse alguma limitação de cumplicidade cultural por parte da recepção. Afinal, os nossos vizinhos espanhóis ainda são mais barulhentos...
Ponte dos Leões em Leon, sítio de referência perto do hotel
EM LEON, deixámos a ponte dos Leões e saímos para a zona antiga escoltados por uma manifestação de ciclistas que defendiam a ecologia daquele meio de transporte. Num instante, passámos pela CASA DE BOTINES, obra do arquitecto catalão Gaudi e continuámos para a CATEDRAL GÓTICA que fica ali a menos de cem metros.


Jantámos no primeiro restaurante que vimos após o céu se ter rasgado e deixado cair uma valente bátega de água. Depois, ficou uma chuva miudinha que nos acompanhou o passeio de regresso ao hotel, ao longo de alamedas vazias. Realmente, o tempo não atraía à rua, havíamos percorrido mais de setecentos quilómetros e a agenda dizia que, n a partida era às oito e meia da manhã. 

Igreja de San Marcelo, com mais de dez séculos
Zona antiga, zona de bares e restaurantes

Ver neste formato


DE LEON ao DESFILADEIRO DE CARES

A manhã apareceu fresca mas risonha. Amanheceu com sol. Deixámos Leon e fomos a caminho de Riano. Lá perto, a estrada nacional começa a enrolar sobre bom piso. Ao longe, as nuvens ocupavam meio montanha, mas mesmo as mais escuras não eram (ainda) ameaçadoras. As  primeiras curvas, largas em estrada larga, foram um excelente aperitivo antes de RIANO.
Depois, a albufeira passa a dominar a paisagem (acima). Só os penhascos separam o azul do céu e o azul da água. Há pouca gente na localidade. Ainda é cedo, não deve passar as das dez da manhã. Apenas os pássaros aproveitam as migalhas que deixamos nas mesas onde bebemos café.
Há previsões de frio mas, embora se perceba que irá estar presente, nunca será demasiado. Aliás, é neste troço que mais se faz sentir, embora nunca exagerado, apesar das nuvens terem escurecido ligeiramente. Nada que os forros não conseguiam suster. Quando parámos numa espécie de miradouro, de onde é possível reconhecer alguns cumes, o céu estava radiantemente azul decorado apenas com duas ou três nuvens acinzentadas. 

Miradouro, depois de Riano  












A estrada continuava com piso excelente e o ritmo de andamento jazia jus a essa qualidade. Sensivelmente a partir de POSADA DE VALDEON, a estrada estreita e em alguns sítios não passam dois carros um pelo outro. Já atrás se notara, mas é por aqui que se percebem melhor os arranjos viários, o aumento de protecções que as estradas agora possuem. Há oito anos, as bermas não tinham qualquer dispositivo de segurança. Agora, estendem-se desde Posada de Valdeon até Cain, acompanhando o desfiladeiro que leva à povoação, o troço mais problemático, mas também o mais paisagístico.

GARGANTA DIVINA

Esguias e altivas, as falésias fazem lembrar a configuração dos desfiladeiros do Todra e do Dadés, em Marrocos, que percorremos na Páscoa. Estes têm, no entanto, mais vegetação, o clima é mais húmido e as rochas têm cor e texturas diferentes. Passamos a descer e a andar entre penhascos, a acompanhar um rio, descobrimos aqui e ali uma queda de água. Felizmente, não há trânsito – parece haver menos gente do que há oito anos – pelo que nos limitámos a seguir a moto da frente, sem preocupações de faixas de rodagem, uma vez que o grupo vai ocupando toda a estrada.
Restaurante em Caín
Assim que chegámos a Cain, ao início do troço que vai pelo DESFILADEIRO DE CARES, deixámos as motos em fila e os equipamentos no carro dos Murtas. Depois, seguimos o rio direitos à garganta. Estávamos na denominada Garganta Divina. 
Caín
Cain é uma aldeia dividida em duas partes por uma ponte, com alguns restaurantes, quartos para alugar, lojas de artesanato, e que marca o início/fim do percurso pedestre que vai até Arenas de Cabrales. São cerca de 12 quilómetros, monte acima, monte abaixo.
O célebre túnel do trilho após Caín
O trilho começa logo após uma pequena represa, entra na rocha e continua dentro de um túnel, com várias aberturas, mas que na quase totalidade não tem mais do que um metro de largo e um metro e setenta de alto.
Foi cavado na montanha e dispõe de várias aberturas para o exterior. No túnel o piso é irregular. Em certas partes, não passa uma pessoa por outra. No entanto, não vai além de cinquenta metros de comprimento. Logo após, o trilho vai ao longo de uma levada. Mais à frente atravessa-se uma ponte para o outro lado do desfiladeiro e só depois se deixa o rio.
A partir daí o caminho torna-se mais íngreme, adequado a trepadores e a cabras. Em baixo, corre o rio. De lado estende-se a falésia. Como está sol, o ambiente é catita. Cruzamo-nos com outros caminhantes que aparentam ter feito o percurso desde Arenas. Chegam cansados. E ainda se têm de curvar para passar nos túneis. Quem corre por gosto...





















Percorremos um pequeno troço, apenas como aperitivo para um próximo passeio, mesmo que seja apenas de um ou dois quilómetros. Com vestuário adequado não é difícil, embora se saiba que também não é fácil trepar mais adiante quando o perfil dos trilhos começa a ser mais exigente. Os árabes de oitocentos ver-se-iam aflitos para passar daqui...
Ver neste formato

TEMPESTADE NA MONTANHA

A próxima etapa estava planeada para nos levar de CAÍN A POTES. Embora estivesse planeado almoçar na segunda, acabámos por o fazer logo na primeira. Depois, voltamos à estrada para trepar até à ESCULTURA DO CERVO, acompanhados pelas nuvens que, entretanto, haviam baixado e enegrecido. Já no caminho, as nuvens voltaram ainda mais escuras, a ameaçar borrasca. Daí dois ou três terem parado para vestir os fatos de chuva.
Deste miradouro, estão assinalados os diversos picos, sendo que três deles se encontram acima dos dois mil metros de altitude. É um lugar típico de paragem, quer para pousar junto do cervo, quer para olhar sobre o vale e sobre os picos. Até aqui, a estrada enrola-se sobre um piso bom com curvas normais de serra.    
















Estava previsto que o andamento fosse tranquilo. Daqui para a frente, a estrada é cada vez mais sinuosa, mantendo no entanto a mesma qualidade de piso. As curvas sucedem-se, muitas delas fechadas, a fenderem a floresta. O percurso faz-se a descer e o ritmo parece-me entusiástico. Ainda não tínhamos chegado ao vale e o meu travão de trás aqueceu de tal ordem que o pedal parecia manteiga.
Um pouco antes de POTES, recuperei-o. Mesmo a tempo. Começara a chover. Primeiro fraquinho, mas depois com mais vigor. Ainda atravessámos praticamente toda a localidade debaixo do aguaceiro, mas parámos para nos abrigarmos numa espécie de garagem em ruínas. Já não chovia a potes, caía a cântaros. A paragem para percorrer a pé a parte antiga da vila – ainda de configuração medieval – gorara-se.

Casa típica em Arenas de Cabrales

Daí a pouco, ainda sob chuva, voltamos à estrada. Seguimos em Panes e continuámos a contornar os Picos de Europa. Tal como até ali, a estrada volta a acompanhar um rio, todavia agora com curvas mais abertas. O tempo, esse, é que não colaborava. As encostas mantinham-se sob um manto nevoento, acinzentado, pouco simpático. Acabámos por fazer o último troço com aquela tranquilidade que, caso o nosso olhar fosse além das vertentes, seria o ideal para perceber todo aquele enquadramento paisagístico ímpar dos Picos de Europa.
Chegámos a Cabrales já com a estrada seca, eram cerca das seis da tarde. Ficámos num hotel pequeno, com garagem no anexo, situado em plena rua principal chamado VILA DE CABRALES. Reconhecemos a vila antes de jantar. Ruas estreitas, algumas casas em pedra, praças pequenas, um rio que atravessa toda a urbe e, em redor, mais picos, alguns deles a mostrarem-se acima das nuvens. Ambiente sossegado, onde apenas uma ou outra vaca ainda vai estando atenta a quem passa.

Aproveitámos o ambiente bucólico para ir à parte antiga, ao rio, percorrer a rua principal, em passeios curtos mas demorados, apreciando a calma e gozando a trégua que a chuva havia cedido.
Jantamos num restaurante que ficava praticamente em frente do hotel e ficámos por lá umas boas duas horas – o Carlos Mariano havia chegado mais tarde, vindo directamente de Leiria naquela tarde – pelo que voltamos a dar mais uma volta à vila, e um dos grupos ainda ficou mais tempo para conhecer o serviço de bares.
Ver neste formato

EM AMBIENTES DA RECONQUISTA

A previsão do tempo frustrava um dos objectivos do dia seguinte que era subir no funicular de Bulnes, após o que visitaríamos a aldeia que não tem outro acesso que não seja aquele ou o pedestre. Com efeito, de manhã, uma chuva miudinha mas persistente estava presente à partida e acompanhou o ritual dos arrumos. Seguimos para Covadonga.
Parámos no santuário, ainda e sempre sob chuva. Ficamos a saber que a subida aos lagos se faz exclusivamente por camioneta. Por tal, existirem muitos parques de estacionamento próximos do acesso. Ficou para uma próxima visita. Mas ali perto, há dois lugares dignos de nota: a catedral e a ermida na rocha.
Ermida na gruta de Covadonga
O lugar é histórico. Foi daqui que PELÁGIO, un nobre godo, liderou a resistência ao avanço árabe iniciado em 711, após a batalha de Guadalete. Os Picos de Europa representaram uma barreira e um abrigo natural face às investidas árabes. As características do relevo dificultam a movimentação e não possibilitam a penetração de exércitos de grandes dimensões.  
O mau tempo em Covadonga
A GRUTA DE COVADONGA – onde hoje está situada a ermida – parece que foi sede dessa resistência. Hoje, a gruta tem um âmbito estritamente religioso com um culto dedicado à Senhora de Covadonga. A ermida é curiosa. Foi escavada na rocha, logo após um túnel que lhe dá acesso, também cavado no penhasco. Quem quiser fazer um esforço de semelhança, far-lhe-á lembrar vagamente as arquitecturas de "O Senhor dos Anéis". Fica sob um rio límpido, que corre uns metros abaixo da plataforma onde a ermida se situa. 


Percurso nos Picos de Europa
A CATEDRAL, apesar de novecentista, dizem ser de estilo neo românico, mas as janelas e as naves parecem quase góticas. Visitámos o interior há oito anos, logo após ter terminado um serviço religioso, mas o espaço ainda estava escuro, já que a porta estava coberta por reposteiros enormes. Desta vez não entrámos.


Ver neste formato

OVIEDO, CAPITAL DAS ASTÚRIAS

Ainda era cedo para almoçar. Continuava a chover. Seguimos para Oviedo mas ainda parámos para beber café (e experimentar a sidra caseira) numa aldeia da estrada nacional. Depois fomos directamente para o  HOTEL CASTRO REAL. Arrumarmos as motos na garagem enquanto se procedia ao check in na recepção. Depois de cerca de meia hora para registo - isto não acontece nem em Marrocos, aliás, lá, até é rápido demais (repararam nas cinco palavras acentuadas consecutivas!?) - juntámo-nos de novo para almoçarmos juntos numa cervejaria das redondezas.
Partimos a pé para o CENTRO HISTÓRICO ainda sob a ameaça da chuva. Tínhamos metade da tarde e a noite para conhecermos a zona antiga. Já chovia pouco quando deixámos o restaurante. Pouco depois, até ficou agradável. Percorremos cerca de um quilómetro e pouco até à zona histórica. Aí, começámos um périplo que nos levou desde a catedral até às praças principais, passando pelas ruas de trânsito exclusivamente pedestre, pela curiosa PLAZA DEL FONTAN, e por outras praças ligadas por vielas de piso em pedra.
Plaza del Fontan, Oviedo
Seguimos também um itinerário que nos levou pelas inúmeras ESCULTURAS / ESTÁTUAS que polvilham Oviedo. As cidades espanholas têm habitualmente muitas estátuas/esculturas em locais públicos ao ar livre. Mas, em Oviedo, que é uma cidade pequena, há mais de cem. Em ruas, rotundas, parques, praças ou na entrada de edifícios. Estão sempre dedicadas e foram criadas por escultores relevantes, entre eles Botero e Urculo.




 












 







“Muito nobre, muito leal, benemérita, invicta, heróica e boa cidade de Oviedo”, é a divisa da cidade. Está tudo dito. Bate-se com o Porto em modéstia, mas ganha claramente em limpeza. Aliás, os edifícios da zona histórica estão bem cuidados, muitos deles recuperados com rigor.

 

É onde existem mais bares, restaurantes e lojas com produtos típicos ou de moda. Muitas fachadas foram restauradas, outras remodeladas, continuando a maioria com a traça original. As ruas também mantêm a configuração medieval, desembocando em pequenas praças, algumas com acesso apenas sob os edifícios que as cercam. O trânsito é apenas pedestre. As fotografias de casamento passam inevitavelmente por lá.
Antes, havíamos entrada na CATEDRAL gótica. O amarelado da pedra domina quer a catedral quer os edifícios contíguos, o museu arqueológico e dois palácios dos séculos 17 e 18. A praça ampla e clara contrasta com as da zona antiga, mais pequenas e mais escuras.
Mas, lá como cá, as pessoas queixam-se. Fazem-no porque foi sobre elas que a tragédia caiu. E mostram-no. E até avançam alternativas que lhes minorem o sofrimento. Cá como lá, parece ser uma viagem difícil, azarada. Custa a crer que a indiferença, a aldrabice e a incompetência andem tão próximas, não tenham fronteiras e afectem tanta gente. Mas ainda não há vacina para estas coisas...
Fizemos uma refeição ligeira na esplanada do mesmo restaurante, El Cachopito, onde havíamos jantado há oito anos, na calle de Gascona, pedestre, onde, aquela hora, ainda havia pouca gente no habitual sobe e desce das tapas para abrir o apetite. Mais tarde, torna-se numa das ruas mais movimentadas da urbe.
Mas já por lá andava um gaiteiro, também ele no sobe e desce, parando em sítios estratégicos, de onde era possível ouvir os acordes da gaita de foles de modo a encher a rua de um ambiente pleno de reminiscências celtas.
 
Outra das tipicidades desta zona está ligada à SIDRA, é a maneira de a servir, desde a mão a segura a garrafa esticada para cima, até à outra que segura o copo esticada ao máximo para baixo. É preciso fazer com que a sidra perca o gás ao bater com energia no fundo de um copo largo.
Experimentámos acompanhar o jantar com sidra. Bebia-se. No entanto, ainda não superava a que bebemos nos Pirenéus franceses, quando do último passeio organizado pelo Bernard – http://cordeirus.blogspot.pt/2009/07/de-monte-em-monte-nos-pireneus.html 
Regressámos ao hotel sob os últimos pinguitos da noite.

Ver neste formato

DE OVIEDO A COMPOSTELA

De manhã, o grupo dividiu-se: os que iam para o Minho, para Coimbra e Aveiro, para Leiria, para Portalegre e para Lisboa. E ainda os que iam continuar pelo norte de Espanha: por aqui iriam três motos, Marques, Menaus e Cordeiros.  A ideia era ir ao longo das falésias até Ferrol, na Galiza, parando ao fim do dia em Santiago de Compostela. À saída não chovia, mas ameaçava.
À saída do hotel em Oviedo
Voltámos a apanhar chuva durante os primeiros quilómetros mas, pouco depois, já na estrada nacional, o sol retomaria para, em RIBADEO, já estar calor suficiente para rodar sem forros nem luvas de chuva. Perto da marina, as nuvens só já apareciam nos montes afastados e o forte azul do mar motivava continuar por ali. Foi o que fizemos 
No estuário de Ribadeo

Deixámos a estrada da marina e, mais à frente, parámos num miradouro. Da lá, observámos a ILHA PANCHA e o respectivo farol, local de onde se domina o estender da ria de Ribadeo. Dali, conseguem-se vislumbrar também alguns quilómetros de costa e uma praia extensa onde, por estranho que pareça, havia gente a tomar banho. A estrada continua pelo campo, quer próximo da falésia, quer mais para o interior.
Ilha de Pancha, Ribadeo
Alguns quilómetros depois, surgiu um título: CATEDRAIS. Parecia um sítio panorâmico. Era. Ali, o mar tem escavado a rocha de maneira curiosa e, na maré baixa, deixa ver aberturas altas e esguias, semelhantes à configuração das catedrais góticas.
Catedrais, rochas onde o mar esgravata sistematicamente
Parámos. Era para beber café, mas acabámos por almoçar. Depois de algumas dúvidas, escolhemos uma paelha. Desta vez, optámos pela tradição medieval: os homens comeram primeiro, enquanto as mulheres foram às compras.

Continuámos na nacional que margina o Atlântico, quer entre a floresta, quer passando pelas pequenas vilas piscatórias, quer rodando ao longo das rias, a surgirem com mais frequência a partir dali.

NA TERRA DO MATAMOUROS

Chegámos a Compostela ao fim da tarde. Nós optámos pelo HOTEL HUSA UNIVERSAL, a dois passos da zona histórica. Os restantes já tinham reservas para o Parador. Quando nos reunimos, o pôr do sol acompanhou-nos um copo no bar do Parador, onde a dificuldade está mais em escolher a marca da água tónica do que o Gin.

Claustro no Parador
Um dos quartos do Parador













Retemperados, seguimos pelas ruas antigas da urbe, também elas pejadas de restaurantes, quase tantos como peregrinos. Estamos na cidade do santo Tiago, o “matamouros”, centro de devoções e peregrinações seculares. Estar em Santiago é conviver com o ambiente de romagem, mas também com a lenda, com a figura do santo Tiago, o apóstolo guerreiro, que se transformou numa divisa da reconquista da península, quer no Portugal primevo, quer a partir das Astúrias. Aliás, o(s) mito(s) têm muito em comum: tal como reza a lenda da batalha de Ourique, em que Afonso Henriques teve uma visão de Jesus, consta que o santo Tiago ‘apareceu’ perante o rei Ramiro I para o ajudar na Batalha de Clavijo.

Embora não fosse a primeira vez que estávamos em Santiago, nunca havíamos visitado a catedral. Desta vez, seria uma boa hipótese. Contudo, pareceu-nos que o tema religioso já não tem a mesma prioridade de outros tempos, quando, por razões mais arquitectónicas ou históricas – ou devido ao calor – irrompíamos igrejas dentro. Ali, na catedral de Santiago, podíamos visitas as relíquias, obter o Jubileu, casar ou até subir aos telhados. Talvez só a última hipótese interessasse… mas acabámos por não entrar.
A fachada da catedral ao entardecer
Então, ficámos pela praça do Obradoiro, que é a meta dos peregrinos. Envolvida por edifícios históricos, parece circundada por uma tela amarelada resultante da cor das respectivas fachadas. De um lado, a câmara municipal, do outro o Parador, do outro a basílica.
O PARADOR é um edifício de1499, originalmente hospital para peregrinos. O edifício da Câmara, e também da Xunta de Galacia, é de século XVIII. Mais antiga, a basílica, de século XI, domina a praça. Está lá sepultado Raimundo de Borgonha, irmão do nosso Henrique de Borgonha e pai de Afonso VII, primo do nosso primeiro rei Afonso de Henriques.
A CATEDRAL aparecia iluminada pelos últimos raios do sol daquele dia. Nota-se a sua longevidade na textura da pedra e a beleza nos detalhes que trepam ao céu pelas torres estreitas e esguias. Mas é o ambiente da praça, com constante chegada de peregrinos e a respectiva animação, que fazem do lugar o centro da urbe.







 




Durante o jantar numa esplanada, fomos assistindo à passagem de grupos de peregrinos, na sua maioria jovens, bem como ao deambular das pessoas que se dirigiam à praça da catedral e enchem as VIELAS DA PARTE ANTIGA. É de novo a pedra que domina, assim como as galerias que acompanham as casas típicas daquele espaço. O léxico também passa a ser mais familiar. 
De manhã, voltámos à PRAÇA DO OBRADOIRO, cujo acesso é maioritariamente pedestre, exceptuando quem se dirige ao Parador.  Assiste-se a um deambular de gente que a vai animando, é o culminar dos célebres Caminhos de Santiago, lugar de paragem inevitável. Pena é que não haja por ali “gardiens” marroquinos, para ajudar os motociclistas mais devotos...
Ver neste formato

REGRESSO A CASA

Deixamos Santiago durante a manhã. Seguimos pela auto-estrada e parámos antes da entrada em Portugal, numa área de serviço de onde é possível ver a enseada de San Simon, em plena ria de Vigo.
Enchemos o depósito com gasolina a preço mais decente e continuámos a seguir os nossos anfitriões, Zé Marques e Lena, que lideraram o caminho desde Oviedo ao longo da paisagem galega. Despedimo-nos em Aveiro, depois de um cabrito assado no Marujo, em Cacia. Nós descemos com os Menaus e com o vento habitual que começa ali pela Figueira da Foz e nos escolta até casa.


Nota: na Galiza, o percurso foi a Viveiros e não a Betanzos.
Percurso em Espanha