quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Paralelo 39 - Pedrógão, Castelo Branco, Idanha-a-Velha, Penha Garcia e Cáceres

Uma incursão no centro do país – cujo centro geodésico fica sensivelmente em Vila de Rei – pode passar pela região do Cabril. Para lá, vai-se por Tomar e Dornes, por exemplo, ou por Pombal e Figueiró dos Vinhos, melhor caminho mas menos embrenhado no sobe e desce do tapete ondulante do relevo da zona centro.

TOMAR
Entre o castelo e o Nabão



Optando pelo trajecto pela Sellium romana, é o castelo dos Templários que se destaca e continua a dominar a urbe nabantina estando praticamente visível de toda a parte ribeirinha da cidade.
Enquanto o castelo controla a parte alta, o rio domina a parte baixa, onde alguns chorões parecem exclusivos das margens do Nabão, assim como uma grande nora e uma ponte romana com mais de 2 mil anos.
Na Praça da República, voltada para o castelo, está a Igreja de São João Baptista, datada de finais do século XV, cujo excelente portal manuelino aparece encimado por um original coruchéu octogonal.
Passeia-se agradavelmente na parte central de Tomar, de ruas estreitas, planas, arranjadas, algumas pedonais, de traçado geométrico e, entre casas baixas e lojas pequenas, reconhecem-se de vez em quando alguns portais judaicos.

DORNES,
Promontório templário
Mais à frente, numa das muitas curvas da estrada surge Dornes, implantada numa espécie de istmo a parecer esfuracar uma albufeira. Mas é o Zêzere que ali passa e se vai acomodando ao relevo que o margina.
O sítio preserva uma certa aura de mistério, sossego e beleza. A Torre de Dornes, raro exemplo de uma torre de planta pentagonal que perscruta todo o cenário em redor, é disso exemplo.
Desse promontório, onde também pontua a igreja (com origem no século XIII), a vista enche-se com a paisagem em redor, que mistura o verde da vegetação e das águas. Aliado ao cenário, está o silêncio e a tranquilidade que parecem emanar do lugar.


CABRIL,
Paisagem impressionista



Com a tarde a velar-se definitivamente, de Tomar a Dornes, e de Dornes a Pedrógão, o céu apenas raramente se mostrou azul. Por isso, a paisagem desde o miradouro de Nossa Senhora da Confiança, embora excelente e a poucos passos do hotel, também não parecia muito colorida.
Mesmo assim, é uma paisagem perfeita: uma sucessão de montes, com montanhas em fundo, tendo aos pés uma albufeira cujo rio se vê chegar entre o arvoredo. O dia estava escuro, chovia, é verdade, mas nem por isso o horizonte deixava de cativar.
Parecia pintura de um mestre impressionista, num diálogo de pinceladas sombrias que juntava camadas de verdes e azuis mal iluminados por um sol que ficara atrás de nuvens que, nesse dia, tinham vindo para ficar.
O fim de tarde acinzentou-se e o ar humedeceu. A vista sobre a albufeira da barragem, excelente por exemplo desde a piscina, fechou-se em neblina. A solução foi recolher. Estávamos em Pedrógão Pequeno, no Hotel de Montanha.

CASTELO BRANCO
Medieval


Continuando no mesmo paralelo rumo a leste, surge Castelo Branco. É no topo de uma colina que ainda é possível observar o que resta do castelo, que ainda dispõe de um adarve generoso a percorrer um pano de muralhas.
Embora poucos mais vestígios existam do que um torreão, de onde se domina a parte oriental da cidade, da colina do castelo é possível avistar toda a cidade, bem como dezenas de quilómetros dos campos em redor.
Na parte histórica percebe-se a diversidade de ocupações actuais e de que foi alvo: judeus, ciganos, aristocratas, administração, cultura. Muitas das ruas dão acesso às muralhas do castelo, mas para lá chegar há que trepar. 
À noite, descobre-se que a cidade tem pólos novos de atractividade, mercê de intervenções significativas quer na zona central quer na área comercial e de lazer. Dispõe, por exemplo de dois centros comerciais e de uma piscina gigantesca.

IDANHA-A-VELHA
Séculos de vestígios


A caminho de Penha Garcia fica Idanha-a-Velha, a antiga Egitânia romana. Meia dúzia de ruas rodeadas por uma muralha não dizem da riqueza que encerram. Um templo antigo, uma torre templária e a cintura de muralhas é o que de mais cativa.
À porta das casas multiplicam-se buganvílias e as pedras das paredes parecem ter sido limpas recentemente. O chão está irrepreensivelmente limpo talvez até por o trânsito foi condicionado e a circulação automóvel foi restringida com a criação de um parque à entrada.
Há muitos gatos, sobretudo a caminho da torre Templária. Esta, porém, está em muito mau estado de conservação, parecendo votada ao abandono. As muralhas e a porta do antigo burgo foram recuperadas, embora o que se supõe terem sido torres apareça agora em metal.
O edifício mais interessante é a antiga catedral onde se misturam elementos romanos, paleocristãos, visigodos, manuelinos, novecentistas. O interior baixo e austero remete para o românico, cortado por alguns nichos altos e estreitos.
Por fora, as paredes foram “picadas” e, por dentro, o tecto, algumas paredes e o soalho foram recuperados, parecendo que alguns dos frescos estarão a seguir. As escadas interiores foram refeitas – desce-se para entrar - mas em mármore rosa escuro do século XXI...
Antes no interior do templo, hoje no exterior, estão alinhadas / expostas (?) muitas inscrições epigráficas, ainda sem qualquer explicação ou indicação que ajude o visitante a identificar aquele património.  
Até lá e dali para a frente, a estrada vai entre campos dourados e pouco pedregosos, a lembrar mais o planalto alentejano a sul do que a montanhosa Beira Alta a norte. Uma das estradas ainda tem aquele perfil que deixava as árvores que a marginavam colarem as respectivas copas.
O caminho é quase todo plano. A elevação mais notória é o afloramento de Monsanto e, depois, o monte de Penha Garcia.




PENHA GARCIA,
Ninho de Águias



A torre do castelo vê-se de longe, assim como o aglomerado de paredes alvas, muros em pedra e telhados cor de barro. As ruas são estreitas pouco acessíveis a carros. Há um parque de estacionamento inicial e, a partir daí, convém ir a pé, ao longo das ruas íngremes.
É a pé que se trepa às poucas muralhas que ainda circundam a torre do castelo, construída sobre um penhasco, e que deve datar do século XIII. Dali, o panorama é singular. A sul, é a extensa planície dourada que domina. A norte, são as fragas acinzentadas que dão continuidade ao relevo. É praticamente inexpugnável.
Perto, uma parede de barragem trava momentaneamente as águas do rio Ponsul deixando, no entanto, escapar um fio de água suficiente para alimentar uma pequena mas aprazível praia fluvial.
Há um circuito recomendado que liga a urbe ao cimo do castelo, de onde sai um trilho praticamente até à base da parede da barragem, daí até à praia fluvial, para depois retornar à aldeia por vereda aposta à da saída.
Em baixo, logo após a parede da barragem, há cerca de duas dezenas de moinhos de azenha. Significativos são, também, os vestígios de fósseis da Era Paleozóica com cerca de 500 milhões de anos, de quando esta região fazia era um vasto mar de águas baixas, onde nadava uma espécie de organismos que se assemelhavam a serpentes.
O trajecto total deve demorar entre 30 e 45 minutos a percorrer e tem um desnível acentuado. Todavia, devagar e com prudência, faz-se. E, lá em baixo, estão as refrescantes águas do rio Pônsul…



PONTE DE ALCÂNTARA
Por terras de Trajano


A caminho de Cáceres, exceptuando a famosa Falha do Pônsul – uma estrutura tectónica com mais de 300 milhões de anos (da altura em que os continentes europeu e africano colidiram), e o vale provocado pela erosão do rio Ergues, é o planalto que domina.
Aqui, ainda é território Templário. É do alto das muralhas do castelo de Idanha-a-Nova, mandado construir pelo mestre da Ordem Gualdim Pais, que se percebe o desnível da Falha situada a sul. A leste é o afloramento granítico de Monsanto que se observa à vista desarmada.
Segura fica na raia. Ali perto, uma placa no meio de uma ponte separa Portugal de Espanha. Do cimo de Segura, situada numa colina, onde ainda pontifica uma velha torre sineira, vê-se quase até Alcântara ao longo de uma planura imensa.
Mais à frente, já em Espanha, é a ponte romana de Alcântara que surpreende. É uma das raras que ainda mostra vestígios de ter tido portagem e das poucas onde é possivel, hoje em dia, ver a respectiva atalaia.
Construída no século II, percebe-se a importância da via já na era romana. Vista de longe, é imponente, sentida de perto é impressionante. Faz lembrar a ponte de Ronda e, embora a essa seja mais funda, esta é mais comprida.






CÁCERES,
25 Anos de Património da Humanidade
Cáceres é sobretudo a sua bem preservada zona histórica. Muralhas, portas, igrejas, palácios e edifícios administrativos encontram-se irrepreensivelmente preservados. Em Espanha não se arrasou o antigo para construir com gosto duvidoso (mas isto já parece ter sido herança da nacionalidade…).
O acesso faz-se através da Plaza Mayor, uma praça de dimensões generosas ladeada por edifícios baixos com galerias em todo o redor, ocupadas como habitualmente por restaurantes e lojas.
O interior da zona histórica percorre-se em pouco mais de meia hora, mas querendo visitar as igrejas, o centro de interpretação, um ou outro palácio, a visita pode dar para uma tarde.

Parecendo pequeno, o centro histórico encerra, meia dúzia de praças, duas dezenas de palácios, uma dezena de igrejas, além de 3 portas e 3 arcos. Quer no interior, quer nas muralhas, podem contar-se mais de duas dezenas de torres.

Mas, pelas 4 da tarde, o calor é demasiado para continuar a vadiar. Os termómetros marcavam 34 graus à sombra. Ao sol, a pele queixava-se e o corpo suava. É típico da zona e da altura do ano.
A caminho de Portugal, a paisagem pouco se altera. A pradaria estremenha junta-se à planície transtagana e muitos ‘pueblos blancos’ confundem-se com as aldeias alentejanas. As diferenças, essas, notam-se assim que chegamos a Portugal, nos custos da gasolina e das portagens.