quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tapeçarias de Pastrana

Nessa época, já havia cronistas. A crónica era “dourada” pelas palavras e por pequenos desenhos. Nessa altura, já havia telas, mas até estas tinham uma dimensão limitada. A Igreja havia consagrado os seus em telas e, para lhes dar ainda maior dimensão passou a fazê-lo em frescos nas paredes, mas sobretudo nos tectos.
No final do século XV, Afonso V quis ir mais além e consagrar em imagens a conquista das praças de Arzila e Tanger, no norte de África. Para tanto, mandou fazer quatro tapeçarias que representassem essa epopeia. São peças de 10 por 4 metros, que evidenciam as figuras principais, o rei e o príncipe, em tamanho natural, assim como os exércitos em confronto, os locais, as armas.
Apesar das diferentes versões que envolvem a sua saída ou nem sequer a chegada a Portugal – foram elaboradas nas oficinas flamengas de Tournai, ou em Espanha, não chegou a ser entregue a última prestação – a verdade é que as tapeçarias apareceram na Colegiata de Prastana, a cerca de uma centena de quilómetros de Madrid.
Além do aspecto estético, de esse virtuosismo do estilo flamengo, o que esta obra representa é a importância que o rei quis dar aos acontecimentos de que foi protagonista. Por outro lado, percebe-se bem o ambiente da época, quer no vestuário, nos semblantes, nas armas, nos objectos daquele período.
Três das tapeçarias correspondem a um momento da conquista de Arzila, mostrando o desembarque, o cerco e o assalto final. A outra apresenta a conquista de Tanger, entretanto deixada deserta pela população. Curiosamente, numa delas, Arzila parece uma cidade flamenga.
Um aspecto intrigante que me provocou alguma surpresa foi a imagem do estandarte de Afonso V. Esta foi identificada como sendo um engenho de água, parecendo uma espécie de nora colocada na horizontal. Achei estranha a presença de tal mecanismo, mais do que não fosse por ter visto algures uma máquina de combate parecida.
Depois, li isto: “penso haver uma ligação entre estes dois mecanismos, de Anticítera e Rodízio de Afonso V, representado nos estandartes das Tapeçarias de Pastrana, quando comparado com o Astrarium de Giovanni de Dondi(…)." E, mais à frente "O Rodízio nas Tapeçarias de Pastrana - A Invenção da Glória, significa para mim o símbolo de quem possui o conhecimento e domínio da engenharia naval e militar", em http://portugalliae.blogspot.com/2010/11/o-mecanismo-de-anticitera-e-o-rodizio.html.
As tapeçarias estiveram em exposição no Museu de Arte Antiga e depois regressaram a Espanha. Há cópias no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.