segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Livro de Cale


A História desperta curiosidade e estimula a vontade de conhecer o passado. Edifício de acontecimentos antigos confia-nos, grosso modo, o pretérito do factual notório. Porém, vela-se em detalhes e dissimula atributos. Elide aspirações, acções enérgicas de resultados ténues, pretensões de destino obscuro. Confessa alguns segredos, mas apodera-se de mistérios que nunca revela. A História subsiste.
As estórias, por seu lado, encantam-nos o interesse. Confidenciam afectos, sussurram paixões e revelam fraternidades. Abrem trilhos para enigmas, confessam segredos e descobrem mistérios. Exploram ódios, descobrem ganâncias, denunciam ignomínias. Nutrem fantasias e embalam sonhos. As estórias criam-se.

SINOPSE

O Livro de Cale encerra uma História e uma estória. Uma História de Portugal, dos protagonistas, dos ambientes, dos lugares, de episódios marcantes. Uma estória que inventa o percurso de Bernardo Mendes, filho de Nuno Mendes, o último conde portucalense.
“As primeiras referências históricas conhecidas da existência de um Condado Portucalense aparecem ainda em finais do século IX. Todavia, as menções sobre o lugar cuja denominação daria origem ao condado, datam de há cerca de dois mil anos. Com efeito, ainda durante o primeiro século antes da era cristã, o historiador romano Salústio menciona a existência de uma "civitas" identificada como Cale.”
Engendrar Bernardo Mendes não é criar uma personagem. É (muito) mais do que isso. É forjar um ambiente onde vão coexistir soberbas, traições, vilanias, pressões e cobiças, mas também solidariedades, amizades, alianças, amores, abnegações. Marcante é a ambição desmedida de um galego, Mendes Pais, abade de Santo Alberico.
“A estória abre com o prenúncio de um arreganho vicinal aos propósitos portucalenses, procedente de um clérigo beneditino galego, cuja prática política antagoniza a doutrina da Ordem e fere de morte qualquer obstáculo que assome no trajecto da sua ganância de poder.”
O Livro da Cale é, também, um livro. Um livro que contém um repositório da genealogia de insignes portucalenses: Bragançãos, Ribadouros, Sousãos, Maias, Baiãos, aqui também protagonistas da gesta de Bernardo Mendes. São eles que decidem, que provocam, que reagem, que se aliam.
“Contrastante, porém, o aspecto andrajoso do povo - de túnicas grosseiras atadas na cintura com cordões, chapéus de palha e sandálias de correias - com a opulência de certos mercadores e, sobretudo, com a vistosa aparência dos infanções portucalenses - das suas camisas e coletes bordados, pelotes enfeitados com galões e tabardos debruados - à frente dos quais se abriam alas de pedintes e enjeitados”

O Livro de Cale conta a vida de Bernardo Mendes, um rapaz volúvel mas arrojado, um jovem imprudente mas determinado, porém capaz de se transformar num adulto sapiente, empenhado e aguerrido.
“Ágil, virou-se e contra-atacou. Já com outro adversário a seu lado, Bernardo rodopiou e acertou-lhe com o punho da espada. Tentou insistir, mas foi impelido com violência contra uma porta estreita que levava à sala de armas.”
O Livro de Cale está na posse de um infame abade. Bernardo seguir-lhe o rasto até ao mosteiro rival e recuperá-lo-á. No entanto, terá de contar com o apoio de cavaleiros francos, monges-guerreiros, infanções portucalenses, e até de Afonso VI.
“ O segundo, um grupo de vigorosos monges francos, vestidos com rudes hábitos negros sob cotas de malha enegrecidas, desejava fervorosamente punir os réus do morticínio. As hostes do imperador de Espanha e a cavalaria de Cluny juntavam esforços denodados para eliminar os biltres agressores e recuperar o mosteiro.”

O Livro de Cale é também uma colecção de lugares que vão desde as falésias do Douro até ao planalto bragançano, dos terrenos leoneses aos penhascos galegos. Vai de Vallado a Santo Alberico, da raia portucalense ao coração da Galiza. Mas é sobretudo o Douro que testemunha as atrocidades do galego e a resistência dos portucalenses, os atentados mouros e as réplicas dos infanções, as perfídias do abade e o amor entre Bernardo e Mafalda.
“ Do alto, o Douro parecia uma cobra negra, a serpentear entre penhascos. O olhar ondulou-se-lhe pelas silhuetas calvas das serranias, à procura de um de um sinal. Ao longe, apenas frágeis pontos de luz faziam adivinhar vivalma, confundindo os cenários terrenos com o universo celeste.”
No Livro de Cale assomam árabes, galegos, leoneses, francos, portucalenses, berberes. Cruzam-se nobres, validos, monges, infanções, abades, copistas, alferes, governadores, homens de armas, um imperador. Bernardo, de origem nobre, será copista, mestre de armas, emissário.
“Bernardo aprimorava o seu desempenho na função de copista, sendo requisitado frequentemente para trabalhos de cariz mais exigente. No entanto, foi o domínio da interpretação de textos que lhe granjeou notoriedade. Em pouco tempo, passou a fazer parte dos eleitos do grupo de leitura e de reflexão doutrinária.”
É o Livro de Cale que induz, que atrai, que nomeia. É fio condutor de um trajecto que a todos envolve, a quem ninguém é indiferente, do qual ninguém sai ileso. É uma folha gasta que o revela, uma traição que o envolve, uma cilada que o mostra. E é sobre Bernardo que recai a mais perigosa das ameaças.
“— Ficareis a saber tudo aquilo de que necessitais para dar cabo dos energúmenos — assegurou, azedo, o soldado. — Confiai em mim e nos que levo. Desta vez, não falharemos!
— Tenho como alvo importante um dos moços — alertou o primeiro. — É forçoso estar alerta! Consta que tem a língua afiada e a espada pronta. Não o descureis…
— Irei vigiá-lo. A seu tempo, tratarei de o livrar de preocupações — ironizou o outro.”
Com base na genealogia condal e dos infanções portucalenses, o Livro de Cale mostra também a importância das relações de parentesco entre as classes dominantes, de um lado e do outro do rio Minho, mas sobretudo no espaço portucalense.
“— Soeiro — exclamou o de Baião —, tendes o vosso nome neste manuscrito! O de Gonçalo também aqui consta — volveu, surpreso, para o irmão.
Atento, o Maia rapou do escrito que Bernardo lhe tinha dado antes de partir e leu-o sub-repticiamente, acrescentando depois:
— Confirmai também os de Mumadona Dias e de Elvira Mendes — disse, esboçando um sorriso matreiro.”

APRESENTAÇÃO

O convite convocava para uma quinta-feira, às 18 horas. Aconteceu em Lisboa, na loja FNAC, do centro comercial Colombo.
Eu não gosto de falar em público, embora escreva sobre o que faço publicamente. Falar sobre causa própria não é mesmo do meu agrado. Felizmente, o editor d' O Livro de Cale, Francisco Lyon de Castro adiantou pistas sobre o conteúdo do livro e eu limitei-me a tecer alguns comentários particularmente sobre a sua génese.
Estiveram presentes amigos, colegas de trabalho, família, staff da Europa-América. Alguns ainda couberam nas imagens seguintes.



O QUE SE DIZ SOBRE O LIVRO DE CALE


No "Segredo dos Livros"...
O Livro de Cale situa-se no século XI, uma época de crucial importância para a formação da futura nacionalidade portuguesa. A reconquista da península está em curso e os muçulmanos foram rechaçados para sul do rio Tejo. Mas as investidas dos infiéis são frequentes e, infelizmente, têm o apoio de quem os devia combater. Mendes Pais, abade de Santo Alberico, procura, por todos os meios, tornar-se senhor de todo o território da Galiza e Portucale, não hesitando em utilizar todos os estratagemas. Para tal, faz desaparecer Nuno Mendes, legítimo conde de Portucale e prepara-se para fazer o mesmo a todos os seus herdeiros. Mas, para fazer vingar os seus direitos perante o rei de Leão e Castela, Afonso VI, necessita de dar um “jeitinho” à história da família Mendes, através da deturpação do manuscrito que contém as linhagens das famílias nobres de Cale.
É um livro bem escrito, com uma trama bem enquadrada nos acontecimentos históricos da época e versa uma fase da nossa história ainda pouco explorada. Nota-se que é o primeiro romance do autor, porque não tem o traquejo de um Dan Brown, de um Ken Follett ou de um Umberto Eco. Mas é uma obra bem construída, com princípio, meio e fim. Só o final podia ser um pouco mais emotivo; pareceu-me um pouco arrastado e previsível.

Dou os parabéns ao autor e incentivo-o para que continue a escrever romances que nos ajudem a conhecer melhor o nosso passado.
In, http://www.segredodoslivros.com/sugestoes-de-leitura/o-livro-de-cale.html

Nas 'Leituras do Corvo'...
“Um documento que contém os nomes e linhagens de todos os notáveis do condado portucalense. Um plano para alcançar o poder, independentemente das vidas que tenham de ser sacrificadas. E, no centro de toda esta intriga, Bernardo Mendes, que, obrigado a retirar-se para um mosteiro de modo a ser afastado dos interesses de Mendes Pais, acabará por se tornar na figura mais importante de todo o conflito.
É a componente descritiva o elemento dominante neste livro. Não só na caracterização do cenário e da vida quotidiana no mosteiro, mas também no detalhe com que as batalhas são apresentadas e até nas teias que ligam os diferentes elos da conspiração, o autor apresenta, com bastante atenção ao pormenor os elementos que caracterizam cada situação. Isto resulta numa visão bastante completa quer do cenário global quer dos pequenos detalhes.”

Mais detalhes da crítica em

Em 'NLivros'
"Carlos Cordeiro tenta reconstruir os primórdios de Portugal e os acontecimentos que, em certa altura, estiveram por detrás da fundação da nação. A família Mendes é uma das famílias notáveis de Portucale, condado pertencente a Castela e motivo de preocupação por parte do soberano castelhano, Afonso VI, devido às constante incursões mouras.
Nuno Mendes havia sido o último conde de Portucale. Morto em 1071 na batalha de Pedroso, acaba com Nuno Mendes a tentativa de conseguir mais autonomia junto a Castela e começa ai também toda uma movimentação de várias famílias notáveis de Portucale e Galiza onde interesses opostos davam a estes dois condados uma situação de instabilidade.
Bernardo Mendes, filho de Nuno Mendes, envolve-se com a filha do poderoso Mendes Pais, abade de Santo Alberico, que aproveita o facto para acusar Bernardo de violação e obrigar a família Mendes a encerrá-lo no Mosteiro de Vallado. É aí nesse mosteiro que Bernardo, enquanto copista, toma conhecimento de um documento que coloca em causa o futuro do condado, mediante uma intriga tendo em vista a tomada do mesmo.
Embora tenha apreciado o trabalho de reconstrução histórica, este romance não me preencheu as medidas. O autor pega numa premissa válida: um documento secreto. E desenvolve todo um trama que, bem esprimido, não dá em quase nada ou, se quisermos, podia ter sido melhor aproveitado."
Mais detalhes da crítica em

O LIVRO DE CALE NA ANTENA 1

Entrevista na Antena 1, 2ª feira, 13, 11:30 no Estúdio 16. O programa é o À Volta dos Livros, de Ana Aranha, que costuma ir para o ar três vezes por dia. Foi uma conversa rápida, de 5 minutos à volta de O Livro de Cale, reproduzida aqui
http://ww1.rtp.pt/multimedia/area.php?page=podcasts
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Depois, escolher o programa e ir para
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2010-12-15 Uma viagem à Idade Média:foi este o desafio que Carlos Cordeiro fez a si próprio ao escrever o seu primeiro romance histórico...o autor está hoje com Ana Aranha no «À Volta dos Livros». Uma viagem à Idade Média:foi este o desafio que Carlos Cordeiro fez a si próprio ao escrever o seu primeiro romance histórico...o autor está hoje com Ana Aranha no «À Volta dos Livros».1123047_79154-1012152327.mp3

INSPIRAÇÕES...

Na adolescência as obras de Waltert Scott, com "Ivanhoe", e Washington Irwing, com "Contos do Alhambra", já haviam deixado semente.
No culminar dos estudos liceais, a História tomou o lugar da Matemática e reforçou o viveiro dos romances históricos. Depois foi a descoberta de lugares portugueses e estrangeiros na Europa, muitos deles históricos. De moto, sobretudo em Portugal, Espanha, França, Itália e Suíça, percorri alguns circuitos culturais, pré-históricoas e medievais, por necrópoles, igrejas, mosteiros, castelos. Viagens e sítios levam ao Viajar de Moto, Destino Europa, escrito em co-autoria.
Uma revisão de provas no exame de acesso à faculdade foi mãe de um maior apego às crónicas históricas. Depois, sobreveio uma paixão antiga das estórias da História. Empolgaram-me os épicos clássicos portugueses, alguns relidos. Alexandre Herculano passa a ser um autor estimulante e, Eurico, O Presbítero, o livro inspirador. Os Arco de Santana, O Bispo Negro, A Morte do Lidador, juntam-se às “História de Portugal” de Oliveira Marques, Oliveira Martins, José Mattoso.
Associo-lhes leituras de clássicos da Antropologia sobre parentesco, política, religião e etnografia. Leio sobre sobre grupos sociais, transmissão dos direitos de linhagem e a sua influência na dinâmica das relações sociais, nomeadamente na época medieval.
Invento personagens, adapto locais, imagino cenários. Muitos identificam-se facilmente atendendo às fontes históricas, outros percebem-se acudindo à ficção histórica, outros ainda nem vislumbro como surgem. Vou escrevendo ao sabor da inspiração em lugares suspeitos, sobretudo em suportes papel. Eis alguns... de onde emerge O Livro de Cale.



... E APOIOS 


Fantasias, ajustes, referências, ou qualquer elemento de invenção não fariam sentido sem uma leitura atenta, crítica, dedicada, relacional, científica. Ter socorro nesses aspectos é um luxo. Ter a Maria Afonso como assistente editorial a fazê-lo é um privilégio.

http://www.aminhalindalavandaria.blogspot.com/



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Grutas do Poço Velho

Esperamos na fila. Na nossa vez, colocamos um capacete desinfectado na cabeça. Depois, ouvimos explicações de segurança e a resenha das informações mais importantes sobre a gruta. Descemos meia dúzia de degraus e entramos na cripta.
Só raramente a gruta é aberta ao público. Desta vez, a oportunidade surgiu no final de Setembro. Embrenhámo-nos na caverna quase uma hora depois de termos chegado ao fim da fila. Nessa altura, tinha cerca de trinta metros, mas rapidamente atingiu meia centena.
As grutas do Poço Velho situam-se em Cascais, no largo das Grutas. Foi já em meados da segunda metade do século XIX que foram exploradas por Carlos Ribeiro. Este encontrou um espólio funerário importante, parte do qual se encontra no Museu Castro Guimarães, em Cascais.
Entra-se por uma porta gradeada após um alpendre. A entrada é estreita, a descer em degraus mas o ambiente está claro. É o ocre que domina, iluminado por holofotes e lâmpadas brancas montadas em sequência e ligadas por uma espécie de cordão umbilical que atravessa toda a gruta. O percurso é curto, baixo e sinuoso, mas consegue ver-se bem onde pomos os pés.

No neolítico, o sítio era uma necrópole. Ainda são notórios os espaços destinados à colocação dos defuntos, uma espécie de nichos cavados na rocha sedimentar, a meia altura do corpo. Observa-se que a muitas destas criptas não são naturais, tão semelhantes e alinhadas que aparecem.
São cerca de 40 metros, alguns dos quais têm de ser percorridos de cócoras. Há obstáculos naturais que dificultam a progressão mas, com extremo cuidado – sobretudo para não bater nas paredes – é possível percorrer o trajecto sem o estragar ou danificar o vestuário.
Há dois ou três níveis na gruta. Algumas passagens são exíguas e obrigam a emagrecer rapidamente. Dos lados, mais à esquerda do que à direita, notam-se muitas reentrâncias, com acesso vedado mas suficientemente grandes para poderem ser exploradas.
Desce-se ligeiramente até à saída. Percebe-se que se sobe mais degraus para sair do que para entrar. O percurso não é aconselhado a quem sofra de claustrofobia. Mesmo assim, o trajecto faz-se em cerca de 3 minutos, pelo que a sensação de recluso não chega a ser convincente.

Tapeçarias de Pastrana

Nessa época, já havia cronistas. A crónica era “dourada” pelas palavras e por pequenos desenhos. Nessa altura, já havia telas, mas até estas tinham uma dimensão limitada. A Igreja havia consagrado os seus em telas e, para lhes dar ainda maior dimensão passou a fazê-lo em frescos nas paredes, mas sobretudo nos tectos.
No final do século XV, Afonso V quis ir mais além e consagrar em imagens a conquista das praças de Arzila e Tanger, no norte de África. Para tanto, mandou fazer quatro tapeçarias que representassem essa epopeia. São peças de 10 por 4 metros, que evidenciam as figuras principais, o rei e o príncipe, em tamanho natural, assim como os exércitos em confronto, os locais, as armas.
Apesar das diferentes versões que envolvem a sua saída ou nem sequer a chegada a Portugal – foram elaboradas nas oficinas flamengas de Tournai, ou em Espanha, não chegou a ser entregue a última prestação – a verdade é que as tapeçarias apareceram na Colegiata de Prastana, a cerca de uma centena de quilómetros de Madrid.
Além do aspecto estético, de esse virtuosismo do estilo flamengo, o que esta obra representa é a importância que o rei quis dar aos acontecimentos de que foi protagonista. Por outro lado, percebe-se bem o ambiente da época, quer no vestuário, nos semblantes, nas armas, nos objectos daquele período.
Três das tapeçarias correspondem a um momento da conquista de Arzila, mostrando o desembarque, o cerco e o assalto final. A outra apresenta a conquista de Tanger, entretanto deixada deserta pela população. Curiosamente, numa delas, Arzila parece uma cidade flamenga.
Um aspecto intrigante que me provocou alguma surpresa foi a imagem do estandarte de Afonso V. Esta foi identificada como sendo um engenho de água, parecendo uma espécie de nora colocada na horizontal. Achei estranha a presença de tal mecanismo, mais do que não fosse por ter visto algures uma máquina de combate parecida.
Depois, li isto: “penso haver uma ligação entre estes dois mecanismos, de Anticítera e Rodízio de Afonso V, representado nos estandartes das Tapeçarias de Pastrana, quando comparado com o Astrarium de Giovanni de Dondi(…)." E, mais à frente "O Rodízio nas Tapeçarias de Pastrana - A Invenção da Glória, significa para mim o símbolo de quem possui o conhecimento e domínio da engenharia naval e militar", em http://portugalliae.blogspot.com/2010/11/o-mecanismo-de-anticitera-e-o-rodizio.html.
As tapeçarias estiveram em exposição no Museu de Arte Antiga e depois regressaram a Espanha. Há cópias no Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Espanha Árabe

Se pudesse escolher uma imagem que ilustrasse o tema da Espanha Árabe teria sido uma da Mesquita de Córdoba, um dos monumentos que representa o legado arquitectónico árabe em Espanha. Outra do Alhambra, das Alcabazas de Málaga ou Sevilha, também seriam elucidativas dessa riqueza estética. Porém, a opção recaiu num enlace entre essa excelência, o gótico e o barroco, representados na torre da Catedral de Sevilha.  
A ideia deste périplo era ir ao encontro sobretudo da arte que os árabes deixaram em Espanha. São três séculos em que o Al Andaluz recriou a arte visigótica, contribuiu para a invenção do mudéjar, produziu o nazari e deixou muitos elementos arquitectónicos de uma beleza incomparável.
Mapa do passeio á Espanha Árabe
Embora utilizasse materiais pobres, o efeito decorativo que obteve foi de uma opulência ímpar. Facilmente reconhecidos, o arco de ferradura (de origem visigótica) e o arco lobolado, são os mais característicos da arte árabe em Espanha.
Exemplos desta arte tão fascinante são a mesquita de Córdoba, o palácio de Medina-Azahara, e a imponente Alhambra de Granada. Falhámos o primeiro, o segundo não estava planeado, mas dominamos o terceiro.

Previsto

A proposta fechou-se com a visita a uma mesquita, um alcazar e duas alcazabas. Faríamos paragens de descanso e visita em Jaen (castelo), em Nerja (miradouro) e, perto de Marbelha, na marina de Jose Banus. Não cumprimos tudo, mas pareceu-me que ficámos com uma noção abrangente do que pretendíamos.
Fugimos em tempo oportuno do temporal. De Lisboa, diziam-nos que a manhã de tempestade já criara problema na "Baixa". No Caia, porém, sentimos especialmente frio, mas não chovia. Aliás, o céu mostrava-se auspicioso a caminho de Espanha. No entanto, como era costume dizer-se, "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento". Desta vez, porém, seria apenas o vento.
Proveitámos estar perto e fomos visitar o Ricardo. É português, mecânico de motos, possui uma oficina em Badajoz e teve uma história de vida agreste. Trabalhou com o Armando Borges e o destino levou-o a Espanha onde, agora, vive dividido entre a família e a mecânica das motos. Há anos que não nos víamos. Um salutar encontro.

Chegámos por vagas ao restaurante, em Zafra, onde havíamos combinado reunirmos todo o grupo. A maioria já tinha chegado ao Ramirez. Depois apareceram os restantes. Serviram rapidamente, mas a comida não convenceu. Mesmo assim, demorámomo-nos e saímos mais tarde do que o previsto. Passámos pelo Parador – um castelo apalaçado do século XV – e perdemos um bocado de tempo para abastecer.
Serviço rápido nem sempre é sinónimo de boa cozinha
Como não há viagem sem um desencontro, o Quim e o Arlindo lá foram andando, tendo sido os primeiros a chegar a Córdoba. Para lá, as planícies estremenhas mostraram-se frescas, ventosas, monótonas, mas com bom piso, curvas largas e pouco trânsito.
Choveu, mas nada de especial. Parámos antes de Córdoba para acordar com um café e entrámos na cidade próximo da zona industrial para, depois, nos abeirarmos do Guadalquivir que serpenteia pelo burgo.


Aquele habitual caos saudável 
O acesso ao hotel – e também à Mesquita – estava vedado devido a obras. Esse facto obrigou-nos a passar para a outra margem, o que nos deu a possibilidade de poder observar de longe a parte histórica ao longe.

À volta da Mesquita

O hotel ficava exactamente no limite dessa zona histórica. Arrumámos as motos na garagem subterrânea – exceptuando a de Málaga, todas as garagens eram subterrâneas – e tivemos conhecimento pela primeira vez de que seria difícil visitar a Mesquita.
Saímos a pé. Estávamos a cerca de 800 metros do monumento. Apanhámos uma das muitas ruas apenas destinada a peões, cada vez mais frequentes nos centros históricos das localidades espanholas, e fomos até ao turismo, situado numa praça simpática também exclusiva para peões.
Aí, advertiram-nos de que a visita à Mesquita não tinha vagas… até 5 de Novembro! No email, haviam dito apenas que não reservavam. Mesmo com visitas nocturnas, não havia hipótese de visitar o ex-libris de Córdoba. Ficaríamos pelo exterior, vedado que estava o acesso ao interior da mesquita.
Jantar em camisa, num pátio, em Córdoba, no final de Outubro
Sem essa condição, demos prioridade ao jantar. Fomos para a judiaria. Encontrámos um restaurante com pátio andaluz e jantámos sob um tecto de tecido que o cobria. O “rabo de boi” foi um sucesso.
Depois, partimos a caminho da Mesquita. Chuviscou e ninguém quis arriscar uma gripe. Nós aventurámo-nos nessa tempestade de segundos. Ficámo-nos pelas paredes exteriores da mesquita ao longo da dezena de portas em estilo árabe que dão acesso ao interior.
A dois passos, fica a ponte romana dominada a norte por uma porta e a sul por uma torre. A primeira, a Porta do Poente, estava em obras. Perto, um museu junta memórias das culturas muçulmana, cristã e judaica. A segunda, a Torre de Calahorra, do outro lado da ponte, destinava-se a proteger a entrada na cidadela.
Depois, arremetemos para as muralhas que ficam perto do Alcazar. Fomos desde a porta de Sevilha até à de Almodóvar e perdemo-nos por ali. A Julieta conseguiu reconhecer o local por onde entrámos – a avenida do parque – e conseguimos recuperar o trajecto até ao hotel.

Do cimo de Jaen

Na manhã seguinte, saímos perto das 9 da manhã. Estava enevoado a prometer chuva. Esta tombou pouco antes de Jaen mas sem convicção. Não tinha sido aquele itinerário que havia delineado, mas pareceu-me que seria mais interessante do que optar pela autovia.

Por isso, rodámos pela “nacional” entre colinas e mais colinas. Tantas, que ao fim de uma quantidade de quilómetros a indicação de Jaen ainda não aparecia. Saímos para um desvio para verificar o mapa. Foi a polícia que nos confirmou estarmos no bom caminho. 
Perto de Baena foi preciso confirmar o caminho
O frio manteve-nos atentos e a convidar a um café. Fomos tomá-lo ao castelo de Santa Catalina. Este domina toda a cidade que parece um tapete de telhados aos pés do cerro.

 Na verdade, são 3 castelos, de épocas diferentes, que se juntam através da parte ocupada pelo Parador. As origens remontam ao período de ocupação árabe, mas também foi abrigo de uma guarnição de soldados franceses de Napoleão.  
O bar do Parador de Jaen
A leste do cerro, onde as muralhas são mais elevadas, é onde se reconhece quer a sua antiguidade quer vestígios da ocupação oitocentista. É a parte visitável e de onde é possível vislumbrar com um olhar panorâmico toda a cidade. Fiquei a saber que o castelo está a 820 metros no topo de um penhasco do mesmo nome.  
Jaen aos pés do castelo de Santa Catalina
Na parte do Parador é onde os salões mais impressionam pela dimensão, os objectos de decoração surpreendem, os materiais deslumbram e o requinte deste tipo de hospedagem melhor se nota. O tecto do salão feito com os habituais pequenos tijolos árabes é excelente. Também notável, o preço do café igual ao da área de serviço de Montemor.

Alhambra imprescindível

Descemos o cerro, metemos gasolina e apanhámos a via rápida que leva a Granada. Foi rápido. Dai a pouco estávamos no periférico que circunda grande parte da cidade. Esperava-nos uma valente fila de trânsito, aparentemente devido a obras numa das avenidas principais. Fomos entrando com alguma dificuldade e quase todos chegámos ao hotel pelo mesmo sentido.
Depois, foram duas ou três rampas para estacionar as motos em três exíguos lugares para carros numa garagem sob o hotel, onde conseguimos arrumar as 9 motos. Pagámos 17 euros por cada uma, o estacionamento mais caro da jornada, mas apenas ocupámos 3 lugares de carros. Alguém disse que devíamos ter estacionado cada moto num lugar de carro.
Duas horas à mesa num bar a romper pelas costuras
Não tardou em darmos três passos e abancarmos no primeiro bar. Uma tapa puxou outra e só nos levantamos quase ao fim de duas horas, tão demorada estava a cozinha. Foi a refeição mais demorada da joprnada, mas também a mais barata, já que a ficámos a dever aos três resistentes que aguentaram ainda mais_não_sei quanto tempo à espera da conta.
Daí a pouco, um representante do operador espanhol aparecia para nos informar sobre a visita ao Alhambra. Como ameaçava chover, apanhámos 3 táxis e lá fomos. Subimos por entre ruas estreitas onde os lugares de estacionamento são exclusivos de quem tem garagem. Mas ainda não eram as vielas do bairro Albaicín.
Entrámos no Alhambra pelos jardins/hortas, avançámos para os vestígios da zona residencial e chegámos ao palácio mandado construir por Carlos V. Este é uma jóia de arquitectura que foi buscar inspiração aos clássicos gregos e romanos, a contrastar com o envolvimento de estética árabe que o envolve. Dizia-se que era um palácio para a eternidade. Para lá caminha.

No pátio do Palácio de Carlos V
Apesar da cor já não ser notória ou estar ausente, quer os “arabescos” (o habitual baixo-relevo com inscrições corânicas), quer os arcos polilobados, lanceolados ou em ferradura (os mais frequentes na arquitectura árabe) dominam o espaço edificado. Só raramente se notam alguns azuis, dourados ou vermelhos, Julgamos que podemos imaginar o que seria a coloração de todas a aquelas superfícies, mas acho que nos enganamos.
Nos tectos, ainda se notam pequenos espaços pintados de azul
A paisagem que se abarca das janelas cai sobretudo sobre os bairros alcantilados. Para sul, é o cenário da serra Nevada que domina. Embora não o tenhamos visto, o pôr-do-sol costuma ser arrebatador. Mas, para o observar, é preciso trepar às muralhas junto da zona militar. De preferência no Verão.

No pátio das recepções, onde a ilusão dominava
Tivemos o privilégio de contar com uma guia que falava português do Brasil e nos evidenciou alguns dos detalhes mais interessantes do complexo. Acompanhou-nos depois ao longo das muralhas. Mesmo assim, não acedemos nem à zona militar nem aos jardins do Generalife que ficavam mais afastados da entrada.     
Pátio dos Leões, mas cujos felinos, após recuperação da pedra (ainda) estão expostos na sala contígua 
Depois percorremos a orla do bairro Albaicín, numa rua que o separa do monte e das muralhas do Alhambra. Foi lá que bebemos um aperitivo, antes de descermos à zona histórica, num bar que passava flamenco num televisor. Ali perto, era grande a profusão de lojas com objectos decorativos "made in Morocco". 

A catedral estava aberta, a aguardar por um casamento. Porém, foi a animação das ruas que surpreendeu. Estávamos a chegar ao Halloween e a movida jovem já invocava os deuses primitivos aos berros calles acima e abaixo.
Vista sobre o bairro Albaicín desde as janelas do Alhambra
Jantámos no “Centro de Granada”, um restaurante situado numa simpática praça da zona antiga da cidade, que parecia ter sido assaltada por pequenos pássaros que chilreavam no topo das árvores. Estava fresco, mas não chovia. Depois de um passeio pelo centro histórico, ainda sobraram pernas para alcançarmos o rio e acabarmos a caminhada entre pontes.

Ao sol no Balcon de Europa

Esperávamos que a Serra Nevada nos gelasse, uma vez que íamos rodar no sopé ao abrigo do sol que, naquela manhã, não apareceu. Depois, esperar-nos-ia a vertente mediterrânica da serra, com uma altitude significativa. No entanto, o frio não foi além do razoável, mesmo que tenhamos estado a dois passos de cumes nevados.

Parece Verão em Nerja
O que surgiu bravo foi o vento, sobretudo nos muitos viadutos que atravessámos a caminho de Motril. Abrandou, assim que atravessámos aquela localidade costeira, mas regressou mal tomámos a via rápida para Nerja. Disseram-me que a Pan estava a fazer um ângulo de 45º com o asfalto, um autêntico veleiro.
No Balcon de Europa com a típica paisagem mediterrânica
Deixámos as motos num parque de estacionamento próximo da zona de circulação pedestre que leva ao “Balcon de Europa”. Trata-se de um promontório mandado fazer pelo rei Afonso XII, que lá tem uma estátua em bronze. O sítio é desafogado e permite vislumbrar muitos quilómetros de costa, pequenas praias e o cenário alvo das casas penduradas nas escarpas.
Nerja
Na Alcazaba de Málaga

Regressámos à estrada da ventania. Só na zona urbana de Málaga o vento nos deixou. Rodámos sempre perto uns dos outros e, quando chegámos juntos ao hotel Bahia de Málaga, a porta da garagem já se abria devagar.

Almoçámos ali perto e, como habitualmente, saímos a pé para a zona histórica por volta das 4 da tarde. Parámos a meio percurso para assistir ao streep tease de uma palmeira provocado pelo vento e a um convívio musical de imigrantes de leste.  
Uma das simpáticas pequenas praças na zona histórica
Optámos por subir à Alcazaba, ao longo das duas plataformas / jardins que levam aos aposentos do sultão, onde dominam os pátios, a água e sobretudo uma excelente varanda que serve de miradouro. Desta vez, uma dançarina e um músico animavam o que presumo ter sido uma imitação pequena do Pátio dos Leões do Alhambra.   
À entrada da Alcazaba, em Málaga
À saída da Alcazaba apareceu um autocarro do tipo "city tour". Foi impulsivo. Corremos para lá como se fosse o último comboio do dia. A volta vale a pena: percorre vários bairros, passa pelo porto e pela praça de touros, trepa ao castelo. Mesmo com a cara gelada da brisa ao anoitecer, e os ouvidos arranhados pelo som embrulhado dos auscultadores chineses, ficámos a conhecer a cidade de alto a baixo. 
Ver Málaga desde o sótão do autocarro
Tal como os anteriores "cascos viejos", também este possui várias ruas exclusivas para peões. A partir daqui percebemos que, tal como os de Córdoba ou de Granada, também neste centro histórico a zona edificada havia sido criteriosa e praticamente toda recuperada: as pedras limpas, as paredes pintadas, os estores substituídos, as estátuas limpas, o piso melhorado. Semelhante a alguns centros históricos nacionais, protegidos por milagre. 
A única torre acabada da Catedral de Málaga
Entrámos para um aperitivo no Puerta Oscura, um bar decorado à antiga, onde fomos pondo em dia as novidades do périplo e antecipando o dia seguinte. Voltámos às ruas sem trânsito do centro histórico onde a animação do Halloween estava em crescendo.
Espanha mantém o gosto pela estatuária
Desta vez, o jantar foi num primeiro andar, num restaurante decorado com o tema do cinema e acompanhado ao piano por uma estranha personagem. Segundo me confidenciou um dos empregados, quando eu observava uma primitiva máquina de filmar, o restaurante pertence a Antonio Banderas. Não era difícil adivinhar: os preços estavam de acordo com os cachets do actor.
Os espanhóis levam o Halloween a sério. Até os pianistas...
Espanha Árabe 1 - De Zafra a Ronda
Música: Yanni, Aria

Em busca de El Chorro

De manhã, o dono do hotel aconselhou-nos a alterar o roteiro. Estava previsto irmos beber um café a Puerto Banus, logo a seguir a Marbelha. Depois, "subiríamos" para Ronda, pela estrada que trepa a montanha. Disse-nos que estaria muito vento, muito trânsito e contaríamos com muitas motos a descer de Ronda, o que podia ser perigoso. O melhor seria optar pela região de Ardales e El Chorro em plena Rede Patrimonial de Guadalteba. A estrada não teria tanto trânsito e a paisagem seria fabulosa. Era tentador.
Dizia, a lápis: "Ardales, embalses, El Chorro"
Rabiscou algumas indicações num mapa tirado da net e pegou na GS 1200. Depois, deixou-nos na saída de Málaga, sem perceber que o nosso grupo se havia dividido entre os que queriam cumprir o percurso e os que acabariam por ir à descoberta. Daí a pouco, estavam 4 motos - 2 ST's e 2 STX's - a caminho do parque natural e seis STX's rumo à zona costeira. Seis a quatro, ganhavam os "solteiros". 
Ardales
Aliás, desde cedo se organizaram 2 grupos: o dos "casados" e o dos "solteiros". Se bem que no almoço do primeiro dia tenha sido conjunto, só em Málaga voltámos a almoçar juntos. As refeições estavam programadas em regime livre, o que nos dava toda a liberdade de escolha gastronómica.
Pizarra: o que se vê desde a falésia
Acabamos por verificar que a sugestão viária, mas sobretudo a paisagística, havia sido excelente, mas também por saber que não tinha havido vento na estrada costeira e o trânsito não iria além do habitual. Além disso, o tempo estava bom junto ao Mediterrâneo. Um falso alarme, à espanhola.  
António Carvalho em Pizarra
A sugestão apontava El Chorro como local a visitar. Não demos com ele. Em vez disso, embrenhámo-nos na montanha a caminho de Bobastro, a cidade de Omar Ibn Hafsún, um povoado muralhado dos séculos IX-X, onde ainda são visíveis as ruínas de uma basílica. Os vestígios ficam na alta montanha e é preciso trepar em terra até lá. Não estávamos apresentáveis para tanto.
Estava frio no cimo de Pizarra 
Por isso, fomos mais para a frente, até a estrada terminar junto de uma casa situada logo após uma represa. Ladrava um cão, não havia café e estava um frio de rachar. Mas a paisagem era soberba desde aquele píncaro, um misto de Picos de Europa e Pirenéus. Estávamos num sítio que o "google" identifica como Pizarra, que deve ter como tradução algo semelhante a "gelo"... 
A zona de Pizarra, já próxima do fim do mundo...
   Na Ponte Nova de Ronda


Voltámos para trás e fomos até Ardales beber café. Daí para a frente, a estrada estreitou, ma o piso não se alterou. Deste lado, também nos cruzámos com bastantes motos. Suponho que Ronda seja um destino privilegiado de motociclistas, quer pela beleza do sítio, quer pela estrada plena de curvas que lá chega, quer desde Marbelha, quer desde Ardales. Foi lá que há anos vi duas motos com matrícula japonesa.

Nas tapas, em Ronda
Como não é possível estacionar nas proximidades da ponte, arrumámos a motos num parque exclusivo para as duas rodas, mas que já estava praticamente cheiro. Daí a pouco, chegavam 3 ingleses com trails e mais um espanhol com uma chooper. Algumas motos ficaram numa rua sem trânsito. De lá ao centro foi um ápice. Há sempre lugar para uma moto. Neste caso, para meia dúzia.
Um pequeno palácio na falésia de Ronda
Quem gosta de contrastes, gosta de Ronda. A ponte é o seu ex-libris, um monumento de pedra do século XVIII que liga a parte antiga, a sul, à parte nova, a norte. Andámos de um lado para o outro, atraídos pelo precipício a fotografar o declive, os pombos, o declive, as casas "colgadas", o declive, o fio de água que corre no fundo, o declive, os pequenos palacetes, gente a trepar a fraga. Arrebatador, aquele declive, medonho o precipício!
A famosa Ponte Nova de Ronda
Aos pés da cidade, para poente, um vale esverdeado de vegetação baixa mostra o quão alto estão os dois penedos. Pouco depois, volta-se a notar as silhuetas de outros montes. Para leste, a montanha reaparece ali próximo quase como muralha que separa Ronda do Mediterrâneo. Parece cercado o burgo, mas nem por isso está isolado.

O pequeno ponto vermelho é um escalador,
dos muitos que trepam a falésia próximo da ponte

O centro de Sevilha está deslumbrante

À medida que nos aproximamos de Sevilha a campina volta a dominar, a envolver a estrada nacional, de bom piso e pouco trânsito. Foi assim que entrámos na capital andaluza e, em pouco tempo, chegámos ao hotel Dom Paco.
No topo do hotel a espreitar o cocuruto de Sevilha
Liguei ao outro grupo, mas não consegui estabelecer contacto. Mensagens também não saiam. Entretanto subimos ao telhado onde talvez se pudesse garantir melhor rede, mas a comunicação não melhorou. No entanto, descobrimos uma piscina e um cenário que mostrava os telhados de Sevilha, aquela hora a exporem-se em silhueta.
Telhados de Sevilha
Deixámos o hotel a pé ainda com a luz do dia a iluminar o bom tempo. Estávamos a cerca de mil metros da catedral que percorremos ao longo das ruas estreitas que levam até ao centro histórico. Entrámos na maior catedral de Espanha, mas apenas tivemos acesso a meia dúzia de metros quadrados no interior.
O fim do dia projectado no campanário
Fora, já tinha sido notório a qualidade da recuperação urbana que os bairros típicos que circundam a zona histórica apresentavam. Quer as ruas, quer os prédios, pareciam novos, com as cores fortes a sobressair num céu azul de bonança.
A maior parte do centro histórico foi alvo de substituição do pavimento. Este está agora sem desníveis. Sobre carris, passa uma espécie de metro de superfície pelo meio do trânsito pedestre. As fachadas dos prédios estão irrepreensivelmente limpas.  
Pátio do hotel Afonso XIII
Aproveitámos para entrar no hotel Afonso XIII, uma jóia de arquitectura, construído no final dos anos vinte do século passado, que espelha bem o traço cuidado da herança árabe da Andaluzia. À entrada, as cinco estrelas estavam acompanhadas pelas letras “G” e “L” (iniciais de Grande Luxo) dizem muito do que se pode encontrar no interior.
Catedral de Sevilha, a maior de Espanha
Depois, voltámos à rua no intuito de procurar um restaurante para jantar. A escolha caiu sobre o Dom Raimundo, um espaço que mais parece uma loja de antiguidades, e que alia um bric-a-brac de objectos a um menu bastante diversificado. Aqui, a garrafa que escolhemos inicialmente para acompanhar a refeição também pareceu fazer parte mais da lista de antiguidades do que da carta de vinhos.

Dom Raimundo, entre a restauração e a antiguidade
De manhã estava fresco mas ensolarado. Deixámos Sevilha em bandos. Uns sairiam mais cedo a dois, outros mais tarde sozinhos, outros ainda mais tarde mas em grupo. Nós acompanhámos os primeiros quilómetros destes últimos até perto de Las Pajanosas. Abastecemos pouco depois e só voltamos a fazê-lo em Badajoz. Comemos qualquer coisa na área de Serviço de Montemor e a meio da tarde estávamos de regresso a casa. Nós e os restantes. 13 à partida, 13 à chegada. 
O grupo dos "solteiros" deixa Sevilha
Nota: As fotos anteriores a Ronda foram cedidas pelos participantes, já que um dos cartões SD onde fotografei e filmei não quis devolver as imagens

Espanha Árabe 2 - Sevilha
Música: Yanni, Deliverance