Há um não-sei-quê de fascinante nas ruínas. Sejam elas de antigos castelos, baterias de costa ou, pura e simplesmente, edifícios. A Quinta da Arealva é um caso desses. Está entre o cais do Ginjal e praticamente aos pés do Cristo Rei e fica na continuidade do Cais do Olho de Boi.
Trata-se de uma uma antiga propriedade agrícola dedicada à produção de vinho. Tem vários acessos: desde o Ginjal, desde o Cristo Rei ou desde o Museu Naval. Eu optei por descer para o Cais do Olho de Boi.
Estacionei junto de uma antiga fábrica conserveira e perguntei a uma senhora que estav na proximidade se bastava seguir em frente. “Sim, é sempre em frente, passa o portão e precisa ter cuidade, isso está muito estragado!”, disse, com ar conhecedor.
Ultrapasso o portão e fico com a falésia à esquerda e o Tejo à direita. Dou os “bons dias” a quem me pareceu sair de uma pequena casa, degradada, e continuo. Daí a pouco, já estou à vista de um conjunto de edifícos em ruínas.
A vista para Lisboa, e não só, é deslumbrante. Vai quase até Cascais. A ponte 25 de Abril está ali quase em cima dos olhos. Alcântara parece estar a dois passos. Mas as ruínas estão muito degradadas.
Há grafitos por todo o lado e as madeiras há muito que mal suportam chão e telhas. É perigoso aceder ao interior dos edifícios. Mais abaixo, percebe-se a existência de uma espécie de eira em cimento, vasta mas também degradada.
Em certos sítios, a vegetação tomou conta do chão ao telhado, quando o há. Alguns soalhos já ruiram e mostrama existência de caves. Há um miradouro, quase ttalmente coberto por vegetação.
Pelo que consta, esta antiga proriedade, incluia diversos edifícios. Um palácio, armazéns, tanoarias, cais fluvial, estaleiro, residências e uma ponte. Algumas construções datam do século XVIII e seguem o estilo pombalino.
A quinta teve origem no Forte da Pipa, construído no século XVII como parte do sistema de defesa do Rio Tejo. Abandonado no final do século XVIII, o forte foi transformado em residência e centro de produção vinícola.
A propriedade tornou-se importante na região e chegou a ser habitada pelo nobre irlandês João O'Neill, que mandou construir uma capela dedicada a São João Baptista. Já durante o século XIX, a quinta foi integrada na Sociedade Vinícola Sul de Portugal.
Mais tarde, o complexo foi abandonado, vandalizado e sofreu um incêndio, ficando em ruínas no início do século XXI. Há uma década, ainda acolheu festivais de música eletrónica.
Quando saí, voltei a encontrar a mesma senhora que me havia indicado o acesso à antiga quinta. É uma moradora, vizinha do complexo. Queixa-se do abandono do local, onde a polícia não passa, e que já foi alvo de furtos.
Resumiu a estória do complexo e sabia que, nos últimos anos, apesar de terem surgido diversos interessados em avançar com projectos, nenhum se realizou. Actualmente sabe que há um grupo económico interessado em toda a área que vai do Ginjal ao sopé do Cristo Rei.
Será desta?
Este lado do rio, junto à margem, pouco sol recebe. Havia muita humidade na estrada o que para as duas rodas não é muito tranquilo. Porém, quer o panorama que se vislumbra na subida /descida, bem como a singularidade do lugar valem a visita. Enquanto não for um complexo hoteleiro de topo…