Há gente com sorte. Com a sorte de poder ir ao Japão, de visitar Tóquio, de estar lá em pleno Festival das Cerejeiras, de passar pelo Parque Ueno no dia em que milhares de famílias japonesas, colegas de trabalho e amigos se reunem para fazerem um imenso piquenique.
Ainda com a sorte de ver as cerejeiras em flor, ao longo dos canais, nos parques, junto de edifícios icónicos, de monumentos notáveis, em redor dos lagos, de dia e de noite. Mas não apenas em Tóquio. O Festival das Cerejeiras, Sakura Matsuri, é um dos festivais mais famosos do Japão.
Estamos no início de Abril, a melhor época para visitar o país, sobretudo no intuito de lá estar para o Festival. Fazê-lo nos parques ajardinados japoneses é uma mais valia. Mas os jardins japoneses são mais do que a época de florescimento das cerejeiras.
Os japoneses têm particularidades na apropriação e ordenação do espaço. Sabem usar sabiamente o espaço e torná-lo meticulosamente organizado. Tudo parece estar no lugar certo. Tudo parece ter sido feito com um propósito. E foi.
O que parece por vezes alietório, tem a mão da cultura. Até o que parece puramente natural tem intervenção humana. E vice-versa: a natureza é, também, uma formatadora. É desse “oportunidade” que a cultura se apropria.
A interacção entre a natureza e a cultura está sempre patente na concepção dos jardins japoneses. Em variadíssimos aspectos. Nas repentinas mudanças de trajectos e/ou na dimensão do caminho, bem como nos enquadramentos que consideram o horizonte como parte do espaço.
Os japoneses conseguem dimensionar o espaço de modo a que as ilusões de proximidade ou afastamento, de limitação ou extensão, se acerquem da realidade. Mas não é só a dimensão que cria sensações. Os elementos naturais também têm um papel importante no maneio do espaço
A água é um dos elementos que está frequentemente presente nos parques. Não apenas a água parada dos lagos, ou a que proporciona superfícies que espelham a proximidade, por exemplo, mas também o fluxo da água que cria movimento e som.
As pedras, as árvores, as rochas, a areia, as flores, aliados a elementos decorativos trabalhados/estilizados, fundem-se harmonicamente para criar um todo: as pequenas pedras organizadas ou os veios na areia, associam-se a lanternas de pedra, ou a um tapete de folhas secas pinta o chão.
Há lagoas ou pequenos cursos de água cortadas por pequenas pontes e decoradas por lanternas de pedra e, sobre as pontes, pendem ramos de cerejeiras. No solo, há verdes que contratastam com os cinzas das pedras.
Há paisagens pensadas como miniaturas, depois ampliadas para ambientes tão abstractos como místicos. É aqui que se articulam os princípios espirituais e estéticos. Aqui, há vínculos entre a natureza e a cultura.
A fomatação das árvores, por exemplo, bonsai, é (mais) um elemento decorativo altera o espaço, que molda o palco onde a natureza se expressa sistematicamente e a cultura lhe vai moldando a elegância e harmonia.
Essa fusão acontece um pouco por todos os jardins. O Parque Ueno, em Tóquio, é disso exemplo. É também aqui que o Festival das Cerejeiras tem lugar significativo, onde as flores se transformam num extenso manto cor-de-rosa.
O parque é extenso. Alberga museus, um zoológico, templos, lagos, pontes, telheiros, pequenos cursos de água. Besta altura, anda-se literalmente sob flores de cerejeira. E, por vezes, o manto passa para baixo,
Outras vezes, o vento fustiga os ramos e as flores flutuam como flocos de neve. E o chão fica esbranquiçado. As flores brancas estão sobre tudo, a decorar cenários, a encantar horizontes, a recortar um lago ou a matizar um edifício.
Os jardins e os respectivos conteúdos todos seduzem. São dos lugares mais escolhidos para fotografar, quer espaço, quer pessoas. São cenários cativantes. Ás vezes, basta uma cerejeira em flor. É bom estar lá, onde as pessoas são felizes.
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