Hoje, havia mais expectativa. Duas torres, dois faróis, uma cidade romana do século I/II e dois bunkers, pelo menos. No caminho, havia outros motivos para degustar - paisagem, sobretudo - e, mais que não fosse, a proximidade do mar. Há pouco trânsito, o céu continua azul e a temperatura convida a andar de moto.
Primeira paragem da manhã. A TORRE DEL PUERCO, uma torre de vigia do século XVI. Fica à saída de Sancti Petri, a mais de meia dúzia de quilómetros do centro. Mandada construir por Filipe II para defender a costa dos ataques dos piratas berberes. Dizem ser uma “sentinela histórica”.
Logo após, continuando pela estrada costeira, surge o FAROL DE ROCHE, também ele torre de origem filipina, hoje farol de navegação. Na base, dispõe de bancos virados a nascente. O panorama matinal é muito atractivo e, por isso, tinha clientes.
O farol está sobre uma falésia que domina uma pequena praia e um porto de pesca. Este, está repleto de âncoras antigas destinadas à pesca tradicional do atum de almadraba. Parei e fotografei. Estão ali centenas de âncoras. Deve dar para muito atúm.
Seguindo para Conil de la Frontera, o novo objectivo obriga a entrar nos meandros da localidade. Parei numa rotunda, com o ARCO DA VILA ali próximo, e orientei-me para aTorre de Guzman. Não foi fácil. Entre sentidos proibidos recentes e trânsito a impedir a passagem, fui seguindo os espaços livres.
Finalmente, dei com a Plaza de Santa Catalina e com a famosa TORRE DE GUZMAN. Mandada construir por Alonso Pérez de Guzmán, a torre fazia parte das muralhas do burgo medieval. O espaço de exposição estava fechado, sendo o horário de abertura ao meio-dia…
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Frustada a visita, havia um bunker na lista, aqui próximo, em plena praia, o único situado em Conil. O GPS baralhou-se com a novidade das ruas e fui obrigado a perguntar o caminho. Perguntar por “bunker”, mesmo com pronúncia, não funcionou.
Estava pertíssimo, vi depois, ao consultar o mapa em papel. Todavia a prioirdade era um farol que, li algures, “assistiu a uma batalha”. Esse, o FAROL DE TRAFALGAR, está situado no cabo com o mesmo nome. Mas, não está isolado, ali há também uma torre e um bunker. Por isso, viro para o Camping Faro de Trafalgar, não entro, continuo para o mar e entro num ambiente de praia.
Mais à frente, logo após um pequena rotunda, está uma barreira. O asfalto termina e começa a areia! Ao fundo, o farol fica a mais de quilómetro e meio. Hoje, o dia não está a correr bem. Farol e bunker estão descartados. Bom, não como limar a amargura com um café no Bar Las Dunas. E, assim foi. Há que seguir.
Passei o desvio para a praia de Bolonia e continuei numa estrada estreita e em mau estado. Mais à frente, a estrada começa a subir e cada vez se torna mais estreita. Entretanto, o GPS indica uma estrada à esquerda dotada de um portão aberto. Não acredito e sigo. Mais acima, mais íngreme, mas com uma vista ímpar, paro noutra espécie de estacionamento. Afinal é uma miradouro, MIRADOURO DEL CAMARINAL. Desligo a moto, desço, olho em redor e a paisagem é fantástica. Mas nem o farol se vê. Até chega um casal de caminhantes, vindos não sei de onde.
Afinal, vêm de baixo do miradouro, por um trilho que chega da direcção do farol. Dizem-me que o farol está acessível, mais abaixo, através de uma estrada, logo após o parque de estacionamento. Esse, o que descartei. O farol fica perto, asseguram. Vêm de lá. Mas não sabem que há um bunker, Não espreitaram para baixo do farol.
Desço e paro à entrada do troço. É em terra batida, polvilhado de pequenas pedras, talvez calcário. Penso duas vezes e desisto. A moto pesa 285 kgs, tem pneus de estrada e eu estou sozinho. Mais um cancelamento. Ainda não vi um bunker… e o farol também não se vê de lado nenhum. Volto para trás.
O alvo, agora, é BAELO CLAUDIA, um conjunto arqueológico romano com 2 mil anos. Paro num enorme parque de estacionamento. Deixo a moto debaixo da sombra de uma árvore, que o tempo está a qquecer. Guardo o capacete e olho em redor. Há muitos visitantes e fila na bilheteira. O sítio deve ser atractivo.
Entra-se pelo museu. Não é grande, mas tem algumas peças interessantes, estatuária sobretudo. Percebe-se que a designação “cidade” é adequada à dimensão do lugar. Cá fora, entende-se melhor essa dimensão e a sua localização estratégica, quase à beira mar, face a uma das actividades mais famosas, a produção de “garum”.
A cidade é extensa. Passo no fórum, na cúria, na basílica. E identifico uma “calçada” larga e longa, que não é nem mais do que uma das entradas da cidade. È na parte baixa, mais próxima do mar, que se situa a zona monumental. Todavia, na parte alta reconhece-se o teatro, uma zona residencial, aquedutos e túneis de passagem de água.
É difícil ficar indiferente ao conjunto. Sobretudo, quando procuramos torres de origem fenícia. Os romanos estiveram aqui, logo após, com sucesso, nos primeiros séculos depois de Cristo. A dimensão da ocupação é significativamente maior. E os testemunhos dessa presença são extremamente notórios, quer em matéria de engenharia, quer de estética.
Ali próximo, a DUNA DE BOLONIA, parece pequenita, vista de Baelo Claudia. Mas não é. Basta ver o tamanho das pessoas que estão a meio da escarpa de areia e verificar que há ali muita areia e com um declive valente. A praia não tem muitos veraneantes, talvez porque está na hora de almoço. Por tal, há que cumprir o ritual.
Não chega a um quilómetro. São duas curvas até ao almoço. O Chiringito (bar de praia) Las Dunas (outro) está a dois passos da areia, tem uma esplanada e vista de 180º sobre a praia. Mas não tem lugares vagos. Fiquei no interior, a recordar esta manhã de passeio, de decepções e êxitos, de ausências e satisfações.