sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Poetas no Parque




Homenagem à poesia e à escultura, um tributo à arte. Essa arte de “criar algo a partir da imaginação e dos sentimentos”, segundo Aristóteles. Emoções e ideias, representadas pela escrita e pela plástica. A arte poética e a arte escultórica como expressões da criatividade e das sensações. Juntas, acomodam-se de forma admirável, cúmplices de palavras e de estética. Estamos no Parque dos Poetas, em Oeiras.

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

- Fernando Pessoa

Na génese desta mescla estão, o poeta David Mourão-Ferreira e o escultor Francisco Simões. Poetas e esculturas, estão lá sessenta. Trovadores (D. Dinis), renascentistas (Camões), barrocos (Padre António Viiera), arcadianos (Marquesa de Alorna), românticos (Florbela Espanca), século XX (Fernando Pessoa), juntam-se aos restantes da lusofonia, dos países de expressão ou cultura portuguesas (Drummond de Andrade). 

Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar, e mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo sem nunca me desviar.

Belzebu: Ora escreve lá, compadre, não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que todo o mundo é mentiroso, E ninguém diz a verdade.

- Gil Vicente 

A diversidade das esculturas acompanha a variedade poética. E surge João Cutileiro no espaço da poesia de Almeida Garret, Pedro Cabrita Reis em António Feliciano Castilho, Graça Costa Cabral no rei D. Dinis, Francisco Simões em David Mourão Ferreira, Clara Menéres na Marquesa de Alorna. São mais de quarenta escultores, sessenta esculturas que ponteiam diversas “ilhas”, recantos onde privam a escrita poética e figuras escultóricas.

Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.

- Luis de Camões,

O espaço da poesia e da escultura habitam outro que os engloba, o do parque. Obra dos arquitectos paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino, o parque estende-se num eixo norte-sul, mas não só, ladeado pelas tais ilhas que lhe suavizam o declive. À diversidade poética e escultórica junta-se a variedade botânica.

Para não fazeres ofensas

e teres dias felizes,

não digas tudo o que pensas,

mas pensa tudo o que dizes.

- Antonio Aleixo


Aproveitando aquele desnível, o morro do Puxa-Peixe, miradouro de onde o Tejo é ecrã principal, domina e centraliza o parque. A Pirâmide-Mirante, enquadrada num labirinto circular, permite ver o horizonte do estuário do rio a estender-se para o mar, constituindo-se como um dos sítios mais aprazíveis do parque.

Eles não sabem nem sonham

Que o sonho comanda a vida

E que sempre que um homem sonha

O mundo pula e avança

Como bola colorida

Entre as mãos duma criança

- António Gedeão

Próximo, o Templo da Poesia encerra diversos espaços destinados a exposições, https://cordeirus.blogspot.com/2016/08/viajar-com-darwin_5.html, biblioteca, conferências, dispondo ainda de um anfiteatro, uma sala polivalente e de um “rooftop” com vista panorâmica que leva ainda mais a vista em redor do parque. 

Pudesse eu não ter laços

nem limites

Ó vida de mil faces

transbordantes

Para poder responder

aos teus convites

Suspensos na surpresa

dos instantes!

- Sophia de Mello Breyner Andresen

A configuração do jardim é muito feliz, sobretudo quando a expressão ecológica se articula com a poética e com a escultura. E já vão três artes, três expressões artísticas. A vegetação temática associa-se à diversidade botânica, ao ambiente sublime da poesia e à envolvente escultórica. É estimulante, sádio, Sedutor. É de ir!

Queria que os portugueses

tivessem senso de humor

e não vissem como génio

todo aquele que é doutor

- Agostinho da Silva




terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Paris, 82



Toda a gente já ouviu falar de Paris. Em Portugal, a capital francesa era (talvez ainda seja) uma referência monumental em matéria cultural, incluindo (provavelmente), o ambiente motociclista. Nos anos 80, era de certeza. E, em geral, parecia que todos os motociclistas (motards, como lá eram conhecidos) franceses, tinham Portugal como destino. As imagens, como o tempo, têm muito grão. E a memória também já não é o que era. Afinal, já lá vão mais de 40 anos 😎 



Por tal, França, e particularmente Paris, tornou-se um alvo de desejo. Eu já tinha percorrido parte do sul de Espanha, assistira a três GP de Motociclismo em Jarama e, no ano anterior, havia percorrido toda a costa Mediterrânica espanhola de moto. Havia experiência. e, no ano anterior, o destino tinha sido Andorra...

Além disso, durante um par de anos, havia escolhido Torremolinos para passar férias, indo de moto. Primeiro numa CB 350 Four e, depois, na primeira CB 750, cujo banco havia sido trincado pelo cão da namorada, no dia anterior à partida. As experiências não eram extensas, mas modelaram o projecto de ir além dos Pirenéus.

Entra a papelada, incluindo...


...LETRAS, AUTORIZAÇÃO E SEGUROS


E, para ir, era preciso que a moto tivesse autorização de saída do país do proprietário do “stand” onde a tinha comprado. Nesta altura, um dos que “dava cartas” em Lisboa era o Stand Vidal, do famoso Manuel Vidal. Foi ele que me autorizou a viajar, assim que recebeu a 25ª prestação da “sete e meio”.

Eu tinha 25 anos nessa altura. A Julieta mais um. A CB 750 era mais nova, só tinha 9 anos, era de 73, e “devia” somar mais de 100 mil quilómetros, embora apresentasse apenas pouco mais de 60 mil registados. Já ia no quinto proprietário. Entretanto, eu já tinha pago o Imposto sobre Veículos, quase 15% do meu salário... 

Mesmo sendo novito, gostava de mim e da minha pendura. A segurança, ou melhor, essa sensação, não ficaria órfã. Não sei se foi a primeira vez, mas subscrevi um seguro da GESA Assurance, outra referência da altura em matéria de seguros. Assistência em viagem e jurídica, repatriamento... tudo aquilo que não queríamos que fosse necessário, ali em cupões, para o que desse e viesse. “Quando se faz, nada acontece”, era comum dizer-se!

Mas a segurança não ficava por aqui. Seguros obrigatórios nas fronteiras: uma subscrição à saída para Espanha e outra na reentrada. E a correspondente no acesso a França. Quanto a seguros, bastava apenas: seguro contra terceiros (nacional), seguro pessoal e da moto (GESA) e seguro contra terceiros internacional (nas fronteiras)!

O que (também) é preciso são os...


...ORÇAMENTOS E LOGÍSTICA

Os restantes números passam, em maioria, por aquisições irreversíveis, para quem queria continuar a viajar com pneus e uma corrente decentes, ter algum conforto pontual para além do fino colchão de espuma de campismo, não fazer apenas “nacionais” e ir atestando o depósito para percorrer os 5 mil e poucos quilómetros do itinerário. Brincadeira para andar quase pelos 75 contos.

Há outros números, talvez surpreendentes e mais pungentes, ao longo do trajecto. Com um enorme mapa da Europa, eu não “iria lá”. Comecei com um de Espanha, pedido na embaixada e, outro, de França, pedido no turismo francês. Mas... quem melhor do que o ACP para traçar o itinerário nessa altura...? Sendo sócio, por que não...


Havíamos viajado sempre sem malas laterais e apenas com um enorme saco em cima do depósito. Desta vez, a ideia era comprar malas em Andorra. Para levar a tralha até lá, inventei um suporte “barato” que, depois, pudesse deitar fora. A escolha recaiu numa estrutura “Dexion”, um engenhoso esquema de calhas que servia para fazer, desde suportes de prateleiras, até porta-bagagens para motos...

Eu já tinha ido só a Torremolinos e Cádiz. Com a namorada, já havíamos ido sozinhos a Benidorm e, com um casal amigo a Andorra, percorrendo toda a costa do Mediterrâneo. Estes, desta vez, iriam até à Bélgica. Porém, havia mais gente a querer aproveitar a mesma data de saída, mas com destinos diferentes: nós teríamos Paris como destino mais longínquo, outros Ibiza e, ainda outros, Holanda. Encontrámo-nos depois da “25 de Abril” com aqueles que nos acompanhariam até Paris. Até Andorra seguiríamos todos juntos.


E aí vamos nós...


...DE CASA A MADRID


Em Elvas, durante uma paragem para beber a última 'bica' decente (nessa altura), debaixo de árvores frondosas à vista do aqueduto, encontrámos um grupo de portugueses que vinha de Espanha. Conhecíamos alguns. Um deles, foi connosco, há um par de anos, à Turquia.

Voltávamos a ter de parar na(s) fronteira(s). Nesta altura, ainda na nossa e na espanhola. Nesta, era necessário fazer seguro contra terceiros. Por dois dias, correspondentes à travessia de Espanha. Por tal, deixámos 70 pesetas, no dia 25 de Julho de 1982. Eram duas e vinte seis minutos em Espanha e estava uma brasa das antigas.


Voltámos a parar para almoçar na “serra”, a meias com o Tajo, na famosa estação de serviço que ficava a meio-caminho entre Badajoz e Madrid. Calor, claro. A manga curta voltava em cada paragem, em cada reabastecimento. Na meseta espanhola nunca estamos sozinhos nesta altura, temos sempre o calor como companheiro.

O bafo, dê por onde der, vem sempre connosco. Andar de calças de cabedal, daquelas grossinhas, inglesas, é “obra”! Mas era o que havia. Mesmo brancas, com joelheiras vermelhas, não enganavam o algodão. Ainda assim, o ambiente de galhofa compensava o Estio.


O percurso pela meseta espanhola não costumava ser charmoso. Aliás, nesta altura, as paragens mais frequentes eram mesmo nas áreas de abastecimento. Raramente parávamos para visitar o que quer que fosse. O que queríamos mesmo era chegar a...


...LÉRIDA, LLEIDA, LHEILHA

Fizemo-lo ao entardecer, ainda sob um calor tórrido. Lérida?! Perguntámos se já estávamos em Lérida, mas o que a local, numa acelera, nos garantiu, foi que a cidade se chamava, Lheilha! Voltámos a insistir e a resposta foi a mesma. O Luís não tardou a identificar os habitantes como balhelhas!

Deixámos cedo a cidade. Queríamos almoçar em Andorra-la-Vella. Naquela altura, a capital andorrana distava pouco mais de 150 kms, cerca de 2,5 horas de moto, em estrada nacional, estreita, com piso sofrível, sobretudo antes da fronteira. Uma estrada onde havia obras, uma fronteira onde havia fila para entrar e para sair.

Antes, porém, e em função da fila que já sabíamos iria demorar, não deixámos de parar numa das albufeiras do rio Segre, que marginam a estrada desde Seu d’Urgel. O tempo quente obrigava a tirar os blusões sempre que parávamos. E, nessas paragens, também era sempre possível cuidar da maquilhagem...

A manhã tinha rendido. Já faltavam poucos quilómetros até Andorra-la-Vella. Eram para fazer devagar, peço vale, à vista das montanhas, rodeados de um verde, agora mais seco, mas de uma temperatura que nos permitia manga curta.


E vamos almoçar a…


...ANDORRA LA VELLA COM A PASSARADA

Montamos tendas no parque de campismo Valira – já não era a primeira vez – e dedicamos a tarde a passear pela cidade, separando-nos. Nós fomos tentando perceber onde seria mais conveniente comprar as malas para a moto, bem como o suporte para a top case. A escolha foi para um par de Krausers, em voga na altura.

No dia seguinte, a fominha era de tal ordem que parámos no centro junto do primeiro espaço de restaurantes que vimos. Esperámos um bocado que arranjassem mesa para seis – o dono era português -, pelo que não demorou muito. Porém, cá fora, a passarada entrou em pânico e a coisa não foi bonita. Especialmente para o braço do Celso.

 

A partir daqui os destinos alteraram-se e o grupo ficou reduzido a duas motos, para fazer...

 

...ANDORRA-PARIS, DE PARQUE EM PARQUE


A Kawasaki saiu rumo a sul e as duas Hondas para norte. Os primeiros iriam até Ibiza. Nós parámos em Pas de la Casa para um café e, logo após, entrámos em França. Fomos parando, quer para almoçar, quer para reabastecer as motos, condutores e penduras.
Exceptuando as paragens nas famosas "Frites" - roulotes com hamburgueres e batatas fritas, basicamente -, distribuídas sobretudo ao longo das nacionais, era habitualmente em supermercados que parávamos onde, quer a gasolina quer a comida, eram mais baratos. 

Optamos sobretudo pelas nacionais. Aliás, nesta altura, ainda não havia auto-estradas no centro de França. Ao fim do dia, o que se tornaria rotina, escolhíamos o melhor ou o que havia em matéria de parque de campismo. 

No primeiro dia, foi esta última hipótese que nos calhou em sorte: era o único na vila, paredes-meias com o rio e os contrafortes de uma ponte. Depois, percebemos que, fora das localidades, a escolha e a qualidade dos parques era bastante superior.

Até Paris, a tal rotina manteve-se. Almoço nas “Frites”, descanso num bosque, montagem da tenda ao fim do dia, jantar no parque de campismo. Agora, podíamos inclusivamente escolher o parque onde queríamos ficar: com lago, com rio, com mais ou menos sombras, com ou sem piscina...


E chegamos a...


PARIS, PRIMEIRO CONTACTO

Encontrado o Periférico, era dar com a saída, aliás entrada: Neully, não foi difícil. Primeira paragem em Paris: numa enorme rotunda, para nos despedirmos do casal da Goldwing, que seguiria para Amesterdão. Combinamos encontrarmo-nos no mesmo sítio, daí a uma semana, para regressarmos juntos.

A segunda paragem foi num restaurante com esplanada e cadeiras em palinha, um luxo – primeiro e último da jornada parisiense -, já que, pagáveis em francos, as refeições em restaurantes urbanos eram incomportáveis. 

Dali, foi seguir até à casa da Prazeres, uma velha amiga dos meus pais, viúva de guerra, a quem o Estado lhe havia cedido um pequeno T1, sem WC, num imponente edifício novecentista, paredes-meias com o Bosque de Bolonha.

E, apesar da estreia - na primeira noite, saimos a pé, pelas avenidas -, as paragens mais frequentes contemplaram logo um dos objectivos da viagem: a actualidade das motos. Agora, parecem garantidamente datadas ;-)

 

E vamos para


PARIS DOS MONUMENTOS



Imprescindível. A Torre Eiffel, claro, apenas vista, não trepada; o Arco do Triunfo e, claro, a campa do soldado desconhecido; a Ópera e a sua cobertura esverdeada; o Obelisco de Luxor, com 3300 anos e 23 metros de altura; o Louvre que, nesta altura, tinha a área egípcia fechada, em obras.

Outros, também  relevantes, tais como, o Grand Palais com a sua cobertura de vidro; do outro lado, o Petit Palais e, também, o imenso edifício dos Inválidos. E, ainda, algumas das pontes que atravessam o Sena e os numerosos edifícios barrocos da cidade. Muito ficou por ver, mais por visitar.

 

E vamos para


PARIS DAS PRAÇAS, RUAS E AVENIDAS


Imprescindíveis, os jardins de Paris, desde os mais pequenos aos mais famosos, são espaços harmoniosos que se enquadram no ambiente estético de Paris. Apesar de datados, levam-nos para lá: são frescos, têm muitas árvores, alguns têm lagos, há muitas famílias a passear.

Porém, no dia em que passeámos no jardim das Tulherias, mal passámos o portão, demos com uma manifestação de palestinianos, algo a que nunca tínhamos assistido. Passámos perto...

Há mais espaços imperativos. Entre outros, a Praça do Trocadero – onde parei a Honda no primeiro dia de visita – a praça da Etoile (actualmente, Charles de Gaulle, salvo erro) – onde dei duas voltas para entrar nos Campos Elísios (parecia impossível sair daquele “carrossel” – a Praça da Concórdia – onde apanhámos uma manifestação palestiniana, e a Praça da Bastilha – onde nos juntamos à noite aos Motards en Colère franceses.

Estávamos em Neully e, todos os dias, percorríamos a avenida Charles de Gaulle para aceder ao espaço central da capital francesa. Era imperativo passar pela Praça Maillot e percorrer depois a Grande Armée para chegar ao Arco do Triunfo. A partir daqui era escolher um dos doze destinos apontados pela estrela/etoile.


 

E vamos para


PARIS DOS SÍTIOS

Outros locais obrigatórios. O Moulin Rouge, tão bucólico como o vimos; o Lido, que achámos tão pequeno (aliás, a entrada era um corredor); Montmartre, choveu no caminho e regressámos a casa; Notre Dame, onde encontramos uma gravação da história do edifício em português; o Bosque de Bolonha, onde andámos à noite e nada aconteceu.


E, tantos outros, como a grande Gare du Nort, o enorme edifício dos Inválidos, os parques em redor do Petit Palais; o Centro Georges Pompidou, dos poucos onde entramos e estivemos mais tempo a visitar as diversas exposições. Em redor, uma animação rara, constituída por um vasto conjunto de artistas de rua.

Porém, a animação não se cingia à proximidade dos locais mais frequentados. Por vezes, num parque ou até numa pequena praça, surgiam músicos, pintores, 

E vamos para


PARIS DAS MOTOS




O tema é incontornável. Nesta altura, França era uma referência do motociclísmo, nomeadamente do mototurismo, sendo frequente ver muitos motociclistas franceses fazerem férias de moto em Portugal. Por tal, as motos eram outro aspecto que queríamos experimentar.

E não foi difícil dar com elas. Nas ruas, já havia parques de estacionamento exclusivos para motos. Na Grande Armée estavam representadas todas as marcas japonesas. Só não entrámos na Japauto, representante Honda.

A mais interessante era a loja da Yamaha (Patrick Pons...), constituída por diversas salas temáticas, com muitos acessórios. A maior era a Japauto. A mais pequena era a Suzuki e a mais preenchida era a Kawasaki.

À noite, fomos à Praça da Concórdia, local de concentração do maior grupo motociclista francês da altura. E, aqui, as novidades eram muitas, sobretudo em matéria de actualidade e sofisticação de modelos e equipamentos. Pena que a maioria das fotos - com a pouca luz do local - tenham ficado muito escuras. Matrículas dos Estados Unidos juntavam-se à originalidade de alguns modelos.


Às tantas, vistámos uma banca onde tinham desde jornais e revistas, até autocolantes e folhas cheias de assinaturas. E piram-nos para assinarmos uma petição contra os valores exorbitantes dos seguros para as motos. É evidente que assinamos (cá, a situação ainda era pior). 


Saimos com a sensação de que iriam resolver o problema. Afinal, a banca era da Fédération Française des Motards en Colère, entidade constituída 2 anos antes. Pouco depois, assumiu-se como seguradora e conseguiu baixar os prémios significativamente. 

 

Voltamos à


ESTRADA, LÉRIDA, MADRID E CAMPISMO



Os nosso amigos da Goldwing ficaram uma noite num parque de campismo perto de nós, em Paris, e saímos juntos no dia seguinte. A falta de mais dias e orçamento para visitar mais, levou-nos à rotina do regresso, optando todavia pelo itinerário que nos levaria por Lyon e Montpellier, privilegiando para pernoita, outra vez, os parques de campismo.


Só não o fizemos em Lérida. Aqui, ainda subimos à zona do castelo, para visitar a Sé Velha, onde havia uma exposição de presépios mas, sobretudo, para podermos usufruir da frescura típica das grandes construções religiosas, cujo interior contrastava com o calor que se fazia sentir desde a entrada em Espanha.



Última paragem perto de Madrid, num parque de campismo que tinha a piscina “rota”. A Goldwing seguiu para a capital espanhola, onde nos reencontraríamos no dia seguinte. Às tantas – ainda dizem que não há coincidências -, quando ouvimos falar português eram amigos que regressavam da Bélgica e estava a montar tendas perto da nossa.

Eles tinham outra agenda e acabamos por fazer a última etapa com o casal da Goldwing, voltando à rotina das paragens e dos reabastecimentos, desta feita, para cumprirmos o ritual do regresso. Como saímos tarde de Madrid, Badajoz intermediou esse retorno. Foi há (mais de) 40 anos.


Este texto é dedicado aos meus companheiros/as de viagem. De alguma forma, a vida foi-nos afastando de um. Do outro, foi mesmo a morte que o afastou.

Mas esse afastamento nunca nos separou a amizade que partilhámos Aqueles momentos de viagem deixam uma âncora valente na memória impossível de apagar.