O editor do Aikido Journal intitulou-a como uma entrevista não ortodoxa com
O’Sensei.
Nesta, Morihei Ueshiba fala-nos sobretudo sobre a harmonia, sobre o Aikido
como verdadeiro Budo, na simbologia da espada, critica a competição, fala sobre
a ideia de democracia e defende o fundamento do Aikido no kotodama.
Mas também esclarece o seu posicionamento político e, ainda, fala sobre o
papel de cada indivíduo, a individualidade e o livre arbítrio, bem como sobre o
militarismo.
Fá-lo de um modo tão “terra-a-terra”, relaxado, divertido, irónico até...
mas, não tarda em pegar na filosofia, na pedagogia e na didáctica da arte para
mostrar ao que vem.
Talvez o imaginemos a falar sobre “espadas sagradas”, a atribuir uma
veracidade incontestável ao Aikido, a defender a harmonia como religião
mundial, a dizer que a competição não é assim tão gloriosa.
Divertido é, todavia, ouvi-lo depois dos setenta, ao afirmar que não passou
dos 25 anos de idade, a tratar um interlocutor mais novo por Sensei, título que
nunca é utilizado pelo entrevistador para com o fundador do Aikido...
NOTA PRÉVIA
Já lá vão 64 anos. Uma vida. Neste caso, um perfil de vida. Uma espécie de
retrato. Talvez mesmo uma caricatura. No sentido em que a caricatura salienta
características especiais da pessoa. Mais do que salientar, a caricatura
exagera, habitualmente com um contexto crítico e jocoso.
Quando essas peculiaridades se referem ao estilo e ao conteúdo da vida e da
obra de uma personalidade, surge imediatamente aquele frenesim da curiosidade,
mas também o desafio da descoberta, do desvendar de novidades e/ou de segredos.
E, ainda, o cenário brincalhão e de despique.
É o que acontece quando um jornalista político, bastante provocante e mesmo
sarcástico, antes famoso caricaturista japonês, Kondo Hidezo, resolve
entrevistar Morihei Ueshiba, o fundador do Aikido, uma pessoa metódica, severa
e dura. Pode parecer uma ideia arriscada e desinteressante. Não foi!
Sabe-se que O’Sensei tinha, como refere o seu título de “grande professor”,
uma atitude disciplinadora, rigorosa e exigente. E que, até mesmo o seu estilo
de treino era intenso, sistemático, por vezes violento. Diz-se que o Kobukan, o
seu lugar de treino nos arredores de Tóquio, era apelidado como Dojo do
Inferno...
Em princípio, não se espera que um homem deste calibre vá animar uma
entrevista. Ou não? Independentemente da época em que a entrevista decorre -
uma altura em que a já Aikikai se esforçava por divulgar a arte, levando o
Aikido ao grande público, quer através de filmagens, quer através da publicação
de livros -, a escolha de uma entrevista deste tipo pode ser uma mais valia
para tal propósito.
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Kondo Hidezo |
Outros conteúdos, especialmente aqueles em que entrevistado e entrevistador
estabelecem uma cumplicidade de pergunta-resposta bem humorada, é ultrapassada,
por vezes, por um absurdo deveras hilariante. É raro ver esta faceta pública de
O’Sensei, uma rara ocasião em que é possível descobrir um aspecto divertido e
mais humano do fundador do Aikido.
Esta não é evidentemente a entrevista original. Essa, já foi filtrada
inicialmente pelo entrevistador, que refere, “mesmo que eu fosse capaz de
entender as palavras desse homem que afirma ter o universo dentro dele e
colocá-las em letras miúdas, tenho a sensação de que ninguém entenderia. (…)
Tudo soaria como disparate. Então, o que eu fiz foi pegar na minha caneta de
tinta vermelha e riscar a tagarelice”.
Depois, o texto da entrevista foi peneirado pelo tradutor, Guillaume Erard,
biólogo francês doutorado, instrutor de Budo que vive e trabalha em Tóquio,
tendo sido director de Informação do IAF. A mesma entrevista foi também editada
por Josh Gold, director editorial do Aikido Journal, tendo sucedido a Stanley
Pranin nesse cargo desde 2008. E, agora, sou eu que dou destaque ao que achei
mais divertido, pedagógico e desconcertante.
É para lerem esta entrevista que vos
convido.
O SENHOR UESHIBA DE AIKI-JUJUTSU
Kondo Hidezo: o Aikido tornou-se muito popular, não é?
Ueshiba Morihei: (...) graças a pessoas como você, Sensei.
De modo algum.
Sim, é tudo graças ao seu apoio.
Não sei se você será bom em Aikido, mas você é bom em fazer
elogios! (Ri) Imagino quantos anos você tem...?
Esqueci-me da minha idade... Eu
nasci em 1883, mas digo às pessoas que tenho 25 anos. Por favor, tenha isso em mente. (Ri)
Você tem a mesma idade que eu! (Kondo tem 48 anos na
altura desta entrevista e Ueshiba tem 72). O corpo humano deve parar de se
desenvolver aos 25 anos de idade.
Eu não parei de crescer. Cresci até os 55 anos de idade. (...) fiquei mais
forte por volta dos 50. Não tinha
muita força quando andava pelos vinte anos até a idade de 32 ou 33.
(...)
Não é estranho que tenha crescido até aos 50 anos?
Entenda como quiser. (risos) Se eu falar demasiado, as pessoas vão pensar
que sou um tolo.
Deve estar a brincar! É um difícil entrevistado! (risos)
Bem, pessoas como o senhor, Sensei, sabem bem sobre o que se passa no
mundo e, por isso nós, as pessoas,
seguimo-lo.
SOBRE A HARMONIA
A propósito, as artes marciais são
caminhos para a harmonia. Tudo o que se desvia do caminho da harmonia é inútil.
Acredito que as formas marciais da nossa
nação só durarão na presença da harmonia. A bela forma do céu e da terra
é uma manifestação de uma única família criada pelos deuses.
Devemos tornar-nos uma única família espiritualmente e fazer um esforço
para melhorar a nação do Japão. Temos de tentar alcançar a harmonia, pelo menos
aqui no Japão. Devíamos ser bons amigos uns dos outros, todos a cuidar uns dos
outros. Os alicerces desta harmonia são Aikido. É este Aikido que é o
verdadeiro Budo. Quero afastar-me
daquele mundo hostil onde os senhores feudais do passado usavam as artes
marciais como ferramentas para o domínio militar.
De repente, está a perder-me com a sua filosofia Aikido!
A democracia é o princípio da não-resistência imediata. O verdadeiro budo
japonês é o princípio da não-resistência.
Mas sem
resistência, não é budo. É por isso que não gosto.
Está a falar de Budo usado para o domínio militar. Kendo e Judo dizem ser Budo japonês, mas estão preocupados com a vitória, não estão? Uma vez que Aikido
persegue a harmonia, é completamente diferente daquelas artes.
Então, é assim: "Vamos ser bons amigos, é por isso
que te projecto", certo?
Sensei, eu merecia melhor!
Por favor, perdoe-me se fui rude. Estou a inclinar-me para o caminho do
domínio militar. (risos)
Quando um oponente vem para me atacar, eu só movo o meu corpo ligeiramente
para evitar o seu ataque, e deixo-o ir onde quiser. Isto é Aiki. Por outras
palavras, dou-lhe liberdade.
Estou a ver. Há muitas formas de expressar esta ideia,
não é?
Não é uma forma de expressar. É assim mesmo.
A ESSÊNCIA DO BUDO
Há espada em Aiki?
Sim, há. A espada são os espelhos opostos do Céu e da Terra. Representa um
ato de celebração.
Agora está a baralhar-me! Pessoalmente, penso que uma
espada não passa de uma arma assassina. Portanto, sinto simpatia apenas por
aqueles que olham para as lâminas de forma realista e percebem como são tolos.
A espada é perigosa. Não se deve brincar com coisas perigosas. Pense no
mundo pelo menos uma vez. O mundo é um local de adoração religiosa que nos foi
dado. Por tanto, veneramos o caminho do Céu e aplicamos as regras do Céu à
Terra, e conduzimos os assuntos de Estado de acordo com o caminho da harmonia.
Não há guerra no Céu, não é verdade? Há dezenas de milhares de anos que nos
vamos tentando dar bem. Se a Terra é nossa, vamos celebrar a sua beleza e
dar-nos bem um com o outro.
A espada não pode ser usada para se dar bem. Tenho a
sensação de que nos sairemos
melhor se fizermos amigos sem ela.
A espada de que está a falar é diferente da minha.
Acho que me está a escapar qualquer coisa. (risos)
Está muito longe, realmente. A espada é uma "espada sagrada",
isto é, de celebração. A espada representa espelhos opostos do nosso kokyu. Não
deves olhar para a espada. Se olhares para ela e brincares com ela, vais matar
pessoas. Então tornar-se-á uma arma. Cortar pessoas significa ser derrotado
pelo mundo. Aqueles que são cortados perdem também. Ambos são perdedores neste
tipo de prática, não é verdade?
O Japão tornou-se no que é porque nos envolvemos neste tipo de prática que
leva à derrota. Por isso, temos de praticar de forma a levar à vitória. A
prática que leva à vitória é a prática correta. É o que devíamos fazer juntos.
Não, não vou (fazer isso consigo)! (risos) É porque não
consigo entender claramente o que disse! Não há nada mais poderoso do que ser
ignorante. Fiz um pouco de Aikido, não fiz? (risos)
Vou mostrar-lhe, demonstrando- o. Compreenderá a explicação da espada
através disto. (O seu filho, que o acompanha, ergue-se e levanta um pau).. Ele
vem por aqui! Vou magoar-me se for atingido, por isso evito-o, (desviando-se)
assim! Ele vem depressa para me empurrar com a espada, desviei-me de forma
ágil. É ainda mais rápido que um choque eléctrico!
É mais rápido que
um relâmpago...
Este termo é um termo chinês. (O que fiz) É mais rápido do que um relâmpago
ou do que um choque eléctrico. Isto chama-se katsuhayabi (reacção fluida,
harmoniosa e pronta, sem hesitação ou desequilíbrio). Aí reside a essência do Budo.
Budo é injusto e
cobarde...
Não é injusto nem cobarde. O que é injusto é ser atingido.
Nos livros de história, está escrito que é cobarde virar
as costas ao inimigo.
Estas são as palavras de homens de espírito competitivo, que caracterizam o
domínio militar. Isto é ridículo. Não se devia lidar com este tipo de pessoas.
Llidando com aqueles que usam a violência, o mundo não melhorará.
Em tempos, os militares praticavam artes marciais (...)
praticaram do ponto de vista
do governo militar, não foi?
Não sei muito sobre isto. Talvez tivesse sido esse o curso natural.
Aikido vem dos tempos antigos?
As suas raízes estão no uso subtil do kotodama.
Agora está a começar a fazer-me perder! (risos)
O kotodama foi criado em conjunto com o universo e está a ser guiado pela
natureza. Este mundo está a crescer e a expandir-se a cada dia. Está a crescer
diariamente e o Grande Espírito da Criação do Universo está a desenrolar-se.
Embora o Céu e a Terra estejam a caminho da realização, vemos muitos povos,
especialmente os japoneses, que não se aperceberam deste facto. Como está na
altura de aceitarmos esta nova felicidade, quero ajudá-los a acordar em breve
do seu sonho e a criar uma família amigável reunindo os seus espíritos
errantes.
Não percebi tudo o que disse, mas tenho uma ideia
aproximada. Do seu ponto de vista, qual é a pior situação?
Primeiro, tudo deve ter um centro. Há o sol nos céus e deve haver um centro
na Terra. Não pode trabalhar sem um centro.
Centro... a ideia do Imperador está a assombrar-me...
O Imperador é a democracia.
Estás a pensar no Imperador como era antes da guerra…
Não posso dizer exactamente isso.
Se não disser as coisas com clareza, será problemático.
…mas que atitude!
Tenho uma atitude e tanto para alguém que apoia o domínio
militar, não tenho? (risos)
As minhas ideias são diferentes das da ala direita.
Sempre que ouço a palavra "centro", faz-me
pensar na ala direita.
Não é uma ideia de direita. Estou a falar de um sistema de harmonia através
de acções espirituais. O Budo japonês é baseado no masakatsu (verdadeira vitória, a vitória sobre si), e não é nem
para lutar, nem para cortar pessoas. Aqueles que atiram/golpeiam os seus
oponentes com violência seguem um princípio de agressão. (...) Em Aikido, nunca
batemos na espada do adversário. Tudo o que temos que fazer é levantar dois
dedos e ajudá-lo.
É um Budo muito atencioso, não é?
É o espírito do Japão. Se mantivermos o espírito competitivo do passado, continuaremos a matar pessoas e a perder a nossa alma.
CADA UM DE NÓS TEM UMA MISSÃO DIVINA
(...)
No entanto, seria bom se houvesse apenas boas pessoas que
tivessem boas intenções, mas há muitas pessoas más com más intenções, e se o
Imperador estivesse rodeado por elas, os resultados seriam desastrosos. O que
acha de nos fazer parceiros próximos? (risos)
Sem dúvida. As coisas que ocorreram até agora não poderiam ter sido
evitadas e continuamos a ser um país feudalista. Por conseguinte, o que estou a
sugerir é que devemos descartar as nossas roupas velhas e converter o Japão num
verdadeiro e novo país que todos devemos servir. Isto é o que eu gostaria que
acontecesse. Trabalhas arduamente, lidas (...) com aqueles que não gostas e dás
o exemplo, não importa o que as pessoas digam sobre ti... Na verdade, ter
muitos tolos como este (M.U.) também seria um problema, não é?
"Tolo" é escrito com dois caracteres chineses
yasuku et tamotsu que significam "fácil de manusear". Bem, se todos
se tornassem tolos o mundo seria fácil de lidar, não é?
Não me importo que me chamem tolo. Este tolo pensa à sua maneira e não pertence
a nenhum grupo. Aqueles que estão a fazer uma cena são aqueles que querem
mostrar como são grandes. Não há nada a ganhar com a participação num grupo
deste tipo. "A bela forma do Céu e da Terra é uma manifestação de uma
única família criada pelos kami..."
Embora eu seja um tolo ignorante, é minha opinião que se não há centro
numa família, é o mesmo que várias famílias diferentes que vivem numa única
casa. Tal conglomeração de famílias não funciona. Todos insistem em expressar a
sua própria opinião e um líder não pode ser escolhido.
Mas se realmente houver um grande indivíduo, todos irão segui-lo a qualquer
momento. Tenho a minha missão designada que tenho de completar e tu, sensei,
tens a tua própria missão. Um jornal tem a sua própria missão e um agricultor a
sua. Cada um tem a sua própria missão. Assim, tudo o que temos que fazer é
completar as nossas missões escolhidas pelo céu. Se fosse este o caso, não
haveria divergências, não é?
Se, como disse, a missão dos ricos fosse ser rica e a dos
pobres para serem pobres, os pobres não a aceitariam.
Não estou a falar de dinheiro.
O MUNDO NA TERRA ESTÁ SUJO
Tenciono completar a minha missão obedientemente. No
entanto, num mundo e que pessoas como oficiais militares e oficiais do governo
o impedem de completar a sua missão colocando demasiada ênfase no Imperador, o
nosso país acabará da mesma forma que antes. No entanto, não faz sentido
queixar-se que não lhe permitem completar a sua missão, uma vez que os
militares têm armas. Estamos indefesos.
Já não precisamos deste tipo de coisas.
Se continuarmos a bater quando formos atingidos,
continuará para sempre.
É por isso que estou a falar de eliminação mental do militarismo. Há
pessoas que tentaram colocar o Japão no centro do universo e que morreram odiadas.
Há também aqueles que morreram impedidos nas suas tentativas de defender a
democracia. Uma vez que o mundo foi corrompido desta forma, devemos descartar
imediatamente tais formas e tomar medidas imediatas. Temos de purificar a nossa
terra. Tu, Sensei,podes não saber o que quero dizer com "purificar a
terra". Não estou a falar de misogi no sentido antigo, que não funciona.
O misogi de hoje já foi
transformado. As coisas antigas são inúteis, mas, ao mesmo tempo, devemos
acreditar no que está gravado na literatura clássica japonesa. O facto de o
mundo ter sido criado através das vibrações subtis dos 75 sons está escrito lá.
Portanto, Aikido é um método de manifestar o espírito puro de todas as pessoas
do mundo. É a unidade dos Céus e da Terra. Esta é uma grande democracia. Há
quem diga que a unificação do Estado e da política é uma desculpa para o
Imperador criar um governo militar, mas isso é ridículo. É a grande democracia,
o grande princípio da não-resistência.
Gosto do princípio da não-resistência!
Quero associar-me aos pacifistas. São os fanáticos religiosos que estão
mais atrasados.
...está a dizer coisas de que gosto. (risos)
O que acha que pode fazer por aqueles tolos estúpidos?
A única coisa que eles podem fazer é ganhar dinheiro.
Gosto muito de rezar ao kami. Sinto-me muito bem quando inclino a cabeça
com as mãos juntas em oração. É com um sentimento de apreço que bato palmas em
frente ao altar quando me levanto de manhã. Os meus filhos riem-se de mim,
dizendo que sou antiquado. Penso que é bem o contrário. Sou moderno. A razão
para isto é que eu contenho o universo na minha barriga. Tenho na barriga as
antigas eras do kami, hoje e o futuro. Os
kami habitam em pessoas saudáveis. Grande poder é dado a pessoas
saudáveis. Olhe para o sol. É deslumbrante, não é? Mas não é de todo
deslumbrante para mim e posso olhar para ele sempre que quero.
Não tem olhos maus? (risos)
Faço amizade com o sol. O sol está ao meu lado. Se uma estrela cair,
influencia-me. Vivo no mesmo universo.
"LÁGRIMAS DE TRISTEZA" CHEGAM AO PODER
Foi um pouco Deguchi Onisaburo que divinamente o
inspirou, certo? (risos)
Foi por isso que adoptei a alcunha de Rikizo. Podia mover uma ponte de pedra
pesando mais uma tonelada sozinho.
Era um crente de Omoto naquela altura. E agora?
Imagino que não me reconheceriam como um deles agora.
O que o fez ser um crente de Omoto naquela época?
Queria curar a doença do meu pai.
Curou-se?
Ele morreu. Pode dizer-se que desde que morreu, estava curado, certo? Só
pode ficar doente se estiver vivo. (risos)
Tem mesmo uma maneira misteriosa de falar. Não percebo o
que diz a não ser que pense bastante nisso, obrigado... (risos)
A Omoto ainda me aceita como um membro comum. A religião Omoto representa o
grande princípio da democracia. Nunca conheci uma pessoa melhor do que Deguchi
Onisaburo Sensei. Foi um grande defensor da democracia. Foi assumido muitas
vezes erradamente como membro do partido comunista. Era um grande homem.
Aprendi com ele o estudo do kotodama. Mas não me ensinaram formalmente, aprendi
naturalmente por estar com ele.
Uma vez arrastei dois líderes da religião pelo colarinho e levei-os para
casa por volta da meia-noite. Imploraram-me para não os levar assim, mas
disse-lhes que achei as suas opiniões um lixo e levei-os para casa. Tive muitos
desafios, mas nunca fui derrotado. Houve uma altura em que andava por aí a
carregar uma espada de bambu.
AIKI É A VITÓRIA SOBRE A SUA PRÓPRIA ESPADA
Também venceu um praticante de sumo, não foi?
Havia Tenryu e Onosato. Quando este
último me atacou, levantei-o levemente e projectei-o. Havia um homem chamado
Matsumoto Toranosuke que, lamento dizer, faleceu na União Soviética, que
sugeriu que Tenryu testou a minha força. O Tenryu estava a rir-se. Tinha mais
de 1,80 m de altura e pesava mais de 240 quilos. Eu era um homem tão pequeno
que era impossível ter um desafio de sumo com ele. De qualquer forma, disse-lhe
para tentar. Agarrei-lhe a mão de ânimo leve e disse-lhe para me empurrar com
força. Apesar de me estar a pressionar com toda a sua força, disse-lhe:
"Não tens muito poder, pois não?". Depois, mudei
ligeiramente de posição e ele caiu. (...)
Em qualquer Budo japonês pacífico, a harmonia é importante. Tens poder
quando estás calmo. Se estiver muito ansioso, perde. Por outras palavras, Aiki
pretende conquistar algo correctamente. Superas a tua própria espada. Isto é
chamado katsuhayabi e é muito mais rápido que o sol, a lua e a
terra. A razão é que tu és o próprio universo. Não há nada mais rápido ou mais
lento no universo. (…)
Os oficiais militares entenderam o espírito de Aikido?
Não, não entenderam. Os oficiais militares baseiam-se na batalha, mas eu
baseei-me no meu próprio padrão, em Aiki.
Mesmo que lhes explicasse isso, eles não teriam
respondido, "Sim, sim, senhor", não é?
Teriam dito: "Aiya, aiya!" (põe-te em guarda!)
Música: Makai Symphony, Battle of Giants