Passear
em Queluz, a pé, passando por alguns dos sítios mais emblemáticos da antiga
vila. Era a proposta para um domingo que devia ter estado (sempre) solarengo.
Mas lá fomos, encasacados ou nem tanto. Começamos no parque de estacionamento
mais próximo da rotunda dos ‘Arcos Reais’. Já passava das dez da manhã.
Popularmente, o troço do aqueduto que está mais próximo do rio Jamor é conhecido por Arcos Reais. O nome institucional é
Aqueduto da Gargantada, uma infraestrutura aquífera setecentista que corre
maioritariamente em troços subterrâneos – que também tivemos oportunidade de
ver - mas que mostra a sua arcaria a mais de vinte metros de altura quando
acompanha e transpõe o Jamor, se estende até ao chafariz de D. Carlos e se
esconde na rua Carlos Seixas.
A
“nascente” fica no sítio de Gargantada e a caleira da arcaria levava água de
Carenque ao Terreiro do Paço. A água não se destinava porém às habitações do
percurso, mas sim as cavalariças de D. Pedro II, independentemente de existirem
alguns chafarizes mandados construir pelo rei para distribuição de água às
populações.
As
casas que rodeiam o aqueduto já lá estão há muitos anos. Algumas perspectivas
colocam os arcos à frente das janelas dos prédios Os mais próximos serão
certamente vítimas da ausência de luz e sol. Mas também tem o privilégio de
serem vizinhos daquela obra monumental daquele que seria o futuro D. Joao V.
Logo
após o arranque, passamos a Ponte Pedrinha e metemos a caminho do Mercado.
Parámos antes de uma pequena ponte antes envolta num caniçal medonho onde os
mais novos ou amedrontados não entravam sozinhos. Ali perto falta um ou outro
prédio, vítima sobretudo das inundações de 1967.
Trepamos
até à estação de Queluz, hoje irreconhecível face a aquela época em que ainda
havia armazém de mercadorias e uma passagem de nível. Descemos pela “rampa da
estação”, uma subida tremenda para quem tinha/tem de a trepar todos os dias para
ir trabalhar, sede da célebre empresa J. Pimenta.
Continuamos
pela rua de D. Maria para fazer uma vista à Marianita. Diz quem sabe que são os
melhores pastéis de nata de Portugal. A paragem coincidiu com a primeira bátega
de água. Esperamos ainda assim envolvidos pelo aroma do café e dos bolos.
Voltamos
aos “Arcos”, passamos o largo da Ponte Pedrinhas e subimos as escadas junto ao
aqueduto. Prosseguimos pela Carlos Seixas até que paramos por baixo de um dos
arcos do aqueduto. Dali, é possível divisar uma bonita panorâmica do parque urbano
de Queluz, vendo-se também em primeiro plano o bairro de Nossa Senhora da
Conceição, o chamado Bairro Económico, onde vivi durante mais de 20 anos.
Dali,
fomos a caminho da Elias Garcia, uma das artérias viárias urbanas mais extensas
de Portugal, mais de cinco quilómetros, desde a Ponte Pedrinha (onde ainda é
avenida) - o nosso ponto de partida - até à Estrada de Benfica, às Portas de
Benfica.
Chegamos
aso “Quatro Caminhos”, célebre cruzamento queluzense que marcava simbolicamente
o centro da cidade. Há anos era mesmo o local mais central de Queluz, onde
muita gente combinava encontrar-se. Era o sítio dos cafés, meio caminho entre
casa e o liceu, entre a estação e o palácio, onde a rapaziada do liceu se
encontrava depois das (e alguns durante as) aulas.
O
casario ainda é dessa época. Alguns cafés, porém, desapareceram. O Lena e o
Laúrea mantêm-se. O Mina Velha e o Mina Bela há muito que deram lugar a um
supermercado e a uma loja de fast food. Mas o sítio continua a fazer parte do
património de Queluz e a ser um dos locais mais movimentados da cidade.
Descemos
pelo “Parque” e comentamos o facto de o parque infantil dispor de equipamento
novo e sofisticado mas de não lá crianças a brincar já lá vai muito tempo. No
meu, havia lá areia e baloiços, escorregas e cimento. E tinha crianças. As
crianças de Queluz – não devem ser muitas nas casas antigas do centro – ficam
apenas com o “Jardim” para brincar.
É
nesta avenida, a da República, que se situa a Junta de Freguesia, a Casa de “Os
Belenenses” e a farmácia Zeller (no rés do chão de um prédio em ruínas). Esta
avenida, historicamente relevante em Queluz, é uma das que mostra mais
ruínas.
Dali
fomos até à travessa da Bela Vista, lugar de onde se vê grande parte do Monte
Abraão e Queluz Ocidental, o bairro “Económico”, o bairro da “Estação Nova” , o
parque da Matinha, e ainda a parte norte dos jardins do palácio de Queluz.
Depois,
metemos por uma viela no final da rua Vasco da Gama e desembocamos no largo
Mouzinho de Albuquerque junto do chafariz. Subimos um bocado da avenida da
República à procura de uma das mais bonitas moradias de Queluz. Foi nessa
altura que caiu a segunda carga de água da manhã. Abrigamo-nos debaixo de uma
varanda.
Descemos
pela paralela a caminho do palácio, passamos em frente do quartel do Regimento
de Artilharia 1 e do chalet da família do conde Almeida Araújo e entramos num
dos ex-libris de Queluz, o bairro Almeida Araújo, mais conhecido pelo Bairro
Chinelo.
O
bairro nasceu com o palácio. Foi lá que os trabalhadores que o construíram, e
depois quem serviu no palácio, se alojaram inicialmente. São casas baixas
outrora de madeira, pedra e cal. Hoje, a maioria das habitações estão recuperadas.
Com essa restauração, a pequena e escondida aldeia setecentista de artífices está
mais simpática, ganhou cor e alguma diversidade populacional.
Falhamos
a Fonte da Carranca e atravessamos para o palácio já passava do meio-dia. Ainda
entramos na recepção mas decidimos deixar a visita para oura oportunidade.
Seguimos junto ao muro baixo dos jardins que dão o parque urbano ao longo de um
laranjal que envolve o curso do rio Jamor dentro palácio.
Pouco
depois, entramos no bairro de Nossa Senhora da Conceição, o tal das Casas
Económicas. Passamos pela “praceta” e descemos a rua de Angola tentando recordar ou descobrir quem morava onde. Acabámos onde começamos, com o sol a permitir despedidas
e a promessa de novo passeio para breve. Podíamos ter sido mais de vinte, mas a gripe só perdoou quatorze. Com corações rebeldes ou não.
Música: Sérgio Godinho, É tão Bom