quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Sintra, À Sexta





A fachada do Palácio da Vila reluz.
Foi pintada há pouco tempo com um branco irradiante.
Brilha e atrai muita gente.
Alguns fazem fila, à sombra, para entrar.

Ao sol, está-se tão bem como na praia.
À sombra, tão fresco como sob a ramagem das árvores.

Hoje, é sexta. Nunca estive aqui à sexta.

Há muitos idosos, mais idosos do que ao fim de semana.
A maioria é turista. Sintra está cheia de turistas.
Estamos no início de Outubro, já devia haver menos gente, menos turistas.

Também há mais carrinhas negras, institucionais, com motoristas.
Os Correios estão abertos. Aliás, todas as lojas o estão.

O vai-vem é frenético. Mas uma espécie de frenesim tranquilo muito sintrense.
Há gente para tudo: para andar, para entrar, para conversar, para estar.
É no centro da vila que a maioria deambula.
Quanto mais longe do centro, menos pessoas há.
As que há espreitam, insistem ou fotografam. Outras seguem e desaparecem.

Todos os restaurantes estão abertos. E servem. Já passa das três da tarde.
Um numa varanda, outro numa entrada de garagem, outro num jardim.
Muitos renasceram. Outros são novos.

Há mais lojas de lembranças e produtos típicos. 
Estas crescem agora nos meandros da parte velha que trepa desde o largo da vila.

A acompanhar a Volta do Duche continuam as esculturas em pedra dos escultores da região.
E as bancas de levante com artesanato.

Mas são as ladeiras e as vielas da parte velha que dão gozo. 
O acesso à Periquita está lotado.
Lá dentro, porém, não é preciso esperar pelos "travesseiros".
Espreitei de um miradouro estreito num beco.
Vê-se desde a Câmara até ao outeiro de São Pedro.


Novidade, também, as luzes acessas de dia na Volta do Duche.
Estavam em manutenção, pareceu-me.

Até vi uma BMW 1600 com matrícula sueca.
Tinha os capacetes soltos em cima do banco...

A maioria das esplanadas estão cheias. No centro, nem todas. 
Também descobri uma imperial de 40 cl a 5,10€ no Hokey de Sintra.

Novidades e preços para turista. Parece que estou de férias! 


Música: Arti e Mistieri, Valzer per domani
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LUMINA, Cascais 2014






Noite, luzes, sombras, brilhos,
sons. Muita gente e muita humidade. Chovera pouco antes, mas na hora de arranque era apenas o ar que estava húmido, as ruas e a relva. O percurso, tal como no ano anterior, estava assinalado a azul. Era só seguir a linha de candeeiros e assistir às diversas performances. 
Começamos pelo parque da Liberdade, entrando próximo do museu Castro Guimarães cuja fachada estava já preenchida por uma projecção. Continuando pelo parque, fomos seguindo as alamedas azuis até um jardim florido de luz. Daí à Casa das Histórias foi um instante, onde estavam projecções filtradas por água que davam uma textura interessante às imagens.

A fachada do Museu do Mar também estava sob projecções e no largo fronteiro erguiam-se espirais de luz ao ritmo de música. Mais à frente, uma grande nuvem de luz "obrigava" a puxar um fio de chuva. Antes, alguns traços resultantes de sombras, desenhavam personalidades famosas.

Numa das ruas exclusivamente pedestres de Cascais, mais propriamente na Frederico Arouca, era um painel de candeeiros alaranjados que acompanhava o vai-vem das pessoas.A seguir era uma espécie de painel luminoso interactivo que captava os traços de novos e velhos. 
No edifício da Câmara também havia de projecções. Aliás, este ano, as projecções multiplicaram-se por diversas fachadas. Ali ao lado, por cima da praia dos pescadores, voam duas baleias. Em baixo, na areia, havia mais uma composição produzida com flores luminosas.

Mais acima, as muralhas da cidadela estavam avermelhada e na porta principal também havia projecções. Esperava-se em fila para entrar. Lá dentro e em redor da praça de armas, todas as fachadas mostravam projecções.

Saía-se para a marina através de uma alameda iluminada com azuis fortes. Muita gente aproveitava aquele tipo de iluminação assegurar algumas fotografias em que os rostos mais pareciam saídos de um filmes de zombies.  

Cores quentes, frias, variadas, manchas, pontos, riscas, fitas, muitas projecções. Acompanhados pela luz nem parece que em cerca de uma hora é possível dar facilmente a volta ao centro urbano de Cascais. 


Música: Al Di Meola, Casino






segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pavilhão CARLOS LOPES


Naquela altura chamava-se Pavilhão dos Desportos. Nunca lá vi nenhuma actividade desportiva, mas foi ali que assisti a um concerto de uma banda de rock inglesa, no final dos anos 70. Numa altura em que os holofotes já mudavam de cor, mas em que o fundo ainda era animado com slides... 
Ali perto, o parque Eduardo VII convida a uma das paisagens mais atractivas de Lisboa. Basta estender os olhos ao longo das alamedas, esticá-los avenida da Liberdade abaixo e deixá-los no rio. Ou, mais acima, alargá-los para poente ao longo do lago que encima o parque.
Dali, também se alcança a preferia da "Baixa", ficando em primeiro plano a colina do castelo. Mais longe, depois do rio, reconhece-se a Arrábida. É o verde com pinceladas de barro que domina. O sítio e a paisagem são nobres. Já a manutenção dos sítios e dos edifícios deixa a desejar. Basta pensar nos anos em que a Estufa fria "gelou".
Dez anos depois do 25 de Abril mudou de nome. Passou a denominar-se Pavilhão Carlos Lopes e está "encerrado desde 2003. Hoje, a porta exterior está entreaberta e as interiores estão escancaradas. Há lixo por todo o lado e o chão do pavilhão está pejado de dejectos dos pombos que fazem pombal do edifício.
Pensar que o edifício foi inicialmente construído no Brasil para albergar o pavilhão de Portugal na Exposição Internacional do rio de Janeiro, em 1922, e posteriormente desmontado e remontado onde está hoje, não faz prever o seu destino mais recente.
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A expressão as pessoas que passavam era inicialmente de surpresa, depois de incredibilidade. Os turistas mantinham a expressão de surpresa durante mais tempo para depois parecerem interrogar-se: quem é que deixa isto chegar a este ponto, no coração da cidade, sem actividade, sem manutenção, abandonado, degradado, completamente devassado...? 
Aparentemente, houve a ideia de transformar o espaço num museu de desporto. Mas não de concretizou. E o espaço continuou a degradar-se. Depois, foi aberto um concurso público para o abrir como espaço multiusos. Mas embora tenha havido um vencedor, o projecto também não foi para a frente. E a degradação continuou.
Hoje, para além da imundice do espaço, um atentado à saúde pública, o vandalismo já levou alguns painéis de azulejos. E sabe-se lá que mais. Há vidros partidos, muito lixo. Não esperava que o pavilhão Carlos Lopes estivesse de tal forma devassado. A colocação de barreiras em chapa parece ter sido uma preocupação de preservar o espaço. Porém, na porta principal não existe qualquer vedação que impeça qualquer um de entrar. 

Um dia destes, até a escultura do discóbolo que está no átrio do edifício é capaz de desaparecer. Já faltam alguns painéis de azulejos e cabos eléctricos rareiam. Até tenho a impressão de que o escadote que está numa das salas laterais ao átrio serviu para levar um dos candeeiros...
A SIC fez uma reportagem este ano sobre o estado de degradação a que chegou o edifício.
http://sicnoticias.sapo.pt/programas/abandonados/2014-03-10-pavilhao-carlos-lopes-em-lisboa-esta-fechado-ha-mais-de-10-anos, e levou lá o atleta que ganhou a maratona em 1994, em Los Angeles e que deu nome ao pavilhão. Aparentemente, nessa altura, ainda as portas estavam fechadas permanentemente. A Câmara diz que tem projectado para o edifício um Centro de Congressos...

Música: Amethystium, Enchantment
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