Benidorm, 24 a 27 de Abril de 2008
A proposta dizia 'Arco do Mediterrâneo' e apontava Benidorm como local de Encontro. O projecto Arco, uma iniciativa do Clube Paneuropean Espanhol, contemplou a reunião dos clubes português, francês, italiano e espanhol, naquela que é considerada uma das estâncias de férias por excelência da costa mediterrânea. Viagem e estada sem problemas, organização excelente e admiráveis condições atmosféricas. Alguns detalhes, a seguir.
Almoço em Trujillo
Encontrámos o Fernando e a Beta, de nariz no ar, à procura da Plaza Mayor.
Porém, os acessos à histórica praça da localidade estavam vedados –
preparara-se a festa do Cristo de la Salud - pelo que aproveitamos um estreito
túnel, metemos por lá as motos, descemos entre paredes de pedra e desembocamos
nas arcadas do … tribunal. Almoçámos numa esplanada na proximidade de egrégias
galerias de granito, sob o domínio do castelo, perto da igreja de Santa Maria,
e o sob olhar soberano da estátua de Pizarro.
Bem-estar em Toledo
A cidade eleva-se do Tejo como um cone de
pedra bege, em cuja base mandam portas e muralhas, e no vértice domina o
Alcazar. Ruas estreitas, alcantiladas e íngremes. Passagem pela catedral, pelo
Alcazar, por montras repletas de espadas e cavaleiros medievais. Ao jantar,
“picámos” numa esplanada acolhedora, sob árvores.
Cercanias de Tolaitula.
Era assim conhecida nos tempos do Cid. Já passava das 10, quando abandonámos a
cidade conquistada aos árabes por Afonso VI com a participação do um dos Mendes
da Maia. Pela circular interior ficamos com uma boa ideia da dimensão, da cor e
da assimetria das edificações toledanas.
Daquela Bateria da STX
Consegue surpreender mais do que a neve em Marrocos. Mesmo após um período de
funcionamento, de repente, arranha, estrebucha e cala-se. Um empurrão resolve,
mas é preciso mais do que um par de braços para impulsionar os trezentos e tal
quilos da máquina e do condutor. É sempre um momento apoteótico para as
clássicas.
Estrear uma Auto-Estrada
A AP-36 para Albacete ainda não dispunha de áreas de serviço com restaurante, e
poucas tinham café sequer. O itinerário é árido, aliás como muitos em Espanha.
Até depois de Almansa, o perfil é plano, o ambiente seco, a paisagem
cerealífera. Vê-se alguma vinha aqui e ali, a contrastar com bastantes painéis
solares…
Félix e Ana
A ST tinha matrícula de Toledo e todos fomos unânimes, quando os interpelámos à
hora de almoço: dormimos na vossa terra! Afinal só a moto era toledana. Eles
vinham de Valladolid, ali próximo dos Pinguins. Ela é especialmente castelhana,
muito divertida no seu estilo 'Castilla ubber alles!'. Ele é moderado e aprecia
quem sabe sobre a “questão espanhola”.
Giro de Almansa
Demos duas voltas ao centro da vila, sem qualquer hipótese de chegar ao centro.
Parecia a reedição do acesso à plaza Mayor de Trujillo. Espreitámos uma
esplanada lá, naquele centro inacessível, mas foi preciso perguntar a um local
para encontrarmos um restaurante. Excelente refeição por 10 euros. A truta
estava deliciosa.
Hora de Ponta na Estrada e no Céu
O trânsito aumentou ao mesmo tempo que o perfil da estrada se torcia ao longo dos montes alicantinos. Mais carros e camionetas de turismo faziam supor estarmos perto de espaços cosmopolitas. Antes, as muitas e simultâneas esteiras brancas deixadas por aviões no céu, contratavam com as raras que seguimos em Portugal.
Ilha de Manhattan
Assim lembram os altos e esguios edifícios de Benidorm, vistos desde a auto-estrada. Depois, lá por baixo, parecem agulhas de betão esticadas para o céu. Diziam ser o espaço exíguo da comarca a obrigar à construção em altura. Para quem conheceu a cidade há 30 anos, pode afirmar-se que o Burger King e a discoteca da nave espacial, são as únicas referências que se mantêm no mesmo local. O Pacha também desapareceu da proximidade marítima…
Julgamento do Tempo
Sentença: havia que cumprir horários! Disse-o o anfitrião espanhol, o vice-presidente do CPEE, Fernando Largo. Mas não precisava. Não foi pelo relógio de ponto que todos se guiaram. Estava-se ali pelo prazer de estar, não pela necessidade de cumprir. Talvez por isso, não tenha havido atrasos.
Lugares de Nesperas
Foi ao longo do perfil montanhoso da zona, que as Pans
evoluíram em estradas estreitas mas de bom piso. São bastantes as estufas de
nespras que se estendem ao longo dos socalcos dos montes que dominam os
arredores de Benidorm. Depois, foi vê-las ao natural, em almibar, com vinho, em
latas, em francos ou em cestos. Tal como as cerejas!
Mil Oitocentos e Oitenta Y El Lobo
Mil Oitocentos e Oitenta Y El Lobo
A jornada levou-nos até à mais antiga fábrica de torrão de Alicante, um doce típico baseado em mel e amêndoas, semelhante ao nougat francês. O de Xixona é acastanhado, o de Alicante esbranquiçado. Chegou a ser distribuído numa carrinha Rolls Royce…!
Nas Muralhas de Santa Bárbara
Trepa-se um penhasco para chegar ao castelo. Do cimo, domina-se toda a cidade
de Alicante, que parece chata de rasa. Acesso penoso, entrada habilidosa,
recantos estratégicos, a pedra como dominante. Lembrei-me de fortalezas
semelhantes em Málaga e Barcelona.
O arroz alicantino
Rumámos em fila ordenada, rumo a Campello, auxiliados por batedores da polícia alicantina. Almoçámos no Grana, um restaurante situado na marginal da localidade, especializado em arroz, que não é ‘à Valenciana’. O sabor a ervas marca a diferença, além de vir acompanhado por choquinhos com tinta. Em frente, uma praia extensa de areia fina. A noite foi no Palace, à saída de Benidorm, onde jantámos e assistimos a um espectáculo de casino. Um show de dia!
Porta de Guadalest
É estreita e baixa, e mais não permite do que a passagem de pessoas. Antes,
eram os burros que levavam as pessoas à porta. Agora, só a pé. Lá dentro,
depois do pequeno túnel escavado na rocha, um lugar com uma dúzia de casas,
sendo uma delas senhorial, recheada de antiguidades e memórias. No cimo, as
ruínas de um castelo. Em baixo, uma pequena albufeira de água verde. Lugar
catita!
Quanto mais pequeno, mais surpreendente
Mijas, na zona de Benalmadena / Fuengirola também alberga um museu semelhante de microminiaturas. Em Gauadalest também era possível espreitar ‘A Última Ceia’ pintada num grão de arroz, ver uma escultura de Michelangelo nas asas de um insecto, espiar um par de amantes invisíveis a olho nu. Um mundo anão para quem tem boa vista.
Rio Algar
De novo na serra, curvámos a caminho da nascente do Algar. Um percurso pedestre, com escadarias a trepar as encostas onde o leito do rio cai em cascata de vez em quando. Mas não se chegava à fonte, à nascente, entrevada de madeiras. Valeu pela actividade física e por abrir o apetite.
Sensação de frescura
A tarde aqueceu. Quando regressámos a Benidorm apetecia molhar os pés, sentir a temperatura da água mediterrânica, dar um mergulho. Não tardou a precipitarmo-nos para a água da praia do Levante e, em pouco tempo, estarmos no meio de alguns cardumes de peixes mais atrevidos.
Traduções
Foi um dos aspectos mais divertidos da
jornada. Uma simpatia da organização. Assegurar de uma tradutora
para uma sessão de esclarecimento inicial e para os discursos da praxe do
jantar institucional. Divertido, foi quando nos quis traduzir, em português, o
discurso do Zamith. Cómico, também, foi seguir os esforços da Andreia – a
tradutora brasileira – que tentava afincadamente que percebêssemos, pelo menos
metade do que os outros diziam. O êxtase chegou quando “puta madre” foi
traduzido por “cacete”, mesmo que tivéssemos exigido o vernáculo. O acordo
ortográfico que se cuide.
Um passeio na marginal
A Penélope, célebre discoteca da rapariga de chapéu largo, está agora na marginal, próxima da zona antiga, paredes-meias com a praia. Tinha uma ‘peixeira’ e um ‘marinheiro’ a dançarem numa espécie de balcão. Tem tudo a ver com a “faina” nocturna da zona. Foram os shots gratuitos que nos enfiaram por baixo dos holofotes. Mas a música puxava pouco e acabámos por assistir a um streap tease na praia de uma expedição de ingleses, seguido de banho nocturno induzido por algumas cervejas a mais.
Voar para casa
Era preciso voltar. De início, faltaram 1050 quilómetros e umas quantas bombas de gasolina, sob a repetição da aridez da Mancha e de Castela. Salvou-nos da monotonia um cordero letchazo e um entrecôte, trincados numa baiuca dos arredores de Madrid.
Xatice
A nossa humanidade é ‘xata’. Obriga-nos a pensar sobre a solidão, a relação com
os outros, as despedidas, e a desenvolver aquele sentimento, tão nosso, de
saudade. Ainda o programa não havia terminado e já estávamos a despedir-nos.
Antes de sairmos, já estamos com saudade. Felizmente, o nosso “adeus” é sempre
um “até breve”.
Zás
Mais uma, esborrachada na viseira! Voavam
baixo os insectos que se iam amontoando como em vala comum. Viagem catita,
apesar da mesmice, do impacto dos insectos, do calor de Badajoz e da fila de
trânsito proveniente do Algarve que estava à nossa espera a cem quilómetros de
casa. “Uma viagem em família”, como diria Fernando Largo.
O “Arco” convenceu-me. Não tanto pelas
iguarias gastronómicas, mais por uma ou outra especialidade, não tanto pela
excelência dos locais, mais por um ou outro espaço atraente, não tanto pelo
fausto da jornada, mais pelo luxo dos vários momentos de bem-estar e alegria.
Anfitriões destes deleites, os espanhóis estão de parabéns.
Música: 1 e 2ª partes - Chick Corea / Spain; 3ª - Oliver Shanti / Gloria para el pacifico dios; 4ª parte - Craig Chaquico / Cafe carnival.
1ª parte
2ª parte
3ª parte
4ª e última parte