Há paredes e corredores decorados com excelentes painéis de azulejos setecentistas, barrocos e rococó. Têm cenas campestres, históricas e mitológicas e datam sobretudo do século XVIII. Estamos no Palácio Tocha ou dos Henriques.
Foi construído no início daquele século para albergar o capitão Barnabé Henriques e a sua família, tendo sido adquirido pelo engenheiro José Tocha, um seu herdeiro, no início do século passado. Chegou a ser hotel. Hoje é o Museu José Berardo, em Estremoz.
Após uma exposição no Monte Palace, da Madeira, ainda núcleo de azulejaria, e a posterior aquisição do Palácio da Bacalhôa, que já possuía um acervo importantíssimo na área da azulejaria, José Berardo deu continuidade à sua atracção nesta arte.
Por tal, reuniu no Palácio Tocha uma colecção de colecções de azulejos, hoje considerada a maior colecção privada mundial. Trata-se de um espólio único na azulejaria nacional e mundial, uma homenagem à arte, aos artífices, à história e à cultura portuguesa.
Os azulejos, étimo árabe az-zulaiy, um legado hispano-árabe, em especial o estilo “alicantado” (brilhante como o ouro), já desde o século XI se estima ter tido um dos seus momentos mais radiosos, apesar dos exemplares mais importantes datam dos séculos XII, IV e XV.
A arte da azulejaria, dotada de técnicas, desenhos, ornamentos e estilos cerâmicos, já mostrava desde a génese, a importância da geometria e da química que proporcionava a pigmentação mineral das obras.
Oriundo provavelmente da região de Sevilha/Granada, o azulejo revelou-se um elemento crucial e aglutinador na construção e partilha de uma identidade estilística circunscrita à Península Ibérica, estendendo-se para a cultura como uma das suas singularidades mais antigas.
Há muitos exemplares provenientes de colecções privadas, como sejam os casos de Vera e Verónica Leitão, Colecções Bonaventura Bassegoda (Catalão) e Laura Salcines (Sevilhana). São as primeiras salas do piso térreo que possuem azulejos provenientes de Espanha, nomeadamente de Sevilha.
De salientar, além do tecto revestido com placas cerâmicas seiscentistas, algumas mesmo provenientes de igrejas, os painéis com figuras religiosas ou cenas simbólicas, que também estão patentes nas salas do piso térreo. De duas das salas, há acesso a um pátio interior, também ele decorado com elementos cerâmicos estilizados.
Acede-se ao piso superior por uma escadaria monumental de mármore de Estremoz, ou não estivéssemos na cidade com jazidas de mármore tão próximas. A escada, revestida a azulejos oitocentistas, dá acesso à sal nobre do palácio onde está patente um valioso espólio de painéis decorativos temáticos.
Estamos na “Sala das Batalhas”, com paredes profusamente preenchidas com representações de batalhas vitoriosas da História portuguesa. Passamos à “Sala de Neptuno” e terminamos na “Sala de Hércules”. O azulejo volta a ser o elemento decorativo por excelência do espaço.
Outro elemento decorativo aqui salientado é o de episódios mordazes, até cómicos, com macacos, que também está representado em alguns acervos de azulejaria portuguesa, uma maneira de representar ironicamente, às vezes até de forma grotesca, os próprios disparates humanos.
O deslumbre continua com os diversos estilos representados nas paredes das restantes salas. Vamos ao Rocócó, passamos ao Neoclássico, depois ao Pombalino. Aproximando-nos do século XX, e surgem os estilos Revivalista e Nacionalista.
Da Fábrica de Louça ao Rato passa-se para a Fábrica de Louça de Sacavém, para a Fábrica de Sant’Ana, numa perspectiva industrial. E o azulejo, através de grandes painéis, passa também a “entrar” na publicidade., articulando até “esteiras chinesas” com “carpetes de Cairo”…
Aparecem exemplares de Arte Nova e de Arte Deco. Surgem obras de Siza Vieira, Júlio Pomar, Paula Rêgo, Salvador Dali, cujas peças não estamos habituados a ver em azulejo. Do século XII, chegamos ao Século XXI., quase uma década de séculos de arte em azulejo.