Por vezes, perguntamos: o que fazer quando não se pode fazer nada? A resposta costuma ser positiva, ou seja, há sempre qualquer coisa que se pode fazer, para além de não fazer nada. Porém, quando as limitações se adensam e nos isolam, há que investir ainda mais na descoberta de, o quê, por onde, quando, com o quê, fazer qualquer coisa.
Em Quarentena, as limitações aumentam. Porém, foi possível fazer outras actividades. Estar fechado num espaço reduzido, por vezes tão exíguo que se torna asfixiante, pode motivar à saída, ao passeio, à caminhada, à corrida, à pedalada. Pedalar, é saudável. Para quem o pudesse fazer no exterior, juntava a extensão do horizonte ao exercício físico num percurso.
É montar e partir, como diria Ricardo Lugris ,https://www.amazon.com.br/Montar-Partir-Ricardo-Lugris/dp/6558841975. viver e insistir em aventuras, novidades, abraçar outros “mundos” que passam sob as duas rodas. Mas, também, sentir a liberdade de poder, até, dar umas pedaladas nos passeios largos, encostar a bicicleta a uma árvore ou deixá-la no chão, passar sobre estreitas pontes de madeira e observar as águas da ribeira a passar.
Com as pistas cicláveis, nessa altura em maior número, estava aberta uma excelente oportunidade para pedalar. E, assim, aproveitar os diversos itinerários para conhecer mais um bocado do ambiente que nos rodeia e que rara ou nunca percorremos. E poder fazê-lo de uma forma tranquila, sem grande esforço, usufruindo da segurança das ciclovias. Fora delas, porém, o panorama muda…
As ciclovias puderam ser um caminho seguro para todos aqueles que, apenas a andar, a correr ou a pedalar, conseguiram juntar o útil ao agradável. Como não me convém correr em pista dura, aproveitei o facto dos amigos e colegas do Aikido também terem optado por se exercitarem nestes trajectos. E acompanhei-os de bicicleta em diversas ocasiões.
Horizontes e percursos foram-se diversificando e multiplicando, entre o urbano e o suburbano. Até por sítios improváveis, raramente percorridos. Outros, que reagiam à memória de décadas. Outros, ainda, de plena descoberta, quer paisagística, quer edificada. Outros, também, quer longe, quer perto, quer com bom tempo, quer com mau tempo, quer parques, quer ciclovias, quer ruas, quer estradas.
Foi assim em Queluz, na Amadora, em Belas, no Cacém, em Tercena. Do parque Felicío Loureiro ao “Bairro”, do palácio de Queluz à Floresta da Quinta Nova; do antigo Pigalle à ponte Filipina de Carenque, na Amadora; até aos Fofos de Belas, até ao Reservatório de Água de Tercena (junto à CREL), até à casa onde habitou um colega de liceu, até à estação ferroviária do Cacém, até ao Miradouro do Alto de Colaride.
Nestes périplos, várias surpresas, na maioria boas ou bizarras e locais incontornáveis. Bizarras: uma torre no meio da rua; todos os bancos de jardim vedados. Boas: o novo centro de Saúde de Tercena (um bom aproveitamento de um solar local); o novo azul nobre do palácio de Queluz. Novidades: o estaleiro de construção do Continente de Queluz; passagem pedestre sobre o rio Jamor no Alto dos Moinhos. Incontornáveis: os Arcos Reais ou a Ponte Filipina de Carenque.
Independentemente do sítio e da proximidade, é possível pedalar de uma forma tranquila, à velocidade da respiração e do olhar. Para não cansar e usufruir da paisagem. Sozinho ou acompanhado. E, se não for para longe, é sempre possível dar uma volta pela pela vizinhança. E até é possível dar um trambolhão, de vez em quando...