A ideia era gira: escolher um sítio com bom ambiente onde todos pudessem dele usufruir e aí celebrar um quarto de século do CPEP. Tróia já tinha sido eleita e parecia reunir essas condições. Estimava-se que não fosse difícil concretizar tal projecto. Porém, a realidade, por vezes, ficciona-se.
E, depois, ficamos envolvidos numa trama que temos
de ir descortinando para tentar que o final do filme seja uma boa comédia e não
uma tragédia. Este também passou pela aventura, sobretudo pelo risco de
ficarmos em dívida para com todos. Para com os participantes e para com as
entidades fornecedoras de serviços.
Nos dias anteriores, ainda se discutiam diferenças
de valores. Desde alertas de última hora para o serviço de autocarro até
pedidos de correcção de pagamentos, passando por acertos de horários,
reavaliação de espaços, contabilização de vagas, etc, etc. Isto, antes do
evento. Depois, é outro filme.
O fim de época em Tróia limita-se a si próprio, sem resposta, há anos, para este problema sazonal. Mas, nem por isso, os preços baixam, sobretudo os da restauração. Os serviços atenuam-se ou desaparecem. Ou deixam de ter a qualidade que os preços exigem. Com a proximidade do frio e da chuva, Tróia não consegue sobreviver sem grupos. Por isso, os fins de semana de congressos tentam compensar os dias de semana de aridez. Realmente, quase não vê vivalma durante a semana. Foi isso que constactamos quando fizemos o
reconhecimento do percurso. Verificamos também que, entre o dia de semana e o
fim de semana, o trânsito se mantém diminuto nesta altura. A chuvada antes de
Melides no reconhecimento, contrastou com a ventania do evento.
Durante a semana há vagas para tudo, isto é, para
o pouco que está disponível. O El Cristo é o único restaurante aberto na marina,
aparentemente durante a semana, bem como ao fim de semana, exceptuando os restaurantes das unidades hoteleiras. Os horários dos ferries distendem-se desde o Verão.
O espaçamento entre horários de saída pode obrigar a estar uma hora à espera do
próximo barco. Na proximidade, os serviços também deixam de estar disponíveis. A maioria das lojas encerram.
Durante a semana só está um café aberto na Praia
de Melides. Em Alcácer do Sal, dos dois restaurantes recomendados e com boa
vista para a parte antiga, incluindo a colina do castelo, um estava fechado e o outro não tinha lugares para
todos. Um autocarro tem de atravessar o rio para nos
levar de Tróia às ruínas. As luzes no acesso ao restaurante da praia são da
autarquia, as apagadas, e do Troia Resort, as acesas. A ViaVerde na bilheteira
tem problemas. O bolo de aniversário tem de ser feito na Comporta. E, mesmo
assim, não há velas que cheguem!
(QUASE NÃO) HOUVE ESTRELAS NO CÉU
Na sexta-feira, a temperatura começou a descer. O El
Cristo serviu o jantar aos muitos que estiveram presentes e aqueceram o
ambiente. Previa-se que, no dia seguinte, houvesse muitas Pans a cumprir o
programa. Mas, hoje, havia Noite de Estrelas. Para assistir ao "espectáculo" fomos de autocarro.
O céu estava nublado e, à
vista desarmada, era difícil encontrar as estrelas no fim do ponteiro laser do
astrónomo que nos acompanhou a observação do céu, enquanto duas historiadoras
nos iam embalando o olhar com lendas estelares. Felizmente, houve algumas constelações que se quiseram destacar naquele céu de sexta-feira.
Sentados em bancos mais dedicados a juvenis, espreitamos
pelas lentes de dois telescópios, apontados a um Marte pequenito e, para a Lua,
essa a mostrar a sua habitual face esburacada luminosa. A Cassiopeia percebia-se bem,
tal como a Estrela Polar. As restantes estrelas empalideceram sob a névoa.
Não deixamos de achar estranho o facto e estarmos sentados em cima das ruínas. Provavelmente, muitos romanos andaram por lá antes de nós e foram dando uso ao sítio. Nessa altura, porém, não eram ruínas arqueológicas. Há dois anos,quando assistimos pela primeira vez ao evento, distribuíram almofadas... mas para nos sentarmos no chão.
Não deixamos de achar estranho o facto e estarmos sentados em cima das ruínas. Provavelmente, muitos romanos andaram por lá antes de nós e foram dando uso ao sítio. Nessa altura, porém, não eram ruínas arqueológicas. Há dois anos,quando assistimos pela primeira vez ao evento, distribuíram almofadas... mas para nos sentarmos no chão.
Acabámos a noite no bar do Casino, como se a hora
mudasse naquela sexta-feira, com a tranquilidade que os astros e os mitos nos devem ter
cedido. No dia seguinte, sim, daríamos início ao passeio conjunto de moto, com
uma comitiva de 22 motos.
AO LONGO DA COSTA VICENTINA
O dia acordou luminoso. Da varanda do quarto a Arrábida continuava a ser acompanhada por um Sado aparentemente sossegado e um mar apenas assoreado por uma língua de areia apostada em engolir a boiá de sinalização que indica o caminho para o rio. Deixamos Tróia a caminho de Melides, passavam quinze minutos das dez da amanhã. O frio acompanhou-nos durante o caminho, ao longo de uma planície onde nem sempre o piso era tão mau como o da zona de Pinheiro da Cruz.
Aliás, são cerca de uma dezena de quilómetros onde as raízesdos pinheiros parecem querer sobreviver aso alcatrão. Na praia de Melides vento e frio mantiveram-se unidos não aconselhando grandes aventuras quer no areal quer fora do “Vapor”, restaurante onde parámos para beber um café, dar dois de conversa e voltar à estrada de modo a recuperar o tempo perdido.
Não fosse aquele azul forte do mar no horizonte, algum odor de maresia que ainda chega a terra e o céu a descobrir-se continuamente e a jornada não teria mais do que as raízes dos pinheiros a misturar-se com a incisiva brisa que nos havia perseguido nos últimos 50 quilómetros. Largamos a praia, atravessamos Melides e apanhamos o IP8, agora também assinalado como A26… a caminho da rotunda que dá acesso ao IC1 que, quase até Alcácer do Sal, possui um dos piores pisos d região há já mais de uma década.
Desde a Pré-História que a zona é habitada.
Depois, chegaram os suspeitos do costume, Fenícios, Romanos, Visigodos, Árabes
e, de novo Visigodos agora menos bárbaros do que antes. Até que o nosso
Borgonhês mais famoso quis investir mais a sul.
Mesmo assim, na
Cripta Arqueológica do castelo, uma espécie de subterrâneo multicultural, o
nome de Alcácer - pequena vila fortificada, composta por casas, armazéns e
outras estruturas colectivas – ganha sentido quando se descobrem estruturas
milenares na colina do castelo.
E, na verdade, o que encontramos na Cripta são vestígios da Idade do Ferro que remontam ao século VII a.C., bem como estruturas do período romano e da ocupação islâmica, além de muros medievais da época cristã pós-reconquista. Julgo que todos gostamos das explicações, sucintas e essenciais da visita guiada.
São os romanos que
conseguem deixar os alicerces mais robustos na Península. Aqui, tal é notório
nos arruamentos mais evidentes, nas valas de esgotos, bem como no santuário,
para além das paredes de edifícios urbanos. Tudo isto, mediado por estruturas
que estendem por 27 séculos. É obra!
SABOR A MARROCOS
Mas não foram apenas
os vestígios históricos que nos levaram para o ambiente, mas sobretudo para a
memória de países árabes por onde já andamos. Foi um Moscatel de Setúbal,
servido a preceito e acompanhado por aperitivos tão simpáticos quanto a nossa
atracção por aquele cenário, que nos entreteve entre visitas.
Por iniciativa e
investimento do nosso organizador, José Menau, produção de Isabel Menau,
apresentação e serviço de Mónica Menau e amiga, os participantes puderam
usufruir de um aperitivo antes de almoço, que muito fez lembrar um outro,
servido pela irmã do Zé, no nosso segundo passeio a Marrocos, em El Jadida.
Depois de aguentarmos
tantos séculos de cultura, o Moscatel libertou-nos daquela herança e
convidou-nos a entrar na Pousada do Castelo de Alcácer do Sal, a visitar a
igreja do antigo convento, cujo “pé direito” impressiona, e ainda a percorrer o
claustro junto do qual iríamos almoçar.
A logística assim
havia aconselhado: local de visita e de almoço deviam ser os mesmos. E assim
foi, Cripta e restaurante praticamente contíguos. Embora o espaço do
restaurante seja luminoso, amplo e com vista quer para as muralhas, quer para o
claustro, algumas das “bochechas” foram servidas frias…
Vinte e cinco
quilómetros depois, invadimos o areal do Cais Palafítico da Carrasqueira. O
vento preveniu-nos imediatamente de que andar por cima daquelas travessas de
madeira pode ser assustador. Sobretudo quando a maré trepa rapidamente. Não é caso único em Portugal. Mas é capaz de ser o mais conhecido.
Não há disto na Europa. A grande
dificuldade dos pescadores da Carrasqueira em alcançar águas navegáveis
imediatamente a partir de terra firme, ditou a construção daquelas estruturas
que facilitam o acesso ao rio sobre o lodo que fica visível na maré baixa.Aquela espécie de marina de arquitectura popular tem cerca de sessenta anos a servir de ancoradouro aos pescadores locais.
Em conduções normais - afinal estamos numa das margens
do rio Sado - o Cais é sinónimo de tranquilidade, quer pelo sossego das águas,
quer pela ausência de vento. Desta vez, porém, as
ondas quase passavam sobre os passadiços e a ventania parecia não querer
deixar-nos andar direitos ao longo dos diversos cais onde, junto destes, os
barcos balouçavam como varas ao vento. Não nos demoramos muito.
Quando deixamos o
Cais, o vento instalara-se para ficar. Mesmo no estacionamento de Soltróia o
tempo estava desagradável. Perto da praia, pior ainda, soprava forte. Parecia
estar a dizer-nos para nos despacharmos e rumarmos ao hotel para a Assembleia
Geral do Clube.
Não foram apenas as
farmacêuticas a reunir ao fim da tarde. Por volta das sete, o CPEP estava em
peso na sala Guadiana do Centro de Conferências do Design Hotel, em Tróia. Sem
grande pompa, mas muita circunstância, sentamo-nos em redor da sala,
fisicamente longe, mas solidariamente perto uns dos outros.
A (re)eleição do novo
presidente do Clube recaiu sobre o anterior, que já leva uns aninhos de
experiência no cargo. Serão mais dois, de acordo com a maioria dos votos
expressos. A discussão sobre o futuro do Clube passou também e sobretudo pelas
diversas hipóteses avançadas para gerir a cada vez maior escassez de Pans.
Por volta das oito da
noite, o frio mantinha-se. Ainda assim, a meia dúzia de minutos que nos
separavam do bar da praia não foram suficientes para nos enregelar. E lá fomos,
em fila indiana, sobre o passadiço que nos entregou no Beach Bar / Steak House
do Troia Resort.
Entretanto, a
cerimónia de comemoração dos 25 anos do Clube Paneuropean de Portugal passariam
pelo reconhecimento do empenho do Arlindo Matos, que todos os anos organiza um
Passeio na sua zona, talvez o evento mais antigo organizado por um sócio.
Depois, um
agradecimento aos sócios organizadores deste evento, seguido do habitual brinde
e do apagar das velas. Velas, que se ficaram por 7, 2 correspondentes aos 20
anos e mais 5 para compor o ramalhete. Não foi apenas a escassez de serviços,
mas também a penúria de produtos a caracterizar o evento.
Pior foi o serviço de
abertura e distribuição de champagne, aberto na cozinha longe dos presentes,
colocado em lugares onde não estava ninguém, deixando apenas uma garrafa na mesa
do bolo. Talvez tenha sido a marca, Moet & Chandon, a criar algum
desassossego… logo quando a iniciativa e o custo da oferta, quer do bolo, quer
do champagne, partiram do empenho do sócio José Menau.
Porém, a festa de aniversário superou o episódio, sobretudo quando, todos os sócios presentes foram chamados a receber uma lembrança desta efeméride, uma placa alusiva ao 25º aniversário do Clube Paneuropean de Portugal. E que será posteriormente distribuída pelos restantes sócios que não puderam estar presentes.
Mágoas houvesse,
teriam ficado saldadas na continuação da comemoração que, naquela noite gélida,
encontrou de novo no espaço do Casino, mais uns bons momentos de convívio, ao
som de música ao vivo de um grupo de jazz/blues.
A manhã de domingo não afastou frio nem vento. Depois de uma luta infrutífera com uma ViaVerde avariada na bilheteira do cais do ferry, rumamos a Setúbal. O rio estava mais calmo do que o esperado, as motos não abanaram tanto como na estrada e o ventinho gélido ainda nos obrigou a estar protegidos pela amurada.
Estacionamos próximo
da entrada, ao abrigo das muralhas e fomos subindo o túnel que leva ao pátio
exterior. Dali, a vista sobre Setúbal e Tróia é esplêndida, quer da esplanada,
quer do pátio que ocupa o topo de parte do telhado da fortaleza.
Às tantas, saímos e
voltamos a entrar. Faltava a foto de grupo agendada para o pátio mas que
entretanto havia sido preterida face aos milhentos pontos de interesse do lugar.
Acotovelamo-nos no túnel, escada acima, escada abaixo, e conseguimos sobreviver
a duas ou três posses de grupo.
Voltamos à caravana a
caminho do Vela Branca, um restaurante recente com espaço contado, resvés com a
respectiva lotação. O sítio é agradável, tem vista sobre a zona nova de Setúbal
junto ao rio e sobre a península de Tróia e parte da Arrábida. Espreitando para sul por entre os pinheiros, da esplanada e mesmo do interior do restaurante, é facilmente reconhecível o Hotel
Design que havíamos deixado um par de horas antes.
A esplanada teria sido o local ideal para almoço, mas o frio obrigou-nos a almoçar dentro de paredes. Entretanto, ao longo do almoço em muitas outras coisas, fomos delineando algumas perspectivas sobre o próximo ano do CPEP, sobretudo no que respeita ao Passeio Internacional, ainda sem destino ou datas definitivas, mas já com algumas ideias em desenvolvimento.
A esplanada teria sido o local ideal para almoço, mas o frio obrigou-nos a almoçar dentro de paredes. Entretanto, ao longo do almoço em muitas outras coisas, fomos delineando algumas perspectivas sobre o próximo ano do CPEP, sobretudo no que respeita ao Passeio Internacional, ainda sem destino ou datas definitivas, mas já com algumas ideias em desenvolvimento.
Música
Chieli Minucci, Daybreak Live