Vestígios jurásicos na Praia dos Aveiros? |
É uma zona de rochas esbeltas, areia dourada, mar e céu azuis, uma vizinhança elegante e simpática. As rochas abraçam-se ao sabor das ondas e a areia recolhe-se ou mostra-se de acordo com a maré. Furnas, baías e cavernas decoram grande parte da arriba rochosa, por onde o mar bate mordaz e sistemático.
Uma furna na Praia dos Aveiros |
Falésia desgastada pelo mar e pelo vento |
É habitual ver muita gente, especialmente turistas – não tantos como em anos anteriores, mas mesmo assim ainda bastantes - a percorrer os caminhos estreitos entre as rochas que levam da praia da Oura à praia de Albufeira, ou vice-versa, e a apreciar a diversidade de furnas daquelas falésias.
O recorte da costa repete-se até à praia de Albufeira |
Pequenas praias que ficam à vista apenas na maré baixa |
Por vezes, a curiosidade leva a sítios que têm tanto de deleite, como de perigoso, como de interessante. Percorrer as falésias algarvias pode ter esses condões: encontrar uma enseada aprazível, uma furna oculta ou uma depressão na rocha que parece um vestígio de uma garra ou de uma pata animal.
Num dia de Verão, dei por mim a tentar identificar uma forma esbranquiçada, talvez um espaço habitualmente ocupado rapidamente pelo mar na maré cheia, que parecia coberto de sal. Aproximei-me e insisti com o olhar. Pareciam dois dedos grandes de um palmípede e uma espécie de buraco que os antecedia: seriam três dedos, tendo um deles com uma unha forte e gigantesca capaz de “cavar” um buraco na rocha?
Muitos dos "buracos" na rocha parecem marcas feitas por pressão |
Uma pata com dois dedos? |
Um aspecto que chama a atenção é a disposição dos vestígios, como se fosse uma "pista". O trilho parece pertencer a vários animais. A dimensão dos vestígios, por heterogéneos, pode fazer supor tratar-se de animais com diferentes dimensões. O sentido do movimento parece indicar que a manada ia a caminho do mar…
Cada buraco parece corresponder a uma patada ou a uma unha... |
Procurei em tipologias de pegadas e de patas de dinossauros encontrar algo semelhante. Não descobri grande coisa. Raras são as imagens parecidas e não há uma única igual. Dos vestígios da Lourinhã, aos da Praia Grande, do Mondego ao Espichel, passando pelos do barlavento algarvio, não há grandes semelhanças com as formas que observei. Ainda li sobre as pegadas de dinossauros no Barlavento algarvio, mas não me pareceu existir algo parecido. São capazes de ser apenas isso: formas, muitas formas.
Marcas profundas... |
É notório como são tantas, de tamanhos difentes, na mesma direcção e como os sulcos são fundos. Seria a rocha inicial (sedimentar) vulnerável à pressão de umas toneladas? Teria sido a dimensão do grupo a contribuir para a notoriedade das marcas? Ou são apenas acidentes geológicos?
Mais marcas... |
Imaginação ou não, ficam as imagens e a especulação. Julgo que era muito interessante se se tratasse de uma pista de dinossauros, tanto pela urgência da investigação, tanto pela preservação dos vestígios, tanto pelo contributo para melhor percebermos mais um pedaço da história da Terra. Era giro, era...
A coisa está aqui
...sim era.
Mas, como diria o especialista que teve a paciência de efectuar uma pesquisa aplicada a este caso, há que saber se a "idade das rochas é (ou não) posterior à extinção dos dinossauros que ocorreu há cerca de de 65 milhões de anos (no final do Msozóico)". Sabendo, por consulta ao mapa geológico daquela zona, "confirma-se que as rochas são do Miocénico, ou seja, muito posteriores à extinção dos dinossauros".
Acabou-se a magia. Mas fica a areia dourada, as formas sugestivas das rochas, um mar calmo e cálido a perder de vista, três condições não jurásicas, mas fantásticas, que o Algarve ainda proporciona.