sábado, 10 de dezembro de 2011

CB 750 Tour - Mediterrâneo II [1983]


Saímos num sábado, 13 de Agosto. Percebe-se porquê.
Eram sete da manhã.
Doze horas depois, às sete da tarde,
 estávamos no hostal "El Reloj", em Gualajarara.
Domingo, 28 de Agosto,
regressámos a casa.
Ainda fumávamos.
Entretanto, passaram 28 anos.
Muito tempo se levava até ao estrangeiro.
A chegada das férias estourava a imaginação com destinos mais longínquos e ousados. Já era habitual. O frenesim e o planeamento começavam nos meses anteriores. A preocupação era sobretudo com a logística. E a poupança tinha importância central.

Depois, vinha a preocupação com certas peças e as ferramentas que podiam fazer falta. Mas, também, com a componente burocrática, passaportes e autorizações de saída do veículo. Para o fim, ficava a revisão da moto e a escolha dos equipamentos. O itinerário era delineado com a ajuda de mapas normais e dos célebres mapas detalhados do ACP.

Nesta altura, vestuário e equipamento era ainda um misto entre funcionalidade, segurança e estética, e talvez não por esta ordem de prioridade, nem seguramente com grande grau de rigor. Mesmo assim, considerávamo-nos privilegiados com a possibilidade de, pelo mesmo, dispormos de duas rodas para viajar.
À saída...
Mais mala menos mala, mais saco menos saco, era preciso garantir um espaço mínimo suficiente para condutores e penduras poderem desfrutar de uma viagem agradável. Eu já devia preocupar-me mais do que os restantes com o conforto, uma vez que era o único que dispunha de uma pequena carenagem que envolvia o farol dianteiro e assegurava uma protecção mínima contra a pressão do ar em andamento.

A idade e a vontade, aliada à experiência de viagem que havíamos acumulado de jornadas anteriores nos mesmos itinerários – Jarama, Andorra, Benidorm, Torremolinos – empurrava-nos de novo para a estrada e, desta vez, também não íamos sózinhos.

A ideia era, de novo, “dar uma volta a Espanha” e, de preferência, pela costa mediterrânica, uma espécie de reedição da nossa viagem de 81. Todos dispúnhamos de Hondas 750, modelo CB: uma K2, uma F1 e uma rara F2. Éramos seis, três casais de solteiros, praticamente vizinhos, colegas de liceu e amigos sem grandes queixas.
...sacos à frente e atrás...
Apesar de todos trabalharmos, o dinheiro disponível para o périplo não permitia grandesr desvarios. Daí, o horizonte com despesas de alojamento e alimentação ser relativamente apertado, sobrando pouco, muito pouco para extras.

Aliás, a duração e o destino das viagens dependiam sempre do factor económico e sobretudo financeiro. Por tal, havíamos acordado que a opção campismo seria a melhor hipótese de não ultrapassarmos o orçamento. Isso implicaria que cada moto levasse um "contentor" de bagagem que contemplasse uma tenda de dois lugares, sacos cama, almofadas e colchões em duplicado. 

Isto aliado à roupa para duas pessoas (duas e meia, que as penduras levam mais…) para uma dezena de dias. E também aos apetrechos de higiene, às toalhas de praia e aos habituais vários pares de sapatos (da pendura). Enfim, um puzzle terrível para refazer a seguir a cada acampamento. Daí que, além das malas laterais, também dispusessemos de um saco de topo e ainda um saco de depósito.
... prontos para arrancar.
Era hábito pararmos após percorrermos cem quilómetros, o que coincidia mais ou menos com Montemor-o-Novo. Outras vezes, o ponto de paragem entre Lisboa e a fronteira do caia era Arraiolos. No Caia, a rotina repetia-se: paragem, exibição dos passaportes, controlo de divisas, carimbo no passaporte.

Do lado de Badajoz, o costume era semelhante, substituindo o controlo de divisas pela troca destas e pela subscrição do seguro internacional, o inevitável papelinho cor-de-rosa. A partir daqui, surgia o calor. Porém, o piso melhorava, a via alargava-se e a estrada passava a contar com mais rectas.

Após passar Badajoz, o brilho dourado dos campos voltava a envolver-nos. Depois, era apenas a (pene)planície que se abria à nossa frente, rara de aldeias. E, como era habitual, pouco trânsito, um ou outro camião, um ou outro tractor, a proximidade dos amigos.

A meio caminho entre Badajoz e Madrid levantavam-se os contrafortes da serra de Gredos, um marco habitual nas viagens que tinham a capital espanhola como destino. Quer pela diferença do relevo, quer por ser um local de reabastecimento tradicional, a “serra” – que contemplava uma quantidade razoável de curvas largas, mas sobretudo meia dúzia de ganchos de respeito – ou melhor, a “bomba da serra” era um lugar incontornável de paragem.
PASSAGEM NA "SERRA"

A estrada trepava suavemente alguns quilómetros antes da área de abastecimento, descia e, depois, voltava a subir de forma mais abrupta, para terminar a descer e finalizar com três valentes “ganchos” praticamente à vista da bomba. Um momento excelente de quebra de monotonia ao fim de uma tirada de cerca de duzentos quilómetros.

Almoço na famosa "bomba da serra", local d eparagem habitual a caminho de Madrid.

Almoçámos à beira do Tajo, sob a sombra de árvores portentosas e de um calor terrível. Hoje, para lá chegar há que sair da via rápida para Romamgordo ou Casas de Miravete.

Ainda chegámos a parar em Talavera de la Reina. A entrada em Madrid deu-se ao fim de uma tarde cálida. O acesso  a Guadalajara fazia-se (ainda se faz, também) através de uma via rápida que atravessava a zona industrial leste, uma vai-rápidaa (já) com muito trânsito.

Chegámos ao anoitecer. Procuramos hostal na zona antiga, mas já não dei com aquele onde havíamos ficado anteriormente. Desta vez, optámos pelo “Reloj”, que possuía um pequeno pátio andaluz, sedutor e espaçoso. Estacionámos as motos à porta. Saímos para jantar já de noite.
À porta do hostal "El Reloj".
De manhã, arrumamos a bagagem e tomamos o pequeno-almoço já próximo do acesso à via rápida. Aproveitamos a frescura da manhã naquelas paragens - no planalto árido chega a estar muito frio nesta altura do ano - para cumprir as longas rectas que levariam a Medinaceli, e enfrentar depois os meandros da serra a caminho de Calatayud.

Excluindo estes dois oásis, o quadro viário passava de longas rectas a curvas sucessivas quer em planície quer em zona montanhosa onde uma quantidade de camiões tornava a progressão mais lenta.
Andorra La Vella, estacionamento da loja Campisport.
Almoçamos no início da autoestrada que liga Saragoça a Lérida e segue para Barcelona, o único troço com portagem até ali. A partir de Lérida, regressava a estrada nacional plena de rectas entre campos cultivados no percurso inicial.

Depois, o trânsito aumentava, a estrada tornava-se mais sinuosa e, a partir de Seo de Urgel, surgiam cada vez mais curvas que se estendiam quase até à capital andorrana. A quantidade de motos com que nos cruzamos também aumentava significativamente, sobretudo com destino ao paraíso de artigos motociclísticos que era Andorra.

ANDORRA, UM OÁSIS DE MONTANHA

Os últimos quilómetros que antecediam a fronteira eram deliciosos, não tanto pela qualidade do piso, mas sim pelo encadeado de curvas que acompanha os meandros do rio Valira, enfiado num desfiladeiro de sonho, para depois se espraiar numa albufeira de um verde espantoso, e onde era imprescindível parar.

Camping Valira, Andorra La Vella.
 Dali para a frente, fizemos mais “meia dúzia” de curvas e paramos na fronteira. Olharam-nos sem interesse especial e deixaram-nos seguir de imediato na direcção de Andorra-La-Vella, capital do principado, nesta altura governado em parceria pelo bispo de Urgel e pelo presidente da república francesa. Dez anos depois, em 1993, Andorra tornar-se-ia independente.

Tal como há dois anos, optámos por ficar alojados no parque de campismo Valira, situado na margem esquerda do rio com o mesmo nome, no início de uma encosta que bordeja o sul da cidade. O parque tinha uma vista impressionante quer sobre a cidade quer sobre o penhasco do outro lado do rio, um maciço xistoso que se levanta íngreme durante centenas de metros. 
Uma bota a secar...
A noite foi calma. Jantamos num pequeno restaurante na ponta leste da cidade já em Encamp. Durante a refeição foi preciso cortar o bife a quem tinha pouca experiência de lidar com a quantidade de curvas que antecediam o principado e tenha ficado sem força nos pulsos.
Tabaco a 85 pesetas em Andorra. Provavelmente um pacote inteiro...
A estória do dia seguinte resume-se num loja a loja. Passamos uma quantidade de horas a comparar os preços com os congéneres portugueses. É que, de loja para loja, o preço do mesmo artigo podia ter uma diferença que chegava a mais de 20 por cento. Raro era o artigo com o preço aposto, raro o comerciante de fotografia ou de electrodomésticos que não fosse de origem indiana.
Pequeno-almoço no camping Valira.
Já havia muitos portugueses no comércio, na restauração e nas obras. As grandes marcas japonesas de motos tinham lá representante, assim como a BMW. Além disso, uma quantidade de lojas multimarca vendiam essencialmente equipamentos. Muitas lojas deste género eram espanholas e já possuíam materiais modernos e de qualidade.

Outro lugar mítico destinado a compras era Pas de la Casa, já na fronteira com França. Apesar de ser um pequeno burgo, os equipamentos para motociclistas era habitualmente de marcas francesas. Fomos lá pela manhã, e rapamos um frio tremendo após termos trepado a vintena de ganchos que nos põe a mais de dois mil metros de altitude. Depois, verificamos que os artigos expostos na Andorra 2000, a única loja de motos da urbe, eram mais interessantes do que os da capital, mas também mais caros. 
Em Pas de La Casa.
 Durante a noite choveu, choveu muito. Tanto que, de manhã, verificamos que os  colchões e os sacos-cama estavam molhados. Além das botas e de outro vestuário que havia ficado no chão da tenda. Passámos  amanhã divididos entre o cenário altivo dos Pirenéus e o da roupa a secar em cima das motos. 
Sacos-cama a secar ao vento.

EM FRANÇA POR UMAS HORAS

Quando abandonámos Andorra, voltámos a Escaldes, Soldeu e repetimos os ganchos na direcção de Pas de la Casa. Passamos a fronteira e continuámos a descer os Pirenéus franceses, não sem antes atestarmos os depósitos de gasolina a um preço delicioso, ainda do lado andorrano. 
Paragem para arrefecer discos de travão.
 Já em terrenos mais planos, seguimos para as já nossas conhecidas Prades e Milas, depois de termos feito uma pequena paragem, ainda antes de Mont Louis, para descanso e arrefecimento de um par de discos.
Continuamos para Perpignan com céu limpo e uma temperatura que não deixava de subir desde que havíamos deixado os Pirenéus. O ar estava quente e o sol queimava. Por isso, paravamos frequentemente, aproveitando todas as sombras disponíveis.  
Ainda a arrefecer, noutro ângulo.
Em todas as paragens, havia que hidratar o corpo, arrefecer os motores e sobretudo livrarmo-nos dos blusões durante um bocado. Só quando voltámos a passar os Pirenéus, na zona fronteiriça de La Jonquera, sentimos a temperatura baixar, a par do aparecimento da floresta. 

ÁGUAS MORNAS EM TARRAGONA 

Mais uma paragem, mais uma sombra.
Almoçamos numa área de serviço de auto-estrada - já em território espanhol - aproveitando a frescura de um self-service, à porta do qual estacionamos as motos, de maneira que, à saída, arrancassemos rapidamente. Sem estarmos muito tempo ao sol.
À porta do self-service.
Só voltamos a deixar a auto-estrada a meio da tarde, quando saímos para Tarragona. Paramos no parque de campismo Mont Roig e gostamos do aspecto. Depois, entramos e percebemos que dispunha de muitas sombras e do Mediterrâneo a 20 metros. E ainda que era atravessado por uma via férrea. 
Sombras magníficas no parque de campismo perto de Tarragona.
Montámos as tendas sob as árvores e paramos definitivamente as motos. Jantamos, espreitamos a discoteca e acabamos o dia, por volta da meia-noite, a sentir a água quente da ténue ondulação do Mediterrâneo. A noite passou, assim como um ou outro comboio...
Desmontagem das tendas no Mont Roig.
BENIDORM SOB CHUVA

Saímos cedo. O tempo não estava nem tão soalheiro nem tão limpo como era costume. Não tardou a sermos obrigados a entrar numa área de serviço, para nos protegermos de uma chuvada que parecia iminente. E também para um ou dois privilegiados vestirem os fatos de chuva.  
Ao abrigo da chuva...
Dali a Benidorm era um instante. Chegamos por volta da hora de almoço e paramos próximo da praia, num Burger King, uma novidade para nós naquela altura. Desta vez, queríamos ficar num apartamento que alojasse os seis, perto da praia e das discotecas.
A caminho de Benidorm.
Depois de andarmos pelas agências, conseguimos alugar um, num dos muitos arranha-céus da cidade, com dois quartos e uma sala com sofá-cama. E com uma varanda, onde cabia uma pequena mesa redonda e uma cadeira. Tinha uma vista excelente. A oito andares do chão. 
Ao fundo, a praia entre arranha-céus.
Durante o tempo que passamos em Benidorm o padrão não se alterou: viver entre a hora de almoço e a madrugada seguinte, entre a praia e a discoteca, entre o bar da praia e a discoteca, ou seja, entre a Playa de Levante e o Papillon, entre o bar da Playa de Levante e o Pacha. Foram três dias em que poupamos os almoços. 
Jantar no "Triângulo".
O calor tanto se percebia no ar como na areia. O tempo aqueceu de tal maneira que, num dos dias, choveu, com tal intensidade que, daí a pouco, corriam rios de água, encostas abaixo. Ainda nos sentimos ameaçados, quando verificamos que tínhamos estacionado as motos à porta do prédio, exatamente no sítio por onde a torrente de água passava… 
O rio que passava sob as motos, em Benidorm
Como o horário de abertura das disciotecas estava marcado para depois da meia-noite, até lá, deambulavamos quer pela avenida marginal, quer pela playa de Poniente, uma zona mais moderna e ampla, onde havíamos estado, salvo erro, dois anos antes. Depois, ainda passámos pela marginal, junto à praia, paravamos em frente de um bar com música e esperavamos que a noite começasse. 
Fim de noite no miradouro.
Durante a estada, também poupamos nos capacetes, cuja ausência era tolerada na cidade. Por isso, o pouco que andávamos, fazíamo-lo sem capacete. Era à noite que pegávamos nas motos para ir às discotecas que ficavam na periferia, Circo, Papillon, etc. Para lá chegar, porém, era preciso entrar na estrada nacional. Aqui, o uso de capacete já era obrigatório e, uma noite, a polícia confirmou-o com a respectiva multa. 
No dia de chegada a Benidorm. Fotografado desde o Burger King.
Afogámos as mágoas, já às tantas, com umas cervejas, numa espécie de miradouro – uma plataforma entre prédios – situado na encosta nascente da cidade. Daí, vislumbrava-se quase toda a cidade, mas sobretudo a primeira linha de praia, uma longa marginal polvilhada de prédios altíssimos. Tão tarde nos deitamos, que não conseguimos acordar a tempo de sairmos naquele dia. Ficámos mais um.
Às tantas da noite, no miradouro do Levante.

GRANADA SEM ALHAMBRA

Sabíamos de antemão que a “nacional” tinha muito trânsito. Por isso, optámos pela autoestrada - que posteriormente ligaria a Málaga - nessa altura, já com muitos troços abertos. Saímos da AE em Lorca – onde parámos para esticar as pernas - e seguimos depois pela estrada nacional rumo a Granada. Entrámos no deserto de Tabernas ou de Almeria, sem qualquer noção da distância que nos separava do destino, do espaço seco que iríamos atravessar ou do calor que iríamos sofrer.  
Mais um reabastecimento.
Andámos durante uma quantidade de quilómetros sem avistarmos uma árvore, acompanhados por pedras, montes e calor. Por isso, parámos no primeiro restaurante de estrada que avistámos, ilhéu naquela aridez. Lembro-me que fomos servidos pelo filho deficiente do casal que geria o restaurante.
Em Lorca.
Só voltamos a parar à vista dos arredores de Granada. Tal o calor e a secura, que parecia nunca mais chegarmos. A cidade nunca mais aparecia no horizonte. Quando tal aconteceu, e ao não vermos o Alhambra, pensei que nos tínhamos enganado. A placa com o nome da cidade estava vinte metros mais à frente. 
À vista de Granada.
O parque de campismo ficava próximo da praça de touros e não muito longe do centro. Acampámos paredes-meias com um autocarro de campismo onde se dormia em camadas. Estava tanto calor que, após montarmos a tenda, ao sol, todos mergulhamos na piscina. E "fomos ficando".
No parque de campismo de Granada.
Entretanto, próximo do fim da tarde, lembramo-nos que devíamos aproveitar estar ali para visitar o Alhambra. Pegamos nas motos e trepamos até à colina "vermelha". Devido ao adiantado da hora, já não foi possível visitar qualquer dos lugares. Ficámos à porta do palácio de Carlos V…
À porta de Carlos V.
A noite não nos mostrou grande coisa da cidade. Saímos com a sensação de que havíamos deixado muito (tudo, praticamente) para ver na cidade. Ficou a promessa de lá voltarmos passado pouco tempo. De manhã, saímos de Granada passando junto à praça de Touros.
À saída de Granada.

SILHUETAS DE TORREMOLINOS

Saímos pela "nacional" na direcção de Antequera,onde fizemos uma pequena paragem. Daí, flectimos para sul, passámos por Málaga e paramos em Torremolinos. Optámos por ficar em quartos de aluguer. Salvoeero, era o quarto ano consecutivo que por ali ficavamos…
Paragem perto de Antequera.
De tarde, reconhecemos os sítios habituais: praia do Barrondillo - a mais próxima e extensa - bem como a Vaca Sentada e a Gamba Alegre - os restaurantes mais populares do centro. A noite foi pelo bar Inglês - lugar de encontro de alguns portugueses - e pela discoteca Piper’s - a mais central de Torremolinos.
Em Mijas, junto a um burro-táxi.
No dia seguinte, pegamos nas motos e trepamos a Mijas (diz-se "Mirras"), um lugar na falésia entre Fuengirola e Benalmadema, com pequenas casas de um branco miraculoso, conhecida pelos seus típicos burros-táxi. Do alto, estende-se o olhar para o mar e domina-se uma extensa faixa litoral da Costa do Sol.
Paisagem desde o miradouro de Mijas.
Continuamos até Puerto Banus, poucos quilómetros a seguir a Marbella, lugar que já conhecíamos. Continuava simpática, a pequena marina andaluza, mas com preços de restauração elevados. Bebemos um café e regressamos a Torremolinos.
Um capricho a dois
A meio da tarde, apreciamos o talento de um artista que fazia silhuetas, isto é, apaixonamo-nos por nós, e os "retratos" levaram-nos o dinheiro que restava para emergências...  
"Retratos" por mil pesetas. Foram dois...
Por ali, naquela altura, era fácil ser seduzido. Pouco antes, havia sido a estrada costeira que acompanha o Mediterâneo a fazê-lo. Apesar de haver muito trânsito, fazer aquele percurso de moto - uma espécie de marginal Cascais-Lisboa, mas com o dobro dos quilómetros - continuava a ser excelente. Ainda hoje, fora da época de Verão, é um passeio muito agradável.   
Em Puerto Banus, próximo de Marbella.

SOB O CALOR DO COSTUME

A etapa seguinte levarnos-ia a casa. Optámos por sair via Málaga, seguir por Sevilha e apontar a Zafra. Estrada fora, voltamos a andar sob o calor habitual da Andaluzia que, no Verão, também empresta à paisagem um tom afogueado. Também nós saíriamos dali torrados, não fossem algumas sombras proporcionadas pelas paragens para reabastecer.

Mais um reabastecimento, mais uma sombra.
 Desta vez, não havíamos estabelecido qualquer paragem especial durante a ultima etapa. Por isso, cumprimos apenas os rituais de reabastecimento e as paragens a que os cóccix obrigavam, mesmo que para tal tivessemos de parar à beira da estrada. A última fotografia em Espanha é disso testemunha.
Paragem à beira da estrada, entre Zafra e Badajoz.
Por volta de Sevilha, deixámos uma das motos a caminho do Algarve. Foi já no Alentejo que tiramos a última fotografia da viagem. Estava preste a terminar mais um périplo pela Península, em que havíamos percorrido cerca de 3300 quilómetros, neste Verão de 1983.

Última fotografia da viagem, já em Portugal.
Segundo os registos daquele livrinho insuspeito, o nosso ipad dos anos 80:
- O seguro na fronteira espanhola, para Espanha, custou 250 pesetas;
- Ficamos no hostal em Guadalajara por 1320 pesetas;
- A portagem em Lérida foi às 220 pesetas;
- O seguro para França/Andorra custou 160 francos;
- Na discoteca Pacha, uma cerveja e uma Coca Cola, ficaram por 275 pesetas;
- A multa, em Benidorm, custou 1600 pesetas.






quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Coches em exposição

 
São coches, berlindas, carruagens,
seges, landaus, carrinhos de passeio, liteiras,
cadeirinhas e carrinhos para criança.
Estão expostos no edifício do
Picadeiro Real do Palácio de Belém,

num espaço amplo,
um magnífico salão de 50m x 17m de largura,
envolvido por galerias e tribunas com balaustrada em todo o redor.

 Na galeria do primeiro piso
estão expostos os retratos a óleo
dos monarcas da dinastia de Bragança
e de antigos proprietários dos carros expostos.


As pinturas
nas paredes da galeria superior,
que mantêm um estado de conservação excelente,
são de pintores nacionais consagrados.
Do espólio,
destaca-se o coche de Filipe II,
um dos mais antigos em exposição,
 assim como os três excepcionais coches
pertencentes à embaixada do Marquês de Fontes a Roma,
ao papa Clemente XI, exemplares únicos.

Tal como a maioria dos que estão expostos,
salientam-se quer pelo trabalho artístico e decorativo,
quer pela singularidade dos modelos, mas os acima referidos,
destacam também pelo excelente esatdo de conservação.
Exclusivos da elite da altura,
associam a particularidade dos modelos
(alguns únicos no mundo),
às imponentes composições escultóricas e pictóricas
 requintados materiais e as últimas tecnologias da época.

 Embora algumas coberturas 
precisem de substituição
porque o tecido está muito degradado,
as pinturas da maioria
dos coches estão em bom estado.
No início da exposição,
aparece uma pequena colecção
que inclui uma cadeirinha de passeio
e manequins de crianças e da respectiva ama.
Coche de Maria Francisca Benedita
- para apenas referir 3 dos seus 13 nomes próprios -
mandado construir para o seu casamento com o princípe D. José.
Nomes curiosos,
 identificam modelos singulares,
como o do Coche de Mesa
cujo interior possuía uma mesa redonda, amovível.  
Veludos e dourados,
cores discretas mas sugestivas,
madeiras trabalhadas e cabedais
muitas imagens decorativas.
Algumas engalanavam o coche de Carlota Joaquina,
 a dita "megera de Queluz".
Foi neste landau
que morreu o rei D. Carlos,
há mais de um século.
Está à entrada do museu,
em local de destaque.
Ainda se notam os orifícios das balas,
disparadas pelo Buiça,
o conjurado que matou o rei e o princípe.


Música: Arnault Condè, Riding with the wind.

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