quinta-feira, 30 de maio de 2024

Marrocos 2023, de moto



Reservas. Devido à pandemia, adiamos durante três anos. Ou quatro. Fomos quando as restrições terminaram em Marrocos. Esta, seria a quinta vez em Marrocos com o Clube. Melhor, igual ou diferente? Como sempre, há diferenças e semelhanças, umas para melhor e outras para pior.

Espanha. Começa a aquecer. Se é que não estamos já no prelúdio da brasa. Não há atrasos, tudo dentro do previsto. Almoço na Área de Serviço de Trigueros, como é habitual. Sevilha ainda não escalda, mas está lá perto. O calor vai-nos deixando à medida que chegamos ao Mediterrâneo.

Embarque em Tarifa 

Barco. Uma hora e meia antes da partida, pediram-nos! Habitualmente, porém, já tínhamos sido os últimos a entrar, sem aquela exigência. Entramos sem pressas, meia hora antes da partida. E não fomos os últimos, o que também não foi novidade. E a fila para controlo de passaportes, dentro do barco, também não, o que significa meia viagem em pé.

Fronteira. Tira passaportes, chega à frente, mostra livrete, chega à frente, abre a mala lateral, espreitam a mala de topo. E o cão lá continua à procura de qualquer coisa que ninguém tem. Três quartos de hora nisto. 12 motos, 18 pessoas. Faz parte: afinal, estamos em outro país, em outro continente. Mas, já foi mais lesto.

Ligação por Tanger Ville

Mais logística. Pára à frente para trocar dinheiro, trocar cartão de telemóvel, trocar ideias e reagrupar. Tira cartão, mete cartão, tira euros, recebe dirhams. Tá tudo? Já temos net e dinheiro marroquino. E vontade de um aperitivo de boas-vindas.



Garagem ou não? Chegada ao Solazur, 500 metros à frente, estacionar, tirar as malas, chave do quarto entregue ainda antes de chegar à recepção, cortesia do nosso presidente. Arruma na garagem, deixa á frente do hotel, dúvidas habituais. A moto fica cá fora, a uma dezena de metros da entrada.

Estamos a tempo do aperitivo. Os gins são mais caros num dos bares, aparentemente porque têm uma cantora que treina para a Voz de Marrocos. O jantar compensa e o briefing sobre a condução em grupo talvez precisasse de mais pragmatismo. Ainda ninguém se perdeu ou caiu.

Desmoer. O passeio na marginal, agora recuperada, já dá uma boa ideia das melhorias que Marrocos sofreu desde há nove anos. De manhã, verificamos essa dimensão. Tanger estendeu-se, pelo menos, para sul. Está enorme. Mais equipamentos, mais edifícios, mais avenidas.

Partida. Está fresco e há pouco trânsito. Atestamos e vamos para a auto-estrada, saímos para a nacional e ainda paramos para café e chá numa área de serviço em plena zona rural. A estrada é estreita e tem algumas irregularidades, um ou outro buraco, um ou outro altinho.

Por Al-Qsar Al-Kabir

Memória aziaga. Uma das batalhas mais célebres que envolveram os portugueses deu-se aqui perto, numa planície aluvial, onde morreram, além de três reis, muitos jovens portugueses, espanhóis e marroquinos. Também resultado dessa contenda, Portugal ficou durante anos sob domínio espanhol e praticamente sem o comércio asiático.

Parar. Atravessamos o mercado de Alcácer Quibir e viramos para a Porta dos Regulares, porta de um antigo quartel de militares espanhóis que pertencia à guarnição de Larache. Foto de grupo, memórias do rei desaparecido, rápida troca de impressões com locais, voltamos às motos e deixamos de novo o rei algures.


Almoço líbio. Sem resposta ao pedido de reserva de almoço - afinal, o dono estava doente - parámos no restaurante Lybia, daqueles com a carne à vista, de um líbio, fugido da Líbia. Algum frenesim depois, foi uma grelhada mista que nos aconchegou. Entretanto, a temperatura ia subindo.

Pela medina de Fez

Uma "Casablanca" em Fez. A estrada para Fez foi melhorando, mas não é grande coisa. Chegada em grupo ao Mirage, motos no pátio fronteiro, o mesmo expediente de distribuição de quartos, um pedido de guia para a medina e ainda houve tempo para uma 'Casablanca', uma cerveja marroquina.. 

Para a medina. Estava contratado o périplo por um dos sítios que faz parte do património mundial classificado pela Unesco, a medina de Fez, labiríntica mas fantástica, estreita e esguia, soturna e luminosa. Essa, que já percorremos 3 vezes com o Clube. Desta feita, outro percurso.



Em excursão. Três minibus resolveram a deslocação. O carácter expedicionista reforçava-se. O guia chegou a tempo de ainda percorremos parte do labirinto em plena luz do dia. Estávamos, de novo, no dédalo de madrassas, praças, fontes, lojas, palácios, mesquitas, mais lojas.

Tinas sem tinta. De ramos de hortelã na mão, espreitamos desde cima os famosos tanques de tingimento, vazios de tinta. Nem cheiro nem cor, talvez raro. Mas a passagem pelas diversas salas dos cabedais, isso, não muda. Como habitualmente, a desculpa de viajarmos de moto mantêm-se para não esticar orçamentos.

Cremes e massagens. Anoitecia ao longo dos meandros, ora habitacionais, ora comerciais. Como habitualmente, o guia entra em várias lojas, desde as de roupa, às de produtos naturais. O sucesso aconteceu numa delas, onde os cremes, os pós e até as massagens nos ocuparam mais de meia hora.

Meandros. Passamos pela mesquita/universidade al Quaraouiyine, que já havíamos visitado anteriormente, pela praça dos latoeiros, pelos diversos mercados (souks) e, por um ou outro local que não conhecíamos.. 

Sempre ao ritmo do toque de caixa. Uma compra ou outra, um detalhe aqui, outro ali, e saímos das muralhas já passava muito das 9 para jantar pelas 10. Felizmente, ainda sobrou qualquer coisa...


Erg Chebbi, de novo no deserto



Esperava-se difícil. Sobretudo pela quantidade de quilómetros em estradas nacionais. Mas foi um pequeno percalço à saída que nos separou. E só nos voltou a juntar à hora de almoço. Talvez por isso, tenhamos dado mais atenção a quem vem atrás. Mas, nem por isso quem andou atrás teve o cuidado de se juntar aos da frente.

Paisagens. Continuam a não desiludir. De Fez a Merzouga, costumávamos ter Midelt pelo meio, para pernoitar mas, desta vez, seria directo. Já fizemos este caminho várias vezes. Nada trouxe de novo, embora o vale do Ziz  e os palmeirais por volta de Erfourd se mantenham esplêndidos.

Desmaiado mas auspicioso. Ao fim do dia, as dunas apareceram a nascente. Primeiro rente ao chão, depois a vaguearem. Entre tons de amarelo e vermelho. O entardecer projectava o sol já mortiço na areia quando chegámos ao albergue. Levantou-se vento. Iria trazer areia.

Nada mau. Das 3 vezes em que estivemos no Erg Chebbi, o hotel Tombuctu foi o melhor. Os quartos são giros, com materiais típicos e uma configuração atractiva. A comida não surpreendeu, mas também não desiludiu. Ficava um pouco longe das dunas, mas não o suficiente para não as treparmos.

Relax. Aproveitámos a piscina e as dunas, no dia seguinte, com temperaturas bem acima dos 30 graus. Manhã de banhos e tarde de dunas e, entretanto, beber mais um café.

 O por do sol não estava tão fascinante como já experimentamos. Porém, continua a ser uma hora do dia em que, estando nas dunas, ninguém se vai arrepender de o apreciar.

Mas, subir as dunas, também acompanhados por excursões em dromedários, continua a ser excelente.


Tinghir: no Todra e no souk


Etapa curta. São menos de 200 quilómetros até ao hotel Saghro, em Tinghir. Foi mais difícil dar com o hotel do que com o caminho. Mas, chegamos a tempo do almoçar na varanda debruçada sobre a cidade. E a comida não decepcionou. Os quartos são fraquitos, mas é o que há.

Divisão. Metade para o Todra, metade para o souk de Tinghir. Quem não conhecia o desfiladeiro, lá foi, e não ficou desapontado. O souk oferecia produtos parecidos com os das nossas feiras locais, pelo que o percorremos rapidamente. Ficámos a conhecer as traseiras do mercado, o que nem sempre é interessante…

Agrupamento. Numa esplanada da rua principal, à boa maneira marroquina, todos virados para a estrada, foi hora de chá e refrescos. Daí a pouco, os exploradores do Todra regressaram e juntaram-se a nós para um aperitivo antes de jantar. 

Quase sem história, este dia, mas com uma noite tranquila e estrelada.

Ouarzazate: o cinema e o casbá



Na estrada, uma novidade. Há uma alternativa à estrada tradicional que levava a Ouarzazate. Na estrada antiga, era difícil até ultrapassar caravanas e camiões. Agora, a estrada nova vai pela margem esquerda do rio Dadés, desde Boulemane du Dadés. Está mais segura e tem pouco trânsito.

Almoço na esplanada. Deixámos as motos no hotel Kenzi Azghor e chegámos, uma vez mais, a tempo de almoçar no “velho” La Kasbah Etoile. Desta vez, o vento deixou-nos mas a comida também nos desiludiu. Vale pela vista para o cásba Taourit, que visitámos logo após a refeição.

Outra Novidade. Apesar de ter sido construído no século XVII pelos Imzwarn, uma poderosa família local. , o casbá foi adquirido e ampliado pela família Glaoui no século seguinte. Estava situado na confluência de dois vales - Todra e Dadés - o que lhe permitiu um controlo eficaz das rotas comerciais que vinham do deserto.

Um palácio cuidado. É a arquitectura e a dimensão que surpreendem. O edifício está muito bem conservado, percebendo-se a preocupação com a manutenção dos materiais. Estes, estão representados sobretudo pela taipa (terra, cal, cascalho, etc) e pelos tijolos de barro, como em muitos exemplares do género.

Decorações. O interior também está bem conservado, e a decoração contempla estuque esculpido, pinturas murais e arcos ornamentados, com influência da arquitetura das cidades imperiais de Marrocos. Há salas espaçosas e outras bem mais pequenas, destinadas aos viajantes, aos comerciantes, às mulheres, etç.

Cinema num museu. Ouarzazate tem, pelo menos, dois museus relacionados com o cinema. Visitámos o que fica em frente do casbá Taourit. O espaço contempla algumas salas com sets de filmagens, adereços e cenários de filmes. Uma das salas era mesmo a reprodução de uma masmorra onde é possível sermos quase protagonistas…

Estúdios. Outras salas possuem tronos, correntes de tortura, grutas. Outras ainda, contêm adereços diversos, desde vestuário a equipamentos históricos, passando por espaços técnicos, com antigas máquinas de filmar, microfones, gravadores, etç. Há ainda reproduções de fachadas históricas, modelos de pequenos aviões.

Vamos seguir. Saímos ao memso tempo que um trio de alemães, sendo que um deles, ainda viajava com uma R75, carregado, com pendura e com já com muitos anos em cima.

Pelas obras do Atlas


Património mundial. Saímos para Ait Benhadou. Bebemos café e, quem não conhecia, ficou mais perto de um dos casbás mais famosos e atraentes de Marrocos. Tínhamos informação de que o caminho por Télouet era interessante, mas disseram-nos que a estrada não era famosa pelo piso.

Ir ou não ir? E quem lá tinha passado há pouco tempo assegurava que o caminho estava catita! Fazendo confiança nos proprietários do café em Ait Benhadou, a opção foi fazer a tradicional subida do Atlas. Por tal, voltámos para trás e iniciámos a subida da maior montanha marroquina.

Atlas pela terra batida. Se por um lado, o piso não era bom, por aqui, as obras colocaram alguns quilómetros em terra batida, alguma com uns pedaços de lama. Passámos, mas não foi um trajecto feliz. Foi principalmente o pneu de trás que mais se queixou…

Imprescindível. A paragem no Tizi n'Tichka é realmente imperiosa. Lá, não estávamos sozinhos, uma vez que também havia parado outro grupo de motociclistas portugueses. A paragem foi tão rápida, que nem deu para recusar as habituais insistências dos vendedores marroquinos.


Pneu, medina, em redor, aniversário



Outra vez. Marraquexe também é fundamental. Mas já não tanto, depois de várias incursões na cidade e, sobretudo, na famosa Al Fna. Porém, apesar disso, a praça ainda congrega a maioria da atractividade da cidade. E a medina continua aquele ramalhete comercial com elementos arquitectónicos sempre disponíveis para serem (re)descobertos.

Mudar pneu. O risco de poder furar ou ficar com o pneu nas “lonas”, pôs-me a comprar um dedicado às “trails” - não é fácil conseguir um para uma Paneuropean - num lado e a montá-lo em outro. Lá foi meia tarde nesta “brincadeira”. Valeu o apoio do nosso amigo “mais marroquino”, para tal tarefa.

Deambulando. Depois, foi Marraquexe, aquele hábito que nos exorta ao exótico, à descoberta de mais um recanto na medina, mais um restaurante diferente, mais uma loja - quanto mais esquisita, melhor - mais um rooftop, mais uma esquina, mais uma abordagem de vendedor, mais um achado no caminho…

…mais uma loja de temperos, mais praça temática, mais uma rua comercial com lojas de requinte ou produtos especiais, mais uma espécie de ”turismo de habitação” do qual só vê a fachada, mais outra fachada que afinal é um cinema, mais uma “acelera” que passa com cuidado.

Mais ou menos. Afinal, o tradicional Marraquexe não mudou muito. Talvez esteja um pouco mais sofisticado, mais caro, menos simpático, mas ainda se aguenta. Ainda não desencanta. Que o diga o restaurante na medina onde jantámos no primeiro dia, relativamente recente…

Que pena. Desencanto, algum desinteresse, algum relaxe pelos clientes no Al Andaluz, quando estamos no jardim, a 5 metros do bar e os Gin’s não aparecem. E a iniciativa tem ser nossa para os ir buscar ao balcão. Está assim, num hotel de 4 estrelas. Mas não só em Marraquexe…

Outra boa ideia. Alguns sairam de Marraquexe e deambularam pelo Vale de Ourika. Até haver estrada, disseram. E, assim foi. Andaram pelas aldeias do vale. As mesmas que sofreram, logo após, um valente terramoto. Alguns do slocais onde eles estiveram, deixaram de existir...

Festarola nocturna. No segundo dia, houve festa. Uma escolha valente, para jantar e passar a noite com boa comida e um óptimo espectáculo. Uma das participantes fazia anos e o aniversário foi excelente, com artistas internacionais e marroquinos, dançarete e muita animação. 

Fechava o dia e a nossa última noite em Marrocos. Nada melhor, para tal, do que alinhar no dançarete, junto ao palco, A bordo do autocarro, concluiu-se com tranquilidade o trajecto até ao hotel.

Até Tarifa

Sair cedo para chegar cedo. Foi esse o intuito que nos reuniu, pela terceira vez desde 2007, à porta do hotel Al Andalous. Tudo iria ser passado na auto-estrada, incluindo o almoço e uma ou outra paragem para descansar dos quase 620 quilómetros que ligam Marraquexe a Tanger Ville.



Última chamada. Aqui, ainda houve tempo para uma compra ou outra nos habituais vendedores ambulantes. Mais uma vistoria, mais um documento, mais um papel que falta, mais uns minutos de atraso, Porém, por volta das 5 da tarde, estávamos todos no barco rumo a Tarifa.

Portugueses de moto. Não estávamos sozinhos. Além de o barco estar cheio - havia mesmo poucos lugares sentados disponíveis - havia mais dois ou três grupos de motociclistas portugueses que, tal como nós, regressavam de um passeio ao país magrebino.

Jantar em Tarifa. Deixámos as motos no hotel Tarifa Lances - que já não servia refeições por volta das 8 da noite (estranho para Espanha) - e fomos jantar à vila num restaurante daqueles que parecem normais, mas que serviam bem. Para compensar, o hotel, relativamente recente, dispunha de quartos amplos e modernos.


Para casa


Estrada e gasolina. Não é costume o último dia do passeio se resumir ao básico: andar, meter gasolina e parar para descansar. Desta vez, foi mesmo. Os abastecimentos habituais, o almoço a meio caminho entre Sevilha e a fronteira, e mais áreas de serviço. O tempo está bom e a viagem faz-se calmamente.

Chegar. Também está no itinerário, o tal bilhete de ida e volta. Chegámos e reflectimos. Desta vez, as opiniões foram unânimes. Tão cedo, não voltamos. A simpatia marroquina desvaneceu-se, os preços aumentaram, as obras multiplicaram-se, as novidades escassearam. E não foi apenas a opinião do grupo.

Poder-se-ia dizer que, "para o ano, há mais", mas é pouco provável. Está na altura d efazer um intervalo longo para cimentar as boas lembranças de mais uma jornada com os suspeitos do costume.








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